LEFFEST ’25 | The Chronology of Water – a Crítica
“The Chronology of Water” é a primeiríssima longa-metragem escrita e realizada pela também atriz Kristen Stewart. Neste coming of age biográfico, Stewart afasta-se completamente para os bastidores e deixa a sua história brilhar. Numa sessão na Culturgest, com direito a Q&A com a presença de Kim Gordon, que conta com uma pequena participação na obra, o filme foi apresentado ao público nacional do LEFFEST.
A consolidação de Kristen Stewart no LEFFEST 2025

Kristen Stewart é um caso particular. Uma jovem atriz com muito sucesso, desde muito cedo, que se conseguiu desvincular da sua associação a um grande franchise de Hollywood e construir o seu próprio caminho e uma reputação exímia no campo do cinema de autor. Quem viu “Love Lies Bleeding”, “Spencer” (que lhe mereceu a nomeação ao Óscar) ou “Clouds of Sils Maria”, entre tantos outros títulos, consegue agora vê-la como uma performer ligada ao campo do cinema autoral.
Com a sua transição para a escrita e realização, com “The Chronology of Water”,para descobrir no LEFFEST, Kristen Stewart consolida ainda mais o seu papel no cinema autoral, inclusive como uma autora de direito próprio. O filme, esse fever dream que é também um conto coming of age, exibiu na Selecção Oficial – Fora de Competição, depois de ter passado por Cannes, onde estreou na secção “Un Certain Regard”, que exibe grandes promessas cinematográficas ano após ano.
“The Chronology of Water” é ficção criativa e sem limites mas é também biografia. Recuperam-se as memórias de Lidia Yuknavitch, uma mulher marcada pelo trauma e por uma infância difícil, propensa a vícios e com muitos fantasmas a assombra-la e que, mesmo assim, contra todas as expectativas, consegue vir a tornar-se uma autora premiada.
Kristen Stewart, com a ajuda de Imogen Poots (“Vivarium”) como a sua protagonista e narradora ao longo de todo o filme, conta-nos a história de Lidia de uma forma impressionante, visceral, e acima de tudo com uma realização única que consegue casar na perfeição um estilo de narração mais experimental e arrojado com uma história que, embora tenha avanços e recuos, tem um pendor narrativo e relativamente linear. Os planos são muito fechados, a edição de som carrega consigo a paranóia e o medo, a força das memórias pesadíssimas, de uma infância de abuso, que aqui vão ser reconstruídas.
The Chronology of water e a performance de Imogen Poots
É um desafio em peras, contar a história desta mulher, da sua infância à sua vida adulta mais plena e harmónica. E eis que Kristen Stewart e Imogen Poots, a intérprete de Lidia, conseguem cumpri-lo na perfeição. Temos aqui uma exaltação da palavra, uma exaltação da literatura, de todos os elementos que permitiram salvar Lidia – e claro, o seu amor pela água e pela natação, não fosse esta a sua cronologia da água.
A água, neste “The Chronology of Water” é filmada de forma estrondosa, não apenas como mais um elemento, mas como uma linguagem visual e emocional. Aqui, a água é contextualizada como um elemento essencial, com um papel de caos, de claridade, de renascimento associado. A água é um espelho das emoções da nossa protagonista e uma força motriz que a move, uma segunda pele que ela pretende tomar e uma forma clara de escapar a uma infância marcada pelo abuso e excesso, pelo trauma e pela perda, como o filme representa tão bem, de forma ambígua, mas ainda assim sem nunca menosprezar o sofrimento da nossa forte protagonista.
Tudo isto se une na perfeição através da performance de Imogen Poots, que, aos 36 anos de idade, é, sabe-se lá, convincente tanto no papel de uma revoltada adolescente zangada como de uma mulher em pleno controlo dos eventos da sua vida. Particular elogio para o momento em que representa a perda da sua filha, como nado-morto, num dos instantes mais emotivos do filme e que Poots representa de forma memorável, como aliás, todos os outros.
Resta-nos esperar ver mais e (ainda) melhor da parte de Kristen Stewart, registando esta sua primeira entrada no mundo das longas-metragens, “The Chronology of Water”, como uma estrondosa e meritória estreia.
Conclusão
- Resta-nos esperar ver mais e melhor da parte de Kristen Stewart, registando esta sua primeira entrada no mundo das longas-metragens, “The Chronology of Water”, como uma estrondosa e meritória estreia.

