Óscares 2017 | Travis Knight
Com o magnífico Kubo e as Duas Cordas, o animador e realizador Travis Knight conquistou mais uma nomeação para a Laika, o estúdio de animação que fundou há pouco mais de uma década.
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Como tantas outras crianças, na sua juventude, Travis Knight adorava filmes de animação, especialmente aqueles que continham histórias de fantasia e aventura. Esse gosto particular veio da influência maternal, sendo que, até durante a gravidez, a mãe do futuro realizador estava a ler a saga do Senhor dos Anéis e, quando o filho cresceu, ela levou-o e introduziu-o a uma série de semelhantes aventuras fantásticas como a saga Star Wars. Outra grande influência foi Ray Harryhausen, um pioneiro dos efeitos especiais e um mestre da animação stop-motion, cujos maravilhosos trabalhos em filmes de fantasia como Jasão e os Argonautas o tornaram num ídolo de Travis Knight.
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Apesar de um interesse musical que o levou, no princípio dos anos 90, a gravar um álbum de rap de que ninguém se lembra, Travis Knight estudou animação. Depois de completar os estudos, conseguiu um estágio nos Will Vinton Studios, onde se veio a especializar na animação stop-motion que tanto o cativava desde a infância. A sua carreira nesses estúdios durou uma década, e levou-o a trabalhar na série galardoada com um Emmy The PJs, assim como uma série de campanhas publicitárias.
É aqui que temos de esclarecer que, para além da sua vocação e paixão pelo cinema animado, Travis Knight é bem diferente do comum dos mortais devido a quem o seu pai é, Phil Knight, o bilionário dono da Nike. Dizemos isto porque não é qualquer animador que convence o seu pai a tornar-se um dos principais acionistas do estúdio para o qual trabalha. Eventualmente, o investimento de Phil Knight nos Will Vinton Studios foi tão grande que o seu fundador nominal acabou por perder o poder dentro da casa de animação que tinha criado de raiz. Polémicas à parte, com o seu foco em animação tradicional, nomeadamente stop-motion e claymation, os estúdios de Will Vinton estavam destinados à ruína com a crescente popularidade da animação completamente gerada por computador. Felizmente, Travis Knight, ao contrário de muitos outros herdeiros de fortunas americanas que procuram uma vida de celebridade, convenceu o pai a ajudá-lo a fundar os sucessores dos Will Vinton Studios.
Esses novos estúdios de animação são a Laika, um projeto nascido da imaginação e paixão de Travis Knight que, ao contrário de muitos outros profissionais do seu setor, tem recursos suficientes para, basicamente, criar o tipo de cinema que ama sem estar acorrentado à caprichosa vontade do público geral, seus gostos e preconceitos. Aliás, logo no primeiro projeto da Laika, o fundador, chefe e animador Travis Knight fez questão de deixar bem claro como os estúdios têm um incalculável valor pessoal para ele. Referimo-nos a Moongirl, uma charmosa curta-metragem realizada por Henry Selick, que é explicitamente dedicado à memória do irmão falecido de Travis.
Nunca virando as costas ao estilo de animação que o cativou desde infância, Travis Knight rapidamente levou a Laika à produção da sua primeira longa-metragem, uma adaptação de uma história de Neil Gaiman chamado Coraline. Convencer distribuidoras e produtoras a colaborarem no projeto foi difícil, inclusive por razões de sexismo institucional que fizeram muitos produtores rejeitar o filme devido à sua protagonista feminina, mas Knight lá conseguiu levar a melhor. Apesar das suas imagens saídas de pesadelos e de uma história com mais complexidade emocional que muitos filmes ditos para adultos, Coraline foi um relativo triunfo tanto com a crítica como com o público e valeu ao estúdio recém-nascido a sua primeira nomeação para o Óscar. Seguiram-se outras indicações por cada uma das seguintes longas-metragens, ParaNorman e Os Monstros das Caixas.
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Para a quarta longa-metragem da Laika, que acabou por receber duas triunfantes nomeações da Academia, Travis Knight decidiu não se restringir ao papel de chefe dos estúdios e animador, experimentando pela primeira vez a cadeira de realizador. Esse envolvimento é entendível se considerarmos toda a carga pessoal subjacente a Kubo e as Duas Cordas. Trata-se da história de um jovem contador de histórias que cria aventuras emocionantes através de miniaturas animadas pela sua música. O poder da criatividade é um elemento central a toda a história, assim como a relação de Kubo com os seus pais, uma figura masculina distante mas que está sempre pronto a proteger o filho e uma mãe que dá ao filho o maior dom de todos, o amor e habilidade de contar histórias. É um filme que conjura lágrimas na mesma medida que propulsiona gargalhadas e sussurros de admiração, e que, não obstante a qualidade dos outros projetos, é o maior triunfo técnico e artísticos que a Laika produziu até agora. Para além do mais, Travis Knight há décadas que é obcecado com a cultura japonesa, desde uma viagem que fez com o sue pai aos oito anos, e aqui ele pode finalmente trazer um pouco dessa cultura oriental à sua animação.
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Na próxima página, chegamos ao fim desta exploração de nomeados para os Óscares que (possivelmente) não conheces. Guardamos o melhor para o fim, sendo que vamos falar da pessoa viva que mais vezes foi nomeada para um Óscar sem nunca ter ganho. Será que é desta?