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Meu Nome é Gal, a Crítica | A Garota da Bahía da dupla de realizadores Dandara Ferreira e Lô Politi

“Meu Nome é Gal”, realizado pela dupla Dandara Ferreira e Lô Politi é um filme biográfico sobre a cantora Gal Costa, interpretada pela atriz Sophie Charlotte, que mostra o início da carreira de uma das principais vozes de sempre da música brasileira, e faz uma viagem pelo nascimento do movimento Tropicália.

“Meu Nome é Gal” de Dandara Ferreira e Lô Politi é um filme biográfico sobre parte da vida de Gal Costa (1945-2022), uma das maiores cantoras de sempre do Brasil. Interpretada pela atriz franco-brasileira Sophie Charlotte, este filme acompanha a trajetória de Maria da Graça Costa Penna Burgos, a “Gracinha”, antes de se tornar a famosa cantora, que muitos de nós admiramos, ouvimos e conhecemos como Gal Costa. A história, ou o período da narrativa passa-se entre 1966 e 1971, quando a jovem menina com pouco mais de 20 anos, saiu de Salvador e decidiu aventurar-se no vibrante Rio de Janeiro da época.

Meu Nome é Gal
Gal Costa é interpretada por Sophie Charlotte. ©Stella Carvalho

Na Cidade Maravilhosa, Gracinha é acolhida pelos seus amigos baianos Caetano Veloso (Rodrigo Lellis), Gilberto Gil (Dan Ferreira), Maria Bethânia (interpretada pela co-realizadora de “Meu Nome é Gal”, Dandara Ferreira) e pela a atriz Dedé Gadelha (Camila Márdila) — então companheira de Caetano — que a ajudam a dar os primeiros passos na sua carreira no final da década de 1960; e claro num inicio como quase sempre difícil, para todos os artistas sejam de que área forem.

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“Meu Nome é Gal” mostra-nos como a jovem cantora venceu a sua natural timidez, construí a sua carismática imagem, incluindo como surgiu o seu nome artístico de Gal, além da sua relação com a mãe Mariah (Chica Carelli), e termina, com a realização do seu memorável espectáculo Fa-Tal: uma série de concertos que realizou no Teatro Tereza Raquel, no Rio de Janeiro, em 1971, considerado pela crítica como um marco na sua carreira e que deu origem a um histórico álbum duplo gravado ao vivo, intitulado “Fa-Tal – Gal a Todo Vapor”, que se tornou um dos discos mais respeitado da música popular brasileira.

Meu Nome é Gal
Na Cidade Maravilhosa Gracinha é acolhida pelos seus amigos baianos. ©Stella Carvalho

“Meu Nome é Gal”, — título também de um dos seus mais conhecidos temas musicais do álbum “Gal” (1969) — além deste curto percurso de vida da cantora, faz ainda paralelamente uma ligeira crónica sobre o nascimento do movimento musical Tropicália, das suas ações e criações, passando é verdade, um pouco ao lado do ambiente e do contexto político da luta contra a repressão imposta pela ditadura militar brasileira.

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Neste sentido (e em outros também), “Meu Nome é Gal” torna-se talvez num filme um pouco decepcionante: a história é contada de uma forma bastante apressada, que nem nos apercebemos por exemplo da mudança da cantora do Rio de Janeiro para São Paulo; o filme afinal tem apenas 87 minutos de duração e termina de forma repentina, passando de um momento do espetáculo Fa-Tal, com a cantora com pouco mais de 30 anos, para uma sequência real e menos feliz de um dos últimos concertos ao vivo de Gal Costa. É curioso mesmo, que em alguma informação sobre o filme, constasse que “Meu Nome é Gal” tivesse 127 minutos de duração. Pergunta-se pois, onde foram parar os outros 40 minutos? O filme tem ainda alguns pequenos problemas técnicos no que diz respeito a uma exata sincronia das músicas originais, com o movimento labial dos atores.

VÊ TRAILER DE “MEU NOME É GAL”

Apesar das referidas falhas e defeitos, Sophie Charlotte, acima de todos os outros atores — aliás muito bem escolhidos, em termos de semelhanças físicas — defende bem o seu papel de Gal, — umas vezes dobrada nas músicas pela própria Gal, em outras interpretadas por ela mesmo — conseguindo transmitir a timidez, beleza e o talento da cantora baiana, embora nunca conseguindo o impacto do carisma de Gal.

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De facto, poderia ter sido feito um filme muito melhor e mais completo  — não era preciso contar a sua história detalhadamente — sobre o percurso de Gal Costa, que teve uma vida tão rica e tão cheia de episódios de sucesso e de outros também menos felizes, sobretudo no fim da sua vida. Aliás como aconteceu e que presenciei no concerto no Campo Pequeno em Lisboa em Março de 2019, que a cantora teve de abandonar o palco subitamente, logo no inicio do espetáculo, com Gilberto Gil e Nando Reis. Gal Costa merecia para todos os efeitos uma maior e mais carinhosa homenagem cinematográfica. Até mesmo se a compararmos, por exemplo, com  Elis”, uma bastante razoável, obra biográfica, sobre a cantora Elis Regina, realizada por Hugo Prata, estreada em 2016. 

“Meu Nome é Gal”, a crítica | A Garota da Bahía
Meu Nome é Gal

Movie title: Meu Nome é Gal

Movie description: O filme conta a trajetória de Gal Costa, uma menina tímida que desde muito cedo soube que a música guiaria os seus caminhos e o seu destino. Criada sozinha pela mãe Mariah, que foi uma das pessoas que mais a incentivou, aos 20 anos, a então ‘Gracinha’ decide viajar rumo ao Rio de Janeiro para se tornar cantora. Lá, a jovem encontra seus amigos da Bahia: Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gilberto Gil e Dedé Gadelha, que acompanham os primeiros passos de Gal até se tornar uma cantora profissional, no final da década de 1960.

Date published: 4 de March de 2024

Country: Brasil

Duration: 87 min

Director(s): Dandara Ferreira, Lô Politi

Actor(s): Sophie Charlotte, Rodrigo Lellis, Dan Ferreira, Dandara Ferreira, Camila Márdila, Chica Carelli.

Genre: Drama, Biografico, 2023,

  • José Vieira Mendes - 65
65

CONCLUSÃO:

A atriz e realizadora Dandara Ferreira, (com Lô Politi) fascinada com o carisma e a vida de Gal Costa, regressa à grande intérprete da MPB, depois de “O Nome Dela É Gal” (2017), a minissérie que mistura entrevistas com a cantora, músicos de sua geração e imagens de arquivo, creio, que ainda disponível na HBO Max. Esta obra biográfica “Meu Nome é Gal”, com atores e na linha da ficção baseada no real, é um bocadinho decepcionante e pobre, devido ao seu argumento ligeiro, apressado e com uma narrativa bastante convencional, que nem sequer contextualiza muito bem a repressão desse período da ditadura militar e as origens do movimento Tropicália, nem consegue transmitir toda a grandeza de Gal Costa. Porém, é um filme que servirá de certeza para provocar em muitos espectadores, o saudável desejo de conhecer ou regressar à discografia de Gal Costa, uma das maiores artistas brasileiras de sempre, falecida em 2022…e que já não assistiu a este filme.

JVM

Pros

Sophie Charlotte tem uma boa interpretação, conseguindo de certo modo transmitir com competência, a timidez, a beleza e talento, de Gal Costa.

Cons

Em todos os aspectos Gal Costa merecia um filme mais conseguido e melhor à imagem da sua enorme marca na música popular brasileira. 

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