Anna Calvi no Capitólio | O Sussurro duma Caçadora

Anna Calvi arrasou de guitarra em punho apontada a um Capitólio rendido, ontem sábado 20 outubro, depois de na noite anterior ter aquecido os ânimos no Hard Club do Porto.

Aquela que Brian Eno considerou como a melhor coisa chegada à música popular desde Patti Smith, que muitos correram a comparar a PJ Harvey, ou Nick Cave e que nunca escondeu a sua admiração por Elvis Presley, Nina Simone, Scott Walker e uma galeria ainda maior de clássicos, esteve esta sexta-feira e sábado de novo em Portugal, sete anos decorridos sobre um dos melhores concertos a que tivemos ocasião de assistir, ou melhor, de nele participar, concretamente Anna Calvi, 2011, num Lux à pinha onde nem o stuff se conseguia já mover.

Com uma entrada teatral, surgindo do backstage do mítico e renovado Capitólio, palco fora, como se duma caçada se tratasse, empunhando a sua arma em direção ao público surpreendido mas nunca intimidado pelo firme e pausado percutir de cada nota, que mais pareciam  pancadas de Molière, anunciando “Rider to the Sea”, do seu primeiro álbum homónimo, o primeiro acto da peça a que iríamos assistir, a crua e mágica história de Anna Calvi 2018, a caçadora.

Drama sem fronteiras, com um guião naturalmente mais baseado em “Hunter“, o seu excelente álbum deste ano, produzido por Nick Launay (Nick Cave), mas com incursões pelos 2 anteriores, expôs a nu durante pouco mais duma hora, uma Anna Calvi mais direta e arrojada, afirmando-se no que já sabíamos ser a sua praia, a guitarra virtuosa, uma voz herdada dos deuses líricos como Maria Callas, e arranjos perfeitos.

Uma pose e mensagem com raízes explicitamente queer e assumidamente biográficas, alinhadas no movimento #MeToo e noutras ideias feministas, um colorido vermelho omnipresente, em pleno estilo gótico, selvagem e sensual, como o tom das suas letras,  dominaram um espetáculo destemido, com frequentes incursões pelo meio do publico, mercê a mini passerelle montada, olhos nos olhos, contacto quase direto, como que afirmando – isto é o que eu sinto, logo escrevo, canto e toco, sem receios, sem barreiras.

Muitíssimo bem acompanhada, por apenas Mally Harpaz, teclas, baixo, entre muitos outros talentos e pelo fabuloso baterista Alex Thomas, Anna Calvi demonstrou mais uma vez, com aparentes meios simples,  o seu enorme talento, garra e profissionalismo. A acústica da sala mostrou-se exemplar e promete novos voos. Poucas vezes ouvimos num concerto rock ao vivo, uma bateria com este nível de perfeição, técnica de execução, articulação de conjunto e qualidade de captação.

Cinco estrelas e mais uma, Anna Calvi.

Anna Calvi no Capitólio | O Sussurro duma Caçadora
  • Rui Ribeiro - 95
95

Um resumo

Anna Calvi – Concerto ao Vivo – Capitólio – Lisboa – 20 outubro 2018

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