Óscares MHD 2018

Óscares 2018 | Os prémios da MHD vão para…

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Depois de a equipa MHD ter votado nos Óscares de 2019, chegou a altura de olhar para as edições anteriores destes prestigiados prémios. Será que “A Forma da Água” ainda ganha Melhor Filme?

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Antes dos Óscares deste ano, os escritores da Magazine HD decidiram ver o que aconteceria se tivessem o mesmo poder da Academia de Hollywood. Ou seja, votaram com base nos nomeados dos Óscares para ver quais seriam as escolhas ideais segundo a MHD. No final, “A Favorita” assumiu-se como o grande campeão, mas o mesmo não ocorreu com os Óscares a sério.

Como esse primeiro artigo dos Óscares MHD foi tão popular, decidimos repetir a proeza. Desta vez, contudo, ao invés de examinarmos os Óscares de 2019, viramo-nos para 2018, o ano em que “Chama-me Pelo Teu Nome”, “A Forma da Água”, “Foge”, “Três Cartazes à Beira da Estrada” e muitos outros filmes competiram para ganhar as mais cobiçadas estatuetas doiradas do mundo do cinema.

Óscares 2019
Será que os vencedores dos Óscares de atuação escolhidos pela MHD vão coincidir com aqueles que a Academia de Hollywood premiou?

Seguindo a mesma metodologia e regras usadas pelos Óscares, os resultados são bem interessantes, mesmo que, desta vez, a equipa MHD tenha estado muito mais de acordo com as escolhas da Academia de uma forma geral. Desde Melhor Curta-Metragem Documental a Melhor Filme, foram escolhidos vencedores para todas as 24 categorias dos Óscares.

Para descobrires quais foram as nossas escolhas, basta seguires as setas. As categorias ditas mais importantes estão nos últimos slides, pois, tal como acontece na cerimónia dos Óscares, o prémio de Melhor Filme é sempre o último a ser entregue. Sem mais demoras, segue para a próxima página e começa a explorar os Óscares MHD de 2018, a honrar os filmes de 2017.




MELHOR CURTA-METRAGEM DOCUMENTAL

oscares mhd 2018 heroine

O Óscar MHD vai para… HEROIN(E), Elaine McMillon Sheldon e Curren Sheldon!

Enquanto a Academia de Hollywood optou por dar o Óscar a “Heaven is a Traffic Jam on the 405”, um documentário sobre uma artista plástica a lidar com problemas mentais, a MHD decidiu honrar “Heroin(e)”. Esta curta-metragem de Elaine McMillon e Curren Sheldon explora a crise de toxicodependência que se faz sentir nos EUA, focando-se no estado da Virgínia Ocidental. Mais especificamente, o filme aborda este problema através de um retrato tripartido de mulheres que dedicam as vidas a tentar ajudar aqueles afetados pela dependência por opioides.

Jan Rader trabalha como bombeira e o seu ofício leva-a a confrontar-se com a realidade de muitos toxicodependentes, sendo que ela já salvou muitas pessoas a sofrer overdoses. Patricia Keller, por outro lado, é uma juíza que se especializa em casos relacionados com consumo e venda de drogas. Por fim, Necia Freeman é o último vértice deste triângulo, sendo uma ativista e trabalhadora para causas caridosas que tenta ajudar mulheres levadas à prostituição pela sua dependência por substâncias ilícitas. Elas são as heroínas a que o trocadilho titular alude.

Nas mãos de outros cineastas, esta proposta poderia ter resultado em algo sensacionalista e demasiado dramático, mas “Heroin(e)” é um exercício em contenção e nuance. A comunhão das três histórias centrais, por exemplo, não leva a um filme fragmentado, mas sim a uma espécie de diálogo complementar entre pontos de vista diferentes sobre o mesmo problema comunitário e humano. Considerando tudo isto, a MHD pensa que devia ter sido este filme da Netflix a levar consigo o Óscar de Melhor Curta-Metragem Documental, sendo o raro exemplo de uma obra de cinema jornalístico cuja construção é tão importante como o seu tema central.




MELHOR CURTA-METRAGEM DE ANIMAÇÃO

lou oscares 2018 mhd

O Óscar MHD vai para… LOU, Dave Mullins e Dana Murphy!

Apesar de ser nomeado quase todos os anos para o Óscar de Melhor Curta-Metragem de Animação, é raro ver os Estúdios Pixar a ganhar este particular galardão. Em 2018, o prémio da Academia foi para “Dear Basketball” de Kobe Jones, um antigo basquetebolista profissional, e Glen Keane, um animador lendário dos estúdios Disney. Contudo, se fosse a MHD a votar, a Pixar não teria saído do Dolby Theater de mãos a abanar, sendo que o Óscar teria sido atribuído a “Lou”, a curta-metragem anti-bullying que precedeu “Carros 3” nos cinemas.

Este conto metafórico decorre num recreio, onde um rufia mal-encarado aterroriza os seus colegas e lhes rouba a propriedade numa dinâmica de poder abusivo que é bem comum entre crianças. Um dia, uma série de objetos deixados na caixa dos perdidos e achados ganha vida e decide trazer alguma justiça ao universo de brincadeiras infantis e, pelo caminho, redimir ou ensinar o bully a ser uma pessoa melhor. Ou seja, não se trata de uma narrativa particularmente complexa ou inspirada, mas, por vezes, a transmissão clara, quase bruta, de uma mensagem moral pode ter seus benefícios e valor artístico.

Diríamos mesmo que, apesar de o filme poder produzir algumas lágrimas nos olhos de espectadores nostálgicos por uma infância perdida, “Lou” é, acima de tudo, um triunfo técnico. Em termos de animação, o modo como o protagonista titular se move é um autêntico milagre de objetos inanimados a articularem-se de forma a sugerir o movimento de uma criatura orgânica. Existe uma enorme expressividade no seu gesto e postura, na configuração dos vários elementos do corpo. Além de tudo o mais, o design faz de Lou uma presença adorável ao invés de um monstro grotesco e inatural que poderia ter nascido de uma animação menos precisa ou fluida. Não podemos ficar muito tristes pela vitória de “Dear Basketball” nos Óscares, mas pensamos que, num mundo justo, teria sido “Lou” a triunfar sobre os outros nomeados da categoria.




MELHOR CURTA-METRAGEM LIVE-ACTION

oscares mhd 2018 the silent child

O Óscar MHD vai para… THE SILENT CHILD, Chris Overton e Rachel Shenton!

Finalmente chegamos à primeira de muitas categorias em que a equipa MHD concordou com as escolhas da Academia. Entre os nomeados para o Óscar de Melhor Curta-Metragem Live-Action, “The Silent Child” assumiu-se como o claro favorito, conquistando mais de metade dos votos dos escritores da Magazine HD. Trata-se de uma história sobre a relação entre uma criança surda e a assistente social que a ajuda a comunicar com aqueles em seu redor.

