Cannes 2024: Palma de Ouro para “Anora” e Miguel Gomes é o Melhor Realizador
O cinema português saiu em grande deste Festival de Cannes 2024: ganhou o Prémio de Melhor Realização para Miguel Gomes com “Grand Tour” e uma Menção Honrosa para a curta-metragem “Mau por Um Momento”, de Daniel Soares. A Palma de Ouro 2024 foi para “Anora”, do realizador norte-americano Sean Baker.
O Festival de Cannes 2024, o maior evento cinematográfico do mundo, foi um grande palco naquele que se vai transformar num ano histórico para o cinema português em termos de Palmarés: saiu da Croisette com o Prémio de Melhor Realização para Miguel Gomes com o seu novo “Grand Tour” e com uma Menção Honrosa para a curta-metragem “Mau por Um Momento”, de Daniel Soares. E logo nas duas maiores Competições da Selecção Oficial de Cannes 77. Trata-se de mais uma grande vitória para o cinema português, para o seu legado e luta, frente às dificuldades, que continuam a pesar sobre os cineastas nacionais, tanto ao nível da produção como no reconhecimento nacional e internacional. Quanto à Palma de Ouro de Cannes 2024 foi com justiça para “Anora”, do realizador norte-americano Sean Baker, um filme que se foca nas trabalhadoras do sexo, neste caso numa stripper e nas suas desventuras ao envolver-se com o imaturo filho de um oligarca russo, de férias em Nova Iorque. O filme francês “Emilia Perez”, de Jacques Audiard, recebeu dois prémios – Prémio de Interpretação Feminina (para a actriz Karla Sofía Gascón) e Prémio do Júri. Quanto ao realizador iraniano Mohammad Rasoulof, um dos grandes favoritos à Palma de Ouro ficou-se pelo Prémio Especial do Júri por “The Seed of the Sacred Fig”, que na verdade funciona como uma espécie de consolação, apesar dos muitos aplausos na sala para o cineasta fugido do Irão.
FICA COM ALGUNS EXCERTOS DAS CRÍTICAS DO FESTIVAL DE CANNES 2024 (EM DIRECTO)
“Grand Tour”, trata-se em primeiro lugar de um diário de viagem, talvez menos experimental e sofisticado, mas igualmente atemporal, na linha de “Tabu”, isto é num contexto colonial. Mas em vez de usar como cenário a ‘África portuguesa’, usa o oriente e personagens de origem inglesa. Com um discurso lento e pausado típico dos roteiros e da literatura de viagens, “Grand Tour” é impulsionado pela misteriosa e perfeita combinação que cria entre imagens documentais ‘exóticas’, a narração ininterrupta e as cenas com os atores na sua grande maioria concebidas em estúdio. E, para isso, facilitando as coisas usa preto e branco baço e granulado e a neblina húmida, para moldar as imagens que acompanham realmente a história de amor (de base) algo abstrata, sobre uma relação indescritível entre tempo e memória e um dos filmes mais originais do Festival de Cannes 2024.
“Mau por Um Momento”, de Daniel Soares, estreado na Competição de curtas-metragens de Cannes 2024, trata-se de um retrato profundo sobre a especulação imobiliária em Lisboa e dos seus malefícios em relação a pessoas de baixa renda, nomeadamente os mais idosos. O protagonista é um inteligente arquitecto que reune com a sua equipa num team-building, para desenvolver um novo projecto. Porém, o evento corre mal e o arquiteto vê a sua vida entrar numa espiral de stress, quando é confrontado com a verdadeira realidade do bairro social que estão na verdade a gentrificar”. Este filme de Daniel Soares, é produzido por O Som e a Fúria e Kid With a Bike e teve estreia mundial no Festival de Cannes 2024.
VÊ TRAILER DE “MAU POR UM MOMENTO”
Em “Anora”, para além das qualidades de escrita do argumento, o destaque vai para a qualidade da interpretação de Mikey Madison, que desenvolve uma gama impressionante de emoções e registos. Ela é por sua vez objeto de desejo, uma mulher amorosa e independente, mas também é devotada ao seu amor, rebelde e depois, finalmente, frágil e com pés de barro, quando tudo se vira contra si. “Anora”, de Sean Baker, é um filme sensível e profundo, que brinca com o espectador levando-o num voo noturno que leva consigo uma luz vermelha forte e ofuscante das noites do negócio do sexo.
PALMARÉS DO FESTIVAL DE CANNES 2024
Palma de Ouro : “Anora”, de Sean Baker (EUA)
Palma de Ouro de Honra: George Lucas (EUA)
Grande Prémio : “All We Imagine as Light”, de Payal Kapadia (Índia)
Prémio de Melhor Realização: Miguel Gomes por “Grand Tour” (Portugal)
Prémio du júri : “Emilia Perez”, de Jacques Audiard (França)
Prémio Especial do júri: Mohammad Rasoulof por “The Seed of the Sacred Fig” (Irão)
Prémio de Interpretação Masculina: Jesse Plemons em “Kinds of Kindness”, de Yorgos Lanthimos (EUA)
Prémio de Interpretação Feminina : Karla Sofia Gascon, em “Emilia Perez”, de Jacques Audiard (Espanha/França)
Prémio de Melhor Argumento: “The Substance”, de Coralie Fargeat (França).
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