24º Curtas Vila do Conde | Um balanço e premiados
Um dos filmes mais amados desta edição, ‘António, Lindo António’, onde a realizadora luso-francesa Ana Maria Gomes, procura um tio há muito imigrado no Brasil, ganhou com justiça a Competição Nacional e Prémio do Público. O filme ‘From The Diary of a Wedding Photographer’, um estranho drama criminal do israelita Nadav Lapid, venceu o Grande Prémio da Competição Internacional.
Na sempre expectante Competição Nacional, no que diz respeito à revelação de novos talentos, o vencedor foi António, Lindo António, de Ana Maria Gomes, filme que venceu o Prémio para Melhor Filme e o Prémio do Público SPA e que era na verdade o favorito e o melhor para quem acompanhou as várias secções sobretudo a dos filmes portugueses.
Vê trailer de António, Lindo António
‘António, Lindo António’, é um tema popular tocado ao acordeão, (mas igualmente uma referência romantizada do personagem ausente, que partiu ainda novo) é um documentário, em que a realizadora luso-francesa procura através da idosa e expressiva avó, do pai e tios, as razões da partida de outro seu tio o mais velho dos irmãos, há 50 anos para o Brasil. Tio esse que nunca mais voltou à sua aldeia natal nem deu notícias à familia.
Encontro com a Ana Maria Gomes no Curtas (1)
António, Lindo António é um filme familiar, mas com uma dimensão universal, no que diz respeito às origens e percursos de muitas familias portuguesas, que viram os seus filhos partir das aldeias para a cidade ou para a imigração, para fugir ao campo e à pobreza. António, Lindo António é ainda um tocante e terno regresso às origens e questões de identidade de Ana Maria Gomes, uma jovem realizadora de 34 anos, praticamente desconhecida em Portugal, que vive em Paris, estudou na famosa Le Fresnoy e que tem um vasto trabalho na área da videoarte, fotografia e documentários.
Encontro com a Ana Maria Gomes no Curtas (2)
Esta pesquisa documental sobre o paradeiro do tio, num tom algo novelesco e até delirante sobretudo na parte brasileira, é por outro lado um extraordinário e revelador retrato da solidão, isolamento e desertificação de uma das regiões ainda hoje mais pobres do Norte de Portugal.
Encontro com a Ana Maria Gomes no Curtas (3)
Ainda na Competição Nacional o Prémio para Melhor Realizador foi para Gabriel Abrantes por A Brief History of Princess X, uma louca e ficionada história de uma escultura futurista intitulada ‘pricesa X’, da autoria do escultor Constantin Brancusi, que começou por ser um busto de Marie Bonaparte, a sobrinha de Napoleão e acabou por se desenvolver, contra a infâmia da princesa, num abstrato falo de bronze.
Vê Trailer de A Brief History of Princess X
COMPETIÇÃO INTERNACIONAL
Numa competição internacional equilibrada, por vezes algo bizarra relativamente aos temas e à duração de muitas curtas-metragens com várias para além dos 30 minutos, o vencedor foi o filme From The Diary of a Wedding Photographer, do israelita Nadav Lapid, que esteve igualmente na Semana da Crítica do Festival de Cannes 2016.
The Diary of a Wedding Photographer, o Grande Prémio Curtas Vila do Conde 2016 é uma comédia negra com toques de non sense, sobre um antigo estudante de artes, com aspirações a cineasta, que trabalha para sobreviver como fotógrafo de casamentos, mas que acaba por se envolver numa complicada situação. Depois de muitos casamentos fotografados e desiludido com a sua vida, o homem começa desenvolver uma espécie de obsessão fetichista por noivas. Por isso casa com uma noiva, mas acaba por matar outra noiva e esconder-se em casa. Totalmente estranho, secamente lírico, sibilinamente pitoresco The Diary of a Wedding Photographer é um excelente filme com uma espantosa fotografia e interpretações notáveis, que procura criticar as questões da identidade israelita e as regras dos casamentos hebraicos, numa sociedade altamente conservadora, retrógrada e patriarcal.
Vê excerto de The Diary of a Wedding Photographer
Na Competição Internacional, o filme Limbo, da grega Konstantina Kotzamani, venceu o Prémio de Melhor Ficção uma estranha e surreal história de um bando de treze miúdos que vagueiam pela costa e acabam por descobrir uma baleia morta na praia
Vê crítica a Limbo em Festival Scope | Filmes da Semana da Crítica de Cannes (VI)
O Prémio Melhor Documentário foi atribuído ao filme Notes From Sometime, Later, Maybe da dupla espanhola Roger Gómez e Dani Resines, uma obra que relata uma história de memória das imagens: oitenta anos depois da Grande Depressão de 1939, um cineasta viaja para Britton no Dakota Sul, EUA, para procurar um velho filme de Ivan Besse, um cineasta que então foi para as ruas para filmar a dura vida dos seus concidadãos.
Vê excerto de Notes From Sometime, Later, Maybe
Decorado do realizador galego Alberto Vázquez ganhou o Prémio de Melhor Animação e Prémio do Público (filme que esteve igualmente na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes 2016. Trata-se de um filme a preto e branco como uma novela gráfica, onde as personagens são animais antropomorfos que contam a história da decadência de uma relação amorosa, através de 19 cenas, concebidas como micro-curtas, com elipses temporais, criando uma espécie de puzzle para o espectador.
Home, de Daniel Mulloy, um filme sobre a crise dos refugiados na Europa, foi considerado a Melhor Curta-Metragem Europeia, uma referência que inclui desde já a nomeação para os Prémios do Cinema Europeu organizados anualmente pela European Film Academy em Dezembro. Na Competição Experimental, o premiado foi Bending To Earth, de Rosa Barba. O júri Curtinhas, composto por um grupo de crianças com idades entre os 6 e os 12 anos, atribuiu o Prémio à animação Moom, de Robert Kondo e Daisuke ‘Dice’ Tsutsumi. Na Competição Take One!, dedicada a filmes de escola, o premiado foi a animação Pronto, Era Assim, de Joana Nogueira e Patrícia Rodrigues. Já na Competição de Vídeos Musicais, o vencedor foi Villa Soledade dos Sensible Soccers, realizado por Laetitia Morais.