Verdade seja dita, em termos formais, esta curta-metragem não é particularmente genial. Existe algum mérito no modo como os cineastas sugerem o mundo de silêncio opressivo em que a protagonista de quatro anos vive, mas nada de demasiado experimental ou arrojado. No final, este é um melodrama choroso com uma importante mensagem social, sendo que o seu grande valor devém do candor com que lida com sua temática e a sensibilidade no trabalho de ator. Rachel Shenton, que dá vida à assistente social e escreveu o argumento, baseou o filme nas suas experiências enquanto filha de um pai que foi gradualmente perdendo a audição.

A dinâmica entre Shenton e a jovem Maisie Sly, a real protagonista da obra, é algo assombroso. Apesar da natureza meio melosa da narrativa, a relação central trespassa enorme naturalismo e, por vezes, parece que estamos a testemunhar um momento privado que não devia sequer estar a ser capturado pela objetiva de uma câmara. Graças a isso e à boa representação da angústia de uma criança encurralada num mundo silencioso incapaz de lhe dar os apoios necessários, “The Silent Child” consegue deixar um enorme impacto emocional no espetador. É esse impacto que resultou na vitória do filme entre a Academia de Hollywood e agora lhe valeu o Óscar MHD.




MELHOR DOCUMENTÁRIO

olhares lugares european film challenge

O Óscar MHD vai para… OLHARES LUGARES, Agnès Varda, Rosalie Varda e JR!

Agnès Varda morreu há menos de um mês, deixando para trás uma das filmografias mais fenomenais na História da Sétima Arte. Desde o pós-guerra até aos dias de hoje, ela nunca deixou de trabalhar ou de ser uma das cineastas mais vanguardistas do mundo, sempre pronta a experimentar e a testar os limites da Arte a que dedicou a vida. Esta rainha da Nouvelle Vague passou as últimas duas décadas a trabalhar principalmente no foro documental, sendo que a sua última longa-metragem foi este “Olhares Lugares”, um hino humanista e uma viagem embevecida pelas memórias de uma mulher a confrontar a sua própria mortalidade.

Em colaboração com o artista plástico JR, Varda andou a viajar por zonas rurais de França, visitando aldeias e fábricas, campos de cultivo e apartamentos coloridos. Por esses lados, a parelha ia tirando fotografias a pessoas e animais, imprimia as imagens e aplicava-as, em formato gigante, sobre os locais habitados pelos modelos. Com uma estrutura meio episódica, o filme vai-se desenrolando como uma coleção de momentos felizes em que Varda encontrou uma beleza grandiosa na elevação do quotidiano corriqueiro ao estatuto de monumento. Trata-se de um gesto de grande humanismo e carinho pelos seus sujeitos, um exercício comovente, mas nunca lacrimoso que se vai lentamente deixando dominar pela melancolia risonha com que a realizadora encarava a sua idade avançada. Chegado o final e uma tentativa de visitar Godard, “Olhares Lugares” já muito tinha transcendido a proposta modesta que deu origem à sua criação, tornando-se em algo mais profundo e complicado.

Quando recebeu esta nomeação, Varda tornou-se na nomeada para um Óscar mais velha de sempre, sendo esse o mesmo ano em que ela tinha recebido um prémio Honorário da Academia pelo seu legado e importância histórica. Infelizmente, o prémio competitivo acabou por ir para “Ícaro” e uma das cineastas mais inovadoras de sempre acabou por nos deixar sem nunca ter tido a experiência de subir ao palco do Dolby Theatre e discursar para todo o mundo enquanto seus colegas a aplaudiam. Enfim, se a MHD tivesse tido o poder de decisão sobre este Óscar, Agnès Varda teria triunfado.




MELHOR FILME DE ANIMAÇÃO

filmes de animação mais vistos

O Óscar MHD vai para… COCO, Lee Unkrich e Darla K. Anderson!

A Pixar pode não ter muita sorte, em termos de vitórias, na categoria de Melhor Curta-Metragem de Animação. No que diz respeito ao Óscar de Melhor Filme de Animação, contudo, estes estúdios de animação são os indisputáveis reis. “Coco” foi já o nono filme da Pixar a ganhar o prémio. Quando consideramos que este particular galardão ainda só foi entregue 18 vezes, a percentagem de sucesso desta particular companhia é extraordinária. Enfim, isso são estatísticas e dados numéricos e, apesar de tudo, não foi aquilo em que a equipa MHD pensou quando considerou votar nesta obra. Como acontece com muitas obras da Pixar, a qualidade de “Coco” foi simplesmente inegável e insuperável.

Indo buscar inspiração à cultura mexicana, nomeadamente as celebrações do Dia de los Muertos, esta é uma narrativa sobre a importância da família e o modo como a morte e a perda moldam a nossa perceção do mundo. Seus temas são complicados e adultos, mas o modo como o filme os explora revela elegância e um enorme respeito para com uma perspetiva infantil. Além do mais, seu design é um espetáculo do mais alto gabarito, tão soberbo pela sua qualidade de deslumbramento como pela integração inteligente e respeitosa de todas as suas referências culturais.

Melhor que tudo isto, contudo, é o uso de música e seu papel na dramaturgia. Uma só canção é reinterpretada várias vezes ao longo de “Coco” e cada vez que é apresentada numa das suas variações, seu significado altera-se. Chegado o final, entendemos como a canção resguarda em si todo o coração concetual e emocional da obra, funcionando como um símbolo do legado que passa entre aqueles que se amam, de antepassado para descendente, de pai para filha, um símbolo daquilo que se perde e daquilo que se ganha com o passar do tempo, a morte e o florescer de novas vidas. Só mesmo por esse sublime elemento e sua integração na narrativa, “Coco” merecia ganhar imensos prémios.




MELHOR FILME NUMA LÍNGUA ESTRANGEIRA

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O Óscar MHD vai para… UMA MULHER FANTÁSTICA do Chile!

Na nossa crítica publicada aquando da estreia de “Uma Mulher Fantástica” nos cinemas portugueses, tivemos isto a dizer sobre o filme de Sebastián Lelio:

No meio de “Uma Mulher Fantástica”, o mais recente filme do cineasta chileno Sebastián Lelio, surge uma imagem que serve de síntese a toda a performance em volta da qual o filme se desenvolve. Nesse plano, com uma composição de simetria quase perfeita, Marina, interpretada por Daniela Vega, está sozinha na parte de trás de um autocarro. Os seus braços estão estendidos para a frente e cada mão está agarrada a um varão de apoio. No seu gesto e postura, conseguimos percecionar a tensão de músculos, mas é a expressão desta mulher que realmente ancora a imagem. Na sua face a atriz usa uma expressão de hostilidade defensiva, como que uma máscara protetora. Nos seus olhos vemos todo um oceano de humilhação e fúria metodicamente contida, sendo ela como uma bomba armada, cuja pose demarca o esforço titânico de não explodir.

Tal dinâmica de fúria reprimida caracteriza grande parte da prestação de Daniela Vega ao longo do filme, mas o grande milagre deste feito interpretativo é toda a humanidade e complexidade emocional que a atriz consegue sugerir através de pequenas variações na sua armadura expressiva. Quando ela se vê encurralada entre a espada e a parede, arriscando ser presa se recusar submeter-se a um humilhante exame físico, Vega deixa que a impetuosa raiva se dissipe, ficando à mostra o terror. Quando tem oportunidade de deixar cair as suas defesas e dizer adeus a um amado, as lágrimas que pintam a sua face parecem brotar tanto da dor como da raiva. Quando ela está em palco e canta, a sua expressão amolece e vemos Marina ser consumida pelo regozijo da performance, mas a sua fúria ainda existe como um fantasma no canto do olho.

Em suma, se mais nenhum mérito tivesse, “Uma Mulher Fantástica” seria à mesma um filme estupendo pelo facto de nele se poder encontrar a prestação de Vega. Felizmente, esta é uma obra de inúmeras virtudes, que vão muito além do trabalho da sua atriz principal ou da nobreza das suas intenções enquanto crítica social. Essa componente social e política é, no entanto, impossível de ignorar pois Marina e a atriz que a interpretam são mulheres transgénero. Esta é, aliás, uma história de sistemática humilhação sobre a resiliência necessária para sobreviver a essas provações.

Considerando tudo isto, é fácil ver por que razão tanto a Academia de Hollywood como a equipa MHD não conseguiram resistir aos encantos deste drama chileno. Só ficamos é com pena que o filme não tenha recebido também uma nomeação para Melhor Atriz Principal. Daniela Veja mais do que merecia!




MELHORES EFEITOS SONOROS

Dunkirk

O Óscar MHD vai para… Richard King e Alex Gibson por DUNQUERQUE!

Todos os filmes de Christopher Nolan apresentam formidáveis paisagens sonoras, cheias de ruídos portentosos e um uso híper dramático de música em sintonia com efeitos ribombantes. Pelo menos, assim é desde que o cineasta britânico começou a focar seus esforços criativos no universo do cinema de ação. “Dunquerque” não é exceção, representando um dos maiores triunfos sónicos na carreira de Nolan.

Este drama histórico sobre a evacuação de Dunquerque em plena 2ª Guerra Mundial está quase sempre num constante estado de cacofonia, o inferno bélico sempre a martelar os ouvidos do espectador das mais variadas maneiras. Quer sejam explosões distantes, o gemer de um navio a afundar, balas a embater no casco de um barco no areal ou o zumbir de aviões a rasgar o ar a alta velocidade, “Dunquerque” é uma tapeçaria de ruídos horrendos e assustadores. Richard King, um colaborador muito frequente de Christopher Nolan é perito na criação de tais efeitos sonoros, tendo já ganho quatro Óscares, incluindo este, por projetos semelhantes.

Verdade seja dita, é quase tradição ver filmes de guerra a ganhar o Óscar de Melhores Efeitos Sonoros. Aparentemente o som de tiros é algo que nunca deixa de impressionar. Neste caso, contudo, convém destacar algo muito peculiar na nomeação e vitória de “Dunquerque” nesta categoria. Ao contrário do habitual, além do supervisor dos efeitos sonoros (King), também foi nomeado um dos supervisores da edição musical (Alex Gibson). Isto ocorreu, pois Hans Zimmer trabalhou de forma muito próxima com a equipa de efeitos sonoros, chegando a construir algumas das suas composições musicais através de sons abstratos que foram sendo concebidos para dar ao filme uma sonoridade imersiva. O resultado final de todo este trabalho mais do que merece o Óscar.




MELHOR SONOPLASTIA

Dunkirk

O Óscar MHD vai para… Gregg Landaker, Gary Rizzo e Mark Weingater por DUNQUERQUE!

Como é habitual, se um filme ganha o prémio de Melhores Efeitos Sonoros, também acaba por ganhar o prémio para Melhor Sonoplastia. Estas são duas disciplinas diferentes, mas sua relação na forma final do filme é tão simbiótica que é difícil separar seus elementos. De forma básica, Efeitos Sonoros são os ruídos individuais que uma equipa tem de criar de raiz. Sonoplastia refere-se à mistura final de todos os efeitos sonoros, mais o som gravado durante as filmagens, mais a música.

Em “Dunquerque”, um dos elementos mais vistosos da sonoplastia é o seu volume. Basicamente, este filme é uma experiência ensurdecedora que, quando apreciada num cinema IMAX, quase faz vibrar os órgãos dentro do corpo do espectador. Tal é a ênfase dada aos efeitos ruidosos e à música, que houve quem se queixasse que era difícil discernir os diálogos. Considerando que essa foi uma queixa também levantada contra “Interstellar” é fácil assumir que isto não é um erro, mas sim um gesto deliberado de Nolan. Para o cineasta, o importante não é a expressão verbal de cada indivíduo, mas sim a experiência visceral sentida pelo coletivo humano em estado de guerra.

O único filme que ofereceu alguma competição a “Dunquerque” em ambas as categorias de som foi “Baby Driver”. No entanto, o filme de Nolan acabou por se assumir campeão e por ganhar ambos os prémios. Assim aconteceu com a Academia de Hollywood e assim aconteceu com a equipa MHD.




MELHOR CANÇÃO ORIGINAL

Chama-me pelo teu nome sexo na adolescencia

O Óscar MHD vai para… “Mystery of Love” de CHAMA-ME PELO TEU NOME, Sufjan Stevens!

Apesar de a categoria de Melhor Canção Original não ser famosa pela alta qualidade das suas coleções de nomeados, há que admitir como 2018 representou um ponto alto. De facto, quatro dos filmes indicados para o prémio acabaram por receber votos da equipa MHD. No final, contudo, nem as melodias de “Moana”, nem as cacofonias inspiradoras de “O Grande Showman” ou a delicadeza sentimental de “Coco” conseguiram derrotar o esplendor romântico de “Chama-me Pelo teu Nome”. Pelo menos assim foi no voto da MHD, pois, nos Óscares a sério, foi o filme da Pixar quem triunfou.

Acerca desta canção, tivemos isto a dizer quando escrevemos sobre as melhores bandas-sonoras do ano passado:

As bandas-sonoras dos filmes do realizador Luca Guadagnino nunca são somente um adorno musical da narrativa. Em “Chama-me Pelo Teu Nome”, a música serve de discurso paralelo e complementar à história de amor de Elio e Oliver, estando em constante diálogo com o que se vê no ecrã. Isso nunca é mais óbvio ou mais sublime que nas cenas acompanhadas pelas composições de Sufjan Stevens, que escreveu duas canções originais para o filme. A primeira, “Mystery of Love” ilustra o fulgor imersivo da paixão juvenil, seu mistério e desconhecido.

