As origens de Assim Nasce Uma Estrela

As origens de Assim Nasce Uma Estrela

[tps_header]Assim Nasce Uma Estrela” com Bradley Cooper e Lady Gaga não é a primeira vez que esta história clássica é contada no grande ecrã, sendo que as suas origens remontam aos primeiros anos do cinema sonoro.[/tps_header]

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WHAT PRICE HOLLYWOOD? (1932) com Constance Bennett e Lowell Sherman

“Assim Nasce Uma Estrela” é o filme do momento, com enorme popularidade entre críticos e espectadores, assim como um caminho traçado para o triunfo nos Óscares. No entanto, não obstante a atualidade deste projeto, as suas origens remontam às próprias fundações da mitologia que Hollywood construiu para si mesma. Afinal, a história básica de “Assim Nasce Uma Estrela”, onde a ascensão de uma nova carreira de sucesso é acompanhada pelo definhar de outra, é talvez a lenda mais popular que Hollywood gosta de contar sobre si mesma.

Concretamente, existem quatro filmes chamados “Assim Nasce Uma Estrela”, mas a forma básica da narrativa remonta a um filme que dá por outro título. Referimo-nos a “What Price Hollywood?”, um filme realizado por George Cukor em 1932 que conta a história de uma empregada de mesa que cativa um produtor de Hollywood e chega ao estrelato na mesma medida em que o produtor é consumido pelo seu alcoolismo e cai em desgraça.

Há muitos rumores por confirmar que apontam para várias polémicas dos anos 20, nomeadamente a vida escandalosa da cineasta Colleen Moore e o seu marido produtor John McCormick, como base para “What Price Hollywood?”. O que é certo é que esta é uma visão brutalmente cínica da fábrica de sonhos que, sem indulgências em miserabilismo, nos retrata os sacrifícios que têm de ser feitos em nome desse monstro chamado fama.




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ASSIM NASCE UMA ESTRELA (1937) com Fredric March e Janet Gaynor

Infelizmente, o cinismo do filme original acabou por prejudicar a sua longevidade pois, em 1934, foi imposta a censura do código Hayes e a amoralidade retratada em “What Price Hollywood?” colocou-o na lista negra e foi tirado de circulação. Contudo, a sua premissa narrativa provou ser muito aliciante e, passados cinco anos depois da sua estreia, surgiu o primeiro “Assim Nasce Uma Estrela”, que é considerada por muitos como a primeira obra-prima a cores.

Esta versão da história foi a que sublinhou a dinâmica romântica, agora entre dois atores, e sua tragédia como centro da narrativa. Janet Gaynor, a primeira atriz a ganhar o Óscar, e Fredric March, uma das grandes estrelas masculinas da época, foram os protagonistas. O filme é, de facto, um triunfo de simultânea crítica e glorificação de Hollywood, assim como um romance arrebatador cujas cenas mais icónicas, como a humilhação numa cerimónia de prémios, têm vindo a ser repetidas por todos os remakes subsequentes.

Já na altura muitos repararam na ligação entre “Assim Nasce Uma Estrela” e “What Price Hollywood?”. Certas revistas apontaram para a relação turbulenta da atriz Barbara Stanwyck e seu primeiro marido como base notória do enredo, mas os estúdios não se deixaram enganar. A produtora do primeiro filme tentou mesmo processar os autores de “Assim Nasce Uma Estrela”. George Cukor foi até convidado para realizar o drama protagonizado por Gaynor e March, mas recusou alegando que era demasiado parecido com o seu filme anterior.




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ASSIM NASCE UMA ESTRELA (1954) com James Mason e Judy Garland

Apesar de tais palavras, Cukor viria a realizar um filme chamado “Assim Nasce Uma Estrela”, quando, em 1954, foi feito o primeiro remake oficial da história. Desta vez, o melodrama tomou a forma de um musical em widescreen (um dos primeiros grandes filmes neste formato) e o guião foi injetado com a negrura psicológica que começava então a tomar posse do cinema americano. O projeto foi também edificado como uma espécie de redenção pública e retorno ao estrelato de Judy Garland.

