"Bohemian Rhapsody" | © Big Picture Films

Os 10 piores vencedores do Óscar para Melhor Ator

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De Emil Jannings a Rami Malek, de 1928 a 2019, explorámos todos os vencedores do Óscar para Melhor Ator em busca daqueles que menos mereceram esse glorioso troféu.

Tal como já tínhamos com a lista das 10 piores vencedoras do Óscar para Melhor Atriz, baseámos as nossas escolhas em dois grandes critérios. Primeiro, temos a qualidade da prestação dos atores. Não o papel, mas sim o modo como cada intérprete concretizou esse papel em cena. Em segundo, temos de considerar a competição. Uma performance vencedora pode ser meramente medíocre, mas, se os outros nomeados forem exemplares, um vencedor menos bom torna-se facilmente num vencedor desastroso.

Mesmo com isso em consideração, é difícil escolher. Afinal, ao todo 93 filmes ganharam este galardão. Por isso mesmo, gostaríamos de fazer três menções desonrosas a atores que não mereciam ganhar, mas cujas fragilidades são mais culpa do texto e da direção do que das suas proezas enquanto atores. Um deles é Dustin Hoffman que, em “Rain Man” deu vida a alguns dos mais perniciosos clichés e estereótipos sobre pessoas autistas. Trata-se de uma prestação com mais-valias técnicas, mas é unidimensional e não representa o comportamento da personagem com qualquer tipo de variação. Isto devém muito do argumento, pelo que não marca presença efetiva na lista.

De modo semelhante, Tom Hanks passa quase toda a duração de “Forrest Gump” a fazer um excelente trabalho de mimese do miúdo que interpreta a versão infantil da personagem titular. É um estonteante feito técnico de reprodução de cadências vocais e postura, mas é pouco mais que isso. O argumento certamente recusa-se a ir além do superficial em termos de caracterização e o realizador não ajuda. Rami Malek também é prejudicado por má direção, um argumento sem arco narrativo, uso excessivo de lip sync e uma péssima dentadura. Nada disso, contudo, é culpa dele, que, na verdade, traz algum necessário carisma e dramatismo camp às cenas iniciais como Freddie Mercury. Está longe de ser um bom vencedor, mas nem ele nem “Bohemian Rhapsody” têm lugar entre os piores dos piores.

Como podem ver, pelas nossas referências a Dustin Hoffman, Tom Hanks e Rami Malek, esta não é uma lista de maus atores. Até os mais brilhantes artistas vacilam de vez em quando. É triste é quando esses trabalhos menores são indevidamente celebrados e imortalizados por uma estatueta doirada. Enfim, sem mais demoras, aqui fica a nossa lista dos 10 piores vencedores do Óscar para Melhor Ator, a começar com…

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10. Gary Cooper em SARGENTO YORK

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© Warner Bros.
  • Ano da cerimónia: 1942
  • Papel: Sargento Alvin York, um camponês empobrecido com fortes crenças religiosas que acaba por se tornar num dos soldados americanos mais condecorados da 1ª Guerra Mundial.
  • Quem devia ter ganho: Orson Welles em “O Mundo a Seus Pés”.

Para começarmos esta lista, temos uma escolha um tanto ou quanto contraintuitiva. De certo modo, a personagem do Sargento Alvin York é perfeita para Gary Cooper, especialmente no que se refere a esta particular fase na carreira do ator. Há aqui uma abundância de sinceridade, inexistência de interioridade psicológica, um certo ar de respeitabilidade americana de mãos dadas com a humildade de um homem comum. Tudo isso tipifica Gary Cooper enquanto estrela de cinema dos anos 40 e tudo isso está aqui sintetizado e exagerado até ao extremo.

