Borat Subsequent Moviefilm, em análise
“Borat Subsequent MovieFilm” foi lançado como original da Amazon Prime Video a 23 de outubro de 2020, surgindo simultaneamente nesta plataforma em Portugal. Para os fãs do irreverente e inconveniente Borat Sagdiyev é um prazer rever a personagem depois de 14 anos de ausência.
A personagem Borat regressa em 2020 algures entre o início do ano, o princípio do “fim” com a chegada do Coronavírus aos Estados Unidos, capturando através da câmara um momento único e invulgar. Com “Borat Subsequent Moviefilm: Delivery of Prodigious Bribe to American Regime for Make Benefit Once Glorious Nation of Kazakhstan”, Sacha Baron Cohen regressa ao politicamente incorreto Borat para mais uma missão.
Em temos um grande repórter, Borat é agora a vergonha do Cazaquistão, uma vez que o seu filme trouxe humilhação internacional a esta grande nação, tão verdadeira quanto completamente fictícia. Ou antes, esta é a interpretação do povo americano, repleto de preconceitos, sobre aquilo que é uma nação do Médio Oriente. Uma vez mais Borat ruma aos Estados Unidos, desta vez para entregar uma prenda a um dos compinchas de Trump para assim passar a pertencer ao “clube dos rapazes”, que conta com grandes líderes como Putin ou Nicolás Maduro.
A prenda era inicialmente um macaco muito famoso, Ministro da Agricultura no seu país. Contudo, a sua filha Tutar (Maria Bakalova,), empenhada em visitar os Estados Unidos, entra no caixote de transporte do macaco e come-o durante a longa viagem até ao seu destino. Assim, Borat não tem outra hipótese senão propor uma alternativa: produzir a sua filha e tentar oferecê-la a um dos amigos de Trump, por exemplo o vice Mike Pence. Tutar, que vive numa jaula dada a sua infeliz condição de mulher, está encantada com a hipótese de viver numa jaula de ouro que nem Melania Trump, a sua princesa de eleição.
Assim, “Borat 2” acaba por entrar por novos caminhos. Presta-se a pensar sobre o feminismo no mundo, as suas diferentes perceções e essencialmente sobre certos comportamentos vistos como reprováveis que ainda assim se multiplicam, tais como a aparente compatibilidade entre jovens ingénuas e homens poderosos muito, mas muito mais velhos. É neste ponto que um dos momentos mais espontâneos e chocantes do filme se dá. Rudy Giuliani , conselheiro e advogado pessoal de Trump, o segundo escolhido para receber Tutar como prenda depois da tentativa falhada de a entregar a Pence, é apanhado numa situação muito desconfortável e reveladora numa entrevista falsa que decorre num quarto de hotel.
Não obstante as evidentes pequenas provocações, o advogado de Trump demonstrou uma falta de bom senso generalizada e uma atitude predatorial. Num filme forçado a ser mais encenado, nem que seja porque Borat é um personagem emblemático nos EUA e além fronteiras, um pouco por todo o mundo, este momento acabou por se destacar e servir até como uma espécie de jornalismo de investigação de guerrilha. Até onde chega esta atitude predatorial de Trump e dos seus associados?
Ao ser aparentemente surpreendido pela pandemia a meio das filmagens, ou assim o filme parece sugerir, Sacha Baron Cohen é capaz de jogar estes dados a seu favor e potenciar alguns dos momentos mais fortes do filme. Claro destaque para uma bela quarentena que passa na companhia de dois republicanos paranoicos e inadvertidamente hilariantes. É aqui que o diálogo mais espontâneo se encontra. Um comício republicano torna a piada em assunto bem sério, quando Borat canta num comício onde vemos uma audiência bizarra com direito a manifestações de extrema direita evidentemente neo-nazis. Aí, a gargalhada passa a arrepio na espinha e o filme vai adquirir outra dimensão.
Resta considerar a dinâmica mais marcante do filme, no que diz respeito a alterações face ao primeiro capítulo em 2006. A relação entre Borat e a sua filha Tutar. Esta tem, sem margem para dúvidas, diversos pontos negativos e também positivos. Por um lado, a produção do filme viu castings de mais de 600 jovens mulheres para o papel da filha de 15 anos que Borat não sabia ter. Acabaram por escolher Maria Bakalova, jovem vinda da Bulgária, estudante de Belas Artes e um talento nato. Bakalova é, à data de publicação deste artigo, a personalidade com mais popularidade no IMDB. Não é para menos, ela é uma das estrelas brilhantes do filme.
A relação entre os dois interpretes centrais permite problematizar imensas questões e fortalecer um laço emotivo com as personagens. Por outro lado, embora sejam uma boa dupla, muito do filme é ocupado com os meandros desta relação, o que rouba bastante aos momentos espontâneos de patetada.
“Borat Subsequent Moviefilm” é mais emotivo, humano e político do que o primeiro filme desta personagem. Essas características não o tornam necessariamente melhor, mas mantêm-no apelativo. A obra termina com uma “moral” quiçá excessivamente óbvia. Talvez o red neck aqui retratado seja mesmo o inimigo da razão, e os Estados Unidos, como líderes e influentes membros do Ocidente, devam ponderar uma outra via, uma nova maneira de pensar. “Borat” tornou-se mais político e assim teria de ser. Chamemos-lhe o sinal dos tempos…
Borat: Subsequent Moviefilm
Date published: 27 de October de 2020
Country: EUA
Duration: 93'
Director(s): Jason Woliner
Actor(s): Sacha Baron Cohen , Maria Bakalova
Genre: Comédia
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Maggie Silva - 75
Conclusão
“Borat Subsequent Moviefilm” tem uma essência distinta da sentida no primeiro filme. É mais político e menos improvisado e extremamente interligado com os eventos correntes. Sacha Baron Cohen consegue assim provar que o seu apatetado Borat tem ainda um lugar no mundo do entretenimento.
O Melhor: A dinâmica com a nova personagem, a sua filha, bem como a pertinência política e social de alguns dos momentos mais extremos e preocupantes que o filme capta;
O Pior: A clara redução de natureza espontânea do registo ” à la apanhados” que resulta em grande parte do conhecimento generalizado do disfarce de Sacha;