69º Festival de Cannes (Dia 4): Amor Para Todos

A alemã Maren Aden apresentou na competição Toni Erdmann, um filme sobre um pai que tenta reconquistar o afecto da filha com muito humor. O coreano Park Chan-wook na sua terceira vez a concurso, estreou The Handmaiden, um thriller erótico passado na Coreia dos anos 30 e num tom ‘hitchcockiano’.

Toni Erdmann de Maren Ade (Alemanha) com Peter Simonisheck, Sandra Huller (competição)

A história: Quando Ines (Sandra Huller), uma mulher de negócios de uma grande companhia alemã com sede em Bucareste, vê o seu pai (Peter Simonisheck) chegar sem avisar, ela tenta não ficar perturbada, com esta visita. A sua vida bem organizada e planeada acaba por ficar de pernas para o ar, ainda mais quando seu pai a questiona: se ela é feliz?, isto até pela incapacidade de Ines, para parar e responder a uma questão tão profunda. Este pai um pouco pesado e de que ela tem vergonha vai fazer tudo para ajudá-la a encontrar um sentido para a sua vida, inventando mesmo um personagem, que consegue chegar ao seu meio dos negócios: o divertido Toni Erdmann.

Vê trailer de Toni Erdmann

A análise: Depois de Everyone Else, premiado na Berlinale 2009, a alemã Maren Ade, apresentou agora Toni Erdmann, o seu primeiro filme na competição de Cannes. Toni Erdmann é mais uma comovente e ao mesmo tempo divertida história de familia, desta vez entre uma rapariga e um pai distante (uma figura muito peculiar), que tenta reconquistar a sua afeição à custa de piadas, perucas, máscaras e a música de Whitney Houston. Toni Erdmann, também não é apenas um filme familiar, pois tem aquele lado social procurando dar-nos um retrato do choque de culturas e das gerações: de um lado uma filha, que representa no limite a imagem das mulheres contemporâneas e por outro um pai, símbolo dos valores e os erros da geração de 60, que tenta a todo o custo remediá-los.

Toni Erdmann

A seguir a Daniel Blake do filme de Ken Loach, Toni Erdmann é sem dúvida um dos personagens mais cativantes deste início do festival. Se a relação pai-filha é no início chocante, pois o tempo e a separação foi-a desgastando, é notável ver a forma inquieta do pai e a mudança de atitude dos dois protagonistas ao longo desta pequena fábula familiar onde só o humor parece ter lugar. Toni Erdmann, é um filme simples, mas tem quase três horas de duração, que passam depressa tal é desenvoltura do drama. Não é de todo uma obra prima, mas justifica-se talvez nesta competição pelo seu caráter afinal de ‘fell good movie’, em todos os sentidos. E depois a sequência cantada The Greatest Love of All, de Whitney Houston, provocou tantos aplausos no Teatro Debussy, como há muito tempo não se via.

The Handmaiden

The Handmaiden de Park Chan-wook (Coreia), com Kim Min-Hee, Kim Tae-ri (competição)

A história: Passa-se na Coreia dos anos 30, durante a colonização japonesa. Sookee (Kim Tae-ri) uma rapariga coreana é contratada como criada de Hideko (Kim Min-Hee), uma rica japonesa que vive reclusa numa imensa mansão às ordens de um tirânico tio (Cho Jin-woong). Mas Sookee tem um segredo. Com a ajuda de um escroque (Ha Jung-woo), que se faz passar por um conde japonês, mas eles têm outros planos para Hideko.

Vê Trailer de Handmaiden

A análise: The Handmaiden é a terceira participação do coreano Park Chan-wook na competição oficial, depois de ter ganho com Thirst, o Prémio do Júri em 2009; e acima de tudo ter levado para casa em 2004, o Grande Prémio com Old Boy prémio este anunciado e muito defendido por Quentin Tarantino. Sete anos depois Park Chan-wook regressou com The Handmaiden, um thriller erótico baseado num romance da britânica  Sarah Waters, e um filme perfeito do ponto de vista estético: um conjunto de quadros, cores, fundos, delicados movimentos da câmera e uma perfeita composição de planos, assentes num suporte de 35 mm, que até era para ter sido rodado em 3D.

The Handemaiden

Já em Stoker, o filme anterior Park Chan-wook, sentia-se a influência de Hitchcock e agora neste The Handmaiden é quase evidente, quer em em relação à música quer ao argumento de thriller psicológico (e erótico), de uma elegância notável e ao ritmo hitchcokiano. A violência em alguns momentos é atravessada por uma tensão sexual que vai crescendo ao longo do filme para explodir numa poderosa cena de amor, onde as duas actrizes Kim Min-Hee e Kim Tae-ri (dão o corpinho ao manifesto)e que não fica nada atrás (embora mais curta) da memorável cena de A Vida de Adéle.

The Handmaiden

The Handmaiden é uma história de manipulação dos amantes que faz lembrar um pouco Noites Escaldantes de Lawrence Kasdam (1981), só que aqui a história é contada em duas vozes e em diferentes intervalos de tempo, sempre num tom de fingimento e falsas aparências. The Handmaiden tem uma reviravolta memorável.

JVM

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