Outubro no teatro, O grande tratado de encenação

Outubro no teatro: Lisboa

Já com o ritmo marcado, após a breve experimentação das novas temporadas levada a cabo em setembro, outubro no teatro traz a activação diversas estruturas em simultâneo.

Fazemos a pesquisa, lemos, vemos e falamos sobre teatro. Tudo para que possamos sair de casa sem nos perdermos no barulho publicitário feito por uma mão cheia de espectáculos (fazendo com que nos esqueçamos de outros), ou simplesmente para sairmos da nossa zona de conforto.

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Estas são as nossas sugestões de entre o que podes ver no mês de outubro:

OUTUBRO NO TEATRO | A FERA NA SELVA

Outubro no teatro, a fera na selva
A fera na selva

A Fera na Selva (The Beast in the Jungle, Henry James, 1903) recria em conto a angústia de dois seres em vertigem sobre o grande espanto que é viver. A ansiedade, o medo, a cautela perante o que virá, vai assim modulando uma relação cúmplice, um tempo dilatado de convívio, um quase-ritual-quase-iniciático, aos meandros de uma escuridão que também é nossa, dos leitores.
Duras apoiando-se na adaptacão dramática do texto, de James Lord (com quem colabora numa primeira versão, nos anos sessenta), recria na sua Fera final (1981), este labirinto psíquico de revelações e ocultações, de simulacros e frustrações, que habita também toda a sua escrita.
O trabalho de encenar este texto, e interessa frisar que mais do que um espectáculo, A Fera na Selva será um trabalho de texto, prende-se não só com o prazer de reconhecer os rostos de John Marcher e Catherine Bertrham em dois actores singulares, Margarida Marinho e Filipe Duarte, mas sobretudo em praticar em cena as paisagens emocionais, os vocábulos superlativos de James, filtrados na lendária música durasiana que nos deu India Song ou Savanah Bay.
A fera que no fim surgirá da densa selva e nos saltará ou não para cima, hedionda, inqualificável e implacável na sua predação, continua à espreita. À nossa espreita.

Durante uma curta temporada de apresentação, de 4 a 6 de outubro,  a encenação de Miguel Loureiro estará no pequeno auditório do CCB. A representação será assegurada por Filipe Duarte e Margarida Marinho de quinta-feira a sábado, às 21h, e com bilhetes a 12,50€ e a 15.



OUTUBRO NO TEATRO | CREDORES

Setembro no teatro, Credores
Credores

Credores, escrito por August Strindberg em 1888, ano em que escreveu também Menina Júlia, centra-se na frágil relação de um casal, ameaçada pela chegada de um estranho.
Adolfo é um jovem pintor muito devoto à sua mulher, Tekla. Depois de se tornar amigo do professor Gustavo, o tal estranho, Adolfo vê-se enredado numa teia que o faz duvidar do carácter da sua própria mulher.
A peça expõe conflitos e questões que, mesmo após 130 anos, continuam atuais. Despe-nos daquilo que é o mais importante da nossa existência – o nosso posicionamento numa relação a dois, o modo como habitamos esse amor e estabelecemos esse equilíbrio em constante dinâmica. Apesar do tempo passado, a narrativa dialoga bem com a época contemporânea, característica que comprova o lado visionário do dramaturgo sueco.

Até 7 de outubro, Paulo Pinto apresentará a sua encenação da peça original de Strindberg na sala estúdio do Teatro da Trindade. Com interpretações de Sofia Marques, Ivo Canelas e Paulo Pinto, quartas a sábados às 21h30 e domingos às 17h. Os bilhetes terão um custo de 10€ ou de 8, caso se trate de uma quartas-feira.



OUTUBRO NO TEATRO | A TRILOGIA DA JUVENTUDE

Outubro no teatro, Teatro experimental do Porto
Teatro experimental do Porto

A Juventude diz-se geralmente que parece ser, quase sempre, o lugar onde mais felizes fomos. Quando o viço do corpo acompanhava o viço das ideias e das utopias. Quando o mundo tinha a nossa idade. O tempo em que fomos mais felizes foi quando lutámos contra as propinas, quando dormimos na rua em vigílias por uma qualquer causa perdida, quando fugimos à polícia, quando lutámos contra os fascistas, quando vivemos clandestinos, quando lutámos contra a censura… foi nesse tempo de vapor impreciso que mais felizes fomos. É, claro, um olhar romanceado, cheio de enganos e reconstruções fictícias. É uma narrativa que tenta dar algum sentido ao percurso de uma vida. A trilogia sobre a juventude olha precisamente para o passado de Portugal por esse prisma. Assim, elencos jovens habitarão o país e as utopias revolucionárias dos anos cinquenta, dos anos setenta e dos anos noventa, em Portugal, tentando descortinar o caminho que fomos continuamente abandonando e as narrativas que fomos construindo para nos confortarmos.

