14º DocLisboa: A Redenção de António Macedo
O Doclisboa ’16, o maior festival português de documentários que decorre em Lisboa entre 20 e 30 de Outubro, apresentou a sua 14ª edição. ‘Oleg y las Raras Artes’ é o filme de abertura do festival e ‘Nos Interstícios da Realidade ou o Cinema de António de Macedo’ será o filme de encerramento.
O DocLisboa’16 volta a estar presente de 10 a 30 de Outubro, em toda a cidade de Lisboa, da Culturgest ao Cinema São Jorge, da Cinemateca Portuguesa e este ano até à Fundação Calouste Gulbenkian. Entre as novidades para além dos melhores documentários do mundo, destaque para o nascimento de uma nova secção Da Terra à Lua, (fora de competição) e de o Museu Calouste Gulbenkian – Coleção Moderna, ser anunciando como um novo espaço do festival.
A sessão de abertura da 14ª edição do Doclisboa – Festival Internacional de Cinema realiza-se dia 20 de Outubro, às 21h30, no Grande Auditório da Culturgest, com a estreia de Oleg y las Raras Artes, de Andrés Duque, um impressionante sucesso internacional, premiado em festivais como o Dokufest, o Cinéma du Réel ou Punto de Vista. Andrés Duque apresenta-nos o retrato do compositor russo Oleg Karavaichuk, o único pianista que tocava ainda no piano do Czar Nicolau II.
Oleg é uma pessoa vibrante, plena de sensibilidade, misteriosa, que parece saída de um conto de Gogol. O filme move-se entre o biográfico e os espectáculos do músico, numa fascinante incursão pelo universo pessoal e criativo de um artista único, transformando-se num delicioso e divertido encontro com a música, a escuta e a criação.
No dia 29, a sessão de encerramento do DocLisboa’16 realiza-se no Grande Auditório da Culturgest, com a estreia de Nos Interstícios da Realidade ou o Cinema de António de Macedo, a primeira obra de João Monteiro. António de Macedo foi um dos mais controversos e talvez mais incompreendidos realizadores do ‘Novo Cinema’ português, um movimento que ajudou a fundar com o filme Domingo à Tarde. Verdadeiro inventor em cinema, com incursões em géneros tão díspares como o spaghetti western e a ficção científica, é difícil classificar o seu cinema no contexto português.
Porém, a clivagem com a crítica e com os seus pares vetou-o a um quase ostracismo que o levaria a deixar de filmar nos anos 90, depois de sucessivas recusas de subsídios estatais. Após sete anos de pesquisa, recorrendo a imagens de arquivo — não só das rodagens dos próprios filmes de Macedo mas também da história do cinema português — e a entrevistas inéditas, como as de Fonseca e Costa ou como a última entrevista de Fernando Lopes, João Monteiro, um dos directores do MOTELX, estreia-se na realização de um documentário que traz uma nova luz sobre um realizador que parecia caído no esquecimento. E traz-nos uma história do nosso cinema e de António Macedo que estava ainda por contar.
Na Competição Internacional, a mais importante vão estar a concurso cerca de dezoito filmes, com sete realizadores a apresentarem as suas obras em estreia mundial: Kimi Takesue (EUA), Yuki Kawamura (Japão, França), Maria Giovanna Cicciari (Itália), Ludovica Tortori de Falco (Itália), Féliz Rehm (França), Louis Henderson (Reino Unido), e Maximiliano Schonfeld (Argentina).
Nesta selecção de obras, de diferentes formatos e durações, a a realizadora portuguesa Rita Azevedo Gomes vai apresentar o seu novo filme intitulado Correspondências. Na Competição Portuguesa estarão obras de realizadores de várias gerações, entre novatos e mais consagrados, como: Marília Rocha, Pedro Neves, Cláudia Varejão, André Marques, Cláudia Rita Oliveira, Miguel Faro, Ida Marie Sørensen, Joana Linda, Mário Macedo, Patrícia Pinheiro de Sousa, Edgar Pêra e Luciana Fina.
Foi anunciada uma nova secção, Da Terra à Lua, com filmes fora de competição. Esta secção apresenta os filmes mais recentes de realizadores – chave do panorama documental (Wang Bing, Avi Mograbi, Werner Herzog e Rithy Panh, entre outros), e como o nome indica fazendo uma verdadeira viagem sobre a actualidade, nos seus diferentes lugares do mundo. Na secção Riscos destaca-se uma homenagem ao realizador experimental norte-americano Peter Hutton, recentemente falecido, com um programa organizado por Luke Fowler e Rinaldo Censi.
Luke Fowler foi candidato ao Turner Prizer em 2012, e terá no âmbito desta secção não-competitiva uma incursão pelos seus filmes. Manon de Boer, presença regular no DocLisboa, foi convidada nesta 14ª edição a programar uma sessão em torno do seu último filme. O filme How I Fell in Love with Eva Ras, de André Gil Mata, menção especial do Grande Prémio FidMarseille, será igualmente exibido na secção Riscos. O filme de abertura desta secção será Manoel de Oliveira: 50 anos de Carreira, um filme extraordinário e uma verdadeira pérola saída do baú, realizado em 1981, por Augusto M. Seabra e José Nascimento.
No Cinema de Urgência destaca-se uma sessão com a presença da Mídia Ninja, uma plataforma jornalística online conhecida pelo seu activismo político e que se assume como uma alternativa à imprensa tradicional. Após à sessão haverá um debate com Pablo Capilé, um dos seus representantes. A segunda edição do Arché, o laboratório de desenvolvimento de projectos do Doclisboa, está em marcha e além de projectos portugueses e espanhóis, este ano estão integrados projectos suíços.
A Oficina de Escrita e Desenvolvimento de Projecto conta igualmente com seis projectos e a Oficina de visionamento com cinco. Será também apresentado um programa de quatro curtas-metragens que traçam um mapa visual de um jovem cinema suíço. As restantes secções, Heart Beat, Verdes Anos e Doc Alliance mantêm-se e a composição do júri do festival será anunciada brevemente.
JVM