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Clifford – O Cão Vermelho, em análise

“Clifford – O Cão Vermelho” é uma adaptação live-action da popular série de livros infantis com o mesmo nome, que já foi transcrita anteriormente tanto para cinema como para televisão. Será o filme ideal de Natal para se ver em família ou é melhor evitar?

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Espetadores por todo o mundo partilham determinados preconceitos – na sua maioria, datados ou claramente errados – sobre o cinema e os seus géneros, incluindo alguns críticos. Um dos mais irritantes e frustrantes é o famoso argumento atroz: “filmes de animação são para crianças”. Apesar de não conter a palavra “exclusivamente”, as pessoas certificam-se de que tal esteja implícito quando aplicam este comentário específico para defender a sua opinião. Sou totalmente contra esta ideia incrivelmente enganadora e redutora, mas, de facto, existem filmes – animados ou não – que dificilmente funcionam para alguém que não uma criança.

Esta versão de 2021 do conhecido animal apanhou uma onda viral de opiniões opostas assim que o primeiro teaser/trailer saiu. Era quase impossível evitar o enorme elefante – neste caso, cão – na sala. Clifford é basicamente transformado num cão CGI gigante que não parecia nada bem nos trailers – e estou a ser simpático. Outro comportamento comum que os espetadores têm é julgar um filme pelo seu marketing, com algumas pessoas a criarem uma opinião firme sobre se gostam ou não da obra antes de assistir. Isso inevitavelmente induz os mesmos a seguir essa mentalidade pré-definida, mesmo que o filme não esteja nem perto do que esperavam. A grande maioria dos cinéfilos odeia contrariar-se, visto que mudar de opinião ao longo do tempo costuma ser visto como uma espécie de fraqueza.

 

Porém, desta vez, os trailers não mentiram, mas não pelos motivos que alguns podem pensar. O CGI Clifford não é um caso de maus efeitos visuais ou animação. Os artistas VFX do canal Corridor Crew explicam isso mesmo detalhadamente num vídeo e concordo que este é um problema do mundo em que o cão se encontra inserido. O CGI em si pode parecer incompleto quando Clifford ainda é um simples cachorro, mas a sua transformação de dinossauro até parece surpreendentemente decente. Infelizmente, uma vez que tudo ao seu redor são pessoas e cenários reais, Clifford destaca-se de uma maneira desagradável. Claro, existem alguns momentos emocionantes com Emily que tocarão no coração do público, especialmente se adoram cães como eu.

Mas, infelizmente, existe uma falsidade geral em quase todos os elementos do filme. Desde a história extremamente exagerada e dos diálogos infantis às mensagens inspiradoras incrivelmente forçadas, “Clifford – O Cão Vermelho” é a pura definição de um “filme para miúdos”. As crianças vão adorar – como adoram praticamente tudo o que vem de um ecrã – mas os adultos terão dificuldades em encontrar entretenimento num mundo tão irreal – para ser claro, não me estou a referir ao CGI. Dependendo do humor e das expetativas dos espetadores, podem soltar alguns risos devido à sua narrativa admitidamente bem-disposta. Jack Whitehall (“Jungle Cruise”) é algo engraçado neste aspeto e Darby Camp (“The Christmas Chronicles 2”) retrata Emily lindamente, transmitindo com eficiência a mensagem de que ser diferente não é algo negativo.

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É sempre um desafio tentar escrever sobre uma adaptação que foi claramente realizada para crianças e que não se leva a sério. Qualquer crítica menos positiva soa como um ataque à infância, mas preciso de deixar esta nota importante. Se este tipo de storytelling é protegido para sempre de comentários negativos apenas e só por ser destinado a crianças, o que é suposto a geração mais nova aprender com estes filmes? Nada? Apenas imagens num ecrã para os manter quietos e silenciosos? As crianças não merecem bons filmes? Certo, as mensagens bonitas e lições de vida essenciais estão presentes no filme de Walt Becker (“Alvin and the Chipmunks: The Road Chip”), mas com o custo de as forçar pela garganta abaixo ao invés de ser um momento envolvente. Pais não devem ter receio de ser mais rigorosos com o que os seus filhos assistem…

CLIFFORD – O CÃO VERMELHO | ESTREIA NOS CINEMAS DIA 16 DE DEZEMBRO

Clifford - O Cão Vermelho, em análise
Clifford: O Cão Vermelho

Movie title: Clifford - O Cão Vermelho

Movie description: A jovem Emily Elizabeth conhece um senhor que resgata animais mágicos e lhe oferece um cãozinho vermelho. Ao acordar, encontra um cão gigante com três metros no seu pequeno apartamento de Nova Iorque. Enquanto a mãe está fora, a trabalhar, Emily e o seu divertido, mas impulsivo, tio Casey, iniciam uma aventura que vai virar a cidade de patas para o ar.

Date published: 16 de December de 2021

Country: Canada/EUA

Duration: 97'

Director(s): Walt Becker

Actor(s): Jack Whitehall, Darby Camp, Tony Hale, Sienna Guillory, Russell Wong, John Cleese

Genre: Aventura, Comédia

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  • Manuel São Bento - 40
40

CONCLUSÃO

“Clifford – O Cão Vermelho” guarda momentos fofos e emocionais que vão alcançar o coração de qualquer amante de animais de estimação, bem como as habituais mensagens inspiradoras destinadas ao público mais jovem, mas tudo vem ao custo de criar um mundo enganador e tremendamente falso. O CGI de Clifford surpreendentemente parece decente, mas inserir um cão digital em cenários reais enquanto interage com pessoas reais, deixa os espetadores com uma sensação estranha que nunca vai desaparece. Infelizmente, o cão não é o elemento mais artificial do filme. Para além de ser antecipadamente infantil, incrivelmente formulaico e exagerado em todos os sentidos, as personagens e a narrativa principal estão longe de parecerem, soarem e serem autênticas. No final das contas, é uma adaptação desapontantemente oca que as crianças inevitavelmente vão adorar, mas que os adultos terão que suportar.

Pros

  • Mensagem bonita e inspiradora, apesar de extremamente forçada.
  • Prestações bem-humoradas de Jack Whitehall e Darby Camp.
  • CGI surpreendemente bem conseguido com a “versão dinossauro” de Clifford.

Cons

  • O mundo criado por Walt Becker transpira e respira tremenda falsidade.
  • Um Clifford digital inserido num mundo com pessoas e cenários reais não funciona, de todo.
  • Clifford não deixa de ser mais um elemento artificial numa história demasiado irreal.
  • Narrativa formulaica repleta de cliches e estereótipos longe de qualquer tipo de autenticidade.
  • Adaptação carece de um trabalho mais verdadeiro.
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