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20.000 Espécies de Abelhas, em análise

O fascinante ’20.000 Espécies de Abelhas’, uma primeira obra da realizadora basca Estibaliz Urresola Solaguren, é um filme que tem colhido os maiores elogios e muitos prémios, vindos de todo o lado, sobretudo o de Melhor Intérprete para pequena e notável Sofía Otero, na Berlinale 2023. Não percam! Estreia a 20 de julho.

As crianças têm sido as grandes protagonistas de alguns dos melhores filmes desta temporada, primeiro com ‘Close’, depois ‘Alcarràs’, também com o mexicano Tótem’ e agora com este ’20.000 Espécies de Abelhas’, que é uma extraordinária abordagem sobre a diversidade humana e natural e sobretudo sobre a diferença entre pessoas, géneros, paisagens e ritmos. Trata-se de uma primeira obra da realizadora basca Estibaliz Urresola Solaguren, — foi-lhe dedicada recentemente uma retrospectiva com as suas curtas-metragens no Festival de Vila do Conde  volta a ser uma criança de oito anos a figura central de uma luta interior pela sua identidade sexual; e as abelhas a metáfora da biodiversidade da Natureza, vista também pelo prisma das questões de género.

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Aliás, o filme de Solaguren é um belo hino à diversidade, que nos ajuda a explicar muitas coisas através de uma família o mais convencional possível e igual a muitas outras, em crise de desagregação. Uma criança de oito anos (Sofía Otero), sofre muito porque as pessoas ao seu redor, insistem em chamá-la pelo nome de nascença: Aitor. O seu diminutivo de Cocô, não lhe parece totalmente inapropriado, mas também não o sente como o mais adequado para a sua pessoa.

20.000 Espécies de Abelhas
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Os três irmãos e a mãe Ane (Patricia López Arnaiz) vão de férias de verão, para o País Basco, para as suas origens, onde vive a avó Lita (Itziar Lazkano) e a tia-avó Lourdes (Ane Gabarain), ou seja para a casa da família, que está intimamente ligada à criação de esculturas em pedra e principalmente à produção de mel. É neste contexto que a criança acaba por confidenciar aos seus parentes e amigos mais próximos, a sua dor e profunda inquietação. Porém, a sua mãe, que ao mesmo tempo luta também com um fardo parental ambivalente e com uma crise pessoal e profissional, acaba apesar da sua enorme sensibilidade, por ter alguma dificuldade em lidar com essa busca de identidade do seu pequeno “filho”. Urresola assume assim mais do que uma perspectiva familiar, mostrando que a identidade de género é algo escandalosamente complexo e não se resolve apenas de uma forma médica ou cirúrgica e que pode mesmo ter algo a ver até com hereditariedade.

20.000 Espécies de Abelhas
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 ’20.000 Espécies de Abelhas’, aborda um aspecto talvez menos óbvio dessa transição de género: a mentalidade, ou melhor, como funciona a cabeça do indivíduo, e neste caso a de uma criança, e a das pessoas que o rodeiam. Não esquecendo a forma como isso pode ajudar ou complicar o processo. Logo no início do filme há uma fronteira geográfica e uma fronteira mental, que fala das dificuldades que temos para superar certas crenças dos nossos antepassados ou melhor das pessoas que vieram antes de nós em relação a determinadas convenções e preconceitos. E isto que é o essencial na evolução deste filme belíssimo, passado entre colmeias e flores, que explora a identidade do lado das mulheres — a dada altura passa do ponto de vista da criança, para o da mãe — da família, ao mesmo tempo que reflete sobre as suas próprias vidas, desejos e expectativas. Resumindo é uma maravilha!

20.000 Espécies de Abelhas, em análise
20.000 Espécies de Abelhas

Movie title: 20.000 Especies de Abejas

Movie description: Cocó, de oito anos, não corresponde às expectativas dos outros e não entende o porquê. Todos em seu redor insistem em chamá-lo de Aitor, mas ele não se reconhece nesse nome, nem aos olhos dos outros. A sua mãe Ane, (Patricia López Arnaiz), mergulhada numa crise profissional e sentimental, aproveita as férias para viajar com seus três filhos para a casa materna, onde sua mãe Lita (Itziar Lazkano) e sua tia Lourdes (Ane Gabarain ) residem, ligadas à apicultura e à produção de mel. Esse verão vai mudar as suas vidas e vai obrigar estas mulheres de três gerações muito diferentes a enfrentarem as suas dúvidas e medos.

Date published: 17 de July de 2023

Director(s): Estibaliz Urresola Solaguren

Actor(s): Sofía Otero, Patricia López Arnaiz, Ane Gabarain

Genre: Drama familiar, 2023, 129 min.

  • José Vieira Mendes - 90
90

CONCLUSÃO:

’20.000 Espécies de Abelhas’, de Estibaliz Urresola Solaguren é um trabalho luminoso e maravilhosamente sensível, protagonizado pela pequena Sofía Otero, que aparece pela primeira vez na frente das câmaras. A pequena, interpreta uma criança que tenta encontrar o nome certo (ou a sua identidade sexual), no meio de uma família em decomposição e de uma mãe problemática, mas amorosa, que parece hesitar em confrontar-se com a realidade. Tal como a diversidade da natureza implica a existência das abelhas, as personagens secundárias deste filme emblemático, que trata uma questão contemporânea, são essenciais para a evolução da protagonista, sobretudo  o papel de uma tia-avó (Ane Gabarain), uma mulher livre, independente e de mente aberta, mas também dos seus irmãos. O ambiente feminino, torna-se num excelente exemplo para a criança, do que são também as diferentes maneiras de ser mulher.

JVM

Pros

Um elenco incrível e competente, a começar pela pequena Sofía Otero, que é uma revelação como actriz, Patricia López Arnaiz, a mãe que aguenta com tudo com determinação, comparada com a leveza e subtileza da interpretação da veterana Ane Gabarain.

Cons

Começa a esgotar um pouco o ar puro que se respira naquilo que são já os muitos filmes de cinema rural e de regresso às as origens, realizados recentemente, por diversos cineastas espanhóis: ‘Alcarràz’, ‘Soro’, ‘Têm de Ir Vê-la’, etc.. Apesar de tudo este filme, não deixa de ser especial, pela sua oportuna abordagem. 

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