Cine Quarentena: Capitalismo Coronavírus
A crise do Covid-19 vista pela activista canadiana Naomi Klein, num curta-metragem documental de cerca de 9′, intitulada ‘Coronavirus Capitalism’, que podem assistir no site ‘The Intercept’ e está também disponível no Youtube. Estreou ontem e podem ouvir igualmente um podcast Intercepted, no mesmo site com Naomi Klein e o jornalista Jeremy Scahill.
’Já conhecemos este filme’, diz a economista e activista canadiana Naomi Klein, autora do livro ‘A Doutrina do Choque: A Ascensão do Capitalismo de Desastre’, (2007), e mais tarde também do documentário com o mesmo título, realizado por Mat Whitecross, Michael Winterbottom, em 2011. Klein fala agora na sua nova batalha contra o ‘capitalismo do coronavírus’. E fá-lo através de um video, publicado no site ‘The Intercept’: ’Já sabemos qual é o plano de Trump: uma doutrina de choque pandémica…Mas o final desta história ainda não foi escrito.’ resume assim o seu argumento Naomi Klein.
No vídeo publicado no famoso site de jornalismo de investigação The Intercept, a autora e ativista canadiana Naomi Klein explica como o governo Trump e outros governos em todo o mundo estão ‘explorando’ o surto de coronavírus ‘para pressionarem a fazerem-se resgates e incentivos financeiros às grandes empresas sem condições de retorno da dívida e reversões legislativas, que podem por em causa a democracia e a liberdade dos cidadãos’; e pede às pessoas em todo o mundo que lutem para resistir contra essas pressões e exigir um forte apoio dos líderes políticos durante a crise em curso. Klein, autora do livro ‘A Doutrina do Choque: A Ascensão do Capitalismo de Desastres’, (2007), que vale a pena ler porque não está desactualizado, mostra que o presidente Donald Trump sempre pressionou para um corte nos impostos sobre as receitas que poderia levar à falência a Segurança Social; além ter prometido ajuda aos grandes poluidores, como companhias aéreas, empresas de navios cruzeiros e empresas de combustíveis fósseis, que têm vindo a causar muitas das perturbações climáticas e poluição atmosférica. Trump reuniu-se ainda com executivos de empresas privadas de seguros de saúde, segundo Klein, ‘exatamente aqueles que defendem que os americanos não conseguem pagar os cuidados de saúde que necessitam’.
‘Já conhecemos esse filme. Em 2008, a última vez que tivemos um colapso financeiro global, foram lançadas o mesmo tipo de medidas de resgates a grandes empresas sem compromisso de retorno e foram as pessoas comuns de todo o mundo que tiveram de pagar o preço, dessas más decisões’, diz Klein. ‘Sabemos qual é o plano de Trump: uma doutrina de choque pandémica que trás ideias muito perigosas que vão, desde a privatização integral da Segurança Social, ao encerramento de fronteiras e à prisão de ainda mais migrantes. O inferno seria mesmo, se Trump viesse a cancelar as eleições’ directas nos EUA, marcadas para 3 de Novembro. Recorde-se que algo semelhante fez o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, à perna com acusações judiciais de corrupção e, que para se manter no poder, mandou fechar o Parlamento onde o seu partido tem minoria e a oposição se preparava para formar um governo de maioria parlamentar. ‘Mas o fim desta história ainda não foi escrito’, realça Klein, a propósito ainda dos reflexos políticos da pandemia nos EUA e no mundo.
‘Em vez de resgatar as indústrias poluidoras do século passado, deveríamos antes investir nas limpas que nos levarão à segurança no próximo século’, diz Klein, apontando por exemplo para as medidas anunciadas no Green New Deal. ‘Se há uma coisa que a história nos ensina, é que os momentos de choque são profundamente voláteis. Perdemos muito terreno, somos arrastados pelas elites e por vezes pagamos um preço de décadas de avanços ou então conquistamos vitórias progressistas que pareciam praticamente impossíveis algumas semanas antes. Não é hora de perder a coragem’. Naomi Klein discutiu igualmente esta questão da pandemia do COVID-19 no Intercepted, de ontem um podcast apresentado por Jeremy Scahill, um dos fundadores do The Intercept, juntamente com o jornalista Glenn Greenwald.
JVM