Se duvidas da veracidade da nossa descrição, então dá uma olhadela ao vídeo que deixamos abaixo, onde poderás ouvir a composição musical que valeu a Sufjan Stevens um Óscar MHD.




MELHOR BANDA-SONORA ORIGINAL

melhores bandas-sonoras de 2018 linha fantasma

O Óscar MHD vai para… Jonny Greenwood por LINHA FANTASMA!

A categoria de Melhor Banda-Sonora Original foi uma das poucas em que os votos da equipa MHD se dispersaram por quase todos os filmes nomeados. No entanto, alguns favoritos acabaram por se afirmar, nomeadamente “Linha Fantasma”, “A Forma da Água” e “Dunquerque”. Talvez devido ao facto que tanto Hans Zimmer como Alexandre Desplat já tinham ganho Óscares, o trabalho de Jonny Greenwood para o filme de Paul Thomas Anderson acabou por triunfar.

Aquando das nossas ponderações sobre as melhores bandas-sonoras de 2018, tivemos isto a dizer:

Depois de alguns anos a colaborar com Paul Thomas Anderson em alguns dos filmes e bandas-sonoras mais loucamente originais do cinema americano atual, Jonny Greenwood finalmente foi reconhecido pela Academia de Hollywood pelo seu assombroso trabalho em “Linha Fantasma”. Indo buscar inspiração a melodias populares do pós-guerra e aos estilos de Bernhard Herrmann e Franz Waxman, o guitarrista de Radiohead concebeu uma banda-sonora de aparência clássica, mas com o sabor venenoso de uma obra experimental. Sua repetição de temas em constante mutação e desconstrução para simbolizar o desenvolvimento do romance central do filme é o trabalho de um génio, por exemplo. Acima de tudo, esta é uma banda-sonora perfeita para o objeto cinematográfico a que pertence, sendo portadora de uma beleza que encanta ao mesmo tempo que esconde em si complexidades abrasivas e desafiantes, quase violentas, para o espectador (ou ouvinte) atento.

Face a tal magnificência, é difícil ver com maus olhos esta vitória. Aliás, considerando o gosto mais ou menos conservador que a Academia tende a mostrar nas categorias musicais, é sempre bom propor algumas escolhas mais vanguardistas e originais. Considerando o trabalho de Greenwood noutros filmes como “Haverá Sangue” e “Nunca Estiveste Aqui”, diríamos mesmo que, num mundo justo, este compositor já teria até mais que um Óscar.




MELHORES EFEITOS VISUAIS

canais tvcine e séries

O Óscar MHD vai para… John Nelson, Gerd Nefzer, Paul Lambert e Richard R. Hoover por BLADE RUNNER 2049!

Em “Blade Runner 2049”, uma equipa de efeitos visuais notável teve de dar seguimento ao mundo apresentado no filme original de 1982, dando uso a técnicas clássicas em comunhão com engenhos tecnologicamente inovadores. A visão futurista de Los Angeles, por exemplo, não se trata de nenhum efeito digital, mas sim de uma enorme miniatura cheia de detalhes. Por aí, a câmara de Denis Villeneuve se aventurou e com uns toques de magia digital, um edifício que não é mais alto que uma pessoa pode parecer um monumento gigantesco na selva urbana de um futuro inóspito.

É claro que, como já mencionámos, nem todos os efeitos deste filme de ficção-científica puderam ser feitos de modo tradicional. Uma das visões mais insanas desta sequela é o aparecimento da atriz Sean Young como uma cópia da sua personagem original. Dizemos isto, pois ela emerge das trevas com exatamente a mesma cara e figurinos que exibiu em 1982. Esta assombração foi conseguida através de motion-capture e tecnologia de animação topo de gama. Vendo o filme, é difícil não acreditar que estamos perante uma atriz viajante no tempo, tal é a verosimilhança deste truque.

Miniaturas e ressurreições digitais são impressionantes feitos técnicos. Contudo, o grande valor dos efeitos especiais de “Blade Runner 2049” está na sua criatividade e oferta de imagens nunca antes vistas no grande ecrã. Por exemplo, numa cena específica, o uso de hologramas sobre o corpo de uma prostitua cria um ballet de fisionomia feminina sobreposta e em imperfeita sintonia.  É algo aterrador e belo, ao mesmo tempo e nem é a única instância em que o filme se desdobra em deslumbramentos assim. É algo que justamente valeu a esta equipa um Óscar da Academia e um Óscar MHD.




MELHOR MAQUILHAGEM E CABELOS

Black Panther é o filme mais aguardado neste início de 2018!

O Óscar MHD vai para… Kazuhiro Tsuji, David Malinowski e Lucy Sibbick por A HORA MAIS NEGRA!

Gary Oldman ganhou o Óscar pela sua prestação como Winston Churchill, mas este ator será o primeiro a dar crédito à equipa que o ajudou a transformar-se fisicamente no antigo Primeiro Ministro Britânico. Kazuhiro Tsuji é um artista plástico japonês e um dos grandes especialistas em tornar estrelas de Hollywood noutras pessoas através da arte da maquilhagem. Ele e Oldman já se tinham encontrado no plateau de “O Planeta dos Macacos” de Tim Burton, onde Tsuji tinha ajudado a fazer um molde da cara do ator para depois se desenvolverem os efeitos que o iriam disfarçar de chimpanzé humanoide. Quando soube que ia interpretar Churchill, Oldman imediatamente mencionou o nome de Tsuji ao realizador Joe Wright.

A confiança que o ator depositou no seu colega japonês foi bem justificada, sendo que Oldman está quase irreconhecível em “A Hora Mais Negra”. Tsuji e Oldman passaram seis meses a testar diferentes técnicas e abordagens, aperfeiçoando gradualmente os efeitos de maquilhagem. Desejava-se que o ator se assemelhasse a Winston Churchill, mas, ao mesmo tempo, era importante manter suficiente plasticidade expressiva e algumas feições de Oldman à mostra para que sua performance se conseguisse registar por debaixo dos quilos de silicone e tinta que lhe tinham de ser aplicados todos os dias. Ao todo, Oldman passou cinco horas na cadeira de maquilhagem em cada dia de filmagem.

É claro que o filme não ganhou o Óscar somente pela transformação de Gary Oldman. Todo o restante trabalho de maquilhagem e cabeleireiro é exímio, trazendo ao grande ecrã a Inglaterra no auge da 2ª Guerra Mundial. Desde pessoas comuns nas ruas e no metro até membros da aristocracia, David Malinowski e Lucy Sibbick fizeram reviver estilos históricos que pesquisaram durante os muitos meses de pré-produção. No final, temos de dar particular ênfase ao triunfo estilístico que é a caracterização de Kristin Scott Thomas no papel de Clemence Churchil. Sua exuberante cabeleira é uma obra de estonteante arquitetura capilar e a maquilhagem é uma perfeita reprodução do glamour dos tempos de guerra. Não admira que este tenha sido a categoria que mais próxima ficou de um vencedor escolhido por voto unânime nestes Óscares MHD.




