Oscares 2019

Óscares 2019 | As nomeações mais chocantes e históricas

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As nomeações para os Óscares de 2019 foram cheias de surpresas, desde as categorias mais mediáticas até aquelas de que pouca gente fala.

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Nos últimos anos, a Academia de Hollywood tem vindo a sofrer enormes mudanças tanto ao nível do seu corpo votante como das suas regras. O que isso quer dizer é que, apesar de durante muito tempo os Óscares terem sido fáceis de prever, especialmente graças ao seu gosto conservador, hoje em dia a história é diferente.

Podemo-nos tentar guiar pelos sindicatos da indústria cinematográfica americana ou pelos percursores mais sonantes como os Globos de Ouro, mas o facto é que a Academia neste momento tem uma morfologia bem heterogénea e de gostos idiossincráticos. É mais fácil para cinema europeu triunfar nos Óscares, pelo menos a nível de nomeações, do que nos prémios dados pela Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood, por exemplo.

roma
Alfonso Cuarón durante as filmagens de ROMA.

Tudo isto para dizer que a corrida aos Óscares foi marcada por uma série de surpresas, choques e reviravoltas aquando do anúncio das nomeações. Depois de ganhar o Producers Guild Award, muitos peritos apontaram “Green Book – Um Guia Para a Vida” como o imediato favorito na corrida a Melhor Filme. Contudo, o filme não foi nomeado para Melhor Realizador, o que era esperado depois de ter garantido tal nomeação com o sindicato dos realizadores, com os Globos de Ouro e com os Critics Choice Awards. Neste momento, com a polémica racial a explodir na imprensa, o filme parece estar destinado ao mesmo fado de “Três Cartazes à Beira da Estrada”. Mahershala Ali, pelo menos, continua a ser o frontrunner para Melhor Ator Secundário.

Quem se assume como grande favorito é “Roma”. O filme não foi nomeado para Melhor Montagem, o que pode ser grave para pretendentes ao maior galardão da Academia, mas compensou isso com indicações para as suas atrizes que provam que os atores realmente amam o filme. Neste momento, só “A Favorita” parece tão bem posicionado como o épico mexicano, mas precisará de uma vitória nos BAFTAs para entrar na corrida a sério.

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Tudo isto são leves reviravoltas na competição para o prémio principal dos Óscares. Para explorares as verdadeiras surpresas e os mais eletrizantes choques desta coleção de nomeados, tens de seguir as setas para os próximos slides.




BLACK PANTHER FAZ HISTÓRIA

black panther
Um filme histórico!

Admitimos que este primeiro slide não se refere a nenhuma surpresa particularmente chocante. Aliás, diríamos mesmo que o triunfo de “Black Panther” nos Óscares tem sido algo previsto pelos prognosticadores mais ferrenhos desde a estreia do filme em fevereiro do ano passado. Contudo, considerando a quantidade de records históricos que o filme e seu sucesso representam, achamos bem pô-lo em destaque.

Lembremo-nos que, durante anos, era uma verdade convencionalmente aceite que a razão pela qual Hollywood não apostava em blockbusters, especialmente projetos de super-heróis, focados em protagonistas femininas ou pertencentes a minorias étnicas era a falta de viabilidade comercial de tais aventuras. Com “Mulher-Maravilha” e agora “Black Panther”, já está mais que provado que tal lógica é errónea e serve somente como desculpa para esconder o racismo e sexismo enraizados na indústria cinematográfica. De facto, “Black Panther” foi um dos filmes mais lucrativos de 2018, tornou-se no primeiro filme de super-heróis a ser nomeado ao Óscar de Melhor Filme na história da Academia e é também o nomeado com maiores números de box office a alcançar tal honra desde “Avatar” em 2010. Este reconhecimento serve de validação e prova que políticas de representação progressivas não são só algo bom por razões éticas, também são ótimas para encher a carteira dos produtores e acrescentar muitos troféus às prateleiras dos cineastas.

