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A Viagem de Papa Francisco, em análise

Gianfranco Rosi é o responsável por “A Viagem de Papa Francisco”, um documentário calmo que mostra a agitação das visitas de Sua Santidade ao estrangeiro.

A figura do Papa, além de ser admirada em todos os países católicos, é conhecida em todo o mundo, dada a sua importância a nível religioso. Como tal, o Sumo Pontífice tem por hábito viajar para várias nações com o intuito de espalhar a palavra divina pelos mais variados povos. Este ano, Jorge Bergoglio visitará Lisboa, no âmbito das celebrações das Jornadas Mundiais da Juventude, sendo esta a segunda vinda de Francisco a Portugal, tendo a primeira visita ocorrido por ocasião da canonização dos Pastorinhos de Fátima. Em dez anos de pontificado, o Papa já realizou inúmeras viagens, seja para assinar acordos entre a Igreja católica e outras religiões, seja para doutrinar os povos ou até mesmo para ajudar a aliviar a dor espiritual daqueles que se viram defronte com desastres de grande escala.

No ano em que se celebra o décimo aniversário de Jorge Bergoglio como Sua Santidade, o cineasta italiano Gianfranco Rosi produziu “A Viagem de Papa Francisco”, um documentário que mostra algumas das visitas papais a diferentes países do mundo. Ao longo de oitenta minutos, são-nos apresentadas imagens de arquivo que mostram pequenos excertos dos discursos do Sumo Pontífice nas várias deslocações do Papa a cidades diferentes. Em todos eles, Francisco faz questão de enaltecer a fé como um escape para a dor interior do ser-humano. Mas, desengane-se quem acredita que Sua Santidade viaja apenas para países afetados por desastres naturais. O documentário feito pelo italiano mostra também a visita do Papa a prisões, mas também a países com regimes políticos conturbados e, acima de tudo, a visita a países em que a Igreja Católica não tem força, de modo a procurar a paz e a vivência entre as diferentes religiões.

a viagem de papa francisco
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O mais interessante do documentário produzido por Gianfranco Rosi é o paralelismo que o italiano faz entre as viagens realizadas pelo Papa Francisco e o seu percurso enquanto realizador de cinema. Como tal, a longa-metragem inicia-se com a visita a Lampedusa, , em 2013, uma viagem na qual o Sumo Pontífice procurou confortar o coração dos refugiados que sobreviveram à travessia marítima para fugirem das terríveis condições do seu país. No caminho, dezenas de pessoas perderam a vida, entre elas muitas eram crianças e bebés que nunca chegaram a conhecer a segurança de um país livre. Curiosamente, três anos após a visita do Papa à cidade italiana, Gianfranco Rosi produziu “Fogo no Mar“, um documentário que fala sobre a crise migratória, expondo os perigos da travessia do Mediterrâneo, acabando por ser nomeado ao Óscar da Academia.

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Ainda assim, a viagem do Papa a Lampedusa não é o único paralelismo com o percurso do cineasta que nos é mostrado neste documentário. Em 2021, Francisco visitou o Médio Oriente numa viagem que marcou a primeira visita de um Sumo Pontífice a este país oriental. Acontecendo no meio da pandemia, o propósito da ida de Francisco ao Iraque sucedeu-se em sequência da crise religiosa nesta zona. O papa reuniu-se, então, com o chefe da Igreja Xiita, uma personagem-chave com influência política no Médio Oriente, de modo a promover a paz entre as comunidades cristãs e muçulmanas. Um ano antes da visita de Francisco ao Médio Oriente, Gianfranco Rossi havia lançado “Notturno”, um documentário que acompanha a população de países como a Síria, o Iraque, o Curdistão e o Líbano, que vivem em zonas de guerra.

a viagem de papa francisco
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Em “A viagem de Papa Francisco”, estamos perante um documentário gravado na estrada que acompanha um homem que não se deixa abalar pelas massivas visitas ao estrangeiro. Ainda assim, o documentário de Rosi apresenta-nos sua santidade como um simples humano comum que também erra. Isso é visível quando o Sumo Pontífice se sentiu obrigado a pedir desculpa à comunidade por ter dado a entender que defendia os crimes de abuso sexual cometidos por um membro da igreja. A forma como o fez mostra a capacidade de liderança do argentino. 

Em suma, este é um documentário que cruza imagens de arquivo das viagens do Papa com vídeos documentados pelo próprio realizador em trabalhos anteriores. Por se tratar de uma personagem da Igreja, a longa-metragem assume uma dinâmica calma equivalente ao tom de voz calmo de Sua Santidade, o que acaba por tornar o ritmo do filme ligeiramente entediante. Ainda assim, não podemos não parabenizar a fotografia produzida por Gianfranco Rosi.

És fã do trabalho que o Papa Francisco tem desenvolvido até ao momento? Quais os teus filmes preferidos de Gianfranco Rosi?

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