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Sasquatch Sunset, a Crítica: Jesse Eisenberg e Riley Keough são Pés-grandes na comédia mais caricata do MOTELX

O MOTELx não se faz apenas de grandes filmes de terror, mas investe numa programação diversificada que compreende tudo o que possamos etiquetar nos reinos do fantástico, ficção científica, sobrenatural e mais além. Que filme o diz melhor que “Sasquatch Sunset”, a insana comédia que conta com Riley Keough e Jesse Eisenberg como protagonistas? 

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MOTELX 2024: Mitos da floresta e como explorar criaturas lendárias 

A intenção do Festival MOTELx, conforme reforçado pelo co-diretor artístico João Monteiro, aquando da nossa conversa sobre a 18.ª edição, é precisamente dar a conhecer o espectro de narrativas que se inserem no âmbito do cinema de género – muito, muito além das histórias de fantasmas e assassinatos sangrentos aqui etiquetadas. 

Um excelente exemplo na edição de 2024 é, sem dúvida, “Sasquatch Sunset”. A comédia de aventura fantástica sem diálogos, realizada por David Zellner e Nathan Zellner, não tem necessariamente a melhor reputação. Pelo menos, não tem a mais coesa ou unânime das opiniões públicas. Para sermos francos, nunca poderia ter…E depois de já ter passado por Sundance e Berlim, onde foi uma obra para lá de discutida, é com satisfação que acolhemos a sua estreia nacional neste belo mês de setembro. 

A nova forma de ver o Pé Grande em Sasquatch Sunset

Sasquatch Sunset no Serviço Quarto MOTELX
Riley Keough como “Fêmea” em “Sasquatch Sunset” (2024) |© Protagonist Pictures

O humor do filme é grosseiro, os seus gestos exagerados, mas eis que a insanidade não deixa de se reger por um caos regulado – e, sem dúvida, uma história clara é aqui apresentada. A história de uma família de “Pés Grandes” mitológicos, que se limita a simplesmente existir no seu meio florestal. Dessa mera existência pura e dura retiramos de tudo um pouco: contemplação, divertimento, choque, um constante sentido de surpresa e, ousamos a dizer, por vezes até calma e deslumbramento.


Em enorme, gigante defesa do distinto “Sasquatch Sunset“, não é fácil conseguir que uma longa-metragem sem diálogos resulte ao longo de 1h30, especialmente uma que parece querer chegar a um público abrangente. Tudo isto é agravado pela tendência do filme para contrapor imagens belas e outras de tremenda brutalidade física e visual com uma oscilação quase alucinante.

Humor sem filtros e animalidade na sua expressão mais pura

Para nós, os (muito, muito) ténues balanços tonais de “Sasquatch Sunset” tornam esta criação verdadeiramente única. Depende da perspectiva. Nunca ousaremos afirmar que é uma obra para todo e qualquer membro do público, antes pelo contrário. Se rimos a bandeiras despregadas, sabemos que não falta quem, aqui e noutros festivais, tenha abandonado a sala antes do fim. 

Mas “Sasquatch Sunset” é a mais invulgar criação a passar pela Sala Manoel de Oliveira no âmbito do Serviço de Quarto, tal é difícil de contestar (só não lhe damos nenhuma “taça” mais superlativa pois “The Substance”, o maravilhoso destaque do MOTELX 2024, também por aqui passou). 

Tudo isto porque em “Sasquatch Sunset” há uma celebração da pura animalidade que nunca se dissocia da humanidade latente nos nossos protagonistas. As figuras míticas interpretadas por Keough, Eisenberg e companhia parecem quase humanas, mas são bem mais livres do que qualquer ser humano poderia alguma vez ser. 

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Assistir ao seu grito de liberdade é uma lufada de ar fresco, isto num filme que nos desarma ainda através de uma inesperada mensagem ecológica e de preservação que torna o enredo muito mais do que uma mera patetice (o que nos chegaria!). 

Nathan Zellner diz-nos, no seu Instagram, que esta é uma longa-metragem sobre uma família de pés-grandes a tentar sobreviver, “muito fiel à forma como estas criaturas são na vida real”. É essa a sensação que temos; que há um pedaço de vida que aqui nos é revelado – a vida secreta de uma espécie em declínio. Na mitologia dos Zellner, os “Bigfoot” existiram mesmo. Esta era a sua bela e caótica experiência!

 

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Se o virmos sem preconceito, “Sasquatch Sunset” revelar-se-á uma surpresa imperdível e uma viagem tão natural e primitiva quanto épica. Vendo apenas o trailer ou lendo a sinopse, a sinfonia de grunhidos poderia fazer esta afirmação passar por irónica. Dizemo-lo da forma mais honesta, valorizando uma insólita e memorável experiência de sala. Quem não fugiu do filme, tende a acreditar que pode vir a ser um culto de clássico. Escolhemos esse lado da barricada…

Nada ouvimos acerca da estreia da obra em Portugal. Quer passe em sala ou siga diretamente para o streaming e/ou VOD, cá estaremos para relatar o seu destino e quiçá para rever esta mítica e invulgar viagem pelas estações, bem no coração da floresta! 

Sasquatch Sunset, a crítica
Sasquatch Sunset Um filme de David Zellner, Nathan Zellner motelx

Movie title: Sasquatch Sunset

Movie description: Nas florestas nubladas da América do Norte, uma família de sasquatches – possivelmente os últimos da sua enigmática espécie – embarca numa viagem absurda, épica, hilariante e, em última análise, comovente ao longo das quatro estações de um ano. Estes gigantes despenteados e nobres lutam pela sobrevivência enquanto se encontram em rota de colisão com um mundo em constante mudança que os rodeia. Os realizadores David e Nathan Zellner regressam ao universo bigfoot depois da curta-metragem de 2011 "Sasquatch Birth Journal 2", agora expandida para um verdadeiro épico bucólico contado do ponto de vista desta família de monstros da floresta, desempenhados, entre outros, por Jesse Eisenberg e Riley Keough. Esta, que é uma das comédias mais bizarras do ano, teve estreia mundial em Sundance e europeia em Berlim.

Date published: 24 de September de 2024

Country: EUA'

Duration: 88'

Author: David Zeller

Director(s): David Zeller, Nathan Zellner

Actor(s): Jesse Eisenberg, Riley Keough, Christophe Zajac-Denek

Genre: Aventura, Fantasia , Comédia

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  • Maggie Silva - 85
85

CONCLUSÃO

“Sasquatch Sunset” tem tudo – muito riso, lágrimas, tensão, notas de ambientalismo e conservação da biodiversidade, para além de um enredo que se suporta numa fisicalidade que raramente vemos devidamente valorizada no cinema do aqui e agora.

Riley Keough , Jesse Eisenberg e companhia estão irreconhecíveis como míticos ‘Pés Grandes’, mas não por isso menos notáveis. Keough (que constou da programação de uma edição recente do MOTELx com “The Lodge”) é forte, estóica e expressiva, mesmo debaixo de um gigantesco fato de Pé Grande. Como poderíamos não nos empolgar?

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