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Emily in Paris, terceira temporada em análise

Após três anos em exibição, “Emily in Paris” continua a ser uma série muito pouco realista mas com um ‘je ne sais quoi’ que a torna cativante aos nossos olhos.

Durante o século XVIII, a França até então dominada pelo Racionalismo foi invadida por um novo movimento que dava preferência ao uso dos sentimentos – o Romantismo. Daí resultaram obras que aludiam aos mais bonitos hinos de amor, uma epopeia de sentimentos que usava o coração como principal ferramenta. A partir daí, o sentimentalismo invadiu as ruas de Paris, influenciando a sua cultura, e em pouco tempo a cidade transformou-se na capital do amor. Desde então, a luz do sol a incidir nos sumptuosos edifícios e as melodias que os cantores de rua entoam nos recantos mais pitorescos desenvolveram a imagem de um cenário ideal para o romance. Hoje, nenhum outro trabalho no pequeno ecrã ilustra melhor essa ideia romantizada da capital francesa que “Emily in Paris”. Luz, moda, amor, luxo, melodia e gastronomia são tudo sinónimos que traduzem o conteúdo de uma série irritante e sem sentido mas da qual se torna impossível desviar o olhar.

Em traços gerais, “Emily in Paris” é uma série da Netflix que acompanha a americana Emily (Lily Collins), uma executiva de marketing, que é enviada para trabalhar numa conhecida empresa parisiense. À medida que a jovem de Chicago enfrenta vários desafios para se adaptar à língua e à cultura francesa, novas amizades e relações amorosas vão surgindo. Em suma, nas duas primeiras temporadas Emily havia tido um pequeno romance com Gabriel (Lucas Bravo), o seu vizinho de baixo, mas com quem teve de terminar após descobrir que o mesmo namorava com Camille (Camille Razat). Após o desgosto de amor, a americana parece ter encontrado o amor ao lado de Alfie (Lucien Laviscount), um banqueiro britânico que conheceu nas aulas de francês. No fim da segunda temporada, Emily parecia ter perdido o rumo após Camille ter ido viver para casa de Gabriel e Alfie ter decidido regressar a Londres. Após um ano de espera, o público pôde finalmente acompanhar o desenrolar da história.

emily in paris
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Na terceira temporada, os episódios demoram a ganhar um rumo, sendo uma verdadeira metáfora para a vida de Emily. Durante os primeiros episódios, a americana divide-se entre duas empresas rivais após Sylvie (Philippine Leroy-Beaulieu) ser despedida, o que a deixa indecisa entre a escolha da vida de sonho ou a lealdade para com a sua mentora. Torna-se doloroso ver as artimanhas que a executiva arranja para se desdobrar entre os dois empregos, quando todo o público sabe previamente que ela escolherá sempre manter-se em França, não se chamasse a série “Emily in Paris”. Ao mesmo tempo, também o coração de Emily se divide entre a antiga paixão por Gabriel, um sentimento que parece bem mais resolvido nesta temporada, e a atenção dada por Alfie, que acaba por ser uma forma de consolo para a americana.

No entanto, é de louvar o desenvolvimento da narrativa nesta terceira temporada, uma vez que, ao contrário do que sucedeu com as anteriores, não vemos um guião inteiramente centrado em Emily, havendo, finalmente, espaço para explorarmos a história das outras personagens. Desta vez temos um destaque muito maior da vida de Mindy (Ashley Park) que, para não fugir à regra, cai também na espiral dos romances amorosos confusos, e de Sylvie que acaba por reencontrar a felicidade ao lado do ex-marido. Além disso, também Gabriel ganha espaço para apresentar a sua própria avó de quem tanto se falou no passado.

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Ainda assim, “Emily in Paris” continua a ser uma série floreada pelo luxo, as roupas exuberantes e as marcas conhecidas que tornam cada episódio um aparente fogo de vista. Estranhamente, a empresa Savoir parece trabalhar apenas com marcas reais e conhecidas, sendo que nesta nova temporada até o McDonald’s se envolve com a entidade, dando a aparência de que Emily facilmente transforma um estabelecimento de fast food numa verdadeira marca de luxo. Ao mesmo tempo, Paris é transformada no epicentro da moda onde toda a gente, mesmo os figurantes, parecem desfilar numa passarela com roupas de alta costura. Nesta série, as cores berrantes e os folhos dos vestidos usados pelas personagens principais assumem a função de distração.

Paralelamente às roupas, o principal destaque vai para o facto de “Emily in Paris” não necessitar de falsos cenários, uma vez que a beleza natural da cidade executa perfeitamente esse trabalho. A luz captada pelas câmaras, bem como as ruas escolhidas como pano de fundo fazem o espectador desejar apanhar de imediato um avião para a capital francesa. Na verdade, a essência romantizada de Paris está muito bem demonstrada ao longo dos episódios, principalmente quando a personagem principal é despedida e acaba por deambular pela cidade para criar novos conteúdos para as suas páginas das redes sociais.

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E por falar no momento em que Emily perde o emprego, este é o mais claro exemplo da insipidez da narrativa, pois nem quando a americana se vê desamparada por não ter um trabalho mostra qualquer tipo de sentimento de tristeza ou revolta. São muitos os exemplos que fazem de “Emily in Paris” um conto de fadas em que a realidade se ausenta por completo. Talvez por isso mesmo a série sirva como escape para muitos espectadores que encontram na obra de Darren Star uma história de encantar dos tempos modernos, em que a protagonista tem de lutar para conquistar o coração do seu príncipe.

Em suma “Emily in Paris” parece ser uma teia de romances inacabados, em que a história vai sendo esticada ao longo dos episódios, tornando-se cansativa pela forma como público já prevê qual seja o resultado final. Afinal de contas, na terceira temporada da série que servia de hino ao amor, os episódios mostram sucessivas relações serem ultrapassadas, trocadas e alteradas a uma velocidade alucinante que nos faz questionar se Paris consegue ainda ter algum efeito sobre os casais. Apesar de tudo isto, há qualquer coisa em “Emily in Paris” que impede o espectador de desistir de ver a série até ao fim, deixando-o até ansioso com a chegada da próxima temporada!

O que pensas da terceira temporada de “Emily in Paris”?

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