Afinal, não haverá estrela mais apropriada como esta para o filme que temos perante nós. “Sargento York” é putativamente um docudrama biográfico passado na 1ª Guerra Mundial, mas, na verdade, trata-se de um hino jingoísta a tentar apelar a uma nação teimosamente decidida a manter-se fora de um novo conflito mundial. Muitos são os historiadores que até definem “Sargento York” como o primeiro filme propagandista que Hollywood fez para a 2ª Guerra Mundial, apesar de ter sido filmado antes do ataque a Pearl Harbor. Nesse aspeto, trata-se de um dos filmes mais historicamente importantes de 1941.

A importância histórica, contudo, não se traduz em qualidade. Do mesmo modo, não importa quando York parece ser a personagem prototípica de Gary Cooper, pois isso não faz desta uma performance cativante. Existe sempre um módico de competência no trabalho do ator, mas talvez pelo modo como o papel parece ecoar tantas outras personagens dele, Gary Cooper parece interpretar o texto de modo mecânico, automatizado e sem energia. Sem contar com as suas tentativas de “vender” a ideia de um jovem ingénuo ou a natureza mais forçada de alguns discursos portentosos, Cooper raramente demonstra fragilidades técnicas, mas a soma total de todo o seu trabalho em “Sargento York” é uma bomba de aborrecimento mortal, uma injeção de soporíferos para gado diretamente nas veias, o trabalho de um ator que mais parece um zombie pachorrento que um soldado heroico.




9. George Arliss em DISRAELI

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© Warner Bros.
  • Ano da cerimónia: 1930
  • Papel: Benjamin Disraeli, um aristocrata britânico e político conservador que, no século XIX, foi por duas vezes eleito Primeiro-Ministro.
  • Quem devia ter ganho: Ronald Colman em “Bulldog Drummond”.

Com o advento do cinema sonoro, Hollywood foi virada de pernas para o ar. Muitos atores que outrora eram estrelas lucrativas, revelaram ser incapazes de trabalhar num novo registo. Em pânico, os estúdios foram buscar talento aos palcos. Além disso, numa época em que o cinema ainda lutava para se afirmar como Arte, a presença de grandes nomes do Teatro servia para dar instantâneo prestígio aos filmes e seus estúdios. Foi assim que o expatriado britânico George Arliss conseguiu tornar-se uma improvável estrela de cinema e ganhou um Óscar.

Este intérprete maniento cujo estilo de atuação parece ter origem em tradição vitoriana, era bem respeitado e até já tinha sido contratado, ao longo da década de 20, para reinterpretar alguns dos seus papéis mais famosos em frente às câmaras. O fim dos mudos deu-lhe mais oportunidades em Hollywood, aumentou a procura dos estúdios e até levou a remakes dos seus sucessos antigos. Assim foi o que aconteceu com “Disraeli”, uma adaptação de uma peça biográfica que já em 1928 havia chegado às salas de cinema. Aí, Arliss deu vida a um Primeiro-Ministro oitocentista, um conservador reptiliano que ajudou a consolidar o domínio britânico sobre o Canal do Suez.

Na narrativa aborrecida deste soporífero docudrama, Disraeli é-nos apresentado como um manipulador magistral, um feiticeiro da política que se resguarda em dignidade aristocrática e consegue sempre o que quer. Arliss dramatiza esta interpretação da figura histórica com uma série de escolhas grotescas, a começar com a sua bizarra fisicalidade. Ele parece encolher os ombros e esticar o pescoço quando fala, como uma tartaruga enferma. Suas mãos são como aranhas esqueléticas e a voz que lhe sai da garganta tensa é quase uma paródia de snobismo britânico. Ou seja, ao invés de termos um mestre político, temos uma caricatura que nunca conseguiria manipular ninguém, tal é o exagero com que ele declara cada gesto, cada movimento ou sibilante fala. Esta foi a primeira vez que um ator ganhou um Óscar por interpretar uma pessoa real, o que é quase irónico quando consideramos quão desumano e irreal Arliss parece no papel.




