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O Pai Tirano | Entrevista com o elenco

A Magazine.HD embarcou numa viagem aos anos 40 e conseguiu falar com parte do elenco do novo remake de “O Pai Tirano”.

“O Pai Tirano” é considerado um dos melhores filmes do cinema português. Produzido em 1941, por António Lopes Ribeiro, trata-se de uma ode aos costumes do nosso país, sendo o espelho de uma época. O sucesso desta deliciosa sátira levou à produção de um remake que promete fazer jus ao eterno clássico.

O Pai Tirano
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Com estreia agendada para dia 21 de julho em todos os cinemas nacionais, “O Pai Tirano” é um olhar verdadeiro sobre o povo lusitano e a alma lisboeta do século XX.

O Pai Tirano’ é uma comédia que pretende, de forma bem-humorada, pôr a nu o que é ser português –tanto em 1940 como em 2022. Este remake conta a história de uma companhia de teatro, de homens e mulheres apaixonados e de enganos e mal-entendidos. Chico ama Tatão, que é cortejada por Artur. Graça ama Chico mas não sabe que ele ama Tatão. Santana escreve uma peça para os Grandelinhas que servirá de guião à paixão de Chico e convencerá Tatão de que ele é um rico conde. A peça é depois encenada e acabam todos na prisão. Neste Pai Tirano 2022, temos uma nova versão do enredo cheia de humor, previsões futuristas, imagens de Lisboa e Portugal da época e alegre música. “O Pai Tirano” é uma proposta essencial para a recuperação da confiança em nós e no nosso país.”

A propósito da sua estreia, a Magazine.HD recuou até aos anos 40 e entrevistou Carolina Loureiro, Cleia Almeida, Diogo Amaral, Diogo Valsassina, João Craveiro, José Raposo, Mafalda Vilhena, Miguel Raposo e Rita Blanco, os atores que fazem parte do elenco do remake de “O Pai Tirano”. Durante a conversa com os artistas, evidenciou-se a boa disposição reinante nas gravações, bem como as fortes ligações criadas entre os membros do elenco e o excelente trabalho de João Gomes, o realizador.

O Pai Tirano
Photo by Jéssica Rodrigues | © MHD

M.HD: Em primeiro lugar, gostava que apresentassem as vossas personagens neste remake de “O Pai Tirano”. 

Carolina Loureiro: A minha personagem é a Maria da Graça, mas tratam-na por Gracinha, e ela tem aqui uma grande paixão pelo Chico [Miguel Raposo]. Basicamente, é uma ingénua e uma apaixonada muito delicada. Ela atira areia para os olhos dela própria. Ela não quer ver que o Chico não tem interesse nenhum nela, mas lá tenta andar sempre atrás dele até correr mal. Mas há aqui um apoio do outro lado, do Santana [José Raposo], que também tem um carinho muito grande por ela. 

José Raposo: Também há aqui um resquício de paixoneta da parte do Santana. Mas é um amor platónico. Mas no fim, ficamos juntos, por isso só foi platónico no início [risos]. Eu sou o Santana, que era interpretado pelo Vasco Santana no original.  

Miguel Raposo: A minha personagem é o Chico, que trabalha com o Santana no Grandella, que é uma loja de sapatos. E a Gracinha trabalha na parte das luvas. Para além disso, eles têm um teatro onde fazem teatro amador, que são os Grandelinhas. O Santana é também o encenador e é quem escreve tudo dessa pequena companhia de atores. E o Chico é um dos atores, o mais promissor aos olhos do Santana. Mas dentro do Grandel, o Chico só tem olhos para uma grande paixão e muitas vezes falta aos ensaios por causa desse amor. 

M.HD: Como é que se prepara para se fazer uma personagem que já foi interpretada por grandes atores e que já é tão conhecida no cinema? 