De facto, a prestação de Garland é um esforço cuja glória é praticamente imbatível na história do cinema, mesclando realismo emocional, estilização espetacular, carisma de estrela e desespero calcinante num retrato tão eletrizante como doloroso. James Mason, no papel do ator alcoólico não fica muito atrás, mas o seu triunfo é ofuscado pelo da atriz que, na vida real, estava muito mais perto do degredo da personagem masculina do que da estrela em ascensão.

Tal realidade fez das filmagens um suplício para quase todos os envolvidos, mas o resultado final, mesmo que não exista na sua forma completa hoje em dia, é um clássico insuperável. Garland, cuja personagem famosamente ganha o Óscar dentro do filme, era mesmo a favorita para ganhar a maior honra de Hollywood. Os jornais da indústria chegaram mesmo a enviar jornalistas para estarem com a atriz durante a noite da cerimónia que, devido a problemas de saúde, ela passou no hospital.

Contudo, contra as expetativas de todos, Grace Kelly ganhou o Óscar de Melhor Atriz Principal de 1954 e Garland nunca chegaria a ganhar o prémio. Há boatos que sugerem que a diferença na votação foi minúscula, com somente sete ou menos votos a separar as duas estrelas. Groucho Marx terá mesmo dito que este era o maior roubo na História dos Óscares. Face à prestação de Garland é difícil não concordar com o mais famoso dos irmãos Marx.




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ASSIM NASCE UMA ESTRELA (1976) com Barbra Streisand e Kris Kristofferson

Passados 22 anos, “Assim Nasce Uma Estrela” regressou ao grande ecrã, desta vez sob a forma de um drama da indústria musical. O projeto foi uma odisseia pessoal de Barbra Streisand, cujo namorado Jon Peters produziu o que viria a ser um filme infame pelo caos da sua produção. O egotismo descontrolado da sua estrela que queria reinventar-se para um público mais jovem não ajudou, acabando com o filme a ser trucidado pela crítica.

Os críticos podem ter justamente massacrado esta versão da história clássica cheia de desdém para com o mundo do rock e uma glorificação sem limites de Streisand, mas o público adorou a obra. É curioso, contudo, constatar como o filme vilifica um lado importante da indústria musical em nome de uma elevação do estilo musical de Streisand a um patamar de superioridade tanto artística como moral.

Enfim, o terceiro “Assim Nasce Uma Estrela” oficial foi um sucesso comercial devido à popularidade da sua atriz principal e coprotagonista, Kris Kristofferson, e acabou mesmo por ganhar o Óscar de Melhor Canção por ‘Evergreen’. Certamente, esse é o melhor aspeto do filme e do desempenho de Streisand, cujo trabalho neste filme é um dos seus piores esforços enquanto atriz.




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ASSIM NASCE UMA ESTRELA (2018) com Bradley Cooper e Lady Gaga

Segundo o padrão temporal estabelecido pelos primeiros três “Assim Nasce Uma Estrela” seria de esperar que um quarto remake oficial tivesse aparecido nos anos 90, mas foi preciso chegarmos a 2018 para a narrativa de ascensão e tragédia voltar ao grande ecrã . Antes de Bradley Cooper e Lady Gaga tomarem as rédeas do projeto, ainda Clint Eastwood tinha andado a ponderar uma versão da história com Beyoncé no papel principal.

Não vamos fazer luto a esse filme inexistente, pois este novo “Assim Nasce Uma Estrela” afigura-se como um estrondoso sucesso. Desde o Festival de Veneza que a crítica internacional tem estado gagá por Lady Gaga e sua prestação, assim como pelo filme de modo geral. O público também se tem revelado apaixonado pelo drama musical e este remake pode já ser considerado um triunfo comercial.

Melhor ainda, este é um triunfo que não foi fruto de uma produção sôfrega, ao contrário dos remakes anteriores. Agora, basta esperar para ver se o sucesso se traduz numas quantas estatuetas doiradas. Pelo menos, o galardão para Melhor Canção parece já estar ganho graças à inegável popularidade de “Shallow”. Só esperemos que Lady Gaga tenha melhor sorte na cerimónia de prémios que a sua personagem.

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One thought on “As origens de Assim Nasce Uma Estrela

  • Nasce Uma Estrela: 5*

    Vi ontem o de 1976 e foi uma lufada de ar fresco, história tocante e argumento bem conseguido é o que este filme nos oferece.

    Cumprimentos, Frederico Daniel.

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