A Mulher Rei (The Woman King) © Big Picture Films

A Mulher Rei, em análise

Gina Prince-Bythewood e Viola Davis trazem-nos um verdadeiro épico histórico, lançando “A Mulher Rei” para o pódio de grandes filmes de 2022 e para a lista de melhores obras de época.

“Somos a lança da vitória, somos a lâmina da liberdade, somos Dahomey!”

Em 2018, “Black Panther” espantou o mundo com um poderoso filme que lhe valeu a nomeação ao Óscar de Melhor Filme. “A Mulher Rei” aproveita esse sucesso como pontapé de saída para uma recriação histórica que vem abanar o género de drama histórico épico.

Durante a década de 1820, no reino do Dahomey (Daomé em português), na África Ocidental, a General Nanisca, líder das Agojie, treina a próxima geração de amazonas guerreiras para protegerem o reino. Não é Wakanda com T’Challa como rei e não são as Dora Milaje com Okoye como líder, esta é a história baseada em fatos verídicos, este é o drama que poderá ter inspirado a Marvel, estas são as Agojie!

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Após uma visita a Benin (antigamente conhecido por Dahomey,) em 2015, Maria Bello apaixonou-se pela história das Agojie, que considerou não só ser uma narrativa que merecia ser contada, mas que era mesmo material para o grande ecrã. Nesse mesmo ano, regressada da sua grande viagem, Bello expôs a ideia a Viola Davis que julgava ser a atriz ideal para o papel principal. E assim começou a ser desenvolvido o drama histórico épico “A Mulher Rei” (“The Woman King”).

Produzido por Maria Bello e Cathy Schulman, em colaboração com a própria Viola Davis e com Julius Tennon, o filme foi escrito por Dana Stevens com contribuições de Gina Prince-Bythewood e realizado por Prince-Bythewood. O projeto chegou a ser recusado por vários estúdios até que o TriStar Pictures finalmente deu a luz verde, em 2020, numa colaboração com o Entertainment One. A distribuição do filme ficou ao encargo da Sony Pictures Releasing.

A MULHER REI
Ilze Kitshoff/Ilze Kitshoff © Sony Pictures Entertainment

Filmado na África do Sul, “A Mulher Rei” contou com a britânica cinematografa Polly Morgan, possuidora de créditos em filmes como “Lucy in the Sky” (2019), “A Quiet Place Part II” (2020) e “Where the Crawdads Sing” (2022). A composição musical foi da responsabilidade do vencedor de cinco Grammys, e com prestações em “BlacKkKlansman” (2018) e “Da 5 Bloods” (2020), tendo já colaborado com Prince-Bythewood, Terence Blanchard. Tanto a cinematografia como a banda sonora estão brilhantes no filme, impulsionando a grandiosidade da narrativa.

Gina Prince-Bythewood fez uso da sua experiência em drama e ação com os aclamados filmes “Love & Basketball” (2000) e “The Old Guard” (2020) para nos trazer um filme completo que se sobressai a todos os níveis da sua génese. Para a realização de “A Mulher Rei”, Prince-Bythewood utilizou de referência míticos épicos como “The Last of the Mohicans” (1992), “Braveheart” (1995) e “Gladiator” (2000). E mesmo com expectativas altas, o seu novo filme consegue superar barreiras, merecendo ter o nome ao lado das gigantes produções referidas anteriormente.

“A Mulher Rei” ©Big Picture Films

Com Viola Davis a protagonizar como a General Nanisca, no filme também estrelam Thuso Mbedu, Lashana Lynch, Sheila Atim e John Boyega.

A atriz Lupita Nyong’o foi primeiro considerada para o papel de Nawi que no final acabou a ser interpretado por Mbedu. Lupita recusou participar no filme quando descobriu que as guerreiras Agojie participaram no tráfico de escravos.

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A Mulher Rei” teve a sua estreia mundial no Festival Internacional de Cinema de Toronto em 9 de setembro de 2022, estando em exibição em Portugal desde 5 de Outubro. O seu orçamento de $50 milhões foi já ultrapassado pelo box office atual de $77,5 milhões a nível global.

O filme tem recebido uma chuva de críticas positivas, merecendo uma classificação de 94% no Rotten Tomatoes e uma pontuação de 77/100 no site Metacritic. Para além das extraordinárias performances de Viola Davis e Thuso Mbedu, a ação cinematográfica da longa-metragem também tem sido bastante elogiada. A magnitude e o caracter majestoso da produção têm sido comparados aos melhores, nomeadamente a “Gladiator” e “Braveheart”.

