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Bob Marley: One Love, em análise | Uma ode à paz através da música

Um filme biográfico sobre o mais importante músico de reggae de todos os tempos, “Bob Marley: One Love” é muito mais do que uma longa-metragem sobre um cantor. Na verdade, trata-se de uma ode à paz através da mensagem que a música nos transmite.

Conhecido simplesmente como Bob Marley, Robert Nesta Marley é a figura mais importante de sempre do reggae, tendo sido o principal difusor do género a nível global. Nascido pouco antes da Segunda Guerra Mundial terminar, em 1945, o cantor viveu durante um período negro da história em sequência da independência da Jamaica face aos britânicos. Na altura, Marley fez uso das suas canções para tentar unir a nação, tendo ficado conhecido como ‘a voz dos pobres e oprimidos’, enquanto procurava lutar pela justiça social. Grande parte das mensagens que incluía nas suas músicas eram influenciadas pela sua fé, sendo Bob Marley um grande devoto do movimento religioso Rastafari que acredita que todos os negros devem retornar a África, considerada a Terra Prometida. Como tal, as questões relacionadas com o continente africano foram também amplamente abordadas nas canções de Marley.

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A Jamaica, na altura apelidada de Santiago, havia ficado sob domínio espanhol por um curto período de tempo logo após a chegada de Cristóvão Colombo. Mais tarde, os britânicos invadiram a ilha, tendo colonizado o país por mais de trezentos anos, uma vez que a independência da Jamaica face ao Reino Unido surgiu apenas em 1962. Bob Marley era filho de um Capitão do Exército Inglês e de uma jovem negra e pobre, trinta anos mais nova que o seu parceiro. Antes de Marley nascer, o seu pai foi viver para a cidade de Kingston, tendo abandonado o seu filho. Mais tarde, o militar recomendou que Bob fosse viver consigo para poder ter melhores condições de vida, mas não cumpriu o acordo e abandonou Marley com uma mulher que tomava conta de crianças abandonadas. A situação familiar de Bob Marley acabaria por deixar marcas profundas no cantor, uma questão bem abordada no filme biográfico.

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A BIOGRAFIA QUE FAZ O RETRATO DA JAMAICA

Numa altura em que Hollywood tem cada vez mais apostado na produção de filmes biográficos, chegou a vez de ficarmos a saber mais sobre a história de Bob Marley, um homem que mudou o mundo com a sua voz. Porém, dá-nos conforto saber a veracidade dos acontecimentos abordados nesta longa-metragem, uma vez que “Bob Marley: One Love” foi produzido por Rita Marley, a mulher do cantor, e por Ziggy e Cedella Marley, ambos filhos do músico. Aliás, a introdução da longa-metragem dá-se com um discurso de Ziggy Marley, o que acrescenta um toque ainda mais pessoal à biografia.

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Contrariando a cronologia usual das narrativas, especialmente biográficas, “Bob Marley: One Love” não nos fala sobre a infância do cantor, o seu percurso escolar ou os primeiros passos que deu na música. Em vez disso, o filme inicia-se numa altura em que o artista era já conhecido, tendo inclusive sido alvo de uma tentativa de assassinato pelos seus ideais de paz. E é nessa altura que o biopic nos faz um desenho bastante realista da Jamaica no pós-colonialismo. Após conseguir a independência face ao Reino Unido, o país entrou numa guerra urbana que opunha a direita da esquerda, uma tensão política que gerou grandes ondas de violência, as quais Marley tentava amenizar através de concertos que promoviam a paz.

