Cold War - Guerra Fria | ©Midas Filmes

31º Prémios do Cinema Europeu | A cerimónia e os vencedores

Sem grande surpresa, ‘Cold War – Guerra Fria’, do polaco Pawel Pawlikowski confirmou-se como o favorito aos Prémios do Cinema Europeu, realizados em Sevilha. Ganhou praticamente todos os prémios para que estava nomeado. O cinema português mais uma vez, apesar das nomeações não ganhou nada.

Guerra Fria
Joanna Kulig em ‘Cold War-Guerra Fria’

Os academistas do cinema europeu renderam-se ao amor profundo, e à dolorosa história de separação de um belo casal de artistas (Joanna Kulig e Tomasz Kot, ambos candidatos aos prémios de interpretação), que viveram um complexo drama passional, em ‘Cold War-Guerra Fria’, o filme dirigido pelo polaco Pawel Pawlikowski (Varsóvia, 1957). Trata-se de um filme de amor e música, — anda perto do musical, entre o jazz e a música clássica — rodado a preto e branco e aparentemente inspirado na história verídica dos pais do realizador que viveram numa Europa ainda dividida e devastada pela barbárie, marcada pela separação e fuga de muitas famílias, mas também por dramas de paixões interrompidas e destroçadas; e sobretudo a história de um continente alastrado pela miséria e pelas incertezas do período após o final da II Guerra Mundial.

Prémios do Cinema Europeu
A cerimónia realizou-se no Teatro da Maestranza em Sevilha.

O facto é que o filme ganhou quase todos os prémios mais importantes, desta 31ª edição promovida pela Academia de Cinema Europeu: Melhor Filme, Melhor Realização, Melhor Argumento, além de que Joanna Kulig está em Hollywood, grávida, sem poder viajar e portanto não estava na sala que foi galardoada como Melhor Actriz Europeia.

Prémios do Cinema Europeu
A actriz espanhola Rossy de Palma coordenou os apresentadores de serviço na cerimónia.

A gala, realizada em Sevilha, no Teatro da Maestranza, foi talvez das menos felizes em termos de guião e o espectáculo menos excitante dos últimos anos, tire-se os momentos de flamengo e as homenagens. Em primeiro lugar porque não teve um apresentador que fizesse as habituais honras da casa. O dispositivo cénico era muito bonito, mas foi talvez demasiado arriscado colocar a actriz espanhola Rossy de Palma — que não é um grande talento ao nível da interpretação a coordenar um grupo de apresentadores, onde estavam alguns dos melhores actores europeus da actualidade: o israelita Ashraf Barhom, a francesa Amira Casar, a romena Anamaria Marinca, o russo Ivan Shvedoff e o alemão Tom Wlaschiha. Apesar do humor negro — sobretudo nas ‘deixas’ do actor russo — o guião não tinha graça e o discurso foi correndo de uma forma algo forçada pelos restantes actores. Contudo, a cerimónia tornou-se mais uma vez, agora com mais força dada a crise na Europa e o Brexit — várias vezes abordado —, num grito de defesa da cultura, do cinema e dos valores europeus. Sou britânico e daqui deste palco proclamo o meu amor pela Europa, defendeu o realizador Armando Iannucci, Prémio de Melhor Comédia Europeia — onde concorria Diamantino’ de Gabriel Abrantes e Daniel Schmid — do filme ‘A Morte de Estaline’, que está inclusive proibido de ser exibido na Rússia.

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Prémios do Cinema Europeu
O polaco Pawel Pawlikowski, que com  ‘Ida’, já tinha ganho cinco Prémios do Cinema Europeu.

Pawel Pawlikowski, que com o seu filme anterior ‘Ida’, ganhou cinco Prémios do Cinema Europeu, além do Óscar de Hollywood, para Melhor Filme de Língua Estrangeira acabou por confessar na cerimónia algo que refere as tais ligações familiares, deste seu último filme: O que finalmente rodei não tem quase nada a ver com os vários guiões que escrevi sobre a história de amor dos meus pais. Para além desta confissão o realizador polaco foi um dos que mais levantou a sua voz a favor da integridade artística do cinema europeu, denunciando como, em alguns países, a cultura está a ser sequestrada para contar só histórias politicamente correctas, referindo-se talvez numa crítica velada inclusive ao seu próprio país.

Prémios do Cinema Europeu
O italiano Marcelo Fonte (‘Dogman’) foi considerado com surpresa o Melhor Actor Europeu.

