Um thriler politico-religioso de eleição. ©via Leopardo Filmes

A Conspiração do Cairo | Crítica

Depois de dissecar os primórdios da dramática revolução egípcia em ‘Cairo Confidencial’ (2017), o realizador sueco, de origem egípcia, Tarik Saleh estreou na competição do Festival de Cannes 2022, este ‘A Conspiração do Cairo’ (‘Boy from Heaven’), um belíssimo e intenso thriller politico-religioso, que ganhou o Prémio de Melhor Argumento e que tardava chegar às salas de cinema. Estreia a 24 de Setembro.

A Conspiração do Cairo
Um jovem estudante torna-se a chave de uma conspiração. © Leopardo Filmes

O cineasta, produtor, jornalista e artista visual sueco, Tarik Saleh regressa ao Egito com A Conspiração do Cairo (2022) (‘Walad Min Al Janna’ ou internacionalmente ‘Cairo Conspiracy’), num filme onde descreve as tensões e conspirações entre a segurança do Estado e o poder religioso, nesse seu país de origem. Recorde-se que há quase 20 anos, Tarik Saleh produziu e realizou, em parceria com Erik Gandini, um documentário premiado intitulado ‘Gitmo – The New Rules of War’ (2005) [as novas regras da guerras], sobre o campo de detenção de Guantánamo Bay. Em ‘A Conspiração do Cairo’, procura desta vez decifrar e desmontar as complexas ligações político-religiosas, que comandam a Universidade al-Azhar, uma das maiores instituições académicas do país, que forma as elites e que logo acaba, por ter muita influência no governo do pais. 

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AS SANDÁLIAS DO PESCADOR

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Filho de um pescador, ao jovem Adam (Tawfeek Barhom) é-lhe oferecido o privilégio de ser admitido e estudar na Universidade al-Azhar, no Cairo, uma das escolas de maior prestígio para o ensino do islamismo sunita no mundo. A morte inesperada do Grande Imã, no dia do início do ano letivo, deixa um lugar vago na direção da prestigiada e influente instituição. Muito rapidamente, Adam vê-se envolvido num complexo jogo de intrigas, poder (e crime também) tornando-se um peão, numa implacável luta pelo poder e pela influência recíproca, entre a elite religiosa e política do Egito. Os primeiros momentos do filme, em nada sugerem um thriller político-religioso desta envergadura, mas antes um simples retrato da vida diária dos estudantes da universidade e da necessidade de substituição do Imã. Porém à medida que a história avança, o filme vai ganhando cada vez mais fôlego e ritmo, sobretudo na implacável abordagem que faz dessas lutas pela influência, que irão determinar a sucessão do Grande Imã e os preceitos islâmicos que influenciam o povo e o Estado. Assíduo em temas políticos-religiosos, o realizador nascido no Egito regressa assim a um assunto que lhe é bastante caro e que parece dominar na perfeição, nesta sua belíssima longa-metragem: a precisão do intrincado argumento e a elegância da realização, são notáveis e marcam este filme que faz lembrar os melhores thrillers de investigação política norte-americanos, saídos por exemplo das mãos de Alan J. Pakula (‘Os Homens do Presidente’, 1976) ou O Nome da Rosa (1986), o filme realizado por Jean-Jacques Annaud com Sean Connery e Christian Slater, a partir do romance de Umberto Eco. 

A Conspiração do Cairo
Uma verdadeira guerra de poder entre Imãs. © Leopardo Filmes



UM MISTÉRIO UNIVERSITÁRIO

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Em ‘A Conspiração do Cairo’, Saleh cria também um grupo de personagens dúbias, que não se sabe muito bem se agem pela sua devoção pela doutrina de Islão, ou efetivamente em proveito próprio e imbuídos de uma ambição de poder, como em qualquer sociedade ocidental. É efetivamente o know-how jornalístico do cineasta, que se sente nos pequeno detalhes, que são trazidos à maioria das extraordinárias cenas deste filme, seja das movimentadas ruas do Cairo, seja nos pátios das mesquitas ou mesmo dos momentos religiosos, dos preceitos, das aulas dos estudantes e dos imãs. A Universidade Al-Azhar, funciona quase como uma personagem e como o centro nevrálgico desta incrível história que parece real ou mesmo baseada em factos reais. A história, no entanto é centrada na personagem do jovem Adam, um inocente que apenas quer ter uma vida melhor e que acaba por ser usado e transformado num ‘bufo’, sem saber muito bem quem e qual a causa, que serve e o seu futuro. Muito bom!

JVM

A Conspiração do Cairo | Crítica
A Conspiração do Cairo

Movie title: Walad Min Al Janna

Movie description: Adam, filho de um pescador, recebe o privilégio de estudar na Universidade Al-Azhar do Cairo, o epicentro do poder do islamismo sunita. Pouco após sua chegada na cidade, a maior liderança religiosa da universidade, o Grande Imã, morre repentinamente. Adam acaba por tornar-se uma peça nesse jogo brutal pelo poder entre os religiosos egípcios e a elite política.

Date published: 18 de August de 2023

Country: Suécia

Duration: 126 min

Director(s): Tarik Saleh

Actor(s): Tawfeek Barhom, Fares Fares, Mehdi Dehbi, Mohammad Bakri, Makram Khoury, Sherwan Haji, Yunus Albayrak, Mouloud Ayad, Youssef Salama Zeki, Ayman Fathy,

Genre: Drama, Thriller, Suspense, 2022,

  • José Vieira Mendes - 85
85

CONCLUSÃO:

Estreado na competição no Festival de Cannes 2022, onde venceu o Prémio de Melhor Argumento, ‘A Conspiração do Cairo’, do realizador sueco de origem egípcia Tarik Saleh é um ousado e acutilante thriller de espionagem, de contornos políticos e religiosos, cuja a história se desenvolve de forma estonteante em plena Universidade Al-Azhar, um peculiar campus egípcio, onde é formada a elite do país. Através do jovem estudante Adam (Tawfeek Barhom), filho de um pescador a quem é dada a oportunidade de ingressar nessa prestigiada escola do Cairo, o realizador Tarik Saleh, constrói com base em intensas coreografias de tensão, acção e meditação, um poderoso e labiríntico drama político, ao nível de muitos filmes de Hollywood, que expõe a corrupção politico-religiosa oficial no Egipto, que acabou por dar origem à revolta da Praça Tahrir, em 2011.

JVM

Pros

A capacidade do realizador Tarik Saleh de nos manter sempre agarrados à história, criando muita acção, reviravoltas e suspense, dentro de um campus universitário religioso e islâmico.

Cons

Pretender agarrar-nos durante demasiado tempo ou seja mais de duas horas de duração, que torna o filme um pouco longo (126’). Mas não é grave…já que o interesse pela história, ajuda a superar isso.

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