VÊ TRAILER DE ‘BOB MARLEY: ONE LOVE’




UM ELENCO QUE ADICIONA EMOÇÃO À NARRATIVA

Além de a cronologia de “Bob Marley: One Love” se destacar por começar já num período avançado da vida do cantor, o filme faz uso de flashbacks para mostrar pequenos trechos da infância de Marley, nomeadamente o sofrimento provocado pelo abandono do pai, mas não só. É também através de imagens do passado que temos acesso a uma perspetiva de um ainda jovem Bob que conhece Rita, com quem se viria a casar anos mais tarde, permanecendo juntos até ao final da vida do cantor. A longa-metragem mostra-nos, de forma bastante clara, que Rita Marley foi um verdadeiro suporte para o artista, quase minimizando-se para que o seu marido fosse a estrela que todos conheceram. Em suma, Rita Marley é a perfeita definição do velho ditado que reza que ‘por trás de um grande homem há sempre uma grande mulher’. E o filme mostra-nos isso mesmo, evidenciando Rita como back vocal de Bob & The Wailers, a mulher que aceita os filhos de Marley resultantes de casos extraconjugais, a esposa que quase morre por ser mulher do proeminente artista e a fiel companheira que nunca desiste de estar ao lado de Bob Marley.

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É de destacar, sem dúvida, a prestação de Lashana Lynch no papel de Rita Marley, para além de ser evidente a enorme química que a atriz tem com Kingsley Ben-Adir, que dá vida ao protagonista do filme. Contudo, a relação que nos é apresentada na longa-metragem prende-se mais com o lado sentimental e não tanto com a paixão entre os dois, uma vez que são raras as demonstrações de afeto entre o casal. Mas focando em Kingsley Ben-Adir, o ator faz um retrato fiel de Bob Marley, fazendo uso de um sotaque cheio de brio, e uma imitação quase perfeita do estilo único que caracterizava o cantor. Ainda assim, falta a Ben-Adir a transmissão de uma aura muito mais espiritual que acompanhava o músico, o que deixa um pouco a desejar.

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UMA ODE À MENSAGEM ESPIRITUAL

Conforme referido anteriormente, Bob Marley era extremamente devoto do Movimento Rastafari e a forma como a longa-metragem de Reinaldo Marcus Green aborda esse lado mais espiritual do cantor é feita de forma extremamente sublime. Segundo o filme, fora Rita quem apresentara Marley ao líder espiritual dos Rastafari na Jamaica, fazendo com que o cantor se convertesse ao Movimento. Desde então, as suas músicas passaram a incluir mensagens relacionadas com as crenças Rastafari, sendo notório em canções como “Exodus” e “Redemption Song“. Em suma, “Bob Marley: One Love” é uma ode à espiritualidade do cantor, estando presente em cada minuto do filme. Porém, a temática do uso de cannabis é tratada de forma bastante superficial, uma jogada inteligente de Reinaldo Marcus Green dada a sensibilidade do tema.

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Além de “Bob Marley: One Love” apresentar um lado bastante espiritual do cantor, o filme retrata o seu protagonista quase como se de um messias se tratasse, dando-lhe quase um estatuto de super-herói. Contudo, há uma lacuna gigante na longa-metragem relacionada com o facto de o filme quase ignorar o lado mais humano do cantor. Não podemos esquecer que Bob Marley foi um pai ausente, um marido com casos extraconjugais e um homem que foi obrigado a exilar-se em Londres, apesar de a longa-metragem ocultar os sentimentos do cantor durante o exílio.

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BOB MARLEY & THE WAILERS

Bob Marley é, sem dúvida alguma, uma figura de enorme destaque do século passado. Apesar de ter falecido em 1981, as suas músicas ainda hoje fazem parte da banda sonora da vida de muitas pessoas, independentemente da idade. Bob Marley é, indiscutivelmente, o nome mais proeminente do Reggae e todas as geração estão familiarizadas com as suas canções, pelo menos as mais conhecidas. O ponto mais alto do filme “Bob Marley: One Love” é mesmo o lado mais musical da longa-metragem. Durante as diferentes cenas, Kingsley Ben-Adir interpreta alguns dos temas mais populares do cantor, fazendo o espectador viajar numa vibe cheia de boas energias.

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Infelizmente, o filme não nos dá a conhecer totalmente toda a informação sobre as origens da banda Bob Marley & The Wailers, apenas nos mostra uns flashbacks sobre o momento em que a gravadora decidiu assinar com o grupo. Ainda assim, a longa-metragem mostra-nos uma energia totalmente uníssona entre cada elemento da banda, destacando sempre a performance do vocalista. Os momentos em que o grupo musical atuam em conjunto têm agora mais impacto após o baixista, Aston Barrett, ter partido no início do mês de fevereiro de 2024.

