Madres Paralelas/© 78ª Festival de Veneza

Mães Paralelas, em análise

Mães Paralelas“, a obra mais recente de Pedro Almodóvar, foca-se nas mães imperfeitas, mais concretamente em duas mulheres grávidas que se encontram no hospital durante os respetivos trabalhos de parto, mas com sentimentos opostos em relação à breve maternidade.

Nunca menti sobre a minha experiência cinematográfica. Não acredito na superioridade frequentemente elitista que algumas pessoas sentem por terem assistido a mais filmes do que outros. Cada crítico tem o seu foco, logo é apenas natural que os chamados “buracos” existam de forma diferente na carreira de cada jornalista. Portanto, não tenho problemas em partilhar que não conheço a filmografia de Pedro Almodóvar, tirando “Pain and Glory”. Com toda a franqueza, os dedos das mãos poderão ser suficientes para quantificar as minhas visualizações do cinema espanhol. No entanto, nada me proíbe de desfrutar de qualquer filme espanhol, principalmente quando são tão bem feitos como “Mães Paralelas”.

Sobre o filme, conhecia somente a sinopse, elenco e realizador. A premissa parecia interessante, mas não antecipava uma história tão poderosa e emocionalmente impactante que começa com duas mães que se encontram no hospital antes dos partos respetivos. Os seus passados contêm experiências pessoais muito diferentes que moldaram as suas personalidades e objetivos de vida distintos. No entanto, de uma maneira narrativamente convincente, embora algo “à telenovela”, os seus futuros cruzam-se devido a reviravoltas chocantes. Três pontos-chave do enredo possuem um peso emocional tremendo que as duas atrizes principais carregam na perfeição.

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Madres Paralelas
Madres Paralelas/© 78ª Festival de Veneza

Penélope Cruz (“Murder on the Orient Express”) sabe exatamente o que fazer em cada cena, apresentando uma prestação experiente como Janis, a mãe de meia-idade que não podia estar mais feliz com o nascimento do seu bebé. A maior parte do tempo de ecrã é passada com Janis a tentar descobrir como equilibrar a maternidade com o seu trabalho e vida amorosa, o que a leva a fazer algumas descobertas inacreditáveis. Milena Smit (“Cross the Line”) aparece no grande ecrã apenas pela segunda vez na sua carreira, oferecendo uma interpretação convincente de Ana, a adolescente que se sente arrependida e assustada com a inevitabilidade de estar prestes a tornar-se mãe.

Almodóvar não perde tempo com diálogos irrelevantes ou dramas desnecessários. Cada pedaço de desenvolvimento tem uma origem compreensível e uma recompensa satisfatória, incluindo uma história lateral admitidamente desinteressante, mas culturalmente rica, envolvendo a família de Janis e os seus antepassados. Evidentemente, a parentalidade traz o tema geral da família para o centro da mesa. Nenhuma personagem é perfeita e Almodóvar concentra-se propositadamente nas mães imperfeitas, mostrando ao público que cada decisão tomada por um dos pais neste filme não é tão simples como algumas pessoas podem pensar.

Desde suspender as suas próprias vidas e sonhos à falta de apoio emocional, “Mães Paralelas” retrata o paralelismo epónimo entre as duas protagonistas – e outros pais e mães – através das suas ações e escolhas morais. Outros tópicos como feminismo, violência doméstica e até violação são abordados, mas o elemento mais cativante do argumento está ligado às mães e como os seus destinos se alinham.

Tecnicamente, aprecio imenso que Almodóvar tenha optado por manter tudo simples, deixando verdadeiramente os dois pilares do cinema – história e personagens – levarem os espetadores numa jornada encorajadora. Apesar disso, não consegui deixar de considerar a banda sonora de Alberto Iglesias demasiado monótona. Enterra o filme em vez de elevar alguns dos grandes momentos. A montagem e transições de Teresa Font também carecem de inspiração. Colocando tudo no mesmo pote, estranhamente não parece uma longa-metragem em si, tendo muitos componentes comuns com alguns programas de televisão. Ainda assim, não afeta negativamente o quadro geral.

“Mães Paralelas” estreia no dia 1 de dezembro de 2021 nos cinemas portugueses, após ter participado no 78º Festival de Veneza.

Mães Paralelas, em análise
  • Manuel São Bento - 70
  • Maggie Silva - 85
  • Cláudio Alves - 90
82

Conclusão

“Mães Paralelas” contém uma narrativa inesperadamente chocante sobre maternidade, apresentando duas prestações notáveis ​​de Penélope Cruz e Milena Smit. Apesar de alguns momentos de novela monótonos e um ou outro atributo técnico desinspirado, Pedro Almodóvar oferece uma história cativante, genuína e emocionalmente poderosa que coloca os holofotes em mães imperfeitas. Com uma direção clara e uma abordagem pragmática, o paralelismo epónimo encontra-se continuamente presente durante todo o tempo de execução, tornando esta uma visualização consistentemente interessante. Definitivamente, um candidato digno de Espanha para a temporada de prémios.

Pros

  • Prestações de Penélope Cruz e Milena Smit.
  • Narrativa cativante com foco no tema da maternidade..
  • Visão clara e pragmática de Pedro Almodóvar.
  • Visualização consistentemente interessante.

Cons

  • Alguns momentos de novela monótonos.
  • Banda sonora e montagem desinspiradas.
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