A surpresa da noite veio com o italiano Marcello Forte, que já tinha ganho o Prémio de Melhor Actor no Festival de Cannes, por ‘Dogman’, de Matteo Garrone. Forte voltou a ganhar aqui o galardão de melhor interpretação masculina europeia, numa categoria muito forte onde estavam entre outros o britânico Ruppert Everret (‘The Happy Prince’), Tomasz Kot (‘Cold War-Guerra Fria’) ou mesmo o jovem Victor Polster, com a sua notável interpretação da bailarina clássica presa a um corpo de homem, em ‘Girl’, do belga Lukas Dhont (Prémio Melhor Revelação Europeia).

O prémio para Melhor Filme de Animação foi para o extraordinário ‘Mais Um Dia de Vida’ uma obra que mistura desenhos animados com o documentário, dirigido pela dupla Raúl de la Fuente e Damian Nenox, que adaptam o primeiro livro do jornalista polaco Ryszard Kapucinski, sobre os seus trabalhos de reportagem em plena guerra de Angola. O prémio para Melhor Documentário Europeu foi para ‘Bergman, Um Ano, Uma Vida’, da sueca Jane Magnusson, uma evocação dos 100 anos do realizador, que mostra o seu lado mais polémico, obscuro e controverso, centrando-se no ano de 1957, talvez o ano mais agitado e produtivo da sua carreira.

Prémios do Cinema Europeu
Ralph Fiennes destacou a importância de uma não saída do Reino Unido da União Europeia.

Os momentos mais memoráveis desta edição 31 dos Prémios do Cinema Europeu foram sem dúvida proporcionados pelos prémios honoríficos atribuídos a figuras do cinema europeu e que deram igualmente um grande contributo para o cinema mundial. Os prémios foram atribuídos com grande entusiasmo e emoção, com o público a aplaudir por vários minutos de pé, mas também com fortes palavras dos homenageados. Primeiro foi o realizador greco-francês Costa Gavras (A Europa é um espaço que se está a esquecer da importância da cultura e da educação); depois com uma chorosa e divertida actriz Carmen Maura, que ganhou um dos primeiros galardões da Academia Europeia de Cinema com ‘Mulheres à Beira de Um Ataque de Nervos’ e que citou para as novas candidatas a actrizes, que para ser actriz hoje não é necessário ter um bom corpo ou ser magra, basta ser-se a própria; e por último do actor-realizador britânico Ralph Fiennes, que destacou a importância de uma não saída do Reino Unido da União Europeia. Ontem Fiennes tinha participado num talk-show com o público no Teatro Alameda, antes da projecção do seu novo filme — onde actua e realiza —, intitulado ‘The White Crow’, um muito aguardado biopic sobre o famoso bailarino Rudolf Nureyev.

PALMARÉS DOS PRÉMIOS DO CINEMA EUROPEU 2018

Melhor Filme: Cold War-Guerra Fria.

Melhor Comédia: A Morte de Estaline, de Armando Iannucci.

Melhor Realização: Pawel Pawlikowski (Cold War-Guerra Fria).

Melhor Argumento: Pawel Pawlikowski (Cold War-Guerra Fria).

Melhor Actor: Marcello Forte (Dogman).

Melhor Actriz: Joanna Kulig (Cold War-Guerra Fria).

Melhor Documentário: Bergman: Um Ano Uma Vida, de Jane Magnusson.

Melhor Animação: Mais Um Dia de Vida, de Raúl de la Fuente e Damian Nenow.

Prémio Revelação: Girl, de Lukas Dhont.

Melhor Curta-Metragem: Gli anni, de Sara Fgaier.

Prémio do Público: Chama-me Pelo Teu Nome, de Luca Guadagnino.

Prémio Eurimages: Kontovrakis & Karnavas.

Melhor Fotografia: Martin Otterbeck (Utoya, 22 de Julho).

Melhor Direcção Artística: Andrey Ponkratov (Leto).

Melhor Guarda-Roupa: Massimo Cantini Parrini (Dogman).

Melhor Maquilhagem e Cabeleireiro: Dalia Colli, Lorenzo Tamburini & Daniela Tartari (Dogman).

Melhor Banda Sonora: Christoph M. Kaiser & Julian Maas (3 Dias em Quiberon).

Melhor Desenho de sSom: André Bendocchi-Alves & Martin Steyer (O Capitão).

Melhor Edição: Jarosław Kamiński (Cold War-Guerra Fria).

JVM

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