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Festa do Cinema Francês ’25 | Chien 51 – Análise

Adèle Exarchopoulos, consensualmente uma das melhores atrizes da cena francesa contemporânea, já nos tinha encantado na rentrée cinematográfica com a sua absurda prestação central em “The Piano Accident”, que exibiu no MOTELx 2025. Agora, veste uma pele muito distinta, quase irreconhecível em comparação – mais natural e emotiva em “Chien 51” para ver, em exclusivo, na Festa do Cinema Francês.

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Uma distopia em grande escala com Chien 51

Em primeira exibição absoluta em Portugal, na Festa do Cinema Francês, foi possível descobrir “Chien 51”, uma distopia de ação com interpretações assinaláveis por parte do ícone Adèle Exarchopoulos (“A Vida de Adèle”) e ainda de Gilles Lellouche (“Ou Nadas ou Afundas”). Como é o caso em muitas das obras apresentadas fora de competição na Festa do Cinema Francês, “Chien 51”, de Cédric Jimenez, é um filme que veio diretamente de um dos principais festivais de cinema europeus. Neste caso específico, foi a obra responsável por fechar o Festival de Veneza este ano. 

 

“Chien 51”, ou “Dog 51” no seu título internacional, é um thriller distópico, numa co-produção com a Netflix que se destaca através do seu notável valor de produção. Por vezes, diga-se de passagem, ausente de produções europeias que, sem prejuízo para a criatividade empregue, por vezes não têm o orçamento necessário para executar conceitos naturalmente mais caros, como o caso específico de distopias.

Felizmente não é esse o caso com “Chien 51”. Encontramo-nos numa realidade alternativa, numa Paris dividida em três secções distintas, assentes em divisão social profunda, grandes clivagens e uma hipótese de escalada social muito reduzida. Não há chacinas à lá “The Hunger Games” ou “Squid Game” para garantir essa escalada muito pontual, apenas um programa de televisão pouco intrusivo, onde concorrentes respondem a perguntas genéricas. Não obstante, observamos como o mundo de “Chien 51” deixa muito pouca margem para escalar, para sonhar, para crescer ou vencer.

Uma revolta imperfeita na Festa do Cinema Francês

Dog 51 | Chien 51 com Adèle Exarchopoulos
© Cedric-Bertrand / Chi-Fou-Mi Production, Studiocanal, France 2 Cinema, Jim Films

Tudo está pre-determinado, em particular a partir do momento em que um sistema de inteligência artificial tomou conta da definição de cenários e processo de tomada de decisão da polícia. Esta IA será alvo de escrutínio ao longo do enredo de “Chien 51”, a história de uma conspiração que evidencia, de forma clara e pouco subtil, os perigos de entregar as rédeas do nosso mundo a sistemas artificiais por nós implementados. Os limites da tecnologia são colocados na primeira linha da narrativa, num filme que peca por se centrar demasiado na ação e não aprofundar a natureza e particularidades do seu mundo distópico.

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Ou seja, levamos a grande parte da duração de “Chien 51” a investigar, numa longa repleta de ação, as consequências de um homicídio recente, procurando culpados e descobrindo pelo caminho uma complexa conspiração difícil de desmascarar. A obra é empolgante, a componente visual apresenta-nos uma Paris muito distinta mas visualmente estimulante, mas infelizmente nunca conhecemos a fundo as particularidades do sistema social ultra segmentado e fechado que é aqui definido.

E como obra de revolta, como história anti-sistema que bebe influência de obras como “Brave New World”, “Blade Runner” ou “Brazil”, grandes distopias do nosso tempo, há que dizer que nunca temos um esforço consciente para criar uma narrativa verdadeiramente robusta e que responda com ferocidade às questões que coloca.

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O suspense e a investigação policial acabam por ser os valores máximos, juntamente com o desenvolvimento da relação entre os dois protagonistas – uma comandante da polícia da zona 2, originalmente oriunda da zona 3, e ainda um tenente da zona 3. Em conjunto, estarão encarregues de explorar as ações de um alegado grupo terrorista, apenas para descobrirem que talvez as forças obscuras que se escondem para lá da superfície possam ser bem menos evidentes e mais perigosas. Aqui entra também Louis Garrel, no papel de um eterno símbolo rebelde e bem distante da maioria dos papéis que lhe conhecemos. Louvamos-lhe esta nova pele, que assenta à medida.

Adèle Exarchopoulos e a alma de Dog 51

Chien 51 na festa do cinema francês
©Venice Film Festival/ STUDIOCANAL

De resto, “Chien 51” tem alguns pequenos e belos momentos de encantamento, com destaque para certas conversas entre a parelha central e ainda um instante belo e transitório em que cantam karaoke com a ajuda de IA, num cenário muito divertido e com o qual fãs do passatempo iriam de certo delirar.

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Depois, e infelizmente, há também uma tentativa de forçar um romance entre os protagonistas, que têm uma diferença de idades a rondar os 20 e tal anos e que, na realidade, funcionam mesmo muito melhor numa lógica de relação que mimica a de pai-filha.

Mas este pequeno erro de argumento, digamos, não é capaz de estragar os méritos de “Chien 51”, um filme que nunca cumpre inteiramente o seu potencial, um filme que merecia um enredo um pouco melhor, mas que parte de um excelente ponto de partida e nunca deixa de fazer valer a sua existência. Nem que seja pela progressão rápida e eficiente e pela prestação apaixonante da sempre maravilhosa e imperdível Adèle Exarchopoulos.

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Além do mais, “Chien 51”, adaptação mais livre do romance do mesmo nome por Laurent Gaudé fecha uma trilogia criada por Cédric Jiménez, a qual se dedicou a forças de autoridade e incluiu também os títulos “BAC Nord” e “Novembre”.

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O filme deverá estrear brevemente em Portugal, com distribuição já assegurada pela NOS Audiovisuais.

Chien 51 - Análise

Conclusão

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  • Adèle Exarchopoulos volta a convencer-nos com mais uma excelente prestação em “Chien 51”, um filme que vence através do seu valor de produção e ataque à entrega da nossa racionalidade a ferramentas de inteligência artificial.
Overall
6.5/10
6.5/10
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