José Raposo: Antes de mais, é muito arriscado fazer-se estes remakes, porque foram filmes fabulosos de uma época fabulosa do cinema português. Contudo, estes clássicos sempre foram vistos de uma forma muito preconceituosa pelos meios intelectuais e pelo meio artístico. Porque se acha que aquilo era muito fácil, porque era Teatro de Revista, e é mentira. O que aqueles senhores faziam nem nós que o fizemos agora conseguimos fazer tão bem. Porque foi um núcleo de atores de Revista à Portuguesa, que é uma coisa da qual se diz também muito mal. Mas que tinham, de facto, essa bagagem e capacidade de improviso, do trocadilho e do calembur, que eram coisas normais, porque tem muito a ver com o português e com a época. Acho que este remake foi um risco apostado, não só pelo elenco, não só pelo respeitar o original da maior parte do argumento, como também pela realização do João Gomes. De facto, fez-se um trabalho giríssimo e que não envergonha nada o original, porque está a relembrar esses tempos. 

Carolina Loureiro: Eu nunca tinha visto o filme, por isso comecei por ver o filme e por ver como é que tudo aconteceu. E depois, foi muito com a ajuda de quem estava à minha volta. Eu nunca tinha feito cinema, foi o meu primeiro filme, e foi uma grande responsabilidade. Eu acho que para mim, a melhor preparação foi ter grandes atores à minha volta.  

Miguel Raposo: Ajuda-nos imenso termos temos tido um elenco forte à nossa volta para nos irmos apoiando e policiando na produção. A mim ajudou-me também muito ver o filme. Eu já o vi muitas vezes porque o meu pai gosta muito do filme [risos]. Mas ver este e outros filmes da mesma altura, deixa um pouco na memória os trejeitos de um ator. Isso terá certamente ajudado na preparação deste tipo de personagem. Despois o resto tem muito a ver com os momentos que se tem com os atores colegas, com o realizador e a direção de atores. O João Gomes e a Rita Tristão foram maravilhosos e confiaram muito em nós. Era sempre muito divertido fazer as cenas. Tínhamos sempre muito espaço para sentir que nós tínhamos espaço para criar e para entregar coisas nossas. 

M.HD: O Miguel estava aqui a falar do forte elenco que este filme tem e do quão divertido foi fazer estas cenas. Que memórias é que ficam destas gravações? 

José Raposo: Muito boas, pelo facto de termos tido este espírito que o Miguel falou, porque brincámos muito. E para mim ser ator é brincar, no bom sentido. Isto é super trabalhoso, são horas e horas a repetir, a fazer, a pesquisar, etc., mas dentro de um grande jogo. Há aqui uma coisa muito importante, que é o João Gomes. O João foi um realizador fantástico e muito aberto, porque sabe dirigir atores, sabe perceber a característica de cada um. E dava-nos uma liberdade incrível nas cenas para podermos brincar. 

M.HD [para Miguel Raposo]: Se me permitem a ousadia, “O Pai Tirano” foi o início de uma grande carreira de sucesso do Francisco Ribeiro. Estamos perante um novo Ribeirinho? 

Miguel Raposo: Eu acho que não [risos]. Ou seja, é óbvio que gostava muito de poder achar que, tal como o Ribeirinho, que depois teve imenso sucesso e muito trabalho… Ou seja, ele já era um homem do teatro, acima de tudo, e talvez nesse aspeto possa pensar que gostava de seguir as pisadas dele, no sentido em que eu espero continuar a trabalhar muito em cinema e na televisão também. Mas nunca quero perder o contacto com o teatro. O John Malkovich costuma dizer que pelo menos uma ou duas vezes por ano tem que fazer teatro, porque senão deixa de ser ator. Não acho que seja assim tão taxativa, mas gosto muito. Mas daí a ser um Ribeirinho, não sei… 

O Pai Tirano
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M.HD: Em primeiro lugar, eu gostava que vocês apresentassem as vossas personagens. 

Cleia Almeida: Eu sou a Laura, sou a empregada da pensão. Trabalho para ter casa e para ter comida, e roupa lavada ali na pensão. Portanto, sou como se fosse daquelas raparigas que vinham do Norte do país e que uma ‘Senhora de Lisboa’ recebia em casa para limpar e fazer tudo o que havia para fazer. E acaba por ser o fantasma do Hamlet [risos]. Ou seja, eu acabo por ouvir atrás das portas e acaba por ser a ‘shiba’ que não devia fazer o que faz porque depois acaba por desencadear o resto do filme. 

Diogo Amaral: Eu sou o Artur, um senhor muito rico, snobe e muito convencido. Por ser rico, eu consigo as coisas todas que quero, o que acaba por me tornar um bocadinho arrogante. O meu objetivo é conquistar a Tatão [Jessica Athayde], mesmo que seja preciso enfrentar o fantasma do Hamlet [risos]. 

