© Scott Garfield

Bullet Train de Kōtarō Isaka, em análise

“Vamos querido? Se não sairmos já vamos perder o comboio.”. Em “Bullet Train”, encontramos-nos numa viagem de comboio, de Tóquio a Morioka. Aqui, quem entrar vai ter uma experiência fora do vulgar. Kōtarō Isaka oferece-nos um thriller vertiginoso, onde é difícil parar de ler.

Licenciado em Direito pela Universidade de Tohoku, Kōtarō Isaka trabalhou como engenheiro de sistemas, até que em 2000, ganha o Shincho Mystery Club Prize pelo seu primeiro romance, Odyubon no Inori. O prémio fez decidir tornar-se escritor a tempo inteiro. A partir daí, o mundo conheceu um escritor talentoso, com vários livros publicados e que receberam adaptações cinematográficas, como é o caso de “Fish Story” (2009), “Golden Slumber” (2010), entre outros. Assim sendo, chega outra adaptação cinematográfica de um livro do escritor nipónico, desta vez proveniente do ocidente. “Bullet Train” chega dia 4 de Agosto às salas de cinema em Portugal. Mas até chegar ao grande ecrã foram precisos cerca de 10 anos de espera, para a tradução em língua inglesa, e consequentemente, também para a língua portuguesa.

Sinopse:

Satoshi aparenta ser um estudante inocente, mas, na verdade, trata-se de um psicopata astuto e cruel. Graças a ele, o filho de Kimura está em coma, e Kimura seguiu-o até ao comboio-bala que faz o percurso de Tóquio para Morioka. Viagem em que se irá vingar. Mas numa surpreendente reviravolta de acontecimentos, Kimura rapidamente descobre que eles não são os únicos passageiros perigosos a bordo. Ao descobrirem que estão todos a bordo do mesmo comboio e com o mesmo destino, os cinco assassinos, percebem que as suas missões talvez não são assim tão desconexas quanto parecem à primeira vista. Nanao, o autoproclamado «assassino mais azarento do mundo», e a dupla mortífera de Tangerine e Lemon também estão a viajar com o mesmo destino. Uma mala cheia de dinheiro obriga outros a revelarem-se. Porque é que estão todos no mesmo comboio, e quem é que sairá vivo na última estação?

Antes do início da leitura, há dois pontos positivos a salientar. Logo no início do livro, está exposto o percurso do Hayate, o comboio de alta velocidade, que parte de Tóquio, passando por estações como Ueno, Omiya e Sendai, até chegar ao destino, em Morioka. Num mapa semelhante aos que vemos nos comboios que utilizamos, para saber as paragens e outras informações. Apesar de num primeiro relance não causar nenhum acrescento à história, conforme a leitura for progredindo, o mapa vai ajudar-nos na construção mental da narrativa apresentada. Aliado ao percurso, em cada capítulo, está um pequeno desenho do comboio, composto por dez carruagem devidamente numeradas. Ou seja, se uma determinada carruagem, ou até mais, estiver preenchida a cinzento, a ação, naquele determinado momento, vai passar-se naquelas carruagens. Uma ajuda preciosa para acompanharmos a velocidade a que se desenrolam os acontecimentos.

Nesse sentido, os capítulos estão divididos conforme “a vez” da personagem. Por isso, vamos estar, num certo modo, no papel dos cinco assassinos presentes neste comboio. O primeiro “encontro” que temos é com Kimura, um segurança de meia-idade, com experiência em realizar serviços quem mais ninguém quer fazer. Ao início, a sua história não se cruza com as restantes personagens deste comboio diabólico. Contudo, Kimura embarcou nesta viagem por motivos pessoais, e com um alvo abater, um jovem de catorze anos chamado Satoshi Oji. O que será que terá feito um adolescente de catorze anos para estar na lista negra de um assassino? Também conhecido como Príncipe, é a personificação do ditado “as aparências iludem” (e de que maneira). Com ar inocente, de estudante exemplar, é de longe, pelo menos a nível mental/psicológico, o ser humano mais horripilante e sem escrúpulos do comboio.