8. John Wayne em A VELHA RAPOSA

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© Paramount Pictures
  • Ano da cerimónia: 1970
  • Papel: Reuben “Rooster” Cogburn, um ex-militar caído em desgraça que é contratado por uma jovem a tentar apreender os homens que lhe mataram o pai.
  • Quem devia ter ganho: Jon Voight em “O Cowboy da Meia-Noite”.

Alguns atores ganham Óscares por performances fenomenais, realmente merecedoras de um troféu doirado que as imortalize para sempre na História do cinema. Outros, ganham Óscares porque ainda estão vivos e, de forma coletiva, a indústria cinematográfica americana reconhece que já chegou a altura deles. Assim foi com muitos, incluindo John Wayne que, em 1970, ganhou o Óscar para Melhor Ator pelo que é um dos seus papéis mais fracos. O próprio Wayne viria a gozar com a vitória, afirmando que “A Velha Raposa” se tinha tratado de um dos seus trabalhos mais fáceis e menos desafiantes.

Mas, enfim, no final da década de 60 e alvorada de 1970, John Wayne celebrava 40 anos de carreira em Hollywood. A sua cara era sinónimo de uma fação conservadora e respeitável do mundo do cinema e a sua presença de estrela era sinónimo de western. Diríamos mesmo que talvez nenhum ator alguma vez tenha tão bem personificado um género cinematográfico do que Wayne. Faz sentido, portanto, que o filme que lhe valeu a honra do Óscar fosse um western, um modesto exercício em nostalgia para fãs dos filmes antigos de John Wayne do que como uma grande produção por mérito próprio.

Tudo isto contribuiu para a vitória do ator. O que não contribuiu nada foi a sua prestação aborrecida e monótona, sem modulação e, ao mesmo tempo, recheada de trejeitos desnecessários. Basicamente, “A Velha Raposa” mostra-nos John Wayne em piloto automático, sendo que até o seu carisma e presença de estrela parecem reduzidos, postos em standby, quiçá à espera de um projeto realmente merecedor de tais maravilhas. A única escolha do ator que merece atenção é o modo como ele escolheu cuspir o diálogo com uma voz exageradamente áspera e com o maxilar esticado, uma caricatura de rabugice que esperaríamos ver numa sessão de teatro amador e não num filme galardoado com um Óscar. É uma escolha que merece atenção por ser tão má.




7. Charlton Heston em BEN-HUR

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© Metro-Goldwyn-Mayer (MGM)
  • Ano da cerimónia: 1960
  • Papel: Judah Ben-Hur, um príncipe judeu de Jerusalém que é falsamente acusado de um crime e condenado à escravidão no Império Romano. É mais tarde adotado por um nobre romano e planeia vingar-se, enquanto, pelo meio da sua aventura, vai testemunhando a vida de Cristo à distância.
  • Quem devia ter ganho: Jack Lemmon em “Quanto Mais Quente Melhor”.

Há atores que ganham por mérito. Há atores que ganham por longevidade. Há também atores que ganham o Óscar porque têm a sorte de entrar num filme pelo qual a Academia se apaixona. Charlton Heston é o perfeito exemplo desse fenómeno, sendo que o filme que lhe valeu o prémio mais cobiçado de Hollywood conquistou 10 estatuetas adicionais e é um dos três detentores do record de mais Óscares ganhos por uma só produção. “Ben-Hur” foi o campeão absoluto dos Óscares de 1960 e Heston lá foi na onda de prémios.

Até o ator chegou a expressar surpresa com a sua nomeação, aquando da divulgação destas. Afinal, ninguém em Hollywood considerava que Heston fosse um ator na mesma liga que James Stewart, Paul Muni ou Jack Lemmon, mas aqui estava ele em competição direta com eles. Vendo os cinco filmes nomeados para Melhor Ator nesse ano, há que dizer que o contraste entre Heston e seus adversários é imensa. Não querendo ser cruéis, Heston é um ator de poses nobres e emoções gritadas, bom para papéis de ação que requerem muita intensidade e pouca nuance.

