Kate Bush para além de Stranger Things
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Kate Bush alcançou um enorme sucesso com a inclusão de Running Up that Hill na 4ª temporada de Stranger Things, mas há muitos mais sucessos a descobrir!
Ouvir Kate Bush tornou-se quase uma obrigatoriedade para os fãs de “Stranger Things“. A canção Runnig Up that Hill foi incluída em um episódio da quarta temporada da série de terror e fez disparar o número de ouvintes. Apesar de a música ter já rendido quase quatro milhões de dólares à cantora, a verdade é que este não é um tema recente, tendo sido lançado há mais de três décadas. Contudo, Kate Bush tem o dom de voltar sempre a atingir os tops nacionais cada vez que uma canção sua é introduzida em algum filme e série e Running Up that Hill não foi exceção. Mas há muito mais músicas de Kate a conhecer para além desta eternizada pelo seriado norte-americano.
Com um talento nato para a música, Kate Bush começou a compor com apenas 11 anos, tendo mais tarde os seus progenitores compilado uma demo amadora com 50 canções compostas pela jovem prodígio. Apesar de todas as editoras terem recusado aceitar Bush, David Gilmour, o guitarrista dos Pink Floyd deixou-se impressionar pela voz de Kate e levou-a a gravar uma demo mais profissional, abrindo assim as portas do mundo da música para a artista britânica. Até hoje as suas letras marcam pela irreverência, primando pela inspiração em histórias literárias e cinematográficas.
A MHD preparou uma breve galeria com grandes êxitos da cantora considerada em 1987 a ‘Melhor Artista Britânica”, fazendo uma viagem pelo seu trabalho apresentado ao longo de dez álbuns.
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WUTHERING HEIGHTS (1978)
Wuthering Heights foi o single de estreia de “The Kick Inside”, o primeiro álbum de Kate Bush. A cantora escreveu a música após ter assistido a uma adaptação do romance homónimo (O Monte dos Vendavais, em português) de Emily Brontë. Fascinada com a obra da escritora britânica, Bush compôs a canção na perspetiva de Catherine Earnshaw, a protagonista do livro de Brontë, como se esta se encontrasse à porta de casa do seu amado, Heathcliff, implorando para que este abrisse. Infelizmente, o rapaz jamais poderia ouvir as súplicas de Catherine uma vez que esta era já um fantasma. Para intensificar a mensagem da história por si cantada, Kate gravou dois videoclipes para este tema. Num deles, surge com um vestido branco rodeada de névoa, o que acentua a ideia de se tratar de uma alma de outro mundo. A ousadia da cantora faria com que este se tornasse um marco na história dos videoclipes. Numa outra versão, Bush usa um vestido vermelho enquanto dança num pântano inspirando-se no cenário do livro original. Também as vestes da cantora se tornaram uma inspiração para milhares de fãs que ainda hoje as utilizam para irem a eventos relacionados com Kate Bush. Rapidamente Wuthering Heights se tornou um sucesso internacional, chegando mesmo a destronar os ABBA dos tops do Reino Unido. Com este tema, Kate tornou-se a primeira mulher a ter uma música inteiramente escrita e cantada pela própria artista no top. O êxito foi tão grande que se tornou single de ouro, sendo o décimo mais vendido daquele ano. Em 2012, Laura Bunting interpretou Wuthering Heights no “The Voice Austrália”, voltando a colocar a canção no topo nacional.
THE MAN WITH THE CHILD IN HIS EYES (1978)
Wuthering Heights não foi o único sucesso do álbum “The Kick Inside”. Também The Man With The Child In His Eyes se revelou um grande êxito, entrando para o top da Billboard ao alcançar a 85ª posição. Esta viria a ser a primeira canção de Kate Bush a figurar na lista publicada semanalmente pela revista norte-americana. O mais espantoso é que a letra foi escrita quando a cantora tinha apenas 13 anos, tendo sido gravada três anos depois na presença de uma orquestra. O facto de todas as músicas do primeiro álbum de Kate serem da autoria da própria artista fez com que esta se tornasse a primeira mulher na história da Pop a ter escrito todas as faixas de um álbum de estreia que vendeu milhões.
Wuthering Heights chegou mesmo a vencer o prémio Ivor Novello de Melhor Letra Britânica. A canção fala, então, da relação entre uma jovem e um homem mais velho que, apesar de mais maduro, mantém uma réstia de inocência. Segundo Steve Blacknell, a música havia sido escrita sobre ele, uma vez que este foi o primeiro namorado de Kate Bush. Em 2010, o ex-apresentador leiloou a folha onde foi redigida a letra original.
WOW (1980)
Aproveitando o sucesso de “The Kick Inside”, Kate Bush apressou-se a lançar um segundo álbum, “Lionhearth”. Da coletânea resultou Wow, um hit de sucesso no Reino Unido, no Canadá e na Irlanda. A canção faz um panorama sobre a indústria da música, tendo sido escrita quando a cantora procurava inspiração para redigir um tema para os Pink Floyd. O videoclipe apresenta Bush num estúdio escuro, sendo apenas iluminada por um holofote no refrão. Contudo, o vídeo foi censurado pela BBC dada a ousadia da letra e em sequência de uma cena em que a cantora acaricia o traseiro. Em 2002, a música foi utilizada no jogo eletrónico de ação, “Grand Theft Auto: Vice City”.
BABOOSHKA (1980)
Já em 1980, Kate Bush lançou o seu terceiro álbum, “Never For Ever”, cujo maior sucesso foi o tema Babooshka. Inspirada numa canção folclórica tradicional inglesa, a música fala de uma mulher que testa a lealdade do seu marido, fazendo-se passar por outra pessoa mais nova. Assumindo o pseudónimo de Babooshka, a mulher acaba por seduzir o seu esposo, uma vez que esta o faz recordar da sua esposa quando era mais jovem. Ao tentar testar a sua relação, Babooshka acaba mesmo por destruir o seu casamento.
No videoclipe, Kate Bush apresenta-se com vestes negras e um véu, simbolizando a mulher enlutada pelo desfecho do seu casamento. Posteriormente, a cantora surge com roupas tradicionais russas, assumindo a entidade de Babooshka. Ao seu lado encontra-se um contrabaixo que simboliza o seu marido. O tema voltou a alcançar o top cinco do Reino Unido, sendo considerado single de prata. Já na Austrália, a canção chegou ao segundo lugar e tornou-se a 20ª mais vendida do ano. Em 2021 a música voltou a ser viral através do TikTok, voltando a aumentar a popularidade da cantora.
THE DREAMING (1982)
Para além de cantora e autora das suas próprias letras, Kate Bush tornou-se também produtora ao assumir a totalidade da produção de “The Dreaming”, o seu quarto álbum que se viria a tornar o mais vendido de toda a sua carreira. Este é um disco mais diversificado a nível musical, mas mantém o propósito de Bush, contar histórias. Como tal, The Dreaming é a canção que dá título a este álbum, falando-nos da destruição das terras dos aborígenes australianos por parte do povo britânico que revolveu tudo à procura de urânio para fabricar armamento nos anos 50. Consequentemente, a música faz-se acompanhar de sons da natureza produzidos por Percy Edwards, um imitador de animais.
HOUNDS OF LOVE (1985)
Kate Bush entregou-se por completo ao seu quinto álbum, “Hounds of Love”, chegando mesmo a construir um estúdio em casa para poder gravar ao seu ritmo. Uma vez mais, o seu disco tornou-se um sucesso, sendo o único a conseguir destronar “Like a Virgin”, de Madonna, do pódio. O grande êxito deste projeto levou Bush a ser nomeada para os Prémios Britt de Melhor Artista Solo Feminina, Melhor Álbum, Melhor Single e Melhor Produtor.
Hounds of Love, a faixa-título do álbum fala sobre o medo de se apaixonar, fazendo uma comparação a esse pavor com uma pessoa a ser perseguida por uma matilha de cães. Como tal, o videoclipe foi inspirado em “39 Degraus”, o filme de suspense de Alfred Hitchcock. Além disso, foram utilizadas partes do som da longa-metragem de terror “A Noite dos Demónios”, de Hal E. Chester e Frank Bevis. Atualmente, a canção britânica está classificada como uma das maiores de todos os tempos.