M.HD: Como é que se prepara para fazer uma personagem que já é tão conhecida no cinema e que foi interpretada por outros atores, em 1942? 

Diogo Amaral: Primeiro passo, não ver o trabalho que o outro senhor fez. Eu acho que o interessante é fazer isso, pegar naquilo como se nunca tivesse sido feito. Pensei em ver o filme antes, mas decidi não o fazer para não ficar com aquela referência. A Cleia foi ver o filme, porque ela tinha uma vontade muito grande de fazer igual à Laura Alves [risos]. 

M.HD [para Cleia Almeida]: E sentiste uma grande responsabilidade depois de teres visto o filme? 

Cleia Almeida: Sim, principalmente porque eu sabia quem era a Laura Alves, mas não me lembrava que ela tinha feito de Laura em “O Pai Tirano”. Mas eu faço todos os trabalhos de forma igual, tento fazer o melhor que sei e que posso.

M.HD: E que momentos memoráveis é que ficam das gravações deste filme? 

Diogo Amaral: Nós gravámos muito à noite, tivemos muitas madrugadas. E eu sou uma pessoa que gosta de acordar cedo e deitar cedo. E houve uma cena memorável, aquela da saída do teatro, que na verdade foi a última cena do filme que nós repetimos umas nove mil vezes com mil planos diferentes que nunca mais acabava. 

Claeia Almeida: O Igor estava a tirar fotografias ao elenco e às gravações e não sei quê, e ele tem uma fotografia minha sentada numas escadas, mas linda a fotografia porque eu estava toda maquiada e penteada e não me podia encostar a ninguém nem a nada. E eu adormeci sentada. Como é que alguém está a trabalhar e consegue adormecer sentado sem mexer para não estragar [risos]!? Mas foi sempre muito divertido! 

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O Pai Tirano
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M.HD: Gostaria, então, que apresentassem as vossas personagens.

João Craveiro: A minha personagem é o Machado, que é contrarregra do Grupo de Teatro, e é uma pessoa um bocado lenta de raciocínio e gosta muito da pinga [risos]. Faço dupla com a Rita [Blanco], que faz a Teresinha. Basicamente, são duas pessoas que gostam muito de álcool. E são muito engraçados.

Rita Blanco: Eu faço de Teresinha, que é a empregada lá da casa onde vão tentar fazer um espetáculo de teatro. E ela gosta muito de beber e acaba por encontrar essa paixão em comum com o Machado.

M.HD: Como é que foi feito o processo de criação destas personagens que já haviam sido interpretadas por outros atores?

Rita Blanco: No meu caso, tentei ao máximo fugir do original. Além do mais, porque a atriz que fez de Teresinha [Teresa Gomes] era muito mai velha do que eu, logo os movimentos eram mais limitados e mesmo a forma de falar era diferente. Por isso eu tentei sempre ser eu própria sem fazer nenhuma imitação.

João Craveiro: Comigo aconteceu o contrário! Eu comecei por querer fugir ao original, mas depois pensei ‘porque não fazer como se fazia na época?’. Tentei falar como as pessoas dos anos 40, que era de uma forma mais pausade e quase cantada. E também observei muito os gestos do primeiro filme.

M.HD: Como é que foi trabalhar com o João Gomes [o realizador]?

Rita Blanco: Eu nunca tinha trabalhado com o João Gomes, aliás, o João nunca tinha feito nenhuma longa-metragem, mas foi uma experiência muito boa e divertida. Temos que destacar o trabalho feito pelo João, porque ele deu muita liberdade aos atores e ouviu todas as ideias que o elenco trazia. Ele é uma pessoa muito criativa e com quem se torna fácil trabalhar.

O Pai Tirano
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M.HD: Para começar, eu gostava que apresentassem as vossas personagens. 

Diogo Valsassina: A minha personagem é o Pinto, o ponto do teatro do Grupo de Teatro Os Grandelinhas, que também trabalha nos Armazéns do Grandella, com o senhor Santana [José Raposo]. 

