O segredo por trás do sucesso dos filmes de animação em Portugal
A animação não é só para crianças. É onde a arte respira com liberdade e a imaginação se atreve a ir onde a carne e os ossos não conseguem.
Vivemos tempos curiosos no panorama cinematográfico português. Assim, entre super-heróis, thrillers e comédias românticas que vêm e vão das salas de cinema, um género específico, muitas vezes injustamente apelidado de “menor”, está, silenciosamente, a conquistar as massas.
A animação, com os seus universos impossíveis e olhos grandes que falam mais do que mil diálogos, não só tem dado cartas nas bilheteiras portuguesas, como também tem colocado Portugal no mapa da produção internacional. Mas o que está por trás desta ascensão silenciosa? E porque é que ainda teimam em tratá-la como um género “infantil”?
Portugal rende-se à animação
Os números falam mais alto do que qualquer preconceito. Assim, em 2024, o filme Inside Out 2 tornou-se o filme mais visto em Portugal desde 2004, com mais de 1,29 milhões de bilhetes vendidos. Sim, leste bem. Mais do que qualquer estreia da Marvel, mais do que qualquer filme português com estrelas da casa, e sim, mais até do que O Rei Leão (2019) — outro titã animado que já tinha feito história nas bilheteiras nacionais.
Mas, este sucesso não é caso isolado. Minions, Super Mario Bros: O Filme, Frozen II e outras animações têm ocupado, ano após ano, os lugares cimeiros dos rankings de audiência em Portugal. Este ano Mufasa: O rei leão está em quarto lugar como o filme mais visto em Portugal e é animação, mesmo que tenha vergonha de o ser. Logo, a tendência está clara: o público português não só consome animação, venera-a.
Portanto, ao contrário do que se pensa, a animação raramente é feita com “menos exigência” do que um filme de imagem real. Na verdade, o seu grau de rigor e planeamento é, muitas vezes, superior. Assim, como disse Brad Bird, realizador de Os Incríveis, “na animação, nada acontece por acidente”. Logo, cada gesto, cada respiração, cada partícula de poeira é pensada. E talvez seja por isso que tantos filmes animados ressoam tão profundamente com o público.
A animação portuguesa ganha corpo
Assim, se as grandes produções internacionais já são rainhas nas salas de cinema, há um movimento nacional que começa a bater as asas — e com força. Ice Merchants, de João Gonzalez, fez história ao ser o primeiro filme português de animação nomeado aos Óscares. A curta, sensível e minimalista, conquistou também o público: em 2023, foi o terceiro filme português mais visto em sala, com quase 14 mil espetadores.
Mas, este feito não é uma anedota isolada. O filme Nayola, de José Miguel Ribeiro, uma coprodução ambiciosa entre Portugal, Bélgica, França e Holanda, é assim um exemplo de como a animação portuguesa começa a abraçar temas sérios — guerra, resistência política — com uma estética que só a liberdade do desenho pode oferecer. Assim, com um orçamento de mais de 3 milhões de euros, Nayola demonstra que o talento nacional está preparado para projetos de grande escala.
Felizmente, esta qualidade começa a ser acompanhada por apoios. O Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA) financia anualmente várias curtas de animação, e desde 2018, com a sua ajuda portugal conseguiu a sua primeira longa metragem de stop-motion com o grande filme Os Demónios do Meu Avô de Nuno Beato.
Uma arte desvalorizada, mas maior que a vida
É urgente desmistificar a ideia de que animação é um género “infantil”. É, antes de mais, um meio. Um território livre onde se pode falar de morte, amor, saudade, perda e esperança com uma franqueza que muitos filmes “sérios” evitam.
Logo, há uma honestidade brutal num filme como Inside Out, que ensina a importância de aceitar a tristeza. Ou em Persepolis, que narra a opressão política e o crescimento feminino no Irão. Ou mesmo Ice Merchants, que, sem uma única palavra, conta a história de um pai e filho pendurados entre o amor e o abismo.
Portanto, a verdade é que muitos filmes de animação ultrapassam o seu irmão de imagem real em termos de escrita, estrutura narrativa e direção de arte. Não há planos “improvisados” ou “problemas de iluminação”. Tudo é controlado. Tudo é intenção. Por isso mesmo, quando se olha com atenção, percebe-se que as grandes obras de animação são também grandes obras de cinema. Ponto.
Não percas os filmes de animação deste ano:
Julho:
- Smurfs – O Filme – 17 de julho
- The Bad Guys 2 – 31 de julho
Agosto:
- Heidi e o lince da montanha – 7 de agosto
- Kayara – A Menina Inca – 14 de agosto
- Looney Tunes: Daffy e Porky salvam o mundo – 21 de agosto
Setembro:
- Demon slayer: Kimetsu no yaba castelo infinito – 11 de setembro
- Viver em grande – 18 de setembro
- Anzu Gato Fantasma – 18 de setembro
Outubro:
- O Fantasma de Canterville – 16 de outubro
- Snow e a Princesa – 16 de outubro
- Uma Noite no Zoo – 30 de 0utubro
Novembro:
- Ângelo na Floresta Mágica – 6 de novembro
- Zootrópolis 2 – 27 de novembro de 2025
Dezembro:
- Hitpig: O Herói da Bicharada – 11 de dezembro
- SpongeBob: O Filme – À Procura das Calças Quadradas – 25 de dezembro
Conclusão
Assim, animação não é um nicho é o coração pulsante de um cinema que ousa imaginar. Em Portugal, não só lidera as bilheteiras como começa, lentamente, a afirmar-se como linguagem de autor, expressão política, catarse emocional. Portanto, ver mais animação é ver mais cinema. E apoiar a produção nacional é inegavelmente garantir que estas histórias continuem a ser contadas com o traço único da nossa sensibilidade.
E tu, qual foi o último filme de animação que viste? Partilha nos comentários.