Infelizmente, o papel de Judah Ben-Hur, apesar de se inserir num épico bíblico, é bem mais complicado do que Heston conseguia sustentar. A certa altura, os argumentistas chegaram mesmo a esconder o subtexto de cenas ao ator, com medo da sua reação. Enfim, dentro do próprio filme, há uma enorme diferença entre Heston e o elenco secundário. O protagonista está sempre em esforço e nunca “vende” a ideia de um passado histórico e o pior é quando o realizador William Wyler tenta usar a face do ator como âncora para algum momento emocional e se depara com uma estátua inexpressiva. No máximo, Heston sabe franzir a sobrancelha e revirar os cantos da boca para mostrar dor, angústia, raiva, cansaço, tristeza e redenção religiosa. Pedir-lhe mais que isso é uma perda de tempo.




6. Warner Baxter em IN OLD ARIZONA

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© Fox Film Corporation
  • Ano da cerimónia: 1929
  • Papel: The Cisco Kid, um bandido mexicano de origem portuguesa que se acaba por tornar num heroico caballero e, pelo caminho, encontra o amor.
  • Quem devia ter ganho: Paul Muni em “The Valiant”.

Atores caucasianos americanos a interpretar papéis étnicos com sotaques absurdos e caracterizações caricatas são um dos piores aspetos da Velha Hollywood. Não só esta é uma prática que transborda de racismo e xenofobia como é um veneno que mata qualquer drama, tornando-o automaticamente num espetáculo de aberrações. Dizemos isto pois subtileza é uma ideia que nunca parece ter passado pela cabeça destes atores e cineastas, resultando em paródias desajeitadas a surgirem nos mais variados géneros, até tragédias melodramáticas.

Foi precisamente uma prestação deste género que valeu a Warner Baxter o segundo Óscar para Melhor Ator alguma vez dado. Em “In Old Arizona”, ele interpreta um bandido mexicano nascido em Portugal e fá-lo com um sotaque insano que nada tem de português. Baxter rende-se a uma pronúncia estereotipicamente mexicana, mas, pelo meio, parece ter umas pontadas de italiano, de grego e sabe-se lá mais o quê. Além disso, ele passa todo o filme num fato que parece ter saído de uma banda maricahi e coberto com maquilhagem para lhe escurecer a pele e o cabelo. Ele parece um palhaço racista.

Questões de correção política à parte, Baxter é uma figura que só consegue mesmo suscitar risos desconfortáveis quando aparece em cena, mas “In Old Arizona” é, supostamente, um drama de ação com traços românticos, o primeiro western sonoro filmado fora de estúdio com uma história de amor a dar uma variação picante a um modelo clássico. Risadas desconfortáveis não é o que se quer para esta história, mas é o que Baxter tem para oferecer. Pior ainda é a sua tendência a exagerar todos os seus gestos e expressões, telegrafando tudo como se estivesse numa pantomima para audiências infantis. O ator sempre se saiu melhor com personagens mais patrícias, vestidas com smokings ao invés de esporas e diálogos sofisticados em lugar de tiroteios. Em “In Old Arizona” ele parece perdido e só piora um filme que, já por si, é um desastre do princípio ao fim.




5. Bing Crosby em O BOM PASTOR

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© Paramount Pictures
  • Ano da cerimónia: 1945
  • Papel: Chuck O’Malley, um jovem padre que chega a Nova-Iorque para ocupar o lugar de um outro padre, já envelhecido, e acaba por transformar a paróquia e a vida da congregação com a sua atitude bonacheirona e ideias “modernas”.
  • Quem devia ter ganho: Charles Boyer em “Meia-Luz”.

