Os melhores guarda-roupas da TV | 4. Outlander

Claire e Jamie Fraser, protagonistas de Outlander, não são apenas um dos casais mais apaixonantes da TV, mas também um dos mais bem vestidos.

 


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outlander terry dresbach

De um ponto de vista puramente logístico, a criação do guarda-roupa para a segunda temporada de Outlander seria um desafio de imensa escala. Afinal, temos aqui uma narrativa que engloba a Escócia do século XVIII em revolta contra o domínio inglês, inúmeras cenas de guerra cheias de figurantes, uma série de episódios passados entre o esplendor Rococó da corte de Versalhes sob o domínio de Luís XV, uma coleção de flashbacks e flashforwards para a 2ª Guerra Mundial e o pós-guerra, tanto na Grã-Bretanha como nos EUA, e uma espécie de episódio epílogo passado na década de 60. Conjuga-se a tudo isto um orçamento relativamente diminuto para tal quantidade e variedade de figurinos, assim como uma relativa escassez de materiais e temos a receita perfeita para um desastre.

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Felizmente, Outlander contou com o trabalho da figurinista Terry Dresbach que, apesar de várias escolhas estilísticas de duvidosa coerência histórica, alcançou aqui um luminoso triunfo e uma muito merecida indicação para o Emmy de Melhor Guarda-roupa numa série de época. Como episódio em consideração para esse prémio, Dresbach escolheu a segunda hora da temporada, onde, pela primeira vez, as audiências vislumbram o esplendor de Claire e Jamie vestidos com todo o requinte das modas parisienses – um registo estilístico completamente diferente do pragmatismo modesto das suas roupas escocesas.

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No píncaro desse festim visual, Claire revela bem as suas origens temporais quando usa estilos da segunda metade da década de 40 do século XX modificados para silhuetas setecentistas. O mais óbvio e elegante destes híbridos estilísticos é um fato inspirado no Bar Suit da Dior, mas o mais vistoso é, sem dúvida, o vestido vermelho que ela enverga para a sua primeira visita a Versalhes. De novo sublinhamos, é uma escolha estilística que tem pouco de historicamente correto, tanto para o século XVIII como para as modas do pós-guerra, mas é difícil negar o brutal dramatismo desta confeção de seda escarlate com um decote de vertiginosa profundidade.

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Por muito espetacular que seja a sua vistosa ostentação, diríamos que outros episódios desta temporada mostram ainda mais mestria nos designs de Dresbach. Quer seja o modo como a figurinista usa várias tonalidades de azul para demarcar Claire como uma figura de santidade e maternidade mariana ou os contrastes entre Jamie e os vários homens que o rodeiam nos palcos sociais das classes altas francesas, os episódios parisienses têm todos um discurso visual cuidado e preciso por detrás da sua teatralidade glamourosa.O próprio uso de têxteis tende a integrar um tapeçaria de relações concetuais entre as personagens, como é o caso das sedas pesadas e ricamente bordadas de uma condessa e seu contraste com a simplicidade floral e cheia de rendas virginais da sua jovem protégé inglesa.

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É claro que, quando a narrativa volta à Escócia, deixando para trás o fausto continental, os jogos simbólicos, semióticos e estilísticos de Dresbach se tornam mais claros e importantes para a construção harmoniosa de todo o visual deste épico preso entre a fantasia e a História. No campo de batalha pela independência escocesa, as escolhas de cor e padrão convertem-se em autênticos indicadores de lealdade à causa e a decoração doirada de uma sobrecasaca transforma-se numa marca terrível da falta de proximidade entre um suposto monarca e seus súbditos fiéis. A própria severidade de um fato preto, reminiscente de vestes clericais, se torna num venenoso golpe de estilo inteligente – um anjo da morte penitente e vestido de modesto padre em busca de salvação e mercê para um irmão enfermo.

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No último episódio da temporada, a narrativa de Outlander faz, mais uma vez, uma mirabolante viagem temporal. De acampamentos manchados de lama e vísceras na Escócia do século XVIII, passamos para a década de 1960. Neste novo cenário histórico, Dresbach brinca com a perspetiva que as pessoas têm do passado e sua romantização, ao mesmo tempo que se mostra exímia na recriação de mais uma época de estilos específicos. Quem sabe o que é que a estética dos anos 60 poderá fazer ao guarda-roupa setecentista de Claire na próxima temporada de Outlander? Uma coisa é certa, mal podemos esperar para descobrir!

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Na próxima página vamos continuar a explorar modas históricas através do prisma da fantasia, mas, ao invés da Escócia romântica vamos examinar um pesadelo gótico na Inglaterra Vitoriana. Não percas!

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