Lê Também:   Bullet Train (Livro) | Passatempo MHD

Logo nas primeiras páginas, e sendo um dos elementos mais importantes da narrativa, descobrimos que Satoshi Oji empurrou o filho pequeno de Kimura de um prédio, deixando-o entre a vida e a morte. Por isso, criamos desde do início um sentimento de repugnância em relação ao jovem. Quando alguém é capaz de um ato bárbaro como este e outros que iremos descobrir ao longo do livro, queremos que seja feita justiça, de uma maneira ou de outra. Mas é nestas ocasiões que percebemos que o escritor consegue fazer algo que está ao alcance de poucos. Deixa-nos impotentes, à semelhança do que acontece com as personagens que Satoshi manipula e destrui. O jovem estudante revela-se um ser humano desprezível, com um intimo negro. Em certos momentos, é frustrante, e parecem impossíveis, as atitudes de Satoshi. Se alguém leu “O Deus das Moscas”, de William Golding, perceberá que Jack seria uma criança inofensiva ao lado do Príncipe. Igualmente, Satoshi é o elo de ligação entre Kimura e as restantes personagens.

Com o avanço dos capítulos, começamos a descobrir outras personagens, a dupla maravilha Limão e Tangerina, e o azarado Nanao. O filho de um chefe criminoso e uma mala misteriosa unem estas três personagens. No que diz respeito à dupla, sentimos uma química quase palpável, apesar da história estar impressa. Tangerina é meticuloso e intelectual, enquanto do lado oposto encontra-se Limão, distraído e incrivelmente apaixonado pela série infantil “Thomas e os Seus Amigos”, onde as lições sobre amizade, respeito e companheirismo vão cruzar-se com diversos acontecimentos. Ou seja, no final, é como os próprios frutos, o doce e o amargo. No caso de Nanao, é a personagem que iremos ter mais momentos de empatia, seja pelas suas situações caricatas ou azaradas, seja pela sua personalidade, que dentro de todos os assassinos, é o mais humano.

Lê Também:   Bullet Train recebe primeiro trailer repleto de acção

Entre os cinco assassinos, existem outras personagens envolvidas, com mais ou menos influência na história. À partida, parecem acontecimentos paralelos para darem alguma profundidade à linha temporal da história. Mas nestas situações, o escritor nipónico revela, uma vez mais, o seu talento. Neste livro, ações e acontecimentos pequenos que, à priori, parecem não ter qualquer significado, vão conseguir surpreender. Seja uma armadilha há muito esquecida ou uma pequena menção de uma personagem, no final, tudo tem uma razão. Ou seja, o escritor não deixa pontas soltas, ao mesmo tempo que cria as perguntas, não deixa nenhuma sem resposta. Igualmente, pode traduzi-se como “tudo acontece por uma razão”.

Sem darmos conta, somos avassalados por um turbilhão de sentimentos, em cada personagem, um sentimento diferente. Kimura, Satoshi, Nanao, Limão e Tangerina têm todos uma moralidade diferente, que nos leva numa viagem ética e introspectiva. Até que ponto o Príncipe não está correto sobre a condição humana? Quem não iria dar a vida por um filho, como Kimura estava disposto?

Com uma escrita acessível a todos, personagens completas e complexas, e uma narrativa principal linear com algumas ramificações bem desenvolvidas, “Bullet Train” é um livro que já devia ter sido traduzido há mais anos, logo após a sua publicação original. Neste livro de Kōtarō Isaka encontramos um pouco da genialidade de Stephen King e o mistério de Agatha Christie. Apesar de serem três escritores totalmente diferentes, e de épocas distintas, “Bullet Train” consegue estar ao mesmo nível.

TRAILER | BULLET TRAIN PROMETE UMA VIAGEM ALUCINANTE

Já leste o livro? Achas que o filme vai fazer jus ao livro?

Bullet Train, em análise
Bullet Train Capa

Movie title: Bullet Train

92

"Bullet Train", de Kōtarō Isaka

Satoshi aparenta ser um estudante inocente, mas, na verdade, trata-se de um psicopata astuto e cruel. Graças a ele, o filho de Kimura está em coma, e Kimura seguiu-o até ao comboio-bala que faz o percurso de Tóquio para Morioka. Viagem em que se irá vingar. Mas numa surpreendente reviravolta de acontecimentos, Kimura rapidamente descobre que eles não são os únicos passageiros perigosos a bordo. Ao descobrirem que estão todos a bordo do mesmo comboio e com o mesmo destino, os cinco assassinos, percebem que as suas missões talvez não são assim tão desconexas quanto parecem à primeira vista. Nanao, o autoproclamado «assassino mais azarento do mundo», e a dupla mortífera de Tangerine e Lemon também estão a viajar com o mesmo destino. Uma mala cheia de dinheiro obriga outros a revelarem-se. Porque é que estão todos no mesmo comboio, e quem é que sairá vivo na última estação?

Pros

  • Escrita acessível;
  • Personagens bem desenvolvidas;
  • Narrativa cativante;

Cons

  • Certas situações podem chegar ao exagero verosímil;
Sending
User Review
0 (0 votes)

Leave a Reply