A corrida para o Óscar de Melhor Ator de 1944 representa um momento histórico para a Academia de Hollywood. Pela primeira e única vez, um ator foi nomeado nas categorias para Melhor Ator Principal e Melhor Ator Secundário pela mesma performance. Até aí, as regras não previam que o corpo votante se pudesse dividir acerca da categoria a que um intérprete pertencia e, mesmo assim, dar-lhe suficientes votos em ambas as hipóteses para que este conquistasse múltiplas indicações para os prémios. Depois deste ano, as regras foram mudadas, é claro.

O ator em questão foi Barry Fitzgerald que acabou por ganhar o prémio para Melhor Ator Secundário enquanto o seu colega, Bing Crosby, ganhou o galardão para Melhor Ator pelo mesmo filme, “O Bom Pastor”. Verdade seja dita, só um dos atores de “O Bom Pastor” é que merecia oiro e tratou-se daquele que conseguiu matar dois coelhos com uma cajadada só. Dizemos isto pois, apesar de Bing Crosby não ser necessariamente mau, ele é pior que mau, pois é aborrecido.

O cantor tornado ator tem carisma, mas tende a escondê-lo por detrás de uma afabilidade forçada e com tonalidades soporíferas. Não há interioridade nas suas personagens mais leves, só sorrisos vácuos e um olhar vazio. Em filmes mais dramáticos e papéis com mais substância, Crosby viria a revelar os seus talentos, mas “O Bom Pastor” não podia ser mais simples ou desinteressado em explorar os lados negros da psique humana. Sem motivação para fazer mais que o mínimo, Bing Crosby capitalizou na sua popularidade enquanto estrela pop e ganhou um Óscar que não merecia e nem parecia querer. Afinal, só à última da hora é que o ator decidiu ir à cerimónia, pois o estúdio obrigou-o e, mesmo assim, ele nem se penteou para a ocasião como nos documentam os jornais da época nas suas coberturas da passadeira vermelha.




4. Roberto Benigni em A VIDA É BELA

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© Melampo Cinematografica
  • Ano da cerimónia: 1999
  • Papel: Guido Orefice, um italiano judeu que, durante a 2ª Guerra Mundial, é encarcerado num campo de extermínio Nazi juntamente com o seu filho. Para esconder o horror à criança, o pai finge que tudo o que se está a passar faz parte de uma divertida brincadeira.
  • Quem devia ter ganho: Ian McKellen em “Deuses e Monstros”.

Comédia é algo extremamente subjetivo. O que uma pessoa considera hilariante é o que outra considera insuportável e aborrecido. O que queremos com isto dizer é que, apesar de, para nós, Roberto Benigni ser uma super nova de irritação sem estribeiras em “A Vida é Bela”, muitos serão aqueles que irão discordar e encontrar na sua comédia uma infinita fonte de prazeres e gargalhadas. É claro que há também umas quantas pessoas que, além de não considerarem Benigni divertido, consideram todo o projeto ofensivo e insensível. Veja-se, por exemplo, o que o lendário Mel Brooks teve a dizer sobre o filme.

Enfim, questões de subjetividade cómica e da ética de fazer uma comédia sobre campos de extermínio Nazis aparte, a prestação de Roberto Benigni é um invariável desastre. Na primeira metade do filme, onde esta comédia do Holocausto assume a forma de um romance clássico, há algum interesse em ver o modo como Benigni tenta fazer referência à fisicalidade de comediantes do cinema mudo. Contudo, essas referências são feitas sem contenção e nem são particularmente bem integradas com o estilo de atuação dos outros atores. Não há coerência.

Pior ainda é quando o filme salta para o Holocausto e para o horror dos campos Nazis. Aí sim, Benigni esbarra com um problema que não consegue ofuscar com charme. É que o papel de Guido Orefice, não obstante quão mal ou bem escrito possa ser, requer um ator que seja capaz de mostrar, ao mesmo tempo, as brincadeiras de um pai a tentar salvaguardar a inocência do filho e o pânico de um judeu capturado por forças Nazis. Benigni é incapaz de mostrar a dualidade no comportamento de Guido e simplesmente aborda a personagem como um comediante cuja interioridade está completamente escondida por um sorriso apalhaçado. Se há problemas no guião, Benigni só os exacerba com as suas escolhas de ator, sua incapacidade para modular os seus registos e incompetência no que diz respeito a adaptar o seu humor a uma personagem específica.