MELHORES FIGURINOS

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O Óscar MHD vai para… Mark Bridges por LINHA FANTASMA!

Apesar de Mark Bridges já ter um Óscar a seu nome por “O Artista”, é impossível negar a qualidade do seu trabalho em “Linha Fantasma”. Pelo menos, nem a Academia de Hollywood nem a equipa MHD conseguiram resistir às criações deste figurinista que, sob a orientação de Paul Thomas Anderson, recriou o universo da moda do pós-guerra inglês. É claro que, no caso desta particular narrativa, o desafio não se ficou pela emulação de estilos do passado.

Considerando que o protagonista de “Linha Fantasma” é um designer de renome, a roupa que aparece em cena não tem só de indicar referências de época, estatuto, de obedecer à paleta cromática do filme e sua estética regente. Mais do que tudo isso, as peças de vestuário representam um elemento caracterizante da figura que supostamente está por detrás da sua criação. Veja-se, por exemplo, como o perfeccionismo meio conservador da personagem de Daniel Day-Lewis se traduz num estilo modesto e rígido, um gesto controlador e autoritário sobre o corpo feminino, sem os exageros da Dior ou o esplendor criativo da Balenciaga. Chegaríamos mesmo a dizer que alguns dos figurinos são feios e aborrecidos quando avaliados no contexto da alta-costura dos anos 50. Contudo, essas mesmas fragilidades são deliberadas, pois refletem a personalidade do protagonista.

Com uma câmara obcecada em capturar detalhes e texturas, o trabalho de Bridges transcendeu ainda o mero gesto dramatúrgico. Todos os figurinos presentes em “Linha Fantasma” apresentam o tipo de construção impecável que se esperaria de um atelier de costura que veste realeza. Não há falseamento de materiais ou técnica, sendo que Bridges chegou mesmo a empregar os talentos de costureiras que, há meio século, haviam trabalhado para casas de moda semelhantes à que se vê no filme. Desde o tipo de pontos numa bainha até à silhueta mais espampanante, os figurinos de “Linha Fantasma” são um exemplo do mais grandioso virtuosismo cinematográfico imaginável.




MELHOR CENOGRAFIA

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O Óscar MHD vai para… Paul D. Austberry, Shane Vieau e Jeffrey A. Melvin por A FORMA DA ÁGUA!

Com filmes como “Pompeia” e “A Saga Twilight: Eclipse” no seu currículo, Paul D. Austberry não é um nome muito falado em contexto de Óscares, mas, aquando da produção de “A Forma da Água”, Guillermo del Toro teve fé neste cenógrafo. O risco tomado pelo realizador mexicano compensou e Austberry mostrou ser um perito na tradução cenográfica das fantasias multi referenciais de del Toro. Desde ideias tiradas dos filmes de série B dos anos 50 até ao glamour dos musicais de Fred Astaire e Ginger Rogers, “A Forma da Água” é uma carta de amor à magia do cinema e seus cenários refletem isso mesmo.

Afinal, a própria personagem principal vive por cima de um cinema, num apartamento deslumbrante que Austberry desenhou com a ideia de sugerir um ambiente subaquático. Tudo é verde e azul, as paredes degradadas parecem ondulações aquosas e a janelas quase dão a ideia de que estamos num submarino. Tudo reflete as marcas do tempo e o individualismo das pessoas que habitam o espaço. Em contraste, a agência governamental que marca presença na narrativa, assim como os ambientes domésticos do vilão, são um pesadelo de superfícies demasiado limpas e tonalidades garridas de verde que nada têm de natural.

Austberry pode ter sido um estreante no universo cinematográfico de del Toro, mas Vieau e Melvin, os decoradores destes cenários, já haviam colaborado antes com o mexicano. Tal como fizeram em “Crimson Peak”, estes dois artistas trouxeram a este projeto um equilíbrio preciso entre o realismo vivido e a fantasia opulente. O apartamento da heroína é uma obra-prima de decoração de interiores enquanto elemento dramatúrgico, mas também espetaculares são os ambientes públicos do filme. A recriação dos anos 60 é perfeita, mas tem sempre um toque de artifício que dá a ideia de um sonho mal lembrado sobre o passado e não somente uma reprodução arqueológica. Este foi um Óscar mais que merecido, sendo que, entre a MHD, só mesmo “Blade Runner 2049” é que representou um adversário com algum peso. Mesmo assim, nada conseguiu bater “A Forma da Água” nesta categoria.




MELHOR FOTOGRAFIA

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O Óscar MHD vai para… Roger Deakins por BLADE RUNNER 2049!

Roger Deakins é um dos diretores de fotografia mais importantes do cinema contemporâneo. A sua filmografia está repleta de obras-primas realizadas por cineastas como os irmãos Coen, Martin Scorsese, Sam Mendes, Denis Villeneuve e muitos outros. Ao longo de 23 anos, este artista britânico arrecadou 14 nomeações e revolucionou seu campo ao ser o primeiro diretor de fotografia a usar manipulação de cor digital em pós-produção, assim como o primeiro a ajudar animadores de filmes de animação a reproduzir técnicas de iluminação em ambientes virtuais. Apesar disso, foi só em 2018 que este génio ganhou o Óscar.

O filme que finalmente lhe valeu essa muito merecida honra foi “Blade Runner 2049”, uma decisão da Academia com que a MHD concorda. Aliás, só “Dunquerque” conseguiu oferecer alguma competição ao trabalho de Deakins na sequela ao clássico de ficção-científica. Face às imagens esplendorosas do épico futurista, não podemos dizer que estamos muito surpreendidos com os resultados. Por outras palavras, “Blade Runner 2049” é absolutamente deslumbrante, mesmo quando Deakins usa os seus talentos para sugerir uma visão desoladora do futuro, onde o mundo fora das cidades é uma terra de ninguém dominada por uma luminosidade cinzenta que faz tudo parecer infértil e triste.

Em cenas dentro do complexo onde o criador dos Replicants habita, Deakins usou luz em constante movimento e água enquanto superfície refletora para desfragmentar o espaço arquitetónico com sombras em constante fluidez. Para uma metrópole abandonada, o cineasta optou pelo uso de filtros coloridos para pintar o ar cor de ferrugem. Numa das cenas mais elaboradas, a sala de espetáculos de um casino torna-se num pesadelo de teatralidade disfuncional, com espectros projetados e grelhas luminosas que parecem mais ameaçadoras que deleitosas. É, de facto, o trabalho de um génio da sua arte.




MELHOR MONTAGEM

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O Óscar MHD vai para… Lee Smith por DUNQUERQUE!