Outra das formas como “Black Panther” está a fazer História no panorama dos Óscares devém da sua nomeação para Melhor Cenografia. Hannah Beachler, designer dos cenários do filme, tornou-se na primeira pessoa negra a ser indicada para tal honra. Depois de 91 anos de existência dos Óscares, tal facto é hediondo. Como é possível ter demorado tanto? Pelo menos, já aconteceu e não podia ter acontecido a alguém mais merecedora que Beachler e suas criações afrofuturistas.




INVASÃO ESTRANGEIRA

guerra fria cold war top mhd cinema de 2018
GUERRA FRIA surpreende com três nomeações.

Se uma pessoa se seguir somente pelos Óscares, é difícil entender que existe muito cinema para além daquele feito na língua inglesa. “Roma” é somente o nono filme não anglófono e de produção não-americana a ser nomeado para o galardão de Melhor Filme. É certo que, recentemente, realizadores e produções mexicanas parecem ter feito dos Óscares o seu reino, mas esta vitória de Alfonso Cuarón e companhia não deve ser menosprezada. “Roma” empata com o “Tigre e o Dragão” como o filme em língua não inglesa com mais nomeações de sempre, com dez.

Duas dessas nomeações até foram bem surpreendentes. Yalitza Aparicio só tinha algumas nomeações para prémios da crítica e tornou-se agora na primeira pessoa de etnia indígena a ser nomeada para um Óscar. Marina de Tavira, nomeada para Melhor Atriz Secundária, consegue esta honra sem ter sido reconhecida por uma única outra associação. O melhor de tudo, é que estas nem foram as únicas surpresas no que diz respeito a filmes feitos fora da anglosfera a triunfarem com a Academia.

Desde 1977 que não acontecia, mas temos dois nomeados para Melhor Realização por filmes falados noutra língua que não o inglês, Cuarón e Pawel Pawlikowski de “Guerra Fria”. Só mesmo para sublinhar a diversidade de nacionalidades, a categoria conta ainda com o grego Yorgos Lanthimos, se bem que por “A Favorita” que é falado em inglês. “Guerra Fria” e “Roma” também aparecem juntos nas categorias de Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Fotografia. O que é verdadeiramente chocante é que partilham também essas categorias com “Nunca Deixes de Olhar” cuja nomeação para Melhor Fotografia poderá bem ter sido a escolha mais imprevista que a Academia fez nos últimos anos.




NETFLIX VALIDADA, VINGADA, VITORIOSA

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Yalitza Aparicio e Marina de Tavira são as primeiras atrizes nomeadas por um filme da Netflix.

O triunfo de “Roma” não é só importante para a causa do cinema não-americano e seu reconhecimento à escala global. Talvez mais importante é o facto que o épico mexicano foi produzido e distribuído pela Netflix. Esta inquestionável validação por parte da Academia marca a ascensão das plataformas online ao patamar de criadoras legítimas de cinema dentro de Hollywood e sua indústria. Para se entender a importância disto, lembremo-nos que “Roma” não competiu em Cannes devido aos conflitos entre a organização desse festival e a Netflix. Conflitos esses que nascem muito da incompatibilidade entre as novas plataformas online e definições convencionais e, talvez, antiquadas de cinema.

“Roma” nem foi o único filme da Netflix a marcar presença entre os nomeados. “A Balada de Buster Scruggs” surgiu do nada, depois de ter sido ignorado durante quase toda a temporada dos prémios, e ceifou três nomeações. É certo que a indicação de Mary Zophres pelos figurinos do western tinha já sido prefigurada pelos BAFTAs, mas as nomeações de Melhor Argumento Adaptado e Melhor Canção Original foram surpresas que só provam como o cinema da Netflix merece ser encarado como parte da sétima arte e não um parente afastado que gosta de irritar Thierry Fremaux.

Não é Netflix, mas a Hulu também está de parabéns. “Minding the Gap” tornou-se no seu primeiro documentário a ser nomeado para o Óscar de Melhor Documentário. Sendo esta uma das propostas mais artísticas, pessoais, e menos comerciais que este ano cheio de documentários lucrativos teve para oferecer, tal evento é de particular relevância.