O Teatro experimental do Porto (a mais antiga companhia de teatro profissional portuguesa) apresentará, ao longo do mês de outubro, a sua “Trilogia da Juventude” na sala estúdio do Teatro Nacional D. Maria II.

3 coproduções entre o TEP, o Teatro Municipal de Matosinhos – Constantino Nery, o Teatro Municipal do Porto e o TNDMII, sob a encenação de Gonçalo Amorim e uma cocriação entre o mesmo e Rui Pina Coelho (encarregue também pela dramaturgia). Os bilhetes para cada apresentação terão o custo de 12€, ou 6€ (às quintas-feiras), havendo também a possibilidade de usufruir de descontos.




O GRANDE TRATADO DE ENCENAÇÃO

Outubro no teatro, O grande tratado da encenação
O grande tratado da encenação

Em 1962, António Pedro escreve Pequeno Tratado da Encenação, uma obra que terá um significativo impacto no teatro português. Em O grande tratado de encenação, três jovens projetam a invenção de um país que ainda não existe. Lá fora pressente-se que o mundo se transforma. Cá dentro, discute-se sobre qual a melhor maneira de construir o futuro país ou um novo espetáculo.

Com interpretações de Catarina Gomes, Paulo Mota e Sara Barros Leitão, “O grande tratado de encenação” estará em cena de 11 a 14 de outubroQuinta sexta-feira às 21h30, sábado às 19h30 e domingo às 16h30.




A TECEDEIRA QUE LIA ZOLA

Outubro no teatro, A tecedeira que lia Zola
A tecedeira que lia Zola

Portugal, anos 70. Inspirados pelos movimentos revolucionários, jovens burgueses decidem abandonar os seus estudos ou os seus primeiros empregos e rumam em direção às fábricas e aos campos para fazer a “revolução cultural”. Juventude, amor, libido e realidade confundem-se e misturam-se com disciplina, regras, capitalismo, clandestinidade e utopia. São jovens a tentar viver os seus melhores anos.

De 18 a 21 de outubro, Bruno Martins, Catarina Gomes, Paulo Mota, Sara Barros Leitão levarão ao palco do D. Maria a produção “A tecedeira que lia Zola“. Quinta e sexta-feira às 21h30, sábado às 19h30 e domingo às 16h30, havendo dia 20 uma conversa com os artistas após o espectáculo.




MAIORIA ABSOLUTA

Outubro no teatro, Maioria absoluta
Maioria absoluta

Portugal, anos 90. Para muitos de nós esses foram os nossos melhores anos – foi então que atingimos a maioridade, que construímos as nossas certezas mais absolutas, que escrevemos inflamados poemas de amor a musas semanais, que lutámos contra as propinas, que nos manifestámos dia sim, dia não. Éramos jovens.

De dia 24 a 27 de outubro, com a interpretação e cocriação de Carlos Malvarez, Catarina Gomes, Eduardo Breda, Íris Cayatte, Mariana Magalhães, Paulo Mota e Pedro Galiza, tomará lugar “Maioria absoluta”. Quarta às 19h30 e quinta a sábado às 21h30.

A trilogia será representada sequencialmente no dia 27 de outubro, no entanto, os bilhetes para as 3 apresentações encontram-se já esgotados.



OUTUBRO NO TEATRO | O VENTO NUM VIOLINO

Setembro no teatro, O vento num violino
O vento num violino

Último momento da trilogia de dramas sociais assinados pelo autor e encenador argentino Claudio Tolcachir (n. 1975), O vento num violino conta histórias paralelas que a dado momento se cruzam. Como o próprio as define, estas são “histórias de pessoas desamparadas, repletas de ausência e de perda, e que giram em torno do seu projeto de amor, o qual corre sempre mal”. De um lado, há uma mãe abastada a braços com o filho, um trintão sem rumo; do outro, de um estrato social mais baixo, outra mãe, a que convive com a urgência de a filha lésbica pretender ter, com a sua companheira, a experiência da maternidade. E será precisamente esse desejo que cruza estas vidas, através de uma solução extrema e imprevisível. Nome consagrado do teatro argentino, e um dos seus autores mais aplaudidos internacionalmente, Tolcachir e a companhia Timbre 4 já haviam apresentado esta peça em 2013, no Festival de Almada. Esta encenação coletiva dos Artistas Unidos marca a estreia de uma companhia portuguesa no teatro transgressor e surpreendente do autor de A Omissão da Família Coleman e Terceiro Corpo.