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UM FILME SUBLIME COM UM FIM QUE DEIXA A DESEJAR

Do início ao fim, “Bob Marley: One Love” é um filme que aborda a forma como a música pode conduzir à paz. O princípio fundamental da longa-metragem é a vontade que o cantor tinha de dar um concerto capaz de unificar a Nação. No início, o músico faz uma primeira tentativa, promovendo um espetáculo gratuito, mas sofre um atentado e o concerto termina de forma rápida. Contudo, no final do filme, o artista mostra-se capaz de subir a palco para tentar unir os dois partidos oponentes. Infelizmente, quando esse momento chega, atingido o clímax da ação, chega ao fim a longa-metragem acabando por não mostrar verdadeiramente esse tão importante concerto. Em vez disso, no ecrã são projetadas algumas imagens reais do espetáculo, mostrando Bob Marley a conseguir que os dois líderes políticos inimigos dessem um aperto de mão, comprovando o poder da música como fator de união.

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Durante a sua turné mundial para apresentar o álbum Exodus, Bob Marley terá desmaiado em palco, o que o levou a fazer alguns exames que detetaram que o cantor tinha um cancro em estado avançado. Porém, nada disto foi mostrado no filme biográfico. Em vez disso, as imagens mostram apenas Marley a ir ao médico e a sua reação perante a doença é também muito pouco explorada. Porém, a filosofia religiosa do cantor não permitia que este fizesse qualquer tipo de alteração ao seu corpo, impedindo que Marley procedesse com a amputação do dedo onde começara a espalhar-se o cancro da pele. Bob Marley faleceu com apenas 36 anos de idade, mas o filme não retrata os últimos anos de vida do cantor, terminando quando este consegue cumprir o sonho de unir a Jamaica através da música.

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Já assististe a “Bob Marley: One Love”? És fã do cantor jamaicano?  Qual a tua música preferida de Bob Marley?

Bob Marley: One Love, em análise
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Movie title: Bob Marley: One Lov

Movie description: "Bob Marley: One Love" celebra a vida e a música de um ícone que inspirou gerações com a sua mensagem de amor e unidade. Pela primeira vez no grande ecrã, descobre a poderosa história de Bob que retrata as adversidades e a jornada que originaram a sua música revolucionária.

Director(s): Reinaldo Marcus Green

Actor(s): Kingsley Ben-Adir, James Norton, Lashana Lynch

Genre: Biografia

  • Jéssica Rodrigues - 75
75

CONCLUSÃO

Em suma, “Bob Marley: One Love” é muito mais do que uma biografia. Trata-se de um filme que faz um uso pouco usual da cronologia da narrativa para mostrar um determinado período da vida de um dos maiores cantores do século passado. Além de honrar a memória de Bob Marley, a longa-metragem mostra-nos também o lado mais artístico do músico, mas também o peso que a espiritualidade teve no seu percurso. Além disso, esta é uma verdadeira ode à paz através do poder que a música pode exercer sobre os povos.

Pros

  • A cumplicidade entre os atores que dão vida a Bob e Rita Marley;
  • Forma como é abordada a mensagem usada por Bob Marley nas suas canções;
  • O modo aprofundado como é explorada a espiritualidade de Bob Marley;
  • Os momentos musicais apresentados no filme;
  • A subtileza como são abordados temas delicados como o consumo de cannabis;
  • A forma como Kingsley Ben-Adir deu vida a Bob Marley;
  • Os cenários apresentados em algumas imagens da Jamaica

Cons

  • A forma como Bob Marley é descrito como um herói e não tanto como um humano com falhas;
  • A omissão de alguns momentos cruciais da vida de Bob Marley para melhor entendermos a sua fama;
  • A pouca exploração dos últimos anos de vida de Bob Marley;
  • A forma como o filme termina, não mostrando o derradeiro concerto do cantor;
  • A falta da aura descontraída de Bob Marley ao longo do filme
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