Zoolander 2, em análise

 


As taglines enchem-nos os ouvidos e o imaginário: “Zoolander No. 2 é intenso,  Zoolander No. 2 é irresistível, Zoolander No. 2 é selvagem”. No entanto, e na verdade, Zoolander 2 está longe de ser tudo isso. 


FICHA TÉCNICA

Zoolander 2

 

Título Original: Zoolander No. 2
Realizador: Ben Stiller 
Elenco: Ben Stiller, Owen Wilson, Will Ferrell, Penélope Cruz e Kristen Wiig
Género: Comédia, Ação, Aventura
NOS | 2016 | 109 min[starreviewmulti id=18 tpl=20 style=’oxygen_gif’ average_stars=’oxygen_gif’] 

 

Existem por aí alguns spots publicitários a recomendar uma ida ao cinema para assistir à sequela de Zoolander com Ben Stiller no principal papel e  começamos por dizer que não perderá nada em fazê-lo… pelo menos se é admirador do original. Na verdade este ‘número 2’ não é verdadeiramente especial, estando desde já confinado a tornar-se um dos grandes flop’s de 2016 – a generalidade da crítica assim o vem dizendo – particularmente pela maquinação publicitária  que lhe construiu um hype difícil de transformar em qualidade efetiva (afinal, o filme de Ben Stiller foi mesmo anunciado durante a semana da moda em Paris, no ano passado).

Estilo e irreverência são as palavras que, à partida, deveriam rotular esta aventura com um elenco de estrelas (Ben Stiller, Owen Wilson, Will Ferrell, Penélope Cruz, Kristen Wiig), mas que raramente consegue escapar da presunção do seu material de base: o cansativo e instável argumento redigido, vejam só, por quatro nomes (!) – Ben Stiller, Justin Theroux, Nicholas Stoller e John Hamburg – o que dificulta o rumo mais acertado para contar a história. Embora se perceba o esforço de todos os membros do elenco, bem como da equipa técnica, falta qualquer coisa, a essência de um perfume, nem que seja quando identificamos um ou outro erro de montagem.

Zoolander
Os olhares Blue Steel e Magnum de Derek (Ben Stiller) e Hansel (Owen Wilson)

Depois da sátira de 2001, sobre o mundo da moda em que um modelo super afamado com baixo nível de Q.I salvava o mundo, a carreira de Stiller mudaria de alguma forma. A peça, com enredo agora cliché, mostrava-nos Derek Zoolander, um renegado pela sua família, a salvar o presidente da Malásia das mãos do extravagante Mugatu (Will Ferrell) e da maléfica Katinka (Milla Jovovich). Eram novos tempos para a comédia, que se reinventava no novo milénio através da sátira de um sistema que talvez não esteja tão dissociado da indústria de Hollywood. A ideia resultou – vejamos os 60 milhões de dólares de receitas a nível mundial que atingiu – transformando-se num filme de culto, com cenários e guarda-roupa que estão além das tendências de estações.

Zoolander
Derek Zoolander com o seu mini-telemóvel, ao lado de Valentina Valencia (Penélope Cruz)

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Neste novo capítulo, a frescura do original não conseguiu ser captada, mas existe, pelo menos, um esforço assumido de “atualizar” o certame. De facto, este Zoolander 2 adapta muito do seu humor ao ridículo da contemporaneidade digital e cibernética, onde um conjunto de celebridades são assassinadas, mas antes de morrerem despedem-se dos seus fãs, através do upload nas redes sociais de uma fotografia bem editada, que tem ainda uma peculiaridade – todos fazem um olhar, que exige muita, mesmo muita técnica.

Novamente, o objetivo é salvar o mundo, e desta feita há a intervenção da Interpol e da sensual agente Valentina Valencia (Penélope Cruz, a regressar ao cinema de Hollywood após ‘licença de maternidade’, sendo de longe a atriz mais interessante do lote, sem nunca ser ridícula) que procura o ‘dono’ daquela expressão. De imediato, o filme repesca a história, obviamente ridicularizada, de Anjos e Demónios, narrativa célebre de Dan Brown, que também se desenrola em Roma e cujas marcas identificamos com alguma pontualidade.

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Alexanya Atoz (Kristen Wiig no seu pior desempenho) e Will Ferrell como Mugatu, os vilões de Zoolander 2

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Dentro do grupo de pop-stars que oferecem cameos, em vez de um David Bowie, Gwen Stefani ou Lenny Kravitz temos Justin Bieber, Billy Zane (que funciona como pombo-correio), Susan Boyle, Kiefer Sutherland, Kate Perry, Sting ou o astrofísico Neil deGrasse Tysson, sem esquecer os ícones do mundo da moda Anna Wintour (editora da Vogue) ou Tommy Hilfiger, Marc Jacobs, Valentino (estilistas) que nunca chegam a dar verdadeiramente ar da sua graça e que conseguem ser colocados em segundo plano quando comparados a Benedict Cumberbatch. Disfarçado de transsexual, e só por aí alvo de críticas, a sua personagem é aquela que mais se aproxima à realidade. O cerco digital já referido, que tanto nos envolve, pressupõe uma espécie de máscara na forma como nos damos a conhecer aos outros e o grupo que o ser em baixo pertence, os All (os Tudu) reflete quem quer ser tudo e no fim de contas, não é nada, decidindo inclusive referir-se a si próprio na terceira pessoa do singular.

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Benedict Cumberbatch

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Enfim, Zoolander 2 é mais um daqueles exemplos de produções que partem de uma premissa para, a meio do enredo, mudar para outra completamente diferente. Descobrimos que o seu propósito não é nada lógico e parece que assistimos a um espetáculo de circo em que os palhaços desfilam, sem perceber que ‘para ter graça, uma vez basta’, aliás é isso a que temos nos créditos finais ao ritmo da reconhecida música “Relax”, numa versão bem miserável que não, não o fará dançar.

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VJ

 

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