Até dia 13 de outubro, a criação dos Artistas Unidos, a partir do original de Claudio Tolcachir, estará no Teatro da Politécnica. O preço do bilhete inteiro é de 10€, excepto para menores de 30 anos, maiores de 65 anos, profissionais de grupo ou para o público em geral no dia do espectador (terças-feiras). Nestes casos apenas serão cobrados 6€.




OUTUBRO NO TEATRO | TEATRO

Setembro no teatro: Teatro
Teatro

Pouco mais de dois meses passados sobre a apresentação do magnífico Actrice na Sala Garrett, Pascal Rambert regressa ao convívio dos lisboetas com uma nova evocação dos atores e do teatro. À semelhança da “peça russa” sobre uma atriz que se despede da vida, TEATRO também nasceu no Teatro de Arte de Moscovo, onde o autor e encenador francês conviveu com dezenas de atores da companhia e se apercebeu como as personagens continuam a habitar os corpos e as almas dos seus intérpretes, independentemente de serem mais idosos ou até bastante jovens.

Até 14 de outubro a criação de Pascal Rambert será apresentada no Teatro Nacional D. Maria II com a interpretação de Beatriz Batarda, Cirila Bossuet, João Grosso, Lúcia Maria, Rui Mendes, Asia Galante, Maria Abreu e Sara Barbosa. Quartas e a sábados às 19h; quintas e sextas às 21h e domingos às 16h. O custo dos bilhetes oscilará entre os 5 € e os 17 € e entre os 5 € e os 8 € (todas as quartas e quintas-feiras).




OUTUBRO NO TEATRO | À ESPERA DE GODOT

Setembro no teatro, A espera de Godot
À espera de Godot

A obra-prima de Beckett volta aos palcos portugueses numa encenação que, assume David Pereira Bastos, “não procura levantar questões a partir do texto, nem propor leituras ou sublinhar significados. O espetáculo apresenta o texto e os atores, o texto através dos atores e vice-versa”. Num declarado exercício de liberdade sobre uma das peças mais influentes do teatro mundial, ao próprio Pereira Bastos juntam-se em cena Rui M. Silva, Miguel Moreira e o fotógrafo Bruno Simão.

A encenação de David Pereira Bastos estará no palco da sala estúdio do TNDMII até dia 17 de Outubro. Quartas-feiras e sábados às 19h30; quintas e sextas às 21h30 e domingos às 16h30. O bilhete inteiro tem o preço único de 12€ (havendo campanhas e descontos) e às quartas e quintas-feiras o preço especial é de 6€.




OUTUBRO NO TEATRO | I’M SO EXCITED!

Outubro no teatro, I'm so excited!
I’m so excited!

Tudo isto é sobre o fim de uma relação, a destruição de dois corpos que se amam ou amaram ou apreciaram a ideia de se amarem, inseridos num cenário de festa, de aniversário de um dos intervenientes, que é também um ensaio de teatro. Num jogo constante de perversão e provocação, corpo imóvel e corpo 2 (como que figuras espelho de Hipólito e Fedra) permitem-se ser peças de um jogo não totalmente decifrável, para assim se chegar a um ajuste de contas. Essa “luta” caminha até um sítio de vingança, onde um dos corpos terá de se esquecer e (auto) destruir totalmente, de forma a atingir uma certa purificação e perdão. É essa purificação o estado que se procura: a busca de um amor quase dependente e total – sendo essa entrega total uma condição impossível falando nós de humanos, e de máquinas individuais.

De 16 a 18 de outubro, Mário Coelho volta a trazer ao palco da Rua das gaivotas 6 a sua criação e encenação “I’m so excited!“. Com interpretações de Rita Rocha Silva e Mário Coelho, de terça a quinta-feira às 21h, com bilhetes a 7,50€ e a 5€ (para usufruidores de desconto).




