Um óscar para Captura de Movimentos | Futuro do cinema
Mais do que o personagem, são a sua alma. Estamos em pleno século XXI, onde qualquer blockbuster usa a Captura de Movimentos na composição de personagens.
No início do novo milénio, 2001, o mundo deu de caras com um novo personagem no grande ecrã, que assustou e agradou, dos mais novos aos mais velhos, e ao mesmo tempo veio revolucionar uma nova geração e maneira de fazer cinema.
Falamos de Gollum em “O Senhor dos Anéis”, interpretado por Andy Serkis, que mais tarde veio a tornar-se o ator mais mediático nesta nova tecnologia, a Captura de Movimentos, também conhecida como captura de performance. Têm sido diversificadas desde então as suas performances pelos mais diversos filmes e papéis, desde Hobbits transfigurados, macacos de diversos tamanhos, líderes supremos, fiéis companheiros de uma garrafa de whisky e mais recentemente o famoso urso brincalhão de “Jungle Book: Origins”, com estreia prevista em 2017.
ADAPTAÇÃO DA ACADEMIA FACE ÀS TÉCNICAS UTILIZADAS
Tal como numa maquilhagem, Andy não fica horas esperando para que todo o látex e cremes sejam colocados sobre o seu rosto, mas antes por pontos brancos nos lugares mais precisos, para mais tarde serem seguidos no computador, pois o make up vem depois, digitalmente. Assim, torna-se o ator mais conceituado no MoCap (abreviatura de Motion Capture ou em português, Captura de Movimentos), sendo por muitos considerado o padrinho desta mesma técnica.
Mas deixando a questão no ar, terá sido nomeado ou vencido Andy Serkis algum Óscar da Academia? Parece que não, infelizmente, em pleno século XXI, onde qualquer blockbuster usa a técnica que aqui falamos.
Voltando uns anos atrás no tempo, a 1981, John Hurt é nomeado ao Óscar de melhor ator no papel de John Merrick em “O Homem Elefante“. Completamente irreconhecível, como assim o exige, John com toda a maquilhagem necessária e com a sua excelente interpretação, é nomeado pela segunda vez, sendo o primeiro ator nomeado após uma caracterização total no seu papel. Isto deu origem a que no ano de 1982 surgisse então uma nova categoria nos prémios da Academia, o Óscar de melhor caracterização.
Os tempos passam, a tecnologia evolui e quase 30 anos depois, mesmo após termos conhecido a técnica de captura de movimentos (conforme a conhecemos nos dias de hoje), Brad Pitt numa mistura de maquilhagem “látex” e maquilhagem digital, consegue uma nova nomeação ao Óscar por “O Estranho Caso de Benjamin Button”, o qual, pela primeira vez, leva um ator a ser nomeado depois de usar a técnica digital de captura de movimentos. Agora perguntamos – para quando um ator exclusivo de MoCap como numa interpretação de Andy Serkis em “O planeta dos Macacos” ou Zoe Saldana em “Avatar”?
DE GOLLUM A SNOKE, QUALQUER BLOCKBUSTER.
Ao longo dos anos temos visto os critérios de seleção da Academia mudarem e a adaptarem-se aos tempos que vivemos, mas nesta fase de transição do cinema, não será essencial ver pelo menos uma nomeação?
São cada vez mais os filmes que contêm um personagem 100% MoCap, podendo afirmar que não há um blockbuster sem utilização da mesma técnica. Poderíamos nomear uma lista indeterminável, ou até mesmo indicar o mais recente projeto de Steven Spielberg e Peter Jackson, 100% MoCap. Falamos de “As aventuras de Tintim” que em 2011 depois de “Polar Express” mostrou ao mundo a fantástica capacidade da captura de movimentos e 3D.
Ao longo dos últimos anos a tecnologia tem evoluído bastante. Com uma “pontinha” de entusiasmo, Andy Serkis ainda refere a primeira vez que usou a mesma técnica assim que aterrou na Nova Zelândia para a interpretação de Gollum.
“A minha primeira cena foi a 1500 metros de altura no topo de um vulcão” relembra. “Estava de pé com uns collants em frente a uma equipa de 250 kiwis (pessoas nativas da Nova Zelândia), que tentavam imaginar o que estava eu a fazer. Fiz imensos trabalhos de preparação, mas nada nos preparava para aquilo”.
Foi assim que em 2001 se deu o Big Bang deste tipo de performance.
Desde o primeiro fato vestido por Andy Serkis em “O Senhor dos Anéis – A Irmandade do Anel” em 2001, às mais recentes tecnologias utilizadas nas suas ultimas filmagens para “Star Wars VII” como Snoke, que são bastantes visíveis o avanço das novas tecnologias aplicadas à indústria cinematográfica. A técnica de captura de movimentos baseia-se na gravação dos movimentos feitos por um ator, que através de sensores e câmaras de alta definição são gravados e transferidos para um modelo digital.
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UMA FORMA DE OBTER ANIMAÇÕES REALISTAS
Já Walt Disney usava o mesmo conceito, de forma diferente, para tornar as suas personagens tão reais quanto conhecemos hoje. A isso chamamos de rotoscopia. Walt Disney usava filmagens de performances/movimentos que desejava e por cima da imagem dos atores, numa tela, desenhava os seus personagens. Esse é o motivo também pelo qual poderemos comparar vários famosos movimentos de animações da Disney e verificar várias repetições. Como ver o Urso Balu dançar com Mogli da mesma maneira que a Branca de Neve dançava com os 7 anões. Para poupar tempo usavam o mesmo performance/movimento de um ator para vários filmes em cenas como danças, lutas, etc.
Assim obtemos animações com movimentos realistas.
Realistas? Como é possível se temos pessoas a representar símios como em “O Planeta dos Macacos”? Aí está o talento por parte destes grandes atores que não dão a cara. São meses de trabalho e ensaios para tornar todos os movimentos o mais real possível e assim dar vida aos personagens digitais. Interpretando desde gigantes (Stefan Kapicic em “Deadpool” como Colossus) a dragões (Benedict Cumberbatch em “O Hobbit” no papel de Smaug).
Estes atores não são só o personagem, eles tornam se a alma do “boneco” 3D que vemos no grande ecrã.
Está na hora de um novo progresso na escolha dos nomeados a melhor ator/atriz principal.
Acreditamos que no futuro a Academia terá um Óscar para a melhor captura de movimentos.
JB
Excelente artigo. Realmente cada vez mais vemos grandes actores em papeis MoCap, mas apesar dessas interpretacões serem comumente vangloriadas devia haver uma actualizacão nos prémios para o trabalho desses artistas ser devidamente reconhecido.