Christopher Nolan é um realizador que gosta de brincar com estrutura e cronologia. “Memento”, um dos seus primeiros grandes sucessos críticos e populares baseia toda a sua construção em volta de um jogo de desorientação estrutural, por exemplo. Desde “Batman – O Início”, que o realizador britânico tem vindo a confiar nos talentos de Lee Smith enquanto técnico de montagem dos seus filmes, uma colaboração que já havia resultado numa nomeação para Melhor Montagem em 2011 por “A Origem”. Em 2018, a Academia finalmente premiou um filme de Nolan e Smith com este merecido galardão e a equipa MHD concorda, mais uma vez, com a decisão desse corpo votante.

Como “A Origem” e “Memento”, “Dunquerque” apresenta um vistoso esquema de montagem e manipulação temporal da ação em cena. Neste caso, a evacuação das tropas britânicas reunidas em Dunquerque no auge da 2ª Guerra Mundial foi dividida em três narrativas que o filme apresenta paralelamente, apesar de que, até ao clímax, as histórias nunca estarem a ocorrer em simultâneo. No ar, o espectador testemunha uma hora de provações na vida de um piloto destemido. No mar, decorre um dia na vida de um civil disposto a arriscar a vida para fazer o que está certo. Em terra, um soldado desesperado passa uma semana a tentar encontrar passagem segura para a sua terra natal de modo a fugir ao inferno de França conquistada pelo poder nazi.

Alguns críticos questionaram os méritos e funcionalidade dramática desta estrutura elaborada, mas é inegável quão estrondosa execução da ideia acabou por ser. Smith nunca deixa que “Dunquerque” se perca em momentos mortos, construindo um jogo rítmico preciso e equilibrado, capaz de negociar as três vertentes da história sem prejudicar o impacto de nenhuma delas. Quando os vários fios narrativos se entrelaçam por fim, trata-se de um triunfo emocionalmente esgotante. É assombroso.




MELHOR ARGUMENTO ADAPTADO

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O Óscar MHD vai para… James Ivory por CHAMA-ME PELO TEU NOME!

Baseado no romance homónimo de André Aciman, “Chama-me Pelo teu Nome” é uma sublime exploração de desejo e romance. A história centra-se nos dilemas amorosos de Elio, o jovem e muito precoce filho de um professor universitário, que, no verão de 1983, partilha a casa de férias italiana com a família e um pupilo do patriarca. Esse convidado, chamado Oliver, acaba por conquistar a atenção de Elio e, gradualmente, os dois desenvolvem uma relação sexual e emocional que, como o calor estival, está condenado a terminar com o passar das estações.

O homem encarregue de passar esta narrativa das páginas para o ecrã foi James Ivory, célebre cineasta americano que, nos anos 80 e 90, dominou o panorama dos filmes de época com obras como “Quarto Com Vista Sobre a Cidade” e “Regresso a Howards End”. Desta vez, contudo, Ivory não esteve na cadeira de realizador, mas sim encarregue do argumento adaptado. Seus esforços envolveram sintetizar o romance literário cuja natureza introspetiva, cheia de ponderações muito verbosas, levanta muitos problemas quando traduzida para um meio audiovisual. Ivory teve mesmo de fazer várias versões do texto até que o realizador Luca Guadagnino estava satisfeito. Mesmo assim, o cineasta italiano, ainda fez algumas mudanças antes das filmagens, incluindo a remoção completa da narração em voz-off que estava no guião final assinado por Ivory.

Verdade seja dita, considerando todas as alterações que Guadagnino teve de fazer, é um pouco injusto que o único nome creditado, em termos de escrita de argumento, seja o de Ivory. O génio deste filme muito depende da economia de gesto e palavra que surgiu através dos cortes feitos ao argumento, excisando tudo o que era desnecessário até só sobrar uma base sobre a qual foi construído um autêntico ballet de desejos silenciosos e olhares embriagados de significado. É claro que Ivory, apesar de precisar de ter o seu trabalho editado, é um grande argumentista e sem ele todo esse idioma de desejo nunca teria chegado ao ecrã na forma perfeita que vemos no filme. De facto, a sua adaptação do grande monólogo sobre amor que o pai do protagonista lhe diz em forma de consolo, é uma das mais extraordinárias passagens na filmografia de todos os cineastas envolvidos em “Chame-me Pelo Teu Nome”. Este foi um Óscar mais do que merecido e, entre a equipa MHD, só mesmo “Jogo de Alta Roda” representou alguma competição. De resto, o voto foi praticamente unânime.




MELHOR ARGUMENTO ORIGINAL

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O Óscar MHD vai para… Jordan Peele por FOGE!

Ao longo da história da sétima arte, tem-se verificado como o cinema dito de género (terror, ficção-científica, fantasia, ação, etc.) pode ser um palco muito mais eficaz e persuasivo para importantes assuntos sociais e políticos que outros tipos de filmes. Afinal, há sempre algo de condescendente em solenes dramas dos grandes estúdios que nos querem ensinar e influenciar as nossas ideologias. Por outro lado, quando tais mensagens estão envoltas em humor, leveza ou fantasia, e expressas por meios alegóricos, está subentendido um diálogo de confiança e inteligência mútua entre o filme e o espectador. Chamamos a atenção a este fenómeno, pois “Foge”, uma comédia de terror satírica que marca a estreia de Jordan Peele na cadeira de realizador, é talvez a mais acutilante e agressiva representação de tóxicas dinâmicas raciais a chegar às salas de cinema nos últimos tempos. (…)

Peele conseguiu criar, em “Foge”, uma das mais violentas sátiras raciais que o cinema mainstream americano já viu. Um reflexo do modo como o corpo enquanto objeto político é simultaneamente uma potencial arma de resistência assim como uma realidade criada pelas estruturas da sociedade dominante, que assim tornam a própria materialidade física do ser humano numa prisão capaz de negar liberdade, autonomia, humanidade e o controlo de uma pessoa sobre o seu próprio destino.

Estas foram as nossas palavras na crítica publicada aquando da estreia de “Foge” nos cinemas portugueses. Desde então, a qualidade do primeiro filme de Jordan Peele só tem vindo a tornar-se mais aparente, especialmente no que diz respeito à qualidade venenosa e profundamente hilariante da sua sátira social. Apesar de o voto não ter sido unânime, tanto a Academia de Hollywood como a equipa da MHD concordam que o Óscar de Melhor Argumento Original pertence justamente a este cineasta visionário e a este filme de terror. A qualidade assombrosa de “Nós”, a segunda longa-metragem do realizador, só vem provar que o triunfo de “Foge” não foi nenhum acidente. Muitos aplausos para um novo rei do terror cinematográfico.




MELHOR ATOR SECUNDÁRIO

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O Óscar MHD vai para… Woody Harrelson em TRÊS CARTAZES À BEIRA DA ESTRADA

A Academia de Hollywood escolheu dar o Óscar a Sam Rockwell, mas, aqui pela MHD, é outro ator de “Três Cartazes À Beira da Estrada” quem acaba por ganhar o galardão de Melhor Ator Secundário. Referimo-nos, pois claro, a Woody Harrelson que, juntamente com Willem Dafoe que estava nomeado por “The Florida Project”, tinha a seu nome três nomeações e nem um só Óscar em 2018. Talvez por isso, os votos da MHD tenham acabado por gravitar na sua direção, como que em reconhecimento de toda uma carreira repleta de sucessos e filmes importantes.

Não querendo reduzir esta vitória a somente uma honra retroativa para filmes do passado, convém esclarecer que Harrelson acaba por ser o coração da comédia negra de Martin McDonagh. Ele interpreta um xerife atormentado pelo fracasso em encontrar o assassino e violador de uma jovem ao mesmo tempo que lida com um diagnóstico de cancro terminal que ameaça ceifar a sua vida mesmo antes das suas filhas saírem da meninice. Longe de se render às estilizações mais caricaturadas que o guião pode sugerir, o ator pega nesta personagem complicada e melancólica e interpreta-o com nuance e uma boa dose de fragilidade a esconder-se por detrás de uma fachada confiante e sorridente.

A sua melhor cena, encontra o ator a ter de manejar uma mudança tonal repentina e violenta face a Frances McDormand. Aí, um interrogatório que é mais um duelo verbal entre dois titãs, transforma-se numa tragédia de fraqueza humana e piedade. Com um olhar assustado em reação aos horrores do seu próprio corpo enfermo, Harrelson desfere um valente murro na constituição emocional do espectador e chama atenção para a multidimensionalidade da sua figura autoritária. Quando a personagem do ator sai da narrativa, sua perda sente-se fortemente, como uma ferida aberta e infetada, cuja dor afeta todas as figuras que ainda permanecem em cena. Tal impacto depende de uma caracterização poderosa e é precisamente isso que Harrelson traz a “Três Cartazes à Beira da Estrada”.




MELHOR ATRIZ SECUNDÁRIA

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O Óscar MHD vai para… Allison Janney em EU, TONYA!

Allison Janney é o tipo de atriz que eventualmente acabaria sempre por ganhar um Óscar. Se não tivesse sido por “Eu, Tonya”, teria sido por outro filme. Dizemos isto pois Janney é universalmente aclamada e adorada pela indústria do entretenimento americano. Quer seja nos palcos, em registo musical ou trágico, no pequeno ou no grande ecrã, em papéis principais ou secundários, ela é sempre celebrada pela crítica e adorada pelo público, assim como muito elogiada pelos seus colegas. Além disso, seu gosto em projetos costume ser bem calibrado, sendo que a atriz parece sempre saber escolher o tipo de papel que lhe vai dar maior oportunidade para brilhar, mesmo que seja uma personagem com pouco tempo em cena.

Assim é a personagem de LaVonna Golding, a mãe da infame patinadora americana Tonya Harding. Ao longo da narrativa biográfica de “Eu, Tonya”, esta matriarca é uma presença esporádica e cruel, sempre pronta a aparecer por pouco tempo em cenas específicas e entrevistas curtas para injetar uma boa dose de veneno na história. Suas palavras cortam como facas, sua expressão é sempre marcada por um aborrecimento ressentido que assusta e as mãos estão quase sempre ocupadas por um cigarro fumegante. Dizer que LaVonna é uma personagem colorida e muito memorável é simplesmente constatar o óbvio.

Pela sua parte, a atriz rende-se por completo à monstruosidade maternal da personagem. Não se trata de um trabalho subtil, mas é poderoso e impactante. Face à humanidade dolorosa de Margot Robbie no papel titular, há algo de unidimensional na abordagem de Janney, mas essa potencial fragilidade acaba por ser mais um elemento de violência psicológica que a personagem arremessa contra a filha. Ver LaVonna é ver uma parede intransponível de egoísmo e maldade, uma caricatura arrepiante que nos faz rir com algumas falas divertidas, ao mesmo tempo que nos faz ter nojo de nós mesmos por lhe termos achado piada. Lesley Manville em “Linha Fantasma” e Laurie Metcalf em “Lady Bird” ainda conquistaram alguns votos, mas, face aos exageros bombásticos de Janney, a equipa MHD não resistiu à atriz que também veio a ganhar o Óscar por este mesmo trabalho.




MELHOR ATOR PRINCIPAL

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O Óscar MHD vai para… Timothée Chalamet em CHAMA-ME PELO TEU NOME!

Timothée Chalamet é um dos atores do momento. Quando historiadores olharem para o cinema destes anos, o nome do ator talvez vá aparecer destacado como o de James Dean aparece em relação a meio da década de 50. Há algo de cativante e encantador no seu estilo e abordagem, uma sinceridade emocional que não se fica pela expressão, mas afeta cada gesto, cada movimento e escolha interpretativa. A linguagem corporal de Chalamet é um milagre, sempre a variar de cena para cena, sempre a dizer tanto sobre a sua personagem como as inúmeras variações vocais com que o ator constrói diálogos tão naturalistas que parecem ser momentos casuais capturados depois do realizador ter dito ‘corta’.

Em “Chama-me Pelo Teu Nome”, este jovem tem o papel que melhor exibe e aproveita seus particulares talentos e estilo. Elio é uma criatura de prazeres e interesses epicúrios, um homem que se perde em constantes dúvidas e hesitação, mas cujo corpo está sempre pronto a dizer mais que a sua língua consegue expressar. As falas escritas por James Ivory com base no trabalho de André Aciman são muitas vezes rebuscadas e parecem mais próximas da discussão académica que das conversas do foro doméstico e amoroso. Contudo, Chalamet consegue pegar na estranheza de tais textos e faz da dificuldade em expressá-los uma parte do seu papel. Apesar deste ser um ator que nem sempre parece conseguir moldar sua abordagem a todos os papeis, quando tem uma personagem como Elio, ele é um verdadeiro mestre da sua Arte.

Chalamet é particularmente soberbo na sua ilustração de vulnerabilidade, quer seja no choro que se segue a uma despedida dolorosa na estação de comboios, ou na muito falada cena em que Elio se masturba com o auxílio de um pêssego. Através da sensualidade do seu corpo e desta claridade sentimental que quase enerva o espectador, ele vai sugerindo a confusão avassaladora de alguém que nunca sentiu o que está agora a experienciar no corpo e mente, assim como a total subjugação de alguém aos seus mais secretos desejos. Muito adoramos Gary Oldman na MHD, mas ninguém deve ganhar este Óscar senão Chalamet.




MELHOR ATRIZ PRINCIPAL

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O Óscar MHD vai para… Frances McDormand em TRÊS CARTAZES À BEIRA DA ESTRADA!

Em 1997, Frances McDormand tornou-se numa das mais peculiares vencedoras de sempre do Óscar de Melhor Atriz. O filme que lhe garantiu tal honra foi “Fargo”, onde McDormand deu vida a uma polícia grávida que parece ser a única pessoa sã e moralmente integra num universo virado do avesso. Sem choros, mas muito humor, a atriz mostrou um lado suave e inocente que, nos últimos anos, tem vindo a tornar-se quase antitético com a sua persona pública. Em 2018, Frances McDormand voltou a receber um Óscar, mas desta vez, longe de ganhar tal honra por subverter a sua imagem dura e confiante, ela triunfou ao sublinhar e exagerar essas mesmas facetas da sua identidade enquanto estrela de cinema.

