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Trabalhos de Casa, em análise

A Midas Filmes apresentou aos espectadores nacionais “Trabalhos de Casa”, uma das principais obras do cineasta Abbas Kiarostami!

Como dissemos no artigo dedicado a KHANE-YE DOUST KODJAST? (ONDE FICA A CASA DO MEU AMIGO?), 1987, realizado por Abbas Kiarostami, a MIDAS FILMES irá estrear igualmente outra obra assinada pelo mestre iraniano, o documentário MASHGH-E-SHAB (TRABALHOS DE CASA), 1989, um muito interessante inquérito ao sistema educacional que prevalecia na maioria das escolas iranianas no final dos anos 80.

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PERGUNTAS E RESPOSTAS, EM BUSCA DA VERDADE…!

Trabalhos de Casa
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Para organizar a estrutura fílmica de TRABALHOS DE CASA, esta obra apoia-se no discurso directo do inquiridor e nas respostas quase sempre sinceras dos inquiridos, onde encontramos não apenas crianças mas igualmente os seus pais, levantando assim o véu sobre as condições objectivas que se viviam nas escolas e as relações humanas dentro e fora das aulas, nomeadamente os ecos do que se passava no interior do ambiente doméstico. No modo como a interlocução se desenvolve, podemos ver a urgência do realizador em reflectir sobre o sentido profundo do que existia, e o que pensava devia existir, ou não, no seu lugar. Trata-se de uma visão lúcida sobre um TEMPO e um MODO, que nos faz pensar numa era em que algumas questões abordadas não eram, naquelas paragens geográficas e culturais, muito diversas de outras que só na aparência beneficiavam do desenvolvimento e da consequente modernidade académica. No fundo, um retrato passado de um país que hoje possui uma vasta população jovem, com milhões de estudantes universitários qualificados, dispostos a mudar de vida e a defender uma outra visão, não só para o ensino como para o presente e o futuro da sociedade em que estão inseridos e querem continuar a estar inseridos. Só que num outro TEMPO e de um outro MODO.

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Na prática, TRABALHOS DE CASA pode ser visto como um bom exemplo das matérias que faziam parte das longas e curtas produzidas pelo Kanun, ou seja, o Centro para o Desenvolvimento de Crianças e Jovens Adultos, instituição nascida na sequência da crescente popularidade da cultura e da cinematografia iranianas, onde o realizador foi responsável pelo Departamento de Cinema. O Kanun, juntamente com a Televisão Nacional e o Ministério da Cultura do Irão, nas palavras do programador iraniano Ehsan Khoshbakht, “…desempenharam um importante papel no financiamento de um cinema iraniano com ambições artísticas e culturais que oferecia uma contra narrativa em relação aos “filmfarsi” (designação algo depreciativa dada aos melodramas, aos musicais e filmes de acção para consumo comercial local). Foi neste contexto que Dariush Mehrjui dirigiu GAAV (A VACA), 1969, a primeira tentativa madura de casar a literatura marxista iraniana com o cinema moderno. GAAV é frequentemente citado como o nascimento de uma “nova vaga” iraniana, ou “Cinema‑ye Motafavet”, que significa literalmente cinema alternativo”. Este programador vai estar em Portugal para apresentar uma notável iniciativa da CINEMATECA PORTUGUESA, que se inicia já no próximo mês de Fevereiro com o Ciclo TIJOLOS E ESPELHOS – O CINEMA IRANIANO REVISITADO (1955-1979), PARTE I – ANTES DA REVOLUÇÃO. Este ciclo continua no mês de Março, com a segunda parte dedicada ao período pós-Revolução que deu lugar ao nascimento da República Islâmica do Irão.

Trabalhos de Casa
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Não podem os espectadores cinéfilos queixar-se de existirem falhas no conhecimento desta grande cinematografia que, não me canso de dizer, se apresenta, ontem como hoje, no patamar cimeiro das melhores do mundo, seja em que género for.

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