© EBU / CORINNE CUMMING

Eurovisão 2022 em Turim | Entrevista a Malik Harris da Alemanha

A Eurovisão 2022 é já no próximo sábado. Partilhamos contigo a nossa conversa com Malik Harris, representante da Alemanha.

Dizem que as melhores conversas acontecem quando menos esperamos e muitas vezes com as pessoas que menos esperamos. Malik Harris é o representante da Alemanha na Eurovisão 2022 e esteve à conversa com a Magazine.HD para falar-nos um pouco de como tem sido a sua experiência no festival e essencialmente partilhar o que significa estar no palco do Pala Olimpico e dar a cara pelo seu país.

Rockstars a música da Alemanha na Eurovisão

Depois do anúncio da sua participação no concurso Germany 12 Points, faltava pouco para Malik Harris dar o salto à Eurovisão, mesmo que jamais o esperasse. Este ano traz algo pouco visto no festival, numa música que mistura pop, rap e indie alternativo com fortes influências do panorama musical independente dos Estados Unidos. Ao contrário de outros anos, a Eurovisão 2022 é dominada por baladas, porém a canção de Malik Harris continua a ter um sabor particular. Estamos diante de algo refrescante, uma canção com uma mensagem muito pertinente que infelizmente não terá a merecida atenção nem do júri nem do público.

Com ele não se sente o espectáculo da música no sentido superficial, mas antes vivemo-la no nosso silêncio. Em “Rockstars”, o jovem alemão de 24 anos – filho do famoso apresentador norte-americano Ricky Harris -, transporta-nos para o seu santuário psicológico e faz-nos pensar naquilo que estamos a viver. Será que tiramos proveito do presente como realmente deveríamos? Porque valorizamos apenas coisas boas da vida quando elas acabam e tornaram-se uma memória? Malik Harris é ainda muito novo, mas percebe-se que há uma vontade de viver a vida com calma, com o prazer de cada minuto.

Amante de Michael Jackson, de Queen e também de Twenty One Pilots, Malik Harris gosta de ouvir música e depois analisar e entrar nas palavras que os artistas comunicam. Para ele escrever música não é algo predeterminado, mas antes que acontece sem aviso. Foi assim com “Rockstars” e com o álbum “Anonymous Colonist”, o seu primeiro trabalho de estúdio e que agora te damos a conhecer.

Eurovisão
© EBU / CORINNE CUMMING

MHD: Como estás Malik e como correu o teu segundo ensaio?

Malik Harris: Foi muito bom. Comparado com o primeiro ensaio correu melhor, porque inicialmente tivemos problemas com os movimentos das câmaras e com as luzes. É de loucos a forma como conseguiram mudar isso. Estou muito contente.

MHD: Como é que será a tua performance? A tua música “Rockstars” é uma balada, portanto será um momento calmo. Poderás dizer-me mais sobre isso?

Malik Harris: Será muito alinhada com a canção e com as emoções que sugere. Não queria que houvessem muitas distrações no palco, de coisas a saltarem à vista ou dançarinos. Será um momento muito íntimo e estou a tentar colocá-la nesta visão mais pessoal possível. Quero que as pessoas percebam que é tudo sobre a canção e sobre a mensagem por detrás dela. Quero que as pessoas oiçam a minha música e apreciem aquilo que estão a ver, sem ter muito com que se distrair.

MHD: Qual o significado da canção “Rockstars”?

Malik Harris: “Rockstars” é sobre os bons velhos tempos que todos nós nos refletimos. Eu escrevi a canção depois de ver um episódio da série “The Office” em que alguém diz “eu gostaria que houvesse uma maneira para saber quais são os bons velhos tempos antes de os deixares”. Essa frase fez-me imediatamente querer escrever a música. Primeiro fez-me chorar e depois fez escrever a música (risos).

Mostrou-me quanto tempo gastamos no passado, a pensar quando éramos crianças ou quando estávamos na adolescência. Fez-me comparar com a pessoa que sou agora e com quem acabei por me tornar. Sou uma pessoa que pensa demasiada e duvido bastante. Seria muito difícil para mim ser feliz no presente sem estar a constantemente a pensar em condições que a vida impõe. A música ajudo-me a superar isso.

Malik Harris

Durante o momento em que estive a escrever a “Rockstars” apercebi-me que nós, humanos, vemos os bons velhos tempos sempre no passado. Enquanto as coisas estão a decorrer no presente praticamente só vemos às coisas más. Assim que elas terminam, percebemos o quão boas eram. Queria mudar um pouco esse sentimento e quero relembrar isso ao público através da canção e através da minha performance. Mesmo que estejas na escuridão, poderão estar a acontecer boas coisas e é fundamental focar-se nisso para que os bons velhos tempos nunca acabem.

MHD: Acreditas que as novas gerações não aproveitam os bons momentos com calma? Afinal estamos a viver num mundo cada vez mais veloz.

Malik Harris: Absolutamente e está a tornar-se ainda mais rápido. Tantas coisas a acontecerem que simplesmente é chocante. As novas gerações estão a sentir isso muito mais, devido ao mundo digital com que se confrontam. Estão sempre a olhar para o telemóvel e a ser consumidas. Nos dias de hoje existe um enorme consumo que torna muito difícil viver o momento.

Com a canção “Rockstars” gostaria que o público não se focasse em mais nada. É exatamente isso que estou a fazer quando estou a atuar. Estou no meu mundo e apenas penso naquele momento e no privilégio de estar no palco.

MHD: A tua música lembrou-me da música dos Twenty One Pilots. A dupla é uma influência na tua jovem carreira?

Malik Harris: É a minha banda favorita! Não estou a brincar. Estou tão grato por saberes isso. Significa bastante! Obrigado. Vês a minha tatuagem? (mostra a tatuagem idêntica a Taylor Joseph, um dos membros da banda). “Car Radio” influenciou-me mesmo a escrever a minha primeira canção e a escrever música porque transmitiu-me uma mensagem muito forte. Queria fazer o mesmo com a minha música.

MHD: Porque decidiste submeter a tua música ao programa Germany 12 Points e como te sentes agora de vê-la na Eurovisão?

Malik Harris: Para ser honesto eu não escrevi a música propositadamente para o festival da Eurovisão. Nunca antes considerei fazer parte do concurso, mesmo que me tenha sempre considerado um fã. Tudo aconteceu no ano passado, quando depois de alguns meses em que terminara de escrever “Rockstars“, um amigo falou-me do programa “Germany 12 Points”, de onde sairia o representante da Alemanha na Eurovisão 2022.

Car Radio é uma enorme influência em Malik Harris

Eu inicialmente não estava seguro, mas depois pensei no significado de “Rockstars” e acho que isso fez-me mudar de ideias. Também pensei que através da Eurovisão consegues chegar a tantas pessoas, algo que sempre quis da mesma maneira que os Twenty One Pilots chegaram até mim. Quero oferecer músicas para que as pessoas não se sintam tão sozinhas com os seus pensamentos, com os sentimentos e que se possam identificar com a letra. A minha canção é tão diferente de tudo o resto do festival que eu arrisquei. Porque não apresentar algo novo? Estou muito entusiasmado em relação a isso.

MHD: No ano passado lançaste o teu primeiro álbum “Anonymous Colonist”. Será que me poderias contar mais sobre as músicas e o que representam para ti?

Malik Harris: Certo. Foram as primeiras canções que alguma vez lancei. Para mim simbolizam o primeiro capítulo no panorama musical. É como um diário dos primeiros passos neste mundo e, por essa mesma razão, chamei o álbum de “Anonymous Colonist”. Sou anónimo, pois ninguém me conhece e ainda sou jovem no negócio. Significa ter finalmente os meus primeiros passos gravados dessa maneira, na forma física de CD, pois as pessoas podem aceder a ele.

Eu entreguei-me imenso a este projeto que foi também o responsável por desenhar a capa do álbum. O álbum, como poderão ver, tem umas pequenas imagens e cada uma delas representa uma canção. É o meu pequeno bebé.

MHD: A tua canção é muito pessoal. Quão diferentes estás desde há 10 anos atrás, por exemplo?

Malik Harris: Eu estou totalmente mudado. Eu mantive a minha sinceridade, porque foi aquilo que os meus pais me ensinaram. Especialmente no que respeita a forma como me vejo e à forma como contemplo o mundo em meu redor. Eu tenho sempre muita coisa presa na minha cabeça e gostava muito de clicar no botão de “pausa” para não ter tantos medos e tantas incertezas. Eu acho que nos últimos anos encontrei essa expressão que me permite refletir sobre todas estas coisas.

Malik Harris

MHD: Tu vens de uma família de artistas, porque como te sentes como continuar a haver um artista neste meio?

Malik Harris: Realmente significa bastante e tive um momento arrepiante durante o meu segundo ensaio da Eurovisão. O meu avô paterno Ralph Junious Harris era um cantor de ópera e teve a oportunidade de percorrer o mundo graças à sua arte, tendo sido ainda o primeiro afro-americano a cantar na Capela Sistina em Roma. Quando estava num palco percebi-me que era o primeiro cantor negro a representar a Alemanha na Eurovisão. Sinto a presença do meu avô desde o alto e isso é muito bonito.

Michael Schulte é uma referência para Malik

MHD: Qual a tua participação preferida da Alemanha na Eurovisão e porquê?

Malik Harris: Essa é uma pergunta difícil. Lena foi fantástica com “Satellites”, mas vou por caminho diferente. Eu gostei muito do Michael Schulte, porque é uma canção tão bonita e tão íntima e ele também não tinha muitas distrações no palco.

Era apenas um rapaz ali a contar a história do seu pai de uma maneira pessoal, que te fazia ouvir com atenção, que te fazia mergulhar naquele momento. Foi o momento muito emotivo e acho que a música é sobre isso, é sobre as emoções. É atirar-se numa viagem. O Michael Schulte conseguiu transmitir-me isso.

Entrevista a Malik Harris da Alemanha (vídeo)

Malik Harris atua na primeira parte da Grande Final do Festival Eurovisão da Canção que acontece no próximo dia 14 de maio. 

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *