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Top MHD | Os melhores guarda-roupas de 2021

De óperas fantasiosas a pesadelos medievais, 2021 foi um ano cheio de bom cinema e figurinos a combinar. Aqui fica a nossa lista para os melhores guarda-roupas dos passados doze meses no grande ecrã.

No primeiro mês de um novo ano, é altura de olhar para trás e ponderar as excecionalidades cinematográficas do ano que passou. Como adoramos a arte do figurino, não podíamos deixar passar a oportunidade para incidir tal reflexão sobre o assunto da roupa em filme. Por isso mesmo, aqui listamos os 21 melhores guarda-roupas de 2021, escolhidos a dedo de entre as várias estreias portuguesas, quer tenham sido em sala ou streaming. Apreciem a beleza!

 

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annette melhores guarda-roupas
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21) ANNETTE, Pascaline Chavanne e Ursula Paredes Choto

O pesadelo musicado de Leos Carax é como um mutante eterno, constantemente transformando-se em nova criatura. O desenho da obra segue a mesma linha, oscilando entre o real e o fantástico, o glamour na ópera das celebridades e o terror fantasmagórico de uma mulher assassinada que exige justiça do além. A teatralidade é maná divino, mas o uso de cor persiste entre as várias facetas de “Annette.” Admiramos, em particular, o uso do amarelo e do verde, Marion Cotillard feita num girassol que apodrece entre as algas onde se afogou.

 

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20) TODOS FALAM SOBRE JAMIE, Guy Speranza

Um caleidoscópio queer num modelo musical, este filme apresenta um guarda-roupa entre o quotidiano colorido e a exuberância teatral. Apesar de os figurinos mais impressionantes estarem restritos ao palco do drag show e ao sonho do protagonista, o que mais fascina são os detalhes disruptivos no traje mais corriqueiro, como o uniforme escolar de um rapaz pontuado por um par de saltos em purpurinas rubras.

 

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19) BEING THE RICARDOS, Susan Lyall

A comédia é um ofício tanto quanto é uma arte. Na terceira longa-metragem realizada por Aaron Sorkin, somos convidados a perscrutar por detrás das cenas de “I Love Lucy,” a icónica sitcom dos anos 50 que veio a definir o seu género. Tal visão dos bastidores e vida íntima, permite explorar intersecções do profissional e do pessoal, da persona que as câmaras veem e a pessoa a que elas não têm acesso. Mais do que o texto até, os figurinos de Susan Lyall delineiam todas estas dinâmicas. Fazem-no com glamour e mais brio histórico que o argumento assinado por Sorkin.

 

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18) REMINISCÊNCIA, Jennifer Starzyk

O film noir vingou no pós-guerra, mas a sua influência persiste até ao cinema dos nossos dias. Para a sua experiência em fatalismo futurista, a realizadora Lisa Joy apelou às estéticas do passado para imaginar o amanhã. Os figurinos de Jennifer Starzyk seguem a mesma filosofia estilística, desenhando arquétipos do noir nas cores vibrantes de uma realidade cibernética. Rebecca Ferguson é uma femme fatale inesquecível, em tons preciosos e fortes, brilhantes como joias ao sol.

 

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17) CASA GUCCI, Janty Yates

Apesar de cronicar a dinastia Gucci na segunda metade do século XX, “Casa Gucci” não é necessariamente um filme sobre moda. Por isso mesmo, existe um limite ao esplendor que Janty Yates pode trazer à produção. Com isso dito, das limitações nasce o milagre criativo e isso mesmo ocorre nesta produção. Focando-se na especificidade das personagens, no melodrama da figura específica, no lado performativo do vestuário, a designer concebeu uma das fitas mais bem-vestidas na vasta filmografia de Ridley Scott. De facto, é um dos filmes mais bem-vestidos do ano.

 

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16) A NOITE PASSADA EM SOHO, Odile Dicks-Mireaux

A Noite Passada em Soho” é sim um filme sobre moda, sobre idealismos estilísticos e nostalgia venenosa. Centrando-se na personagem de uma aspirante a designer de moda cujo espírito viaja até à Londres dos anos 60, os figurinos tanto traçam uma história moderna como os fantasmas da época esquecida. Desde a alta-costura em papel de jornal até um vestido cor-de-rosa que se metamorfoseia através da história.

 

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15) IDENTIDADE, Marci Rodgers

Vestir uma fita a preto-e-branco é muito diferente de ornamentar um filme a cores. Marci Rodgers usa texturas e detalhe de época para fazer seus desenhos cantar em escalas de cinza e prata. Ao mesmo tempo, evoca o passado dos anos 20 e os níveis de classe e poder económico, moralidade dissimilar, patentes na narrativa de “Identidade.” Nem sempre as roupas de noite correspondem ao facto histórico, mas iluminam as verdades ocultas das personagens, mesmo assim. No papel de Clare Bellews, Ruth Negga parece saída diretamente de um clássico da Velha Hollywood.

