Sweating the Small Stuff

Sweating the Small Stuff, em análise

“Sweating the Small Stuff” é uma das obras que abre o International Film Festival Rotterdam, o evento online organizado em parceria com a Festival Scope. A obra de Ryutaro Ninomiya explora a vida demasiado pacata de um homem incapaz de lhe escapar.

Construída como um rastilho, a narrativa de “Sweating the Small Stuff” centra-se no jovem Ryutaro Ninomiya (protagonizado por Ryutaro Ninomiya), um funcionário de uma oficina cuja existência não podia ser mais atribulada apesar da aparecente calma. A sua vida vai sendo captada por um olho espião que o segue para todo o lado e se mantem nele mesmo quando algo mais estimulante decorre em simultâneo, afinal, ele é o objeto desta obra cujo silêncio toma maior importância ao que é realmente dito.

Sweating the Small Stuff

Sem expressão e de ombros caídos, é assim que encontramos Ryutaro durante todo o filme. O seu quotidiano é simples e sem grandes eventos, levando-o do trabalho a casa, de casa a bares com colegas que odeia, destes novamente para casa, tendo o emprego que despreza à sua espera no dia seguinte, num ciclo que grita por terminar. Ao seu redor, quase todos parecem encontrar o seu lugar na vida, seja ele num casamento do qual não querem fazer parte ou num trabalho que nada lhes oferece em troca. Contrariamente, Ryutaro deambuleia de um espaço para o outro sem qualquer propósito.

Um dia um amigo de infância telefona-lhe dizendo que a mãe o deseja ver. Ryuko está terminalmente doente e Ryutaro, mesmo sabendo disso, nunca a visitou. Com algum receio mas sem escapatória, ele vai até sua casa, revendo uma mulher que não é somente mais uma a ser cruelmente abusada por ele, não, ela é alguém precioso para si, tendo estado ao seu lado nos piores momentos da vida e sendo a única personagem pela qual Ryutaro demonstra algum tipo de amor – é deixado ao espectador compreender a sua relação e o quão profunda é.

A partir deste momento a expressão sem emoção do protagonista começa a intercalar entre o pasmo e o desespero. Perante a morte de Ryuko, a sua vida parece desmoronar-se num trobilhão de emoções que vão sendo cada vez mais fortes consoante o decorrer do filme, levando a câmara a transformar-se no final, deixando de ser estática (movendo-se somente através de paronâmicas) para seguir os passos violentos e apressados de Ryutaro.

Realizador do seu próprio filme, Ninomiya é brilhante na sua interpretação de um homem que pouco fala e cujas palavras não ditas são muito mais importantes do que os monossílabos e abanos de cabeça com que se comunica normalmente. O espectador tem acesso ao seu “eu interior” quando a barreira entre o psicológico e o físico começam a cair e o vemos chorar ou enraivecer. Se o queremos compreender temos de o observar com atenção pois ele não nos dirá nada.

E como acaba? Bem, todos os confrontos interiores são o acender de um pavio que se aproxima rapidamente do fim, mas será que o veremos explodir? Conseguirá este homem desesperado exteriorizar o que sente?

“Sweating the Small Stuff” é uma obra sem ação, atrevo-me mesmo a chamar-lhe “aborrecida” mas este tom é propositado, fazendo-nos entrar no mundo de Ryutaro sabendo que, contrariamente à personagem incapaz de escapar, o poderemos deixar. É fácil um cineasta mostrar-nos a depressão de alguém mas Ninomiya obriga-nos a entrar dentro dela, não nos deixando sair até a obra terminar – um filme que definitivamente não agradará ao público geral mas que se torna numa boa surpresa para os cinéfilos. Porém, o filme acaba por pecar em algumas interpretações menos convincentes e que rapidamente nos tiram do mundo cinematográfico.

Curioso para mergulhar na vida de Ryutaro? Este é um dos três filmes japoneses a serem exibidos no IFFR.

Sweating the Small Stuff, em análise

Movie title: Sweating the Small Stuff

Director(s): Ryutaro Ninomiya

Actor(s): Ryutaro Ninomiya, Tetsuo Ninomiya, Daiki Matsumoto, Yasumi Yajima, Tomoki Kimura, Shinji Imaoka, Yuki Hirose, Yuki Miyoshi

Genre: Drama

  • Ângela Costa - 74
  • Cláudio Alves - 55
65

CONCLUSÃO

Ryutaro Ninomiya mistura realidade com ficção numa obra que explora a vida monótona de homem, virada do avesso quando se vê confrontado com a morte de alguém que lhe é especial.

O Melhor: A forma como o cineasta japonês explora a evolução emocional depressiva e violenta do protagonista que se encontra numa fase da sua vida da qual quer sair ainda que seja incapaz de o fazer. Para além disso, o filme prima pelo modo como utiliza o silêncio para se expressar.

O PIOR: Algumas interpretações menos boas, mecânicas e que nos retiram do ambiente da obra.

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