©73ª Berlinale

73ª Berlinale | Manodrome: Masculinidade Tóxica

Jesse Eisenberg e Adrien Brody foram as grandes estrelas da Berlinale este fim de semana, com a estreia mundial ‘Manodrome’, um poderoso drama do realizador australiano John Trengove e um filme que explora a crise contemporânea da masculinidade.

Os temas tóxicos da masculinidade estão presentes neste perturbador thriller intitulado ‘Manodrome’, realizado por John Trengove, protagonizado por Jesse Eisenberg e Adrien Brody. Trata-se também do regresso do realizador australiano à Berlinale após a sua estreia, em 2017, com ‘The Wound’, um filme que explorava a forma como um rito de passagem masculino, desencadeava sentimentos reprimidos, com o mesmo potencial de perigo do que abrir uma panela de pressão. Este novo filme ‘Manodrome’, vai na mesma linha mas é inspirado no estranho mundo online de sites misóginos (‘manosfera’). A partir de uma ideia, decerto modo original, o realizador procurou criar além de personagens complexas, algo mais mítico e desafiante: uma sociedade secreta em que uma problemática personagem Ralphie, interpretada por Jesse Eisenberg (A Rede Social), um motorista da Uber obcecado pela musculação no ginásio, um futuro pai que luta também para sobreviver com a jovem mulher grávida, acaba por ser atraído para um culto que rejeita totalmente as mulheres, liderado por um carismático e manipulador guru, interpretado por Adrien Brody (‘O Pianista’).

Lê Também:   73ª Berlinale | She Came To Me: Os Viciados no Amor
manodrome
Odessa Young (a actriz da mini-série ‘The Staircase’), interpreta a namorada de Ralphie. © 73ª Berlinale

Efectivamente, Ralphie apesar de jovem e aparentemente saudável, parece ter também um estranha relação com o corpo e com uma necessidade de ser forte, algo que parece ser construído sobre alicerces bastante instáveis e violentos. Quando é introduzido nesse culto de masculinidade libertária, as tensões dentro de si vão aumentado e vêm à tona determinados traumas do seu passado e infância, que tem a ver com abuso sexual. Ralphie começa aos poucos a perder o controle da realidade, ao mesmo tempo que se encharca em anfetaminas. A personagem principal não é propriamente um estereótipo que possamos associar a um indivíduo violento, pertencente a um grupo extremista, em torno dessa misogínia fervorosa ou de fenómenos, como os incels ou involuntary celibates: um mundo sombrio de celibatários involuntários, que odeiam mulheres e que por incrível que pareça abundam em fóruns na internet; pelo contrario a personagem de Ralphie, parece no início até gentil e tranquilo.

Lê Também:   73ª Berlinale | She Came to Me, uma abertura com amor
manodrome
Ralphie acaba por ser atraído para um culto que rejeita totalmente as mulheres. ©73ª Berlinale

Por isso, a sua mudança, ajuda-nos a aprofundar a nossa compreensão do modo como a fragilidade masculina pode acarretar de perigo, para um indivíduo e para a sociedade, ao ponto de se tornar bastante violenta. Apesar das implicações sombrias da premissa de ‘Manodrome’, este filme também não é desprovido de um certo humor, obviamente bastante negro e incómodo. No entanto, é muito hábil a forma como o realizador faz com que a tensão vá aumentando ao longo da história que se torna bastante acelerada — ao ritmo dos anabolizantes —, sobretudo graças às poderosas interpretações de Jesse Eisenberg e Adrien Brody, que deixam o espectador bastante abalado e impressionado. Odessa Young ( actriz da mini-série ‘The Staircase’, e dos filmes ‘O Domingo das Mães’, de Eva Husson e do de terror ‘Shirley’, de Josephine Decker) interpreta a namorada de Ralphie, mas o filme conta com outros importantes actores no elenco, como Sallieu Sesay, Philip Ettinger, Evan Jonigkeit e Ethan Suplee.

JVM, em Berlim

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *