Uncle Fester, um dos personagens que poderia ter sido melhor explorado | © 2019 Metro-Goldwyn-Mayer Pictures

A Família Addams, em análise

A estreia no grande ecrã da versão animada de “A Família Addams,” baseados nos cartoons criados por Charles Addams, transportou-nos para a nossa infância, agora partilhada e adaptada a uma nova geração.

Existem filmes que pecam por serem longos, mas também há casos raros, como “A Família Addams,” que mereciam mais uns 20 ou 30 minutos. A peculiar família foi criada em 1940 por Charles Addams, um cartoonista que se tornou famoso pelas suas publicações no The New Yorker. A verdade é que desde então dificilmente conseguimos resistir a estes personagens que acabaram por se tornar família.

Após 26 anos guardados dentro do caixão, eis que Greg Tiernan e Conrad Vernon (“Salsicha Party“) lhes limparam o pó e lhes devolveram a sua eterna infelicidade. É com alguma nostalgia que vemos que os Addams ainda continuam excêntricos, misteriosos e macabros, e igualmente alheios ao mundo que os rodeia. Nesta nova versão, a primeira que é catapultada em formato animado para o grande ecrã, temos direito a uma breve história da origem da família, onde são apresentados os respetivos membros e as suas ligações. Compreendemos o motivo do seu isolamento, um detalhe não muito explorado nas adaptações anteriores.

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Os Addams de 2019 | © MGM

Tudo começa muito antes do século XXI, na altura da caça às bruxas, ou melhor dizendo, dos monstros. O casamento de Morticia e Gomez é interrompido, levando à fuga do jovem casal para Nova Jersey. É na sua monótona viagem que acidentalmente atropelam Lurch e graças a este que descobrem a casa dos seus sonhos: um hospício abandonado. Situado no cimo de uma colina, a nova casa tinha tudo para ser o retiro (im)perfeito dos Addams, até à chegada de Margaux Needler. Focada em ter o seu bairro perfeito, a famosa apresentadora de TV – uma mistura entre a Dolly Parton e a Barbie, – quer ou remodelar, ou destruir a mansão dos Addams. Paralelamente, a família prepara-se para o seu próprio evento: a mazurka do Pugsley. Ora isto significa que todos os Addams estão convidados, invadindo o bairro perfeito criado por Needler.

Em comparação com os filmes de Barry Sonnenfeld, a dupla de “Salsicha Party” apresenta um argumento muito pouco arriscado e muito virado para o público infantil. Existia um leque interminável de ângulos para explorar a macabra família, no entanto Tiernan e Vernon optaram por simplificar a história. Estamos assim perante uma Família Addams que tem como objetivo passar a mensagem de que não temos de ser todos iguais – ninguém pode definir o que é “normal.” Contudo, esta não é a mensagem/crítica mais interessante.

A versão de 2019, colocou os poeirentos Addams cara a cara com as novas tecnologias. E aqui sim está o apontar de dedo mais relevante da animação, mas que ao mesmo tempo possivelmente passará despercebido ao público mais jovem. Tendo crescido isolada, Wednesday nunca viu um telemóvel na vida e, como tal, muito menos está a par das necessidades viciantes a ele adjacentes. Estar 1 hora sem fazer qualquer tipo de publicação ou tirar selfies é um mundo novo para a jovem Addams. Atividades que para a filha de Margaux Needler, Parker, são totalmente normais e indispensáveis. Aliás, na primeira visita à mansão, Parker fica do lado de fora por estar agarrada ao telemóvel, não se apercebendo de que a porta se estava fechar na sua cara.

Wednesday e a sua nova amiga Parker | © 2019 Metro-Goldwyn-Mayer Pictures

Ainda assim, “A Família Addams,” demonstra que, como tudo na vida, há um lado bom e um lado menos bom. Neste caso, apesar da crítica realizada ao uso das novas tecnologias especialmente pelos mais jovens, é graças a esta que o plano de Needler é desvendado. No entanto, este argumento não permitiu aos Addams expressarem o seu verdadeiramente macabro e divertido potencial. Ou seja, muitas das vezes o foco não está na família, e sim em Margaux ou Parker. Por isso, é impossível não lamentarmos a ausência de uma dose maior do característico excentrismo dos Addams, pelo o qual há muito esperávamos. O que também nos deixa a sonhar como teria sido a versão, caso tivesse Tim Burton deitado fogo à peça…

A animação teve direito a um elenco vocal de luxo liderado por Charlize Theron (Morticia), Oscar Isaac (Gomez), Chloë Grace Moretz (Wednesday), Finn Wolfhard (Pugsley) e Allison Janney (Margaux Needler), que acabaram por não conseguir levantar mortos – talvez a mais próxima tenha sido Moretz. Falta dimensão e dinâmica a este agregado familiar. Contudo, não podemos deixar de referir que esta é a versão que mais se aproxima às criações de Charles Addams. Por exemplo, reparaste que Gomez tem um nariz de porco? A atenção ao detalhe é realmente um dos pontos a favor desta nova adaptação e onde não existiu medo de arriscar.

Lógico que quem cresceu com os filmes de 91 e 93, e com os desenhos animados do Cartoon Network, sente falta de muitos elementos, principalmente da química entre Morticia e Gomez, das explosões do Uncle Fester, para não falar de uma maior presença de Thing. Mas não podemos dizer que conseguimos sair da sala de cinema sem estalar os dedos.

A Família Addams, em análise
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Movie title: The Addams Family

Date published: 12 de November de 2019

Director(s): Greg Tiernan e Conrad Vernon

Actor(s): Oscar Isaac, Charlize Theron, Chloë Grace Moretz, Finn Wolfhard, Allison Janney

Genre: Animação, Comédia, Família

  • Inês Serra - 60
  • Daniel Rodrigues - 10
35

CONCLUSÃO:

Para quem é fã desta icónica família, é sempre bom vê-la regressar dos mortos. No entanto, e sendo uma animação muito voltada para o público infantil, sentimos a falta do verdadeiro e característico espírito dos Addams.

O MELHOR: A cena em que Lurch e Thing se juntam ao piano; o pormenor de cada um dos personagens; a chegada dos Addams à Mansão.

O PIOR: A ausência do verdadeiro sentido do “creepy, kooky, mysterious and spooky, all together ooky”; sentirmos que o foco não são os Addams.

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