OUTUBRO NO TEATRO | BOA NOITE MÃE

Outubro no teatro, Boa noite mãe
Boa noite mãe

Numa casa de classe média no interior do país, mãe e filha enfrentam uma noite que parece igual a outra qualquer. Ao longo do diálogo, estas duas mulheres vão revelando a sua verdadeira natureza, pondo-nos a par do que foi toda a sua vida até aí.
A filha, epilética, com um casamento falhado e um filho delinquente, está farta de viver. A sua relação com a mãe, viúva, mulher fria e pragmática, nunca foi a melhor. Diante do público, vão desfilar também todos os outros membros da família, agora ausentes.
A conversa entre as duas, traz à tona o ressentimento, a solidão e incompreensão de toda uma sociedade, para desaguar num libelo à vida, para o entendimento e o amor.

De 17 a 25 de Novembro a peça que em 1983 deu reconhecimento à autora Marsha Norman, sobe ao palco da sala estúdio do Teatro da Trindade. Com a encenação e dramaturgia a cargo de Hélder Gamboa e com interpretações de Ângela Pinto e Sylvie Dias, “Boa noite mãe” estará em cena quartas-feiras e sábados às 21h30 e domingos às 17h, com bilhetes a 8€ às quartas-feiras (dia do espectador) e a 10€ nos restantes dias.




OUTUBRO NO TEATRO | NETOS DE GUNGUNHANA

Outubro no teatro, Netos de Gungunhana
Netos de Gungunhana

A nova criação do Bando é uma colaboração artística entre artistas portuguesas, brasileiros e moçambicanos baseada na trilogia de Mia Couto “As Areias do Imperador”.
“Netos de Gungunhana” reflecte sobre as pequenas teias de poder presentes na família, que de forma progressiva se vão estendendo às tribos, cidades, países e federações. Este espectáculo constrói-se a partir da figura do último imperador moçambicano Gungunhana que, para alguns, foi um herói e um salvador e, para outros, um ditador e um pesadelo, assumindo a realidade como um conjunto de diferentes pontos de vista. Em 2018 questionamos assim os colonialismos, os históricos e os de todos os dias, as manipulações domésticas e os líderes de fachada e as manobras de um poder manietado na sombra, à vista de todos.

A partir de Mia Couto, o encenador João Brites leva ao palco do Teatro Municipal S. Luiz “Netos de Gungunhana“. De 25 de outubro a 11 de novembro, quartas-feiras a sábados às 21hdomingos às 17h30, e com bilhetes dos 12€ aos 15€.




OUTUBRO NO TEATRO | OS APONTAMENTOS DE TRIGORIN

Outubro no teatro, Os Apontamentos de Trigorin
Os Apontamentos de Trigorin

A adaptação de Tennessee Williams do clássico de Tchekhov, A Gaivota, traz à cena a história de Constantine, jovem escritor sensível, cuja busca pelo amor, arte e aceitação é maior do que a própria vida. O jovem dramaturgo, Constantine, estreia a sua nova peça na propriedade dos tios perante familiares, amigos e Nina, a jovem atriz por quem ele nutre profundos sentimentos. A mãe de Constantine, a famosa atriz Madame Arakadina, que tenta suprimir os seus verdadeiros sentimentos pela contribuição do seu filho ao teatro, diz a todos que abomina o trabalho de Constantine. Amargurado com a sua vida e a sua arte, o jovem continua a amar Nina, embora esta só tenha olhos para o companheiro de Arakadina, o escritor Trigorin. O desprezo e o ciúme acabam por dominar Constantine visto que Trigorin se torna cada vez mais desejado, tanto por Nina como por Arakadina.

De dia 25 de outubro a 16 de dezembro, na Comuna Teatro de Pesquisa, será possível assistir a “Os Apontamentos de Trigorin“, uma adaptação livre de um dos mestres do teatro da beat generation a uma das peças fundadoras do teatro russo do século XIX. Com encenação de João mota e interpretações de Barbara Branco, Carlos Paulo, Carlos Vieira de Almeida, Custodia Gallego, Guilherme Filipe, Hugo Franco, Igor Sampaio, Luís Garcia, Madalena Brandão, Miguel Sermão e Teresa Côrte Real. Quartas-feiras a sábados às 21h30domingos às 16h, e com bilhetes a 10€ e a 5€ (às quartas e quintas-feiras).

 Que tal? Alguma destas sugestões te fará ir ao teatro no mês de outubro?

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