Juliette Binoche: uma grande estrela preside ao Júri do Festival de Cannes 2025
Juliette Binoche será a presidente do júri do 78ª Festival de Cinema de Cannes, que vai realizar-se de 13 a 24 de maio de 2025. A grande actriz francesa sucederá assim à cineasta norte-americana Greta Gerwig e pela segunda vez na história do Festival, duas artistas mulheres passarão entre si o testemunho da presidência dos jurados internacionais.
Cerca de 40 anos após a primeira aparição de Juliette Binoche, na La Croisette como actriz — o tempo passa a correr — eis que este ano a francesa, presidirá o júri do 78º Festival de Cinema de Cannes, que concederá a Palma de Ouro ao Melhor Filme e os outros prémios da Competição, a 24 de maio (sábado) próximo. Não poderia haver maior honraria para a bela atriz francesa que tem conquistado em simultâneo o público e a crítica e que reúne uma incrível filmografia mundial, rodando ao longo dos seus anos de carreira, com alguns dos maiores cineastas da atualidade.
‘Estou ansiosa por partilhar esses momentos da vida com os membros do júri e com o público. Em 1985, subi pela primeira vez a passadeira vermelha, com o entusiasmo e a incerteza de uma jovem atriz; Nunca imaginei que regressaria 40 anos depois a esta função honorária de Presidente do Júri. Ao mesmo tempo, pondero o privilégio, a responsabilidade e a necessidade absoluta de humildade’, foram estas as palavras de reconhecimento ditas por Juliette Binoche, anunciadas no comunicado de imprensa, enviado há poucas horas pela organização do Festival.
Vê o trailer de “Cópia Certificada”
Um carreira incrível pelo mundo
Juliette Binoche é uma actriz incrível, tem uma carreira marcada por cerca de 70 filmes e mais de 40 anos de actividade, desde o seu primeiro e importante papel em “Rendez-vous” de André Téchiné, apresentado na La Croisette em 1985. ‘Nasci como actriz praticamente no Festival de Cinema de Cannes’, ouvimo-la dizer com frequência. Nestas quatro décadas Juliette Binoche transformou-se numa estrela internacional, dando início a surpreendentes colaborações com cineastas como Michael Haneke (Áustria), David Cronenberg ou Abel Ferrara (EUA), Olivier Assayas, Leos Carax ou Claire Denis (França), Amos Gitaï (Israel), Naomi Kawase ou Hirokazu Kore-eda (Japão), Krzysztof Kieślowski (Polónia), Hou Hsiao-hsien (Taiwan), entre outros. Trata-se de um caminho instintivo feito no coração da criação global de cinema, que lhe deu uma certa aura entre estes realizadores, como se vê de uma constelação sem fronteiras, nem barreiras artísticas. É o caso também do seu notável trabalho com o cineasta iraniano Abbas Kiarostami, em “Cópia Certificada”, rodado na zona rural da Toscana, ao lado de um cantor de ópera britânico — o barítono William Shimell —, filme que aliás lhe rendeu o Prémio de Melhor Atriz em Cannes 2010. Binoche ilumina uma história simples, mas universal que mistura amor e arte e suas pretensões, para entender melhor a sua essência. Após este quinto filme da atriz apresentado na Seleção Oficial de Cannes, seguir-se-ão quatro, até ao delicioso “Sabor da Vida”, de Trần Anh Hùng, ao lado do ex-companheiro Benoît Magimel, apresentado em 2023.
Uma atriz multipremiada e multidisciplinar
Coroada com mais prestigiados prémios da indústria do cinema e de festivais, (Oscar, BAFTA, César, prémios de melhor atriz em Berlim e Veneza, etc.), Juliette Binoche dá-se ao luxo de fazer aquilo que lhe apetece no momento, correndo aliás alguns riscos: como por exemplo nas suas interpretações com o ‘cineasta radical’ Bruno Dumont — do mais puro (“Camille Claudel 1915” ), ao mais burlesco (“A Minha Luta”) —, passado pelas séries de televisão (“The Staircase”, “The New Look”), teatro (com o diretor e dramaturgo Ivo van Hove), dança (co-criação com o coreógrafo Akram Khan), música (Alexandre Tharaud) ou pintura. A sua presença é muito forte, múltipla e imprevisível na sua arte — ou melhor nas suas artes —, algo que ilustra bem esse gosto pela liberdade e essa coragem de se colocar constantemente em cena, das mais diversas formas.
Uma cidadã comprometida com o mundo
Os ecos do mundo ressoam também através da sua voz de cidadã comprometida, com as grandes questões da atualidade: educação, imigração ilegal, direitos humanos no Irão — recorde-se por exemplo o seu protesto em Cannes contra a prisão do realizador Jafar Panahi cujo nome brandiu corajosamente em palco — a também recém-eleita nova Presidente da Academia Europeia de Cinema, tem-se colocando-se igualmente na esteira essencial dos discursos em torno do movimento #MeToo; assim como tem usado a sua influência para alertar para os perigos ecológicos que ameaçam o nosso planeta.
Duas mulheres passam o testemunho
Curiosamente esta passagem de testemunhos destas duas grandes figuras do cinema Greta Gerwig e Juliette Binoche na presidência do júri de Cannes, lembram igualmente em tempos, os compromissos de Olivia de Havilland, quando desafiou os todo-poderosos estúdios americanos de Hollywood. Ela foi presidente do júri do Festival de Cinema de Cannes em 1965, deixando pela primeira vez o lugar para outra mulher: Sophia Loren, também uma lenda da 7ª Arte da Cinecittà. Isto passou-se há 60 anos e por isso também Juliette Binoche, nesta linhagem de grandes actrizes com a sua bela presença vai celebrar e aproximar as estrelas através do tempo. Lá estaremos para ver!
JVM