13º IndieLisboa: Balanço e Premiados

O filme chinês ‘Jia/The Family’, de Shumin Liu (longas metragens) e o argentino-boliviano ‘Nueva Vida’, de Kiro Russo (curtas metragens), foram os vencedores da Competição Internacional do IndieLisboa 2016. Os portugueses Gabriel Abrantes com ‘The Hunchback’ (curtas-metragens) e Sérgio Tréfaut com ‘Treblinka’ (longas-metragens), foram os vencedores da competição nacional.

The Family
‘The Family’, o filme vencedor.

Havia desde o início deste 13º IndieLisboa, grande expectativa em relação a Jia, do chinês Shumil Liu, um filme já apresentado na Semana da Crítica da última Mostra de Veneza. Trata-se de um longo mosaico familiar com a duração recorde de 280’ (cerca de 4h40). Este filme vencedor da Competição Internacional do 13º IndieLisboa, na categoria de longas-metragens, é uma espécie de versão contemporânea do clássico japonês, Tokyo Story, de Yasujiro Ozu: mostra o percurso de um casal de idosos que vive junto há meio século, que decide visitar os filhos, que as circunstâncias da vida e devido à enorme mobilidade de populações na China actual, levaram para longe dos progenitores. 

Vê trailer de Jia/The Family

O realizador chinês Shumin Liu, que vive na Austrália rodou este Jia, na maioria com actores não profissionais e assinando um longo e minucioso retrato, quer das relações familiares entre pais e filhos, quer da sociedade chinesa da actualidade. Em especial do quotidiano e contradições das vidas de muitas pessoas que vivem na modernizada metrópole de Xangai, uma cidade em grande crescimento económico.

Nueva Vida
‘Nueva Vida’, a curta vencedora.

Numa Competição Internacional, bastante carregada de filmes (cerca de 10 sessões de curtas-metragens internacionais), também foi sem surpresa que o filme Nueva Vida, do realizador boliviano Kiro Russo se destacou e acabou por ser o vencedor. Nueva Vida tem sido uma das curtas-metragens mais referenciadas e premiadas internacionalmente: ganhou por exemplo cinco prémios no último Festival de San Sebastián. Nueva Vida é filmada em 16 mm, tem uma duração de 16 minutos e conta a história de um casal de migrantes bolivianos em Buenos Aires, sob o olhar da janela do quarto onde vive Teo, um curioso  músico de hip-hop e costureiro.

Treblinka
‘Treblinka’, de Sérgio Tréfaut.

Numa Competição Nacional, marcadamente constituída por filmes de narrativa quase experimental (à excepção de Estive em Lisboa e Lembrei-me de Você, de José Barahona), o vencedor de Melhor Longa Metragem Portuguesa foi Treblinka, de Sérgio Tréfaut, um estilizado docudrama de 80’ ou antes um filme-viagem inspirado nas memórias do holocausto nazi durante a II Guerra Mundial, protagonizado pela actriz Isabel Ruth. O filme recorda a triste memória dos comboios europeus, utilizados para transportar milhões de judeus para os campos de concentração. Através das janelas de um comboio, uma metáfora da vida como destino imutável, os sobreviventes podiam reencontrar-se com os fantasmas do seu passado. O filme é marcado ainda pela sombra de uma investigação, Into the Darkness, de Gitte Sereny, através das entrevistas feitas ao comandante-chefe do campo de extermínio de Treblinka.

The Hunchback
‘The Hunchback’, de Gabriel Abrantes e Ben Rivers.

O Prémio para Melhor Curta Metragem Portuguesa foi atribuída a The Hunchback, da dupla Gabriel Abrantes (uma descoberta do IndieLisboa que já venceu a mesma competição com A History of Mutual Respect e o prémio Novo Talento com Visionary Iraq) e Ben Rivers. Trata-se de mais um filme alucinante, baseado num conto de As Mil e uma Noites, que acaba por acompanhar, um curioso programa de reintegração emocional, simulando outras épocas e outros géneros cinematográficos, com Carloto Cotta, Gustavo Sumpta, Mariana Mourato, Pedro Alfacinha, Norman Maccallum, Celia Williams, Randolph Albright. Nos prémios nacionais, a curta Campo de Víboras, de Cristèle Alves Meira, foi a vencedora do prémio Novo Talento da FNAC, filme que vai estar daqui a dias na Semana da Crítica do Festival de Cannes. O excelente Ascensão, de Pedro Peralta, o outro filme português que vai estar Cannes (também na Semana da Crítica), ganhou o Prémio Árvore da Vida. O Urso de Ouro da última Berlinale, que vai para as salas comerciais, Balada de um Batráquio, de Leonor Teles, foi agraciado apenas com uma menção honrosa do júri da Amnistia Internacional. Relevo ainda para a secção Novíssimos, onde o vencedor foi Maxamba, realizado pela dupla Suzanne Barnard e Sofia Borges, confirmando este festival como uma excelente montra para novos talentos.