3. Al Pacino em PERFUME DE MULHER

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© Universal Pictures
  • Ano da cerimónia: 1993
  • Papel: Tenente Coronel Frank Slade, um oficial reformado, cego e muito abrasivo que contrata um jovem assistente e ensina-o a viver.
  • Quem devia ter ganho: Denzel Washington em “Malcolm X”.

Muitos atores não ganham os Óscares pelos seus melhores filmes. Isso é algo que todos sabem, mas raramente foi mais verdade que, em 1993, quando Al Pacino ganhou o galardão por aquela que é uma das suas piores façanhas em frente à câmara. Afinal, Pacino não ganhou o Óscar por “O Padrinho” ou sua sequela, por “Serpico” ou por “Dia de Cão”. Apesar de todas essas performances geniais, o filme que valeu a este ator o Óscar foi “Perfume de Mulher”, um reles remake made in Hollywood de um sucesso italiano.

Aqui, Pacino interpreta o papel clássico de um mentor que aparece na vida de um jovem a entrar na idade adulta e o inspira, o salva e lhe mostra outro lado da vida. É um cliché em forma de pessoa, um mecanismo narrativo que, mesmo assim, possui uma série de especificidades que o tornam num papel difícil. Em termos técnicos, o facto de que Frank Slade é invisual propõe algumas dificuldades a Pacino. Este, pela sua parte, simplesmente arregala os olhos e nunca foca o seu olhar na direção de quem fala a não ser quando é para pontuar alguma fala de modo dramático. Trata-se de uma abordagem medíocre e pouco convincente, mas não é uma catástrofe.

O mesmo não se pode dizer da abordagem de Pacino em relação à personalidade forçosa e dramática da personagem. Por outras palavras, Al Pacino parece ter decidido que a melhor maneira de interpretar Frank Slade era passar o filme aos gritos, desde uivos guturais até longos monólogos cuspidos como se o ator estivesse sempre a falar para uma multidão num comício político. Felizmente para ele, os Óscares adoram uma boa dose de gritaria, mesmo que ela chegue a níveis absurdos, como é o caso. Aqui pela MHD, contudo, preferimos caracterizações que façam mais do que nos magoar os ouvidos e realmente nos oferecem um retrato de um ser humano ao invés da imitação de uma vuvuzela.




2. Spencer Tracy em LOBOS DO MAR

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© Metro-Goldwyn-Mayer (MGM)
  • Ano da cerimónia: 1938
  • Papel: Manuel, um pescador açoriano que se torna no mentor e melhor amigo de um rapaz mimado que fugiu de casa e foi resgatado no mar.
  • Quem devia ter ganho: Fredric March em “Nasceu Uma Estrela”.

É insólito, mas aqui temos mais uma horrenda tentativa de um ator americano reproduzir um sotaque português. Já falámos de Warner Baxter em “In Old Arizona” e agora chegou altura de nos referirmos a Spencer Tracy em “Lobos do Mar”, que lhe valeu o primeiro de dois Óscares consecutivos. Neste caso, não temos um bandido mexicano nascido em terras lusitanas, mas sim um pescador açoriano que, quando tenta falar português, se parece expressar numa série de sons animalescos bem longe de qualquer língua humana, especialmente o português.

Tracy bem tenta produzir algo que pareça o sotaque de um açoriano a falar inglês atrapalhadamente, mas, como era costume em Hollywood, o resultado parece ser uma amálgama de sotaques estereotipados tipicamente encontrados em comédias étnicas de meia tigela. Em resumo, vocalmente, esta é uma das piores performances alguma vez nomeadas para o Óscar. Infelizmente para Tracy, a sua incompetência linguística é só o pico do iceberg de mediocridade que é a sua performance em “Lobos do Mar”.