RUNNING UP THAT HILL (1985)
E eis que chegámos à canção que nos levou a preparar esta galeria, Running Up that Hill. Inicialmente intitulada A Deal With God, Kate Bush viu-se obrigada a alterar o título para não ferir suscetibilidades religiosas. Ainda assim, a letra da canção fala da possibilidade de Deus conceder a troca de papéis entre o homem e a mulher, de modo a que um casal entendesse melhor a posição um do outro. Já no videoclipe, a cantora surge a dançar com Michael Hervieu, usando vestes japonesas, até que os dois se separam e vagueiam por longos corredores enquanto se deparam com estranhos a utilizarem máscaras com a cara um do outro.
Running Up That Hill alcançou um enorme sucesso, ficando em 30º lugar na Billboard e em terceiro no Reino Unido. Porém, a canção foi tocada ao vivo pela primeira vez num evento em 1986, no qual Bush se fez acompanhar por David Gilmour, só voltando a ser reproduzida num concerto em 2014.
Logo em 1986, o hit de Kate Bush foi usado no genérico da série infantil “Running Scared”. Anos mais tarde, em 2012, o tema foi utilizado na cerimónia de encerramento dos Jogos Olimpicos, sediados em Londres. Por essa altura, a canção regressou aos tops do Reino Unido. Já em 2018, a música fez parte de um episódio da série americana “Pose”. Mas a grande surpresa estava ainda por chegar. Após ser considerada uma das melhores músicas de todos os tempos, pela Rolling Stone, Running Up that Hill surgiu como uma canção fundamental para a quarta temporada de “Stranger Things”, fazendo reviver o legado de Kate Bush. Inesperadamente, o tema chegou à primeira posição no top do Reino Unido, e em muitos outros países, alcançando uma surpreendente quinta posição na Billboard, o melhor resultado de sempre de Bush nos EUA. Como tal, a canção ficou bem melhor classificada em 2022 do que em 1985 aquando do seu lançamento.
CLOUDBUSTING (1985)
Wilhelm Reich foi um filósofo e conhecido psicanalista que criou uma máquina chamada ‘cloudbusting’ que, supostamente, seria capaz de produzir chuva no céu. Porém, dadas as suas experiências secretas, Reich foi detido pelo FBI, tendo morrido na prisão. Em 1973, o seu filho Peter escreveu um livro de memórias, A Book of Dreams. Foi com base nas memórias do jovem Reich que Kate Bush se inspirou para desenvolver a letra de Cloudbusting. Como tal, o videoclipe mostra Wilhelm, interpretado por Donald Sutherland, e Peter, interpretado pela própria Bush, a testarem o engenho que produz chuva. Enquanto o pai se desloca ao laboratório, o filho fica a relembrar as brincadeiras com o progenitor, até que é interrompido pelo FBI que detém Wilhelm, deixando o pequeno Peter com um sentimento de impotência. Antes que o pai seja levado, o jovem consegue mesmo pôr a máquina a funcionar, deixando o progenitor orgulhoso. Dito isto, a canção tornou-se um sucesso, tendo sido inclusive aclamada pelo próprio Peter Reich.
EXPERIMENTAL IV (1986)
Em 1986, Kate Bush lançou “The Whole Story”, um álbum de compilação dos maiores sucessos da cantora. Porém, o disco incluía um novo tema, Experimental IV. A letra da canção baseava-se num plano militar secreto para criar um som estridente capaz de dizimar a população. Já no videoclipe, a última cena mostra as pessoas a morrerem quando Bush surge como personificação da sonoridade fatal, evoluindo de uma personagem angelical para um monstro mortífero. Importa salientar que o vídeo foi nomeado ao Grammy de Melhor Videoclipe Conceitual. A acrescentar, a música conta com a participação de Nigel Kennedy que reproduz o famoso som dos violinos presente no filme “Psycho” de Alfred Hitchcock.
THE SENSUAL WORLD (1989)
The Sensual World é a faxa-título que dá nome ao sexto álbum de Kate Bush, certificado como disco de ouro e platina. A letra da canção é inspirada em Molly Bloom, uma personagem do livro “Ulysses“, de James Joyce, e fala de uma pessoa que sai do seu universo em 2D para o mundo real, tomando conhecimento da beleza do planeta. A composição musical foi feita a partir de uma cantiga tradicional da Macedónia, Nevestinsko Oro ou A Dança da Noiva. Já o videoclipe apresenta Bush a dançar numa floresta enquanto usa um vestido medieval. Dado o sucesso do tema, que alcançou a 12ª posição no Reino Unido, foi utilizado na banda sonora do filme “Felicia’s Journey”, de Atom Egoyan.
