MOTELX 2025 | Hallow Road – Análise
“Hallow Road”, da autoria de Babak Anvari (“Under the Shadow”), é uma co-produção entre o Reino Unido, Irlanda, Finlândia e EUA, quem em 2025 compete no MOTELX pelo Prémio de Melhor Longa-Metragem europeia.
Em igual medida frustrante e ambicioso, este “Hallow Road” é um filme capaz de dividir. Esta é acima de tudo uma narrativa familiar, que nos permite entrar de rompante na intimidade do núcleo Maddie, Frank e Alice. Maddie e Frank são dois pais orgulhosos – a sua pequena Alice é uma excelente e promissora estudante universitária e nem a revelação recente de um segredo incómodo é capaz de mudar isso.
Contudo, uma chamada a meio da noite vira o seu mundo do avesso: eis que Alice acabou de atropelar acidentalmente uma jovem desconhecida no meio de uma floresta escura com o sugestivo nome de Hallow Road.
O que se segue é uma corrida contra o tempo, à medida que Maddie e Frank tentam chegar perto de Alice o mais depressa possível, antes que a jovem desconhecida morra e antes que alguém encontre Alice.
Uma faca de dois gumes: a eficiência de Hallow Road
Como thriller, e tal como a sinopse anunciava, é de facto verdade que “Hallow Road” é um filme extremamente eficiente. A tensão vai crescendo, galopante, ao longo de apenas 80 minutos de longa-metragem. E, sem dúvida, há que elogiar a capacidade de criar um clima de cortar à faca com tão poucas ferramentas: dois atores, um carro a andar estrada fora e a voz distante da filha no telemóvel.
Sim, “Hallow Road” é curto e sucinto, capaz de criar verdadeiro terror no espectador, e também abençoado com uma excelente e assustadora mistura de som. Nos papéis centrais, Rosamund Pike (“Gone Girl”) e Matthew Rhys (“The Americans”) são inegáveis. É tenebroso assistir ao seu desespero e ao desenrolar das circunstâncias, que nos confrontam com tudo um pouco: de convidados inesperados a um plot twist chocante.
Até 2/3 deste “Hallow Road” estava genuinamente a desfrutar do filme, isto até o argumento de William Gillies estragar tudo, claro está. Eis que a narrativa se torna cada vez mais obscura, com eventos impossíveis de explicar e uma reviravolta totalmente insana e sem justificação possível: foi tudo na cabeça dos protagonistas, existe feitiçaria como é levemente sugerido, passou-se alguma espécie de alucinação coletiva?
Um argumento frustrante no MOTELX 2025
O filme lança um vasto conjunto de questões, com um final mais do que aberto, mas recusa a dar-nos o mínimo semblante de respostas. Tudo o que resta, claro está, é uma insatisfação visceral, e a certeza de que a escrita desta longa-metragem deixa todo o trabalho de resolver a trama nas mãos de quem vê o filme.
Simultaneamente, os pais da jovem Alice também parecem ser culpados pelos seus crimes, por lhe apararem de forma frequente os golpes, levando, sem intenção, à criação de uma situação insustentável. E por muito que pais galinhas sejam uma epidemia no século XXI, “Hallow Road” leva este conceito um pouco longe de mais, apontando o dedo de forma quase grosseira e, ao fim de contas, não particularmente satisfatória.
A longa-metragem de Babak Anvari culmina assim num projeto falhado, uma promessa excelente, num exercício de realização e representação notável, que ao fim de contas termina sem qualquer capacidade (ou pretensão) de dar resposta à sua premissa inicial. Uma pena!
O MOTELx continua em Lisboa até dia 15 de setembro, segunda-feira, e cá estamos para uma cobertura dos maiores destaques de programação.
Hallow Road - Análise
Conclusão
Rosamund Pike (“Gone Girl”) e Matthew Rhys (“The Americans”) são inegáveis e ferozes neste “Hallow Road”, um thriller com argumento desequilibrado e incapaz de cumprir a promessa que vai construindo ao longo de menos de hora e meia de filme.