 

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14) O ESQUADRÃO SUICIDA, Judianna Makovsky

Apesar de memoráveis e intricados, os figurinos do primeiro “Esquadrão Suicida” pecavam pela sexualização, pela mixórdia de referências e falta de gosto. Makovsky reinventou a linha estética para esta sequela, buscando maior fidelidade aos livros de banda-desenhada e a integridade das personagens enquanto entidades autónomas ao invés de objetos promocionais. O resultado é um festim de cor e humor estilístico, desde a parvoíce multicolorida que John Cena enverga até à reinvenção escarlate de Harley Quinn. Mesmo só como espetáculo de roupagens, “O Esquadrão Suicida” é um triunfo de entretenimento.

 

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13) CRÓNICAS DE FRANÇA DO LIBERTY, KANSAS EVENING SUN, Milena Canonero

A colaboração entre Wes Anderson e Milena Canonero tem sido uma dessas grandes parelhas no cinema moderno. Já o trabalho com este autor valeu um Óscar à figurinista, honra merecida pelo trabalho no “Grand Budapest Hotel.” Esta nova fita perpetua a aliança entre génios criativos. Procurando inspiração no cinema de Godard e Tati, Canonero vestiu “Crónicas de França” a rigor, adaptando o estilo de cada capítulo tal como a própria fotografia o faz, da cor para o preto-e-branco, do 4:3 para Cinemascope. Entre as indumentárias, destacam-se as modas coloridas de Tilda Swinton como uma crítica de Arte excêntrica.

 

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12) AS FÉRIAS LOUCAS DE BARB E STAR, Trayce Gigi Field

Os figurinos nem sempre é uma ferramenta para o espetáculo, para a beleza ou o glamour. Por vezes, a roupa serve como instrumento da comédia. Assim é o caso de “As Férias Loucas de Barb e Star,” um milagre de humor dadaísta num modelo mainstream, com grande orçamento a combinar. Com as cores de autocolantes de Lisa Frank, um sonho tropical feito circo do absurdo, este filme deleita com figurinos maravilhosamente fora de moda.

 

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11) ESTADOS UNIDOS VS. BILLIE HOLIDAY, Paolo Nieddu

Billie Holiday tinha um estilo memorável, suas flores no cabelo e gosto pelo glamour em palco. Contudo, a sua figura está longe do panteão de grandes ícones da moda. Quiçá por isso, os figurinos de Paolo Nieddu surpreendem pela sua cornucópia de estilo e esplendor. No papel titular, Andra Day veste uma coleção extraordinária, desde o figurino de palco até às roupagens da vida íntima, desde o cetim doirado até aos roupões de seda, casacos de pele e óculos-de-sol perfeitos para uma estrela.

 

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10) UMA MIÚDA COM POTENCIAL, Nancy Steiner

Desconstruindo as pressões de uma sociedade misógina, “Uma Miúda com Potencial” torna a feminilidade numa arma. Para caçar suas presas, a protagonista enverga o figurino de uma série de arquétipos prontos a serem vitimizados, usando o estereótipo como isco. Há uma enorme variedade de conjuntos, mas o que mais inspira admiração é a continuidade cromática. Um gosto pelos pastéis confere doces sabores a esta sobremesa cinematográfica. É como um bolo com uma lâmina escondida no interior. Nada melhor representa isso que o fato de enfermeira atrevida, iconografia fetichista tornada numa armadilha para os homens agressores. É sexo em forma de moda, castigo como vestuário.

 

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9) CRUELLA, Jenny Beavan

Ao longo da sua carreira, Jenny Beavan ganhou dois Óscares e participou em alguns dos melhores filmes britânicos das últimas décadas. No que podia ser o crepúsculo dos seus anos profissionais, a figurinista continua a impressionar, a testar os limites da sua arte. Com todo o dinheiro que a Disney forneceu, ela concebeu um espetáculo de moda rebelde sem igual. Existe um apelo a Westwood e ao punk dos anos 70, mas tudo se revira num feitiço de magia Disney. Cruella é um ícone estilístico do grande-ecrã, cada conjunto uma obra-de-arte. Neste papel, Emma Stone é a rainha da moda.

 

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8) DUNE, Jacqueline West e Bob Morgan

Concretizar visões de um futuro distante é um desafio monumental. Para West e Morgan, vestir “Dune” passou por um processo de historicismo enquanto caminho para o amanhã. Mais do que tentar descortinar o que virá, eles conceberam vestuário que apela ao nosso sentido de passado coletivo, indo buscar detalhes a várias culturas e diversas antiguidades. O resultado é um cocktail mirabolante, com freiras espaciais e nobres cortesãs cobertas de cetim doirado. Talvez os melhores figurinos sejam os fatos dos fremen, máquinas antropomórficas que reciclam água e permitem a vida no deserto. Nesse caso, o trabalho dos designers passou pela materialização das descrições literárias de Frank Herbert.