Kate Plays Christine, de Robert Greene

Quanto a outros prémios merecem destaque ainda o filme vencedor do Prémio Especial do Júri Canais TV & Séries: a impressionante longa-metragem Kate Plays Christine, de Robert Greene, que veio do Festival de Sundance. Este filme recorda a história verídica da jornalista de 29 anos Christine Chubbuck (interpretada pela atriz americana Kate Lyn Sheil) que em 1974, durante o seu programa dominical na televisão de Sarasota, Flórida (EUA), se suicidou ao vivo disparando um tiro atrás da orelha. Outro filme premiado que merece referência e que foi premiado por duas vezes é Le Nouveau, do francês Rudi Rosenberg, uma juvenil e divertida comédia liceal, que foi exibida na secção Silvestre, que ganhou o Prémio do Público na categoria de longa-metragem e Prémio do Júri IndieJúnior. Na senda do melhor cinema teen norte-americano, Le Nouveau do conhecido actor Rudi Rosenberg, segue as pisadas de mestres do género, como John Hughes e Howard Deutch. O filme conta a história de Benoit, um miúdo de 14 anos, que se muda do campo para a cidade de Paris. Logo no primeiro dia de aulas as coisas não lhe correm bem: é excluído do grupo dos colegas mais populares, acabando por só se dar com três rapazes geeks e o seu coração desejar Johanna, a bela colega tal como ele nova e de origem sueca.

Eva No Duerme
‘Eva No Duerme’, de Pablo Aguero

Houve ainda lugar para algumas importantes menções especiais, sobretudo para filmes que merecem ser vistos: a animação Velodrooli, de Sander Joon (Estónia), para o documentário La Impression de una Guerra, de Camilo Restreto (Colômbia/França) e para ficção, Another City, de Lan Pham Ngol (Vietname). O docudrama ou uma visão do realizador de um drama verídico mostrado em Eva No Duerme, do argentino Pablo Aguero, sobre o desaparecimento e aparecimento do corpo de Eva Perón, venceu o Prémio RTP; ao passo que Short Stay, de Ted Fendt (EUA), apresentado na secção Fórum da última Berlinale, ganhou o Prémio FIPRESCI, atribuído à Melhor Primeira Obra. Ted Fendt filmou em 35 mm um excelente retrato naturalista de um anti-herói mumblecore, passado num tempo que parece recuar aos ambientes urbanos dos anos 70. O filme conta a história Mike um tipo vulgar que vive nos subúrbios de Nova Jérsia, entre a casa da mãe e a pizzaria onde trabalha. Numa vida deixada ao acaso, sem grandes interesses além da sua rotina, tudo parece estagnado. Quando um dia encontra um amigo que lhe propõe-lhe ficar com o seu emprego de guia turístico, em Filadélfia, Mike aceita mas sem grande entusiasmo. Na verdade espera-o, uma nova cidade, muito maior, e uma nova vida.

Cinema Ideal
O 13º IndieLisboa, continua no Cinema Ideal.

No entanto, o 13º IndieLisboa ainda não acabou, já que uma boa parte dos filmes vai estrear em breve nas salas comercias, dando relevo a uma programação que se preocupou em conquistar audiências, para além dos dias do festival. Além disso até a partir de hoje e até quarta os vencedores serão exibidos no Cinema Ideal, nas sessões das 18h00 e 22h05. Apesar de em alguns casos haver neste palmarés IndieLisboa 2016, alguns casos de falta de diversidade (sobretudo na competição nacional) e em apostas mais do agrado do público, (mas o júri é soberano), pode-se dizer que quer em termos de qualidade, quer de audiência este foi um dos melhores festivais dos últimos anos. O 13º IndieLisboa exibiu cerca de 289 filmes, com particular ênfase na produção portuguesa, com cerca de 40 filmes, filmes esses que na generalidade representam “um retrato do ano cinematográfico independente”, como referiu a propósito a direção no encerramento do Festival.

Palmarés Principal do IndieLisboa 2016

Grande Prémio de Longa Metragem Cidade de Lisboa

Jia/The Family, Shumin Liu (Austrália, China)

Prémio Especial do Júri Canais TV & Séries

Kate Plays Christine, Robert Greene (EUA)

Grande Prémio de Curta Metragem

Nueva Vida, Kiro Russo (Argentina, Bolívia)

Melhor Longa Metragem Portuguesa

Treblinka, Sérgio Tréfaut (Portugal)

Melhor Curta Metragem Portuguesa

The Hunchback, Gabriel Abrantes, Ben Rivers (Portugal, França)

Novo Talento – Curta Metragem

Campo de Víboras, Cristèle Alves Meira (Portugal)

Melhor Filme na secção Novíssimos

Maxamba, Suzanne Barnard, Sofia Borges (Portugal, EUA)

Prémio RTP para Longa Metragem na Secção Silvestre

Eva no Duerme, Pablo Agüero (França)

Prémio FIPRESCI (Primeiras Obras)

Short Stay, Ted Fendt (EUA)

JVM


Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *