Black Country, New Road (foto de Rosie Alice)

Mês em Música | Playlist de Fevereiro

Na Playlist de Fevereiro, reunimos os destaques do mês que passou. Um início de ano que promete. 

Desde 2020 que o ritmo dos lançamentos de música tem vindo a abrandar. Com a impossibilidade de promover os álbuns na estrada, os adiamentos foram muitos. Alguns destes planos concretizaram-se em 2021, tendo sido um ano mais preenchido que o anterior. Ainda assim, certamente que muitos eram os artistas com intenções de publicar álbuns antes da pandemia lhes furar o esquema. E possivelmente só uma pequena porção destes o conseguiu fazer em 2021.

Por essa razão, têm sido vários os boatos envolvendo grandes nomes. Têm sido entusiasmantes os anúncios de álbuns feitos ao longo do últimos meses. E mais animador ainda, por ser algo com que podemos sem dúvida contar, têm sido bons presságios os álbuns já lançados este ano e, principalmente, em fevereiro. Não é pouca coisa que, só deste mês, sejam já alguns dos registos sérios candidatos a álbum do ano.

Da nossa Playlist de Fevereiro constam naturalmente os singles mais relevantes do mês, mas também os destaques de alguns dos álbuns que sugerimos. Embora fevereiro prometesse registos de artistas consistentes na qualidade, em certos casos estes não foram ao encontro das enormes expectativas estabelecidas. Ainda assim, é de fazer notar que, embora não sejam os nossos preferidos de entre as discografias dos artistas, não deixam de ser trabalhos interessantes e por isso mesmo é que os mencionamos aqui neste artigo. Por outro lado, integram também a Playlist de Fevereiro futuros marcos de uma discografia ainda a florescer, como é o caso do nosso Álbum do Mês. Mas, antes disso, o nosso Single do Mês.

Playlist de Fevereiro | O single do mês

Vindo da nova vaga jovem de pós-punk, “I Love You” dos Fontaines DC é o nosso single do mês. Depois de lançarem um dos melhores álbuns de estreia da última década, Dogrel em 2019, e em 2020 terem reafirmado o enorme potencial, com A Hero’s Death, o grupo regressou com “Jackie Down the Line” no início de janeiro. Com o primeiro single, os irlandeses anunciavam também o terceiro álbum, Skinty Fia, a sair dia 22 de abril via Partisan.

O segundo single “I Love You” foi partilhado passado pouco mais de um mês. Descrito por Grian Chatten, o vocalista,  como “a canção mais explicitamente política que alguma vez compusemos”, “I Love You” é dirigida ao país-natal da banda, a Irlanda. É uma sincera reflexão acerca do clima político e a história da nação, feita do ponto de vista de um irlandês exilado.

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Sobre o single, a nossa Maria Pacheco Amorim escreveu: “Integrando um monocórdico e exasperado (ou exasperante?) monólogo, ao som de uma linha de baixo soturna, de guitarras melancólicas e reverberantes e de uma batida incessante que parece existir paralelamente até começar a fazer todo o sentido na canção, “I Love You” parte de Joy Division, dos Cure e de Sam Fogarino, dos Interpol, para, no final, aterrar com toda a segurança nos Fontaines DC. A crescente tensão do fluxo de consciência, do lamento mais desiludido do que irado, espelha os temas de afeição e elogio fúnebre ao país de origem, sucumbido sob o peso da ganância e da corrupção.”

FONTAINES DC | “I LOVE YOU”




Playlist de Fevereiro | O álbum do mês

Menos de um ano depois de For the First Time, o álbum de estreia que mostrou o enorme potencial da banda, os Black Country, New Road regressaram com o segundo álbum Ants From Up There, o nosso álbum do mês. A espera parecia longa, como é sempre depois de uma estreia tão promissora como esta e, ao mesmo tempo, com tanto espaço ainda para evoluir. Parecia que o septeto tinha em si os requisitos para assumir variadíssimas formas, e que muitas delas seriam interessantes. For the First Time obrigou qualquer fã de música a ter uma opinião sobre os BCNR e sobre o seu futuro artístico. Mas o que ninguém esperava era que, menos de um ano depois do primeiro lançamento, os ingleses anunciassem o fim dos Black Country, New Road como nós os conhecemos até agora.

Poucos dias antes do lançamento de Ants from Up There, era anunciado que o vocalista principal Isaac Wood deixaria de fazer parte da banda, por motivos relacionados com a saúde mental do mesmo. E mais uma vez, os BCNR obrigavam-nos a ter algo a dizer acerca do novo futuro da banda e, uns dias mais tarde, do novo álbum. Nele, Isaac Wood assume mais uma vez um papel central, talvez ainda mais do que em For the First Time. Não é só o vocalista que faz a banda, claro está, mas os BCNR viviam da performance de Wood e certamente não serão os mesmos na sua ausência.

Em Ants from Up There, encontramos o grupo britânico mais polido. Apesar da entrega emocional de Wood ser mais carregada, o álbum é mais focado e não vagueia de uma forma tão solta. As inevitáveis comparações com Spiderland no primeiro álbum dão lugar a Funeral, e o grupo que se entitulou de “the world’s second-best Slint tribute act” assume agora um caminho mais próximo das vielas do art rock e da pop. As composições tornaram-se melódicas, deixando para trás grande parte do pós-punk falado que cultivavam. As canções são mais acessíveis, mas deixando sempre respirar o espírito aventureiro e experimental da banda, em particular nos arranjos complexos.

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É difícil ouvir Ants from Up There apenas como uma boa coleção de canções. É difícil não o ver como o resultado de uma grande evolução desde o primeiro registo, caindo sempre na comparação com For the First Time, e será sempre difícil dissociar Ants from Up There da partida de Wood do septeto. Os Black Country, New Road deixaram-nos mais uma vez ansiosos pelo que virá a seguir, mas por agora temos Ants from Up There: um futuro clássico, que será mencionado como uma influência por inúmeras bandas que virão e que será sempre como um pergaminho para gerações futuras daquilo que foi acompanhar em (curto) tempo real os primeiros passos dos Black Country, New Road.

PLAYLIST DE FEVEREIRO | DESTAQUES DO MÊS

  • Black Country, New Road, Ants From Up There (Ninja Tune, 4 de fevereiro)
  • Cate Le Bon, Pompeii (Mexican Summer, 4 de fevereiro)
  • Mitski, Laurel Hell (Dead Oceans, 4 de fevereiro)
  • yeule, Glitch Princess (Bayonet, 4 de fevereiro)
  • Big Thief, Dragon New Warm Mountain I Believe In You (4AD, 11 de fevereiro)
  • Empath, Visitor (Fat Possum, 11 de fevereiro)
  • Beach House, Once Twice Melody (Mistletone Records, 18 de fevereiro)
  • Hurray for the Riff Raff, LIFE ON EARTH (Nonesuch, 18 de fevereiro)
  • caroline, caroline (Rough Trade Records, 25 de fevereiro)

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