THIS WOMAN’S WORK (1989)
Em 1988, John Hughes convidou Kate Bush a escrever um tema para o seu filme de drama, “A Vida Não Pode Esperar”. Como resposta, Bush compôs This Woman’s Work, uma canção que fala sobre o enfrentar de uma crise inesperada durante um parto. A faixa foi utilizada na longa-metragem no momento em que um homem (Kevin Bacon) se apercebe que a mulher (Elizabeth McGovern) e o filho prestes a nascer correm perigo de vida. Mais tarde, Kate gravou um videoclipe, em que ela assume a personagem que entra em trabalho de parto. Na gravação, a cantora surge sentada ao piano numa sala escura. Simultaneamente, o seu marido fictício (Tim McInnerny) circula pela sala de espera enquanto vai recordando o momento em que a sua esposa perdeu os sentidos, até que o veredicto é ditado pela enfermeira.
Mas não foi apenas em “A Vida Não Pode Esperar” que a canção de Kate Bush foi utilizada. Em 1997, o tema surgiu num episódio de “Adultos à Força” e, em 2005, foi incluida na banda sonora de “Walk Away and I Stumble”, o drama de Tamzin Outhwaite, fazendo com que se voltasse a tornar um sucesso. Anos mais tarde, a faixa fez parte da série “Extras”, entrando de novo para os topos no Reino Unido, feito que se repetiu em 2012 ao ser interpretada no “Britain’s Got Talent”. Além disso, a canção apareceu ainda em “Nunca Chove em Filadélfia”, “A História de uma Serva” e “The Pact”.
THE RED SHOES (1994)
Em 1993, Kate Bush lançou um último álbum antes de fazer uma pausa que viria a durar 12 longos anos. The Red Shoes é a faixa-título que dá nome ao sétimo disco da cantora britânica que se tornaria o mais bem posicionado de Bush nos EUA. A canção fala de uma jovem que ao colocar nos pés um par de sapatilhas de balé não consegue parar de dançar, ficando enfeitiçada. A bem dizer, a letra foi inspirada numa personagem de um filme homónimo de Michael Powell e Emeric Pressburger.
KING OF THE MOUNTAIN (2005)
Após uma pausa de 12 anos, Kate Bush lançou o seu oitavo álbum, “Aerial”, um dos mais aclamados pela crítica. Durante o tempo que esteve afastada da indústria da música, a cantora foi mãe e foi precisamente o seu filho quem desenhou a capa do single King of the Mountain. Trata-se de uma homenagem a Elvis Presley, considerado o ‘Rei do Rock’, uma vez que a letra disserta sobre a possibilidade de o cantor ainda estar vivo e de ter fingido tudo dado o peso da fama. Após quase 20 anos, Kate Bush voltaria a ver um hit seu entre as cinco primeiras posições do top do Reino Unido.
LYRA (2007)
Dado o seu contributo para diversas bandas sonoras da indústria cinematográfica e televisiva, em 2007 a cantora foi convidada a compor uma canção para “A Bússola Dourada”, o filme fantástico de Chris Weitz. O pedido especificava a inclusão do nome da personagem principal, Lyra Belacqua, na letra. Uma vez que a cantora dispôs de apenas dez dias para finalizar a música, Kate Bush utilizou uma parte de uma canção não utilizada escrita propositadamente para o filme da Disney, “Dinossauro”. No final, o tema foi nomeado ao Prémio Satellite de Melhor Canção Original.
WILD MAN (2011)
Em 2011, Kate Bush decidiu regravar temas dos álbuns “The Sensual World” e “The Red Shoes”, dando origem ao seu nono disco, “Director’s Cut”. Nesse mesmo ano, um no álbum viria a ser lançado com o título “50 Shadows for Snow”, nomeado aos Prémios de Melhor Álbum e de Melhor Artista Feminina. Do disco resultou a canção Wild Man, um tema que entraria também para a lista de singles mais vendidos. A letra fala-nos do avistamento de um Yeti, comumente conhecido como ‘Abominável Homem das Neves’, nos Himalaias e do esforço do narrador em proteger a mítica criatura. Em 2015, a música foi incluída num álbum comemorativo do 80º aniversário do atual Dalai Lama.
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