Em “Três Cartazes à Beira da Estrada”, Frances McDormand dá vida a Mildred, uma mulher abrasiva cuja filha foi brutalmente violada e morta, seu corpo deixado ao abandono. O culpado de tal crime nunca foi encontrado e a matriarca amargurada foi deixada a fermentar na sua própria angústia, deixando que a tristeza da perda se fosse tornando em raiva e ódio para com tudo e todos os que se mantêm apáticos e ineficazes face à injustiça que se abateu sobre ela e sua família. Há algo de diabólico na sua fúria, mas a faceta justiceira desta anti heroína também seduz o espectador.

Qual protagonista de um western clássico, ela move-se como uma mulher numa missão, sua postura transmite segurança e imparável bravura, seus insultos e palavras mais ácidas têm o brilho ilusório de verdades abrasivas. No final, contudo, esta é uma vingadora cujas ações não produzem qualquer resultado. Aí está a tragédia de Mildred, o absurdismo da sua história e a dor genuína do seu tormento. McDormand consegue simultaneamente telegrafar o carisma avassalador desta mulher em busca de justiça vingativa, assim como a figura de uma mãe destroçada em busca de algum veículo para a sua incomensurável dor. Tal multidimensionalidade valeu-lhe o Óscar da Academia e agora o Óscar MHD.




MELHOR REALIZAÇÃO

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Oscares MHD 2018 Guillermo del Toro

O Óscar MHD vai para… Guillermo del Toro por A FORMA DA ÁGUA!

Guillermo del Toro adora cinema. Mais do que qualquer outro cineasta da atualidade, os filmes deste autor mexicano vibram com um palpável amor pela sétima arte, seus códigos, seus clichés, seu artifício e sua inefável magia. Ao contrário dos vanguardistas europeus de outros tempos, del Toro não emprega estas referências como base de experimentação audiovisual, mas sim como uma carta de amor à experiência de ver filmes. Para quem consiga sintonizar-se com o entusiasmo cinéfilo do realizador, obras como “A Forma da Água” são pequenas preciosidades de júbilo e prazer.

Monstros clássicos do cinema de série B, musicais da Grande Depressão, romances intemporais, melodramas dos anos 50 e ficção-científica de baixo orçamento são todos referenciados no filme que finalmente valeu a este cineasta a glória do Óscar. Guillermo del Toro molda todos estes elementos na forma de uma experiência sem igual, onde não há espaço para ironias ou insinceridades. Face a este tipo de cinema, o espectador tem que se entregar totalmente às loucuras que lhe são propostas, render-se à lógica de um conto-de-fadas e abandonar expetativas inúteis. Não se trata de um tipo de filme para todos os gostos, mas há algo de mágico no afeto que transborda de cada gesto de del Toro enquanto realizador, desde a direção de atores até à paleta cromática dominada pela sua cor predileta, o verde.

Em termos da escolha da equipa MHD, a decisão foi bastante óbvia, com o cineasta mexicano a receber mais de metade dos votos. Considerando que esta foi a sua primeira nomeação depois de uma carreira marcada por vários filmes aclamados pela crítica, tal decisão parece lógica. Numa situação semelhante, temos Christopher Nolan, cujo “Dunquerque” conquistou aqui alguns votos, mas não os suficientes para derrotar o seu colega mexicano. Paul Thomas Anderson também teve direito a algum amor da MHD. Talvez quando votarmos para os prémios de 2007/8, o realizador tenha mais sorte. Entretanto, o nosso campeão é del Toro.




MELHOR FILME

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Oscares MHD A Forma da Água

O Óscar MHD vai para… A FORMA DA ÁGUA, Guillermo del Toro e J. Miles Dale

Curiosamente, apesar de “Chama-me Pelo Teu Nome”, “Linha Fantasma” e “Três Cartazes à Beira da Estrada” terem ficado à frente de “A Forma da Água” no top 10 MHD de 2018, foi o filme de Guillermo del Toro que acabou por triunfar neste voto. Parte do seu sucesso deve-se ao modo como, para este artigo, a equipa MHD escolheu o vencedor com base na mesma metodologia da Academia de Hollywood, pela qual o voto é feito de modo preferencial, através do ranking dos nomeados. Apesar de serem adorados por muitos, os outros três filmes são do desagrado de alguns membros da equipa. O conto-de-fadas para adultos sobre uma mulher que se apaixona por um homem-peixe, pelo contrário, quase nunca ficou no fundo do ranking de ninguém. Poucos concordam que este tenha sido o melhor filme dos nomeados de 2018, mas é aquele que parece mais agradar a gregos e troianos.

Esta dinâmica também terá sido parte do que levou à vitória de “A Forma da Água” nos Óscares a sério. Mesmo assim, convém apontar como “Chama-me Pelo teu Nome” ficou só uns votos atrás da vitória. Esta foi uma batalha renhida até ao último momento. Aliás, o filme de Luca Guadagnino e o de Guillermo del Toro acabam assim esta edição dos Óscares MHD com três prémios cada um. Em relação aos outros nomeados para Melhor Filme, “Dunquerque” também ganha três, “Três Cartazes à Beira da Estrada” e “Linha Fantasma” ficam com dois, enquanto “Foge” e “A Hora Mais Negra” se contentam com um troféu só. Infelizmente, nem “Lady Bird” nem “The Post” ganharam um único prémio MHD, se bem que o filme de Greta Gerwig ficou em segundo na categoria de Melhor Atriz. Ao todo, só discordámos com a Academia de Hollywood em 7 de 24 categorias.

Independentemente de todos estes dados numéricos, o vencedor é “A Forma da Água” e seria erróneo dizer que se trata de um campeão injusto. Para um público cinéfilo, o filme é um deleite de amor desavergonhado pela maravilha cinematográfica, cheio de referências clássicas, misturas de género e uma humanidade vibrante que afeta todos os elementos em cena. Aquando da estreia do filme nos cinemas portugueses, tivemos isto a dizer sobre a obra:

Quando, no autocarro noturno, Elisa mira as gotículas de água na janela e acompanha com o dedo a sua dança colorida, “A Forma da Água” mostra-nos por que razão vamos aos cinemas. É para experienciar visões como esta, tão belas, estranhas, problemáticas e transcendentes como o amor, cuja forma, diz del Toro, é como a da água. Fluida, indefinida e capaz de nos envolver. Também o cinema de del Toro é assim.

Ou seja, temos aqui um justo vencedor do Óscar MHD de Melhor Filme. Aplausos para del Toro e sua equipa!

 

Concordas com as escolhas da MHD? A quem terias dado tu os Óscares de 2018? Deixa a resposta nos comentários.

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