Mafalda Vilhena: Eu sou a dona Cândida. Trabalho na parte da caixa dos Armazéns do Grandella, na parte da secção das sapatilhas. É a minha especialidade. E estou associada ao teatro também, sendo um dos braços direitos, juntamente com o Pinto, do Mestre Vasco Santana. Sou viúva, mas tenho uma vida bastante ativa. 

M.HD: Como é que se prepara para se fazer uma personagem de um filme que é um remake? 

Diogo Valsassina: É assim, eu acho que a melhor forma de se preparar é nunca tentar imitar, porque nem sequer faz sentido. E no meu caso específico, a preparação tinha muito a ver com privação do sono [risos]. Porque a minha personagem tem sempre muito sono e adormece em todo o lado. Portanto, eu fiz um trabalho extensivo em não dormir, para quando chegasse ao meu trabalho dormir, o que é um contrassenso que é até muito interessante. 

Mafalda Vilhena: Já a dona Cândida, foi ao contrário, porque eu tinha páginas A4 [risos]. As Mulheres ativas têm este problema, falam muito. O que eu notei mais foi na roupa. Era um compromisso dos anos 40 com 2022, porque as vestes eram dos anos 40 e então nós tínhamos um comportamento físico com as saias, com as comunicações, com toda a roupa. Mesmo as camisas eram mais espartilhadas. Tudo mudava o comportamento, portanto, tudo ajudou a não imitarmos.  

M.HD: “O Pai Tirano” é um remake de um filme dos anos 40. Qual a importância de trazer aos dias de hoje um filme antigo, mas que, ao fim ao cabo, é considerado uma das melhores obras do cinema português? 

Diogo Valsassina: Eu acho que é muito importante nós olharmos para todos os aspetos da história no geral e neste caso mais específico do cinema em Portugal. É muito interessante olhar-se para um filme como “O Pai Tirano” e ver-se o cuidado que existia na altura e a dedicação que existia quando se fazia cinema. Uma coisa muito interessante deste filme é nós fazemos o filme no ano em que ele foi feito, ou seja, em 1940, ou seja, não é uma versão moderna daquilo que é “O Pai Tirano”. Acho que isso dá uma graça e um toque ao filme muito interessante e diferente porque muitas vezes, quando se fazem remakes, e não estou a falar só em Portugal, muitas vezes tenta-se trazer para os tempos modernos e acho que é muito interessante neste caso, manter os anos 40 e é torná-lo moderno sem o filme ser moderno.  

Mafalda Vilhena: Eu acho que isso é mesmo a grande mais-valia gosto deste projeto. Os atores são atuais, mas o resto fica nos anos 40. Eu acho que isso é mágico e espero que o público fique também agradado com isso. 

M.HD: E que memórias é que é ficam destas gravações? 

Diogo Valsassina: Risos, disparates, noites a entrar às duas da manhã para filmar… Tive passeios de mota de minha casa até ao décor muito interessantes em que tinha o Marquês de Pombal só pra mim. Aliás, quando nós estávamos a filmar ainda havia as restrições da COVID-19 e tínhamos que ter uma declaração de circulação. Mas há muitas memórias boas e interessantes e, principalmente de rir, porque se há coisa que nós temos o privilégio de ter é nós efetivamente divertirmo-nos muito com o nosso trabalho. E quando temos um grupo de atores assim, é impossível não nos divertirmos. 

Mafalda Vilhena: E nós fazemos aquilo que gostamos. E como fazemos sempre aquilo que gostamos, imprimimos felicidade. A verdade é que nós somos tão felizes e como estamos a ser tão criativos e é galopante, porque um puxa pelo outro, então, estamos a criar. Só assim é que nós conseguimos fazer este filme, porque 70% a 80% por cento do filme foi gravado de noite, portanto, era estranho. Houve muitas situações hilariantes, porque nós tomávamos o pequeno-almoço aqui na Pastelaria Versalhes e depois íamos almoçar às 11:30 da manhã. Só que, como as vestes eram difíceis de tirar, parecíamos um bando de mascarados, cheios de olheiras. Há aqui um quiosquezinho e eu lembro-me de ir buscar umas pastilhas ainda com metade do cabelo de época, porque eu tinha umas perucas. Portanto, até nisso nós podemos ser diferentes. 

TRAILER | O PAI TIRANO CHEGA AOS CINEMAS A 21 DE JULHO DE 2022

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