Figura de Estilo | Magia ao Luar
Ao filme falta sal. Ao guarda-roupa não.
Mesmo quando Woody Allen não sabe tirar partido de um elenco de sonho e de um cenário capaz de causar apoplexias aos mais sensíveis, há uma estética que não falha: o casamento feliz entre a casmurrice do realizador e a perícia de Sonia Grande que, para quem se sabe perder nos pormenores, foi a única coisa capaz de injetar magia nessa epopeia ao luar.
E isto até quando os anos 20 não são os maiores catalisadores da luxúria do guarda-roupa – a não ser que vivamos no armário do Gatsby de Baz Luhrmann.
À autenticidade dos materiais (Colin Firth é raramente visto sem uma peça de tweed, qual cavalheiro britânico de alter-ego duvidoso) juntam-se inspirações no pintor Leo Gestel – para os chapéus de Emma Stone – e dos fotógrafos Jacques Henri Lartigue e Edward Steichen; juntam-se horas passadas a revirar revistas de época, tão insignes a registar o allure da Riviera, nos seus tecidos brancos e cortes esvoaçantes, na sua sensualidade contida e sorrisos mal disfarçados. Junta-se o cuidado em manter a cor azul a um mínimo (porque Allen a abomina) e juntam-se os anos de experiência da dupla, que já havia trabalhado junta em Meia-Noite em Paris, Para Roma com Amor e Vicky Cristina Barcelona – este último é particularmente parecido com Magia ao Luar no que toca à paleta de cores.
Os coordenados dizem mais do que aquilo que lhes pedimos. Vão para além dos longos decotes em V, das cinturas descaídas, dos óculos redondos, das voltas e voltas de pérolas. Contam a história de uma pseudo-vigarista que se retrai quando não lhe dizem o quão absolutamente maravilhosa está naquele vestido cuja abertura lhe chega à cintura; contam a história da austeridade crónica da personalidade inglesa; contam o cliché de um amor nascido sob a chuva e perpetrado na leveza de um chiffon de seda que faz justiça àquilo que a obra poderia ter sido.