© Disney

Mulan (2020), em análise

Mulan foi um dos filmes que mais sofreu com a pandemia, vendo a sua estreia consequentemente adiada, forçando a Disney a lançá-lo diretamente para a respetiva plataforma de streaming. Mas será que a espera criou uma expetativa demasiado alta para o novo live-action?

Nos últimos anos, a Disney tem estado focada em reimaginar alguns dos seus clássicos, tornando-os ‘carne e osso’. “Mulan” é a mais recente adesão a esse já vasto catálogo. Antes de continuar, tenho que confessar que esta crítica é-me algo pessoal, pois trata-se de uma das minhas animações preferidas da Walt Disney. Pelo que, ao ver esta nova versão, senti falta de muitos elementos presentes no original de 98. Mas vamos por partes…

SUBSCREVE JÁ À DISNEY+

Tanto o live-action, como a animação descrevem a história de Hua Mulan de forma algo diferente da lenda. A mesma é baseada no poema conhecido como “A Balada de Mulan”, onde o pai da guerreira é chamado para a batalha, mas é esta que ocupa o seu lugar. Contudo, não existe referência ao estado de saúde do mesmo, apenas que não existiam filhos para tomar o seu lugar. Após 12 anos de guerra, Mulan e os seus camaradas regressam à cidade natal, chocados por terem descoberto que estavam acompanhados por uma mulher.

mulan
Liu Yifei dá vida a Hua Mulan | © Disney

Ao longo do tempo, alguns aspetos foram enfatizados, até chegarmos a 2020, onde impera o empoderamento feminino. Aliás, o mesmo acaba por figurar dentro e fora do ecrã. Não só a cineasta Niki Caro (“O Jardim da Esperança“) quis celebrar uma reimaginação feminista do conto – eliminando por completo o romance com o Capitão Lee Shang -, como também se tornou uma das quatro mulheres a realizar um live-action com um orçamento superior a 100 milhões de dólares. O filme acabou por ter um custo superior a 200 milhões de dólares. Voltando à questão da elevada dose feminina – e contra mim falo -, é mesmo necessário vincar esta característica em todas as ‘novas’ princesas da Disney? Quer dizer a geração de 90/2000 sobreviveu…

Lê Também:   Disney+ | Catálogo completo de Portugal

Não estou a dizer que o tema não deva ser falado, porque deve. Ainda que “Mulan” seja o primeiro ‘conto de fadas’ com classificação PG-13 (devido a cenas de violência), continuamos a falar de conteúdos maioritariamente destinado a crianças, que ano após ano perdem mais magia, mais capacidade de imaginação. Existem fases da vida para tudo, não é preciso querermos apressá-las ainda mais. Qual é o mal de a heroína se apaixonar? De existir um romance ou um príncipe encantado? Os mais pequenos vão ter tempo para aprender o lugar de ambos conceitos. Sim, as novas gerações estão a desenvolver-se a uma velocidade infinitamente superior às anteriores, mas se não cabe à Disney divulgar conteúdos mágicos e histórias de encantar, então quem o irá fazer? Parece que estamos numa era onde o Peter Pan estaria um tanto ao pouco confuso…

mulan
A cena onde sentimos a falta do memorável “I’ll Make a Man Out of You” | © Disney

Regressando ao live-action propriamente dito, “Mulan” prima por ser o primeiro filme Disney a apresentar um elenco totalmente asiático, com caras conhecidas de origem chinesa e de Hong-Kong. Liu Yifei foi a escolhida para interpretar a icónica guerreira, sendo acompanhada por Jet Li e Tzi Ma, enquanto imperador e pai da heroína, respetivamente. Premiada a Atriz Mais Carismática pela Sociedade Cinematográfica de Hong Kong, Yifei ter-se-á destacado das milhares de outras audições pela sua juventude, boa reputação e carreira musical. Ironicamente, a atriz viu-se envolvida numa polémica em 2019 a propósito do movimento pró-democrático e… o live-action não tem uma única cena musical. O mesmo se pode dizer de carismática… tudo o que Yifei faz é um enorme esforço para manter a suposta devida cara de seriedade ao longo dos 115 min do filme. Ao menos a animação ainda tinha uns quantos sorrisos. Na realidade, nenhum dos membros do elenco merece especial destaque.

Lê Também:   TOP Disney Adaptações Live-Action | Ranking

Paralelamente, e como tenho vindo a referir, o live-action não tem qualquer cena musical. Esta decisão foi tomada de forma consciente, uma vez que pretendeu-se que esta versão fosse mais terra-a-terra. Por conseguinte, a música foi integrada (nos poucos momentos) em formato instrumental. (Isto leva-me novamente a perguntar se não se terão esforçado demasiado para fazer “Mulan” demasiado ‘adulto’). Creio que, independentemente da idade, quem assiste a um filme com o selo da Disney já antecipa um momento de cantoria algures no tempo. E, tendo em conta os enormes sucessos da animação – “Reflection”, “Honor to Us All” ou o divertido “I’ll Make a Man Out of You” -, a ausência foi certamente notada. Aliás, foram muitos os fãs que prontamente mostraram o seu descontentamento aquando a partilha oficial desta notícia no início do ano.

De uma forma geral, “Mulan” esforça-se muito, demasiado, para ser um Disney-não-Disney. Compreendemos a ausência de Mushu e do grilo, mas a de Shang não é assim tão bem justificada, visto que a guerreira acaba por ter outro interesse amoroso no filme. A entrada de Xianniang (Li Gong) para justificar a introdução do conceito do “chi”, uma energia mística que só os homens estão predispostos a possuir, é forçada. Mais valia ser o pequeno dragão a ajudar como na animação. O único elemento que podemos saudar na versão de Niki Caro é mesmo os fantásticos cenários, figurinos e guarda-roupa, a cargo de Grant Major (vencedor de um Óscar pelo seu trabalho em “O Senhor dos Anéis: O Regresso do Rei“) e Bina Daigeler (nomeada ao Emmy por “Mrs. America”), respetivamente.

Mulan, em análise
Poster Disney plus

Movie title: Mulan

Movie description: Uma jovem destemida arrisca tudo por amor à sua família e ao seu país, tornando-se numa das maiores guerreiras que a China já conheceu.

Date published: 10 de December de 2020

Director(s): Niki Caro

Actor(s): Yifei Liu, Donnie Yen, Jet Li, Li Gong, Jason Scott Lee, Yoson An, Utkarsh Ambudkar, Chum Ehelepola

Genre: Ação , Aventura, Drama

  • Inês Serra - 47
  • Marta Kong Nunes - 55
51

CONCLUSÃO:

“Mulan” esforça-se em demasia para ser um Disney-não-Disney. Sem músicas ou Mushu, este live-action quer, a todo o custo, ser para adultos.

Pros

  • Cenários
  • Guarda-roupa

Cons

  • Ausência das icónicas músicas da animação de 98
  • Excesso de foco no ‘empoderamento feminino’
  • Exagera no terra-a-terra que tanto ambicionou
  • Não acrescenta nada à história de Mulan
Sending
User Review
4 (2 votes)
Comments Rating 0 (0 reviews)

Leave a Reply

Sending