“A Mulher Rei” ©Big Picture Films

A representação da história e da cultura em “A Mulher Rei” é um ponto que divide opiniões. Por um lado há quem defenda que existe uma certa fantasia nos momentos mais heroicos, mas que a narrativa principal está enraizada na verdade sobre a guerra, brutalidade e liberdade. Outros consideram que o retrato histórico rapidamente se rende ao melodrama, perdendo o filme o seu verdadeiro valor histórico, não tendo sucesso na tradução coerente da situação geopolítica. Acrescentando mais uma camada de reflexão, é preciso ter em conta que se trata de um drama baseado em fatos verídicos e não de um documentário, significando que o rigor histórico não é nem de perto o mesmo. São inúmeros os exemplos com a mesma problemática, onde “300” e “Braveheart” uns dos casos mais famosos.

Em relação à pesquisa para a elaboração da história, a cineasta Prince-Bythewood afirmou que “a maior revelação foi a desinformação que existe sobre essas mulheres e essa cultura, já que grande parte da sua história foi escrita do ponto de vista do colonizador. Então, tratava-se realmente de separar os textos que eram desse ponto de vista, que eram tão depreciativos e desrespeitosos, da verdade.”

A Mulher Rei
©Big Picture Films

Da parte do povo português, deixamos o recado que existem muitos atores de calibre, tanto portugueses como brasileiros, que podiam ter sido escolhidos para os papéis de Santo Ferreira (interpretado por Hero Fiennes Tiffin; e que em nota de curiosidade se pensa que esta personagem tenha sido inspirada por Francisco Félix de Sousa, um traficante de escravos brasileiro que na verdade ajudou Ghezo a ganhar poder) e de Malik (interpretado por Jordan Bolger).

No final o grande segredo deste novo épico é o fato de no seu conjunto tudo funcionar tão bem. Temos uma cinematografia, visuais e efeitos especiais estrondosos; uma banda sonora e cenas de ação embasbacantes; interpretações merecedoras de ovação e personagens ricas e palpáveis; uma narrativa e um argumento que não tentam reduzir o contexto, mas antes equilibram o retrato histórico e cultural com um drama envolvente e memorável. É sem dúvida um filme a não perder!

a mulher rei
© Sony Pictures Entertainment

Já este ano tivemos a surpresa de “O Homem do Norte”, que aliado à estreia de “A Mulher Rei” são a prova viva de que o género épico histórico fervilha com ímpeto, sendo as duas produções grandes candidatas a melhores filmes de 2022. No entanto, o filme de Prince-Bythewood pode superar o de Robert Eggers devido à maior autenticidade e coesão, dispersada no filme protagonizado Alexander Skarsgård com os elementos de terror e fantasia.

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Qual o teu épico histórico favorito?

A Mulher Rei, em análise
A Mulher Rei

Movie title: A Mulher Rei

Movie description: A extraordinária história de Agojie, a unidade de guerreiras amazonas que protegeu o reino africano de Daomé no início do século XIX com uma capacidade de uma ferocidade diferente de tudo o que o mundo já viu. Inspirado em factos reais, "A Mulher Rei" relata a jornada épica da General Nanisca enquanto treina a próxima geração de recrutas e as prepara para a batalha contra um inimigo determinado a destruir o seu modo de vida

Date published: 5 de October de 2022

Country: EUA, Canadá

Duration: 135 minutos

Director(s): Gina Prince-Bythewood

Actor(s): Viola Davis, Lashana Lynch, John Boyega, Thuso Mbedu, Sheila Atim

Genre: Drama, História, Ação

  • Emanuel Candeias - 96
96

CONCLUSÃO

“The Last of the Mohicans” , “Braveheart”  e “Gladiator” deem licença, pois “A Mulher Rei”, o filme de Gina Prince-Bythewood e protagonizado por Viola Davis, veio sentar-se ao lado dos mais memoráveis épicos históricos.

Pros

  • Gina Prince-Bythewood –  boa realização e bom argumento;
  • Viola Davis e Thuso Mbedu – interpretações impressionantes;
  • Cinematografia, fotografia e banda sonora formidáveis;
  • Coreografia e cenas de ação exímias.

Cons

  • Alguma controvérsia na precisão histórica:
  • Podiam ter escolhido atores portugueses e brasileiros para os respetivos papeis.
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