Festival Política | Sessão Refugiados – My heart is there, my body is here
O Festival Política regressou a Lisboa entre os dias 21 e 24 de abril de 2022. No início de maio ruma a Braga mas, por agora, recordamos algumas das sessões que marcaram o evento. Uma delas foi precisamente esta Sessão Refugiados – “My heart is there, my body is here”.
Decorreu, no dia 22 de abril, pelas 18h30 e na Sala 3 do Cinema São Jorge a exibição de “My heart is there, my body is here”, no âmbito da “Sessão Refugiados” do Festival Política. Todos os anos, o evento centra-se num tema fraturante. Este ano, foi escolhida a desinformação e o combate que, coletivamente, devemos traver contra esta.
Neste âmbito, “My heart is there, my body is here” narra histórias difíceis, pesadas, que como os próprios intervenientes reconhecem na primeira pessoa, tendem a não chegar à maioria das pessoas. Este documentário acompanha os refugiados que vivem em Portugal, mais especificamente em Coimbra, e fá-lo com o apoio da Universidade de Coimbra. Na sessão, os criadores deste relato reconhecem uma vez mais esta parceria e também o quão raro é – e não devia ser, acrescentamos nós – ver projetos etnográficos e de intervenção, como este, apoiados por instituições públicas e universitárias.
Como foi realçado, é imperativo criar um arquivo visual, um arquivo-memória, e é exatamente esse o gesto traçado neste breve documentário de 57 minutos de duração. Fica a ressalva, este filme realizado por Pedro Cruz e João Doce poderá não ter uma qualidade estética ou cinematográfica por aí além, um traço visual identificativo, poderá até estar bastante cingido aos moldes mais tradicionais do registo documental. Todavia, para os propósitos desta sessão e para os propósitos do Festival Política, objetivos mais relevantes se anunciam nesta Sessão Refugiados.
Nesta produção da Universidade de Coimbra, elaborada no seguimento do Projeto Teachmi, apoiado pelo Fundo Erasmus e co-produzido pelo PROPELLA, CRL – Cooperativa de Intervenção Social e Dinamização Artística, é pensado e problematizado o passado, presente e o futuro daqueles que vivem na cidade de Coimbra com o estatuto de refugiados. É-lhes dado o que muitas vezes lhes falta: uma voz. Aqui, a capacidade de ser ouvido é o mais fundamental dos elementos. Humanizar os refugiados, é isso que faz o trabalho intervencionista de “My heart is there, my body is here”. Não é incomum confundir refugiados com migrantes que se movem para um novo país por vontade própria.
Numa época marcada por populismo intolerante e crescente, é incrivelmente urgente compreender como é que um refugiado recebe tal estatuto: que provações teve de enfrentar, qual foi o seu trajeto, quais os seus objetivos e esperanças para o futuro. Pela tolerância, mais exercícios como “My heart is there, my body is here” deverão multiplicar-se e dar voz aos que habitam Portugal, mas com o coração noutro lugar qualquer, longe, nos países que abandonaram para escapar de conflitos armados impiedosos – da Síria ao Sudão, agora passando também pela Ucrânia.
Os relatos na primeira pessoa permitem entrar em contacto com jovens com um olhar triste, massacrados pelo peso dos seus passados e que ainda assim ousam sonhar com um futuro melhor. Nesta “Sessão Refugiados” esperança e o sonho guiam os entrevistados, por muito que a melancolia ameace consumi-los.
O filme levanta questões importantes: como podemos melhor apoiar estes refugiados? Que meandros legais complicam os seus processos de integração? Que pode ser feito para facilitar a temível barreira linguística que tanto isola aqueles que chegam nestas condições, ao nosso país? Que implica, verdadeiramente, o estatuto de refugiado? Será o apoio prestado suficiente? Sem melodramas ou emotividade excessivas, ouvimos, sem limitações, o que um conjunto de jovens refugiados tem a dizer. E se, uma única voz contra a integração destes refugiados que nos chegam contactar com o filme e sentir uma mudança de convicção, então a obra já se fez valer.
Por isso mesmo, a partir de 26 de abril, e depois da sua passagem pelo Festival Política em Lisboa, “My heart is there, my body is here” será disponibilizado, de forma livre e gratuita, online, nos endereços eletrónicos www.propella.pt e https://www.teachmi.eu. Assim, O Festival Política cumpre aqui um papel performativo e educativo fulcral, permitindo que esta obre chegue a um maior número de pessoas.
TRAILER | MY HEART IS THERE, MY BODY IS HERE
O Festival Política já terminou em Lisboa mas, já entre 5 e 7 de maio, regressa ao Centro de Juventude de Braga com uma programação muito próxima da apresentada na capital. A não perder!