Cinema vs Televisão | A apologia do pequeno ecrã


Aqueles que afirmam que a televisão é atualmente melhor do que o cinema razões de peso para isso.

As suas melhores razões são as séries em si, capazes de superar atualmente em qualidade os melhores filmes nos respetivos géneros. Veja-se por exemplo A Guerra dos Tronos, dominadora absoluta do género da fantasia desde a sua estreia há cinco anos atrás. A sua grande rival cinematográfica nos últimos anos, a saga O Hobbit, não conseguiu estar à altura da trilogia que a precedeu e, quando a comparamos, seja a nível artístico seja a nível comercial, com a flamante A Guerra dos Tronos, os resultados dão a razão aos apologistas do domínio atual da televisão.

Algo bem parecido pode dizer-se de uma diversos outros géneros que, apenas há alguns anos atrás, eram firmemente eram dominados pelo cinema. Hoje em dia, sem embargo, a história é bem diferente. Existe algum fillme de terror capaz de rivalizar com o fenómeno The Walking Dead? Está algum filme recente no género crime à altura de séries como Breaking Bad, True Detective, Hannibal ou Sherlock? A melhor ficção histórica da atualidade no campo audiovisual também tem lugar no pequeno ecrã, cortesia de séries como Black Sails ou Vikings. O que dizer então do campo da comédia, amplamente dominado por séries como Modern Family ou The Big Bang Theory? Até mesmo no género drama, antes totalmente dominado pelo cinema, hoje em dia vemos séries como House of Cards ou The Affair igualar, ou até mesmo superar o melhor que o cinema moderno tem a oferecer.

Breaking Bad Cinema vs Televisão

Qualquer pessoa com acesso a algumas das melhores séries de TV atuais sabe perfeitamente que os tempos em que a televisão era o primo pobre do cinema pertencem ao passado. Hoje em dia as histórias que se desenrolam no pequeno ecrã são tão boas como os melhores filmes, tanto a nível da narração, como das interpretações e até mesmo do aspeto visual.

O grande problema da televisão do passado é que estava extremamente limitada por uma série de vícios e convenções que corrompiam o seu tremendo potencial como meio artístico. Mas com o passar dos anos a tv tem sido capaz de se libertar progressivamente dessas correntes que a atavam a um plano inferior ao do cinema.

Em primeiro lugar, as limitações orçamentais foram extremamente atenuadas pela redução para 13, 10 ou inclusive menos episódios por temporada. A redução no número de episódios por temporada corrigiu a tendência das séries de televisão a diluir a qualidade das mesmas em temporadas excessivamente longas.

Em segundo lugar, o nível de maturidade do meio também teve de evoluir para alcançar o cinema. A grande mudança neste sentido chegou com canais como HBO, AMC, FX, Showtime e Starz, dispostos a produzir séries para adultos com conteúdos por vezes impróprios para “toda a família”.

Cinema vs Televisão Spartacus Lucy Lawless

Finalmente, a aparição de canais de cabo e pré-pagos, assim como a disseminação de outros meios de acesso às séries também permitiram substituir a antiga estrutura episódica das séries de TV por uma nova visão do meio. Hoje em dia as melhores séries são essencialmente longos romances audiovisuais divididos em capítulos (episódios) que contam uma história contínua. Uma temporada de 13 episódios de uma série da HBO ou da FX é essencialmente um longo filme dividido em várias partes.

Graças a estas modificações, a TV conseguiu equiparar-se ao cinema, conservando assim mesmo as vantagens inerentes do meio. Ao dispor de muito mais tempo para contar uma história, uma série pode desenvolver as suas personagens e a sua história de uma maneira bastante mais detalhada do que qualquer longa metragem, propiciando um maior grau de imersão na história assim como uma maior identificação com os personagens por parte dos espectadores. Este enorme triunfo tem seduzido toda uma geração que, cada vez mais, se sente extremamente identificada com as suas séries preferidas, e que vê a televisão como uma séria candidata ao trono da ficção moderna.

Continua na próxima parte…

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Bruno Vargas

 

Fontes: The GuardianLiberty Voice

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