 

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7) LICORICE PIZZA, Mark Bridges

Se alguns filmes históricos estão nesta lista pelo modo como estilizam o facto e preferem o sonho à realidade, “Licorice Pizza” ganha lugar na lista devido ao oposto. Há uma enorme precisão no modo como Paul Thomas Anderson e companhia imergem o espetador na realidade material de uma Califórnia dos anos 70. Os figurinos de Mark Bridges são parte essencial do jogo, realçando as folias da época, celebrando o démodé e o feio com igual fulgor com que exaltam as tendências mais belas. A figura de Alana Haim é especialmente bem-vestida, uma adolescente perpétua, sem rumo e com guarda-roupa a condizer.

 

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6) WEST SIDE STORY, Paul Tazewell

Um motim de cor, tanto desenhado em homenagem ao filme de 1961 como em vontade de reinventar um texto clássico. Se a tempestade cromática é o que mais espanta o olho, são os detalhes de personagem que mostram a verdadeira astúcia de Tazewell. Note-se como a construção dos figurinos de Anita revela o brio de uma costureira que faz do corte e costura uma forma de expressão pessoal. Veja-se como os figurantes dançantes estão individualizados, cada conjunto indicando personalidades próprias. Números como “Mambo” e “America” valem tanto pela folia da música como pelo desfile de moda.

 

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5) O PODER DO CÃO, Kirsty Cameron

É fácil fazer dos anos 20 um conjunto de clichés e lugares comuns. O estereótipo tende a suplantar o facto no que se refere à imagem coletiva dessa época, unicamente povoada por flappers e jazz babies. Em “O Poder do Cão” de Jane Campion, Cameron transcende a caricatura e procura o peso do passado, sufocando Kirsten Dunst em modas desconfortáveis e fazendo do figurino uma arma de disrupção psicológica. O branco azulado de sapatos citadinos são um insulto a quem vive na ruralidade, o cetim rosa é material de debutante, não de cowgirl, e as luvas de pele são um momento de graça num mundo infernal.

 

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4) FIRST COW – A PRIMEIRA VACA DA AMÉRICA, April Napier

Tal como “O Poder do Cão,” este filme de Kelly Reichardt reconfigura os paradigmas do western tradicional e, pelo caminho, imagina a masculinidade do cowboy numa visão transgressora. A textura é rainha, assim como a especificidade da personagem, mas Napier vai mais longe, procurando harmonias imagéticas e uma materialidade visceral. Quase conseguimos cheirar estas roupas, tão precisa é a sua aparição no grande ecrã. Amamos a suavidade gasta de sapatos velhos, o desespero de luvas grosseiras que tentam proteger do frio, a formalidade alienante do raro luxo.

 

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3) AMONITE, Michael O’Connor

Ao longo da sua carreira, Michael O’Connor tem feito nome pelo seu conhecimento histórico, pela habilidade com que ressuscita o passado e faz da tela de cinema uma janela para outros tempos. Ele já ganhou um Óscar por isso mesmo, mas continua a superar-se. “Amonite” é prova disso mesmo, um sonho Vitoriano e agreste que contrasta duas mulheres, suas classes económicas e sociais, idade e identidade. Mais do que um romance lésbico, o filme é um estudo de personagens e os figurinos refletem isso mesmo. Aprendemos tanto sobre as protagonistas no modo como elas se vestem como no texto. Isto é dramaturgia através de roupas e merece aplausos.

 

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2) SPENCER, Jacqueline Durran

Não há nada de subtil em “Spencer,” nem na interpretação ou nos visuais. Isso não é uma crítica, somente uma observação. Em termos estilísticos, esta exuberância prefere-se à modéstia, especialmente quando o realizador está tão empenhado em conceber um filme de terror extravasado pelo melodrama. Apelando à icnografia da Princesa Diana, Jacqueline Durran construiu um guarda-roupa cheio de códigos e simbolismos portentosos, colares de pérolas que são como coleiras e tricórnios amarelos que gritam pela revolução. Uma montagem perto do clímax é um orgasmo estilístico, cheio de reconstruções históricas misturadas com figurinos sonhadores.

 

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1) A LENDA DO CAVALEIRO VERDE, Malgosia Turzanska

Entre os melhores guarda-roupas de 2021, um exemplo afigura-se como o rei dos reis. Ele é um exemplo de figurinos sustentáveis, tanto do ponto de vista vegano como ecológico, mas também eficaz em termos de drama, de atmosfera e de puro cinema. “A Lenda do Cavaleiro Verde” é um espectro do poema medieval, uma reinvenção luxuriante, cheia de escolhas cromáticas vistosas e texturas que convidam ao toque. As imagens seduzem, mas também perturbam. Veja-se a corte de nobres cujas mãos estão esculpidas em madeira e em pose de eterna prece. Admiremos o manto amarelo que faz do protagonista uma pincelada vibrante em toda a composição. Malgosia Turzanska merece um Óscar pela sua insana criatividade, mas, não vivemos num mundo justo. Por isso mesmo, ela nem deve ir ser nomeada. Enfim, pelo menos aqui, na MHD, celebramos o seu trabalho como o melhor de 2021. Parabéns!

 

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