Moonrise Kingdom, em análise

 

Título Original: Moonrise KingdomRealizador: Wes Anderson

Atores: Jared Gilman, Kara Hayward, Edward Norton

Género: Comédia, Romance, Drama

ZON Lusomundo | 2012 | 94 min

Classificação:

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Como autênticos descendentes de Romeu & Julieta, Sam & Suzy preparam-se para se juntar ao panteão dos grandes pares românticos da história.

Em 1965, numa ilha ao largo da costa de Nova Inglaterra, Moonrise Kingdom traz-nos a história destes dois jovens de 12 anos que se apaixonam, fazem um pacto e resolvem fugir juntos para um lugar selvagem. Enquanto os adultos da comunidade vão dando lentamente pela sua falta e embarcam numa frenética procura, uma violenta tempestade irrompe e a pacífica comunidade da ilha fica, a todos os níveis, virada do avesso.

O guisado Andsersoniano estava lançado – com a bagagem repleta de miúdos precoces, pais irresponsáveis, memórias de outros tempos, música francesa, visuais simétricos, livros de fantasia, Bill Murray e uma história de amor ardente, o mais fácil era repetir a fórmula a construir algo que já tínhamos visto.

A mais agradável surpresa é que tudo parece fresco, excitante, mas sobretudo, gentil.

Moonrise Kingdom é uma autêntica fonte da juventude, e um dos convites mais excêntricos do ano para nos deixarmos levar numa viagem afetuosa pela memória de um lugar que, não tendo existido na realidade, é comum dicotomicamente na vida de todos.

O seu otimismo é do mais cristalino que pode existir, porque é aquele que sobrevive mesmo quando nem tudo corre bem. A melancolia que todo o filme acompanha está muito ligada à inveja sentida pelos adultos desesperados pelo regresso dos heróis. O que fica é a saudade inabalável do descuido, da inocência, do amor e da liberdade da juventude.

A fotografia a 16mm de Robert Yeoman – que tantas vezes faz lembrar um postal gasto pelo tempo – é material retirado de um sonho: as florestas, os panoramas oceânicos e as paisagens míticas da ilha de Nova Inglaterra são infinitamente convidativas, na sua coloração dourada simplesmente deliciosa.

A banda Sonora, que alterna entre maravilhosas composições de Alexandre Desplat, pedaços escolhidos a dedo de “The Young Person”s Guide to the Orchestra” de Benjamin Britten e outras seleções musicais pontuais que se misturam homogeneamente com a narrativa dava para uma tese só sobre ela.

Do fundo dos óculos fundo-de-garrafa, Jared Gilman é glorioso como Sam, enquanto Kara Hayward é absolutamente desoladora como Suzi – dois autênticos achados que não se perderam no meio e um elenco all-star, arranjando sempre espaço para brilhar quando em cena.

O resto do elenco é um caso extremo de foras-de-série: Bruce Willis relembra-nos que também sabe representar, Edward Norton é surpreendente como o líder dos Escuteiros, Bill Murray (um habitué de Anderson – fez seis dos sete filmes do realizador) oferece-nos um Walt cheio de nuances de tirar a respiração incorporando uma espécie de Homer Simpson a antidepressivos, Frances McDormand é exímia na linguagem corporal que transmite, e para não nos muito mais, Tilda Swinton, com a personagem que mais perto nos surge de uma vilã, é uma representante dos serviços sociais maléfica.

O Cinema de Anderson sempre foi caprichoso e extravagante, e Moonrise Kingdom tem a si associada uma natureza deliberadamente travessa, uma teatralidade que pode, a modos de má vontade, ser considerada asfixiante e um confesso alheamento da realidade.

Mas entre as casas de praia, as florestas, as tendas de escuteiro e o amor que Anderson nutre pelas suas histórias e as suas personagens, é um exercício profundamente pessoal com situações que antes de serem arte foram reais, tornando, por isso, as suas emoções completamente genuínas.

Moonrise Kingdom aquecerá o mais gelado dos corações que estiver disposto a dar-lhe uma oportunidade, e fá-lo-á de uma forma que não é fácil ou banal. Este é verdadeiramente um trabalho de mestre, e talvez um dos filmes mais mágicos e maravilhosos do ano.


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