Wayward Pines | Primeiras Impressões

 

M. Night Shyamalan deve ter ficado horas a fio acordado a ver “Twin Peaks” nos anos 90, para agora fazer renascer um “spin-off” moderno da famosa obra de Blake Crouch. Wayward Pines não hesita em dar-vos as boas-vindas, mas não esperem retribuir tão depressa com a mesma delicadeza.

 

Pinheiros Desobedientes

Ethan Burke (Matt Dillon), um agente dos serviços secretos com queda para se envolver em colisões, recupera os sentidos na vastidão de um pinheiral como se tivesse acabado de renascer com umas escaramuças na cara e umas costelas a menos. Perdido como um “Lost” naquela mata natalícia que até poderia sugerir um augúrio de sorte ou uma alucinação recorrente, cedo se vislumbra a “intenção” desobediente da própria natureza para compaixões humanas. A causa até seria nobre – a investigação do paradeiro de dois colegas desaparecidos -, mas Wayward Pines parece ter o condão de empurrar visitantes desconhecidos para um paraíso cosmético.

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E se Ethan pensava que tinha chegado a uma espécie de “Beirais” americana para os lados de Idaho, bastou um hambúrguer mal passado com uma morada mórbida e uma estadia num hospital fantasma para querer dar alta a si próprio. Quem o poderia condenar, depois de ser engolido pela extroversão forçada da enfermeira Pam (Melissa Leo), coadjuvada por um psiquiatra Jenkins (Toby Jones) nada tendencioso. Mas nem tudo são más notícias, Beverly (Juliette Lewis) – a tal que serviu uma sandes de queijo tão rápido como no McDonalds – parece querer dar uma ajudinha a Burke que, apesar de ser da secreta, não cai nas boas graças do gracioso xerife Pope (Terrence Howard).

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Segredos Paradisíacos

Se certos olhares não matassem, Wayward Pines seria como nos folhetos aliciantes das agências de viagens: ruas alinhadas com régua e esquadro, moradias bem compostas com pintura a tempo inteiro, canteiros e jardins aparados com recorte para celebrar a felicidade…Até aqui soa lindamente, mas já dizia o ditado que “quando a esmola é muita o pobre desconfia”; e malfadado Ethan em forma de pedinte caído de pára-quedas numa localidade onde ninguém quer dar nada a ninguém.

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Nem os seus pertences dão à costa, nem os habitantes daquela vila bucólica, que mais parece saída de uma pintura de Norman Rockwell, são particularmente amistosos. É nesta enfermidade oclusa que, Ethan aos pedaços, não se deixa rogar por pragas e vai à luta com um Matt Dillon disposto a dar o corpo às balas, naquele seu jeito algo ingénuo e desengonçado. No entanto, o seu carisma deve ter deixado uma impressão positiva junto de Beverly, a parceira infiltrada que recolhe de Juliette Lewis a força de uma mulher de armas. E se no verso do seu bilhete dizia que em Wayward Pines não existiam grilos, então ali só poderia haver gatos. De facto, as suas “caudas escuras” proliferam naquele embuste comunitário, até Ethan Burke tropeçar na morada de Kate (Carla Gugino), a sua antiga paixoneta de profissão à espera de ser encontrada.

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Peaks Vs Pines

Wayward Pines encontra na sua matriz algumas influências de “Twin Peaks“, mas embora planaltos e pinheiros possam ter algum significado compatível, o primeiro está longe de apresentar-se como uma cópia descarada do segundo. Quanto muito, são siameses na introdução daquele ambiente sombrio e enigmático que esconde nas suas entranhas um estigma perturbador. O próprio argumento vai beber a outras fontes que sustentam o enredo só por si, estimulando a curiosidade inata do ser humano para a exploração do desconhecido.

Normalmente os paraísos costumam ocultar uma certa beleza negra, e Pines insere-se perfeitamente nesse tipo de realidade com um substrato perverso. O universo noturno de Shyamalan apanha-nos como um nevoeiro que se vai adensando paulatinamente, aprisionando a mente num “parque jurássico” repleto de “plantas carnívoras” que têm tanto de sedutor como de letal. Uma coisa é certa, Wayward Pines quer que fique e não saia mais, e talvez, neste caso, até seja uma boa ideia.

P.S – “Where PARADISE is HOME.”

MS

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