Verdade seja dita, Manuel é uma personagem secundária e é o miúdo a que ele se afeiçoa que realmente ocupa o lugar de protagonista. Talvez em resposta à idade do seu parceiro de cena, Tracy interpreta o pescador como uma criança em corpo de adulto. Isto produz algo que tem o amargo sabor de preconceitos xenófobos, assim como uma boa dose de humor sem piada que, como já aconteceu com outros atores desta lista, parece confundir dramatismo e comédia com gritaria. Não há nada que se aproveite nessa performance. O mais triste é que o pequeno Freddie Bartholomew, o verdadeiro ator principal de “Lobos do Mar”, teria sido um vencedor muito mais apropriado e nem sequer foi nomeado para o Óscar.




1. Cliff Robertson em CHARLY

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© ABC Pictures
  • Ano da cerimónia: 1969
  • Papel: Charly Gordon, um homem com deficiências cognitivas para o qual a vida mundana é um desafio até ao dia em que, graças a uma misteriosa experiência, ele começa a ficar mais inteligente, até ao ponto em que se torna num génio.
  • Quem devia ter ganho: Peter O’Toole em “O Leão no Inverno”.

Esperar sensibilidade, empatia ou nuance de uma representação de um indivíduo com problemas cognitivos num filme de 1968 é algo estúpido. Mesmo assim, “Charly” consegue superar as piores expetativas, sendo ainda mais monstruoso e ofensivo que os horrores que as nossas mentes conseguem conjurar. Se o retrato de autismo em “Rain Man” é mau, o que Cliff Robertson faz em “Charly” com um homem incapacitado por problemas de desenvolvimento é abismal, imperdoável e, acima de tudo, uma prestação merecedora do Razzie e não do Óscar.

Para este ator, interpretar alguém com as características mentais que o guião indica passa por falar muito devagar e fazer olhos de carneiro mal morto quando Charly é confrontado com uma das muitas atividades do quotidiano que não consegue fazer. Este é o tipo de abordagem que esperaríamos de um mau ator amador numa obra de teatro comunitário, não de um intérprete Oscarizado. Quando Charly se torna um génio, se possível, Robertson ainda é pior, desmanchando-se em clichés sentimentais e superficialidades. O Charly deste filme é só uma fachada de tiques e gestos vistoso, pois o ator é incapaz de presumir que ele tenha uma vida interior além da tristeza melosa que se pode projetar com uns quantos olhares lacrimejantes.

Como é que este ator que poucos conheciam e que poucos conhecem ganhou um Óscar por um filme que não conseguiu ceifar uma única nomeação adicional? A resposta é campanha, campanha e campanha. Robertson era um ator de TV que já tinha originado papéis que, quando transferidos para o cinema, valeram honras doiradas aos seus novos atores. Farto dessa dinâmica, Cliff Robertson comprou os direitos desta história e orquestrou um remake cinematográfico de um especial televisivo em que já tinha entrado. Para adocicar a proposta à Academia, ele exagerou toda a sua abordagem, gritou mais, chorou mais, tudo em excesso. Face a tal fogo de artifício dramático em conjunto com uma campanha promocional feroz, a Academia acabou por votar em Robertson. Peter O’Toole, o seu principal adversário e um dos melhores atores da sua geração, perdeu mais uma vez e nunca chegaria a ganhar o Óscar. Trata-se de um dos maiores crimes na História do Óscar, disso não temos dúvidas.

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2 thoughts on “Os 10 piores vencedores do Óscar para Melhor Ator

  • Cara, esse é uma das piores listas que já vi, fala que o Al Pacino não mereceu o Oscar por “Perfume de Mulher” é um sacrilégio, não tá pra levar a sério no que escreve, e ainda mete o pau na “A Vida é Bela”, tu tá de sacanagem!!’

  • Lista horrível e sem sentido algum.

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