O TRIUNFO DE DAFOE É A DESGRAÇA DE HAWKE

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Willem Dafoe em estado de graça.

Não há maior prova em como a Academia de Hollywood e os críticos de cinema têm gostos muito diferentes que a falta de nomeação para Ethan Hawke pelo seu extraordinário trabalho em “No Coração da Escuridão”. Ao todo, o ator conquistou quase meia centena de troféus de várias associações, afigurando a sua prestação como o desempenho principal mais premiado do ano. Nada disso foi suficiente para quebrar a antipatia dos Óscares por premiar o trabalho de atores em filmes tão artisticamente severos como o de Hawke, contudo.

Verdade seja dita, Melhor Ator era uma categoria com quatro apostas seguras e uma quinta nomeação meio no ar. Além disso, não podemos dizer que o filme que conseguiu ocupar o lugar incerto que se previa pertencer a “No Coração da Escuridão” se trata de uma obra particularmente acessível ou comercial. “À Porta da Eternidade” é uma explosão de experiências formalistas que tenta reproduzir o método febril e a mente descompensada de Vincent van Gogh com mecanismos profundamente alienantes.

Contudo, Willem Dafoe é praticamente uma lenda viva de Hollywood e, apesar de também ser famoso e aclamado, Hawke não está ao nível do outro ator, mesmo que a sua prestação, neste caso, seja infinitamente superior. Enfim, afirmar que o trabalho de Dafoe é mau seria injusto e uma mentira. Aliás, seria um bom vencedor se tal milagre viesse a ocorrer. É evidente, no entanto, que isso é pouco provável face à popularidade de Rami Malek, Christian Bale e Bradley Cooper a quem os votantes poderão querer compensar por não o terem indicado para Melhor Realizador.




POBRE EMILY BLUNT

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Será que Emily Blunt nunca vai ser nomeada?

Há cerca de 13 anos, audiências e críticos por todo o mundo depararam-se com uma atriz britânica que, com um pequeno papel numa comédia de verão americana, parecia estar a proclamar “EU SOU UMA ESTRELA”. O filme em questão foi “O Diabo Veste Prada” e a atriz foi, pois claro, a inigualável Emily Blunt. Já alguns cinéfilos a conheciam de um drama de Pawel Pawlikowski que fez o circuito dos festivais em 2004, “Amor de Verão”, mas foi esta comédia que a pôs no mapa e que despoletou as primeiras esperanças de ver a atriz nomeada para um Óscar. Essas esperanças, infelizmente, ainda não se concretizaram.

Na temporada de 2009/10, parecia que talvez fosse acontecer com “A Jovem Vitória”, mas os Óscares ignoraram-na. Em 2012/13, muitos críticos premiaram o seu trabalho em “Looper”, mas os Óscares ignoraram-na. No ano a seguir, ela dominou o verão como uma rainha de ação em “No Limite do Amanhã” e, chegado o inverno, encantou todos com a sua prestação musical em “Caminhos da Floresta”. Todos, menos quem vota nos Óscares. No ano a seguir foi “Sicário” que parecia destinado a valer-lhe uma primeira nomeação, mas nada feito. Na temporada 2016/17, Blunt chegou mesmo a ser nomeada para o SAG e para um BAFTA por “A Rapariga no Comboio”, mas, mais uma vez, os Óscares não quiseram saber.

Este ano, parecia que tudo ia mudar. “Um Lugar Silencioso” foi um triunfo de terror que surpreendeu críticos e espectadores e “O Regresso de Mary Poppins” fechou o ano com grandes lucros e uma generalidade de críticas positivas, especialmente para a prestação estilizada da atriz. No final, contudo, nem mesmo uma dupla nomeação do Sindicato dos Atores lhe salvou as esperanças do Óscar. A falta de atenção dos BAFTAs foi o derradeiro beijo da morte e, mais uma vez, Emily Blunt acaba uma Awards Season sem ser nomeada para o Óscar. Querida Academia, o que é que ela tem de fazer para vocês lhe prestarem atenção?




FINALMENTE…

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Paul Schrader já escreveu “Taxi Driver” e “Touro Enraivecido”, mas a sua primeira nomeação para o Óscar só se manifestou este ano, com “No Coração da Escuridão”.

Fãs de Emily Blunt, se o último slide vos partiu o coração, aqui fica a esperança que, por vezes, pode demorar muito tempo, mas grandes profissionais do cinema conseguem acabar por vingar entre a Academia e conquistar uma nomeação. Spike Lee, por exemplo, está agora a celebrar a sua primeira nomeação para Melhor Realizador por “BlacKkKlansman: O Infiltrado”. Ele já tinha sido indicado noutras categorias, é certo, mas é inconcebível que este vencedor de um Óscar honorário por sua contribuição à sétima arte nunca antes tenha alcançado esta honra específica.

O compositor preferido de Lee, Terrence Blanchard, também recebeu hoje a sua primeira nomeação depois de décadas a assinar algumas das bandas-sonoras mais culturalmente icónicas do cinema americano.  Paul Schrader, autor de “Taxi Driver”, foi finalmente nomeado pelo argumento de “No Coração da Escuridão”. Robbie Ryan já deixa de ser um dos grandes diretores de fotografia sem nomeação para o Óscar graças ao filme que também valeu à maravilhosa cenógrafa Fiona Crombie a sua primeira nomeação, “A Favorita”. Adam Driver também celebra a sua primeira nomeação depois de ter passado os últimos anos a provar que é um dos grandes atores da sua geração. Pelo menos, não teve de esperar tanto como Sam Elliott ou Richard E. Grant.  Também damos saudações especiais a Nicole Holofcener, uma extraordinária cineasta que finalmente foi nomeada para um Óscar pelo seu trabalho enquanto argumentista de “Can You Ever Forgive Me?”.

No espectro oposto destes cineastas que podem suspirar de alívio e sussurrar “finalmente”, temos Glenn Close. A atriz já bem sabe o que é receber nomeações. Aliás, com sete nomeações, Close já deve estar bem farta de ser reconhecida com nomeações, mas nunca com o troféu em si. Com esta indicação por “A Mulher”, ela torna-se no ator vivo com mais nomeações sem nunca ter ganho o Óscar. Oxalá em fevereiro ela finalmente leve para casa o tão desejado galardão.




O ANIME NÃO VEM TODO DO MESMO ESTÚDIO

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MIRAI ainda não estreou nos cinemas portugueses.

Por fim, gostaríamos de refletir sobre os hábitos de nomeação da categoria de Melhor Filme de Animação. Ao contrário de muitas outras categorias dos Óscares, os votantes deste prémio não demonstram grande antipatia para com projetos feitos fora da indústria do cinema anglófono. Aliás, é já quase tradição ver filmes mais alternativos e em línguas que não o inglês a triunfarem nesta fase de nomeações.

Contudo, no que diz respeito a anime, a Academia tem um curioso preconceito. Entenda-se que, no mundo do cinema de animação, o Japão tem enorme importância histórica e artística, representando grande bastião da animação a 2D no panorama atual. Apesar disso, julgando pelas escolhas da Academia, seria fácil supor que a indústria de animação japonesa se resume à produção do estúdio Ghibli, fundado por Hayao Miyazaki e Isao Takahata.

Este ano, finalmente, isso mudou. “Mirai” é um filme de animação japonês, uma obra de anime, mas o seu estúdio de produção nada tem que ver com o grande Miyazaki. Na verdade, trata-se de uma produção do Estúdio Chizu, uma companhia fundada por Mamoru Hosada, o animador que realizou “Mirai” e cujo estilo tende a ser muito mais experimental e variado que o das obras com o selo de produção da Ghibli. Para fãs de anime, este reconhecimento da Academia deverá ser celebrado, pois mostra uma abertura maior à aceitação e celebração deste estilo de animação pelas elites do cinema mundial e de Hollywood.

 

Estas nomeações surpreenderam-te? Se sim, qual delas te deixou mais feliz? Deixa as tuas respostas nos comentários.

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