Do Livro à Tela – O Senhor dos Anéis

 

O Senhor dos Anéis terá sido, possivelmente a mais difícil adaptação de sempre. Primeiro pela magnitude da obra, com um vasto leque de personagens, diferentes culturas e línguas, e pelos efeitos especiais necessários, mas essencialmente porque falamos de um dos livros mais vendidos de sempre, e indiscutivelmente, um dos melhores, com uma legião de fãs que nenhum outro livro tem, e que olharam para o anúncio da adaptação com algum receio, também aumentado pelo facto de o realizador Peter Jackson ser na altura um nome muito pouco sonante.

Com o peso de fazer o que muitos achavam impossível (adaptar a obra de Tolkien), o grande trunfo de Peter Jackson foi ter argumentistas que conheciam plenamente este mundo e que eram fãs inveterados. A partir daqui sabemos que o essencial estará na tela, desde que haja competência, e neste caso, houve muita!

Esta trilogia de Jackson, vencedora de 17 Óscares, marcou a indústria do cinema enquanto fazia muitas pessoas olharem para a “fantasia” com outros olhos. É das melhores adaptações de sempre, com uma extraordinária montagem, grande banda sonora que ajuda ao ambiente que sentimos ao ler o livro, efeitos especiais de topo e principalmente uma narrativa que facilita imenso a compreensão não só da história mas também do mundo no qual se insere. Pelo meio temos personagens fantásticas – dificilmente nos esqueceremos de Gollum.

No entanto há diferenças, e muitos fãs não gostaram nada de ver Tom Bombadil a ser retirado da adaptação (quem tiver lido os livros saberá de quem se trata). Neste caso a sua ausência custa a qualquer fãs mas é compreensível, simplesmente porque Bombadil só viria levantar questões a que nem mesmo J. R. R. Tolkien respondeu. No entanto algumas das suas falas aparecem na Edição de Colecionador pela voz de Barba de Árvore, oferecendo um pequeno toque de qualidade que nos aproxima dos livros.

Existem outras diferenças, como a ausência de Boca de Sauron (aparece na Edição de Colecionador), a explicação para a morte do Rei-Feiticeiro de Angmar, a forma como os Anéis são criados, ou o facto de termos a sensação no filme que se passa pouco tempo desde que Frodo recebe o anel até começar a sua aventura – no livro há um salto de vários anos entre estes acontecimentos – mas novamente, sendo este o caso mais óbvio, a grande maioria das alterações têm como objetivo aumentar o ritmo do filme em relação ao livro, que é mais lento, descritivo e poderia destruir o filme.

Se olharmos de forma minuciosa, existem vinte ou trinta diferenças entre o livro e o filme, mas a realidade é que quase nenhuma altera de forma significativa a história, tornando esta adaptação melhor do que a maioria. É verdade que o livro é superior – isso é inegável – mas seria impossível criar uma trilogia de filmes ao nível dos livros.

No geral esta trilogia de Peter Jackson é excelente e admiramos imenso o trabalho feito, tornando estes três filmes obrigatórios para qualquer fã de cinema. Simplesmente imperdível! Todavia, qualquer fã dos filmes deverá ler o livro se ainda não o tiver feito. Encontrará diferenças, mas principalmente encontrará uma obra sem paralelo na literatura. Uma profundidade única, uma história sólida, complexa e que explica muito mais que o filme, com detalhes que merecem ser lidos e com uma compreensão do passado que o filme não consegue, nem pode oferecer, devido às limitações de tempo.

Muitos consideram O Senhor dos Anéis como o melhor livro de sempre. Tentar fazer tal juízo não é fácil, devido à dificuldade que será comparar livros de géneros diferentes. Como comparamos esta trilogia com Crime e Castigo? Não é fácil e não é o que interessa… o que interessa é que a obra de Tolkien mudou a literatura como nenhum outro livro conseguiu, e qualquer outro filme que ficasse ligeiramente abaixo do “Excelente” seria a “morte” de Peter Jackson que fez o impensável: adaptou e saiu por cima, deixando a sua marca no cinema como poucos conseguiram. Por tudo isto, apenas podemos dizer que este é um daqueles casos em que se recomenda a obra original e também a adaptação. Duas obras de arte com o mesmo nome, em suportes diferentes. Nota máxima para livros e filmes!

E o que vem a seguir? Hobbit! A história que antecede O Senhor dos Anéis, explica como Bilbo Baggins encontra o Anel Um. É o regresso de Peter Jackson à Terra Média, mas agora a responsabilidade é outra, pois a qualidade da trilogia anterior elevou a fasquia para um nível raramente alcançado e os fãs vão exigir essa mesma qualidade, tal como exigiram a criação deste filme.

Peter Jackson terá agora de nos deslumbrar com mais uma excelente adaptação da história, não perdendo a essência e também tentando ligar este livro à trilogia que realizou. Se Jackson fez bem em aventurar-se novamente na fantasia de Tolkien, e mostrar que pode fazer algo bom e de que a Academia goste (o que é raro neste género de filmes), só o saberemos no fim, e a resposta será dada pelos fãs.

Para já vimos o trailer e a magia está lá! O ambiente, a música, a beleza daquele mundo. Conseguirá Peter Jackson sair novamente por cima?

TRAILER DE “O HOBBIT – UMA VIAGEM INESPERADA”



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One thought on “Do Livro à Tela – O Senhor dos Anéis

  • Excelente texto. Mesmo